quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 47



Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 47

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Daniel  -  Paulo Araujo
Padre Miguel  - Artur Costa Filho
Pé-na-Cova  -  Antonio Pitanga
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Rosa  - Ana Ariel
Inês  - Betty Faria



CENA 1  -  PORTO AZUL  -  RUA  -  EXTERIOR  -  DIA

MESTRE JONAS E DANIEL CAMINHAVAM RUMO À IGREJINHA DE PORTO AZUL.

MESTRE JONAS  -  (contando nos dedos) Já se passaram 30 dias. Um pouco mais, 33, eu acho. E desde a noite do pedido de casamento, Padre Miguel não deu a mínima notícia sobre a data do casório de Inês com Baby Liberato.

DANIEL  -      Esse negócio é pra levar a sério mesmo, pai?

MESTRE JONAS  -  Claro que é, filho. O moço deixou os documentos dele e tudo aí, com o padre!

DANIEL  -  (entusiasmado) Então vamos falar com ele, pai!

CORTA PARA:

CENA 2  -  VILA DOS MINEIROS  -  CASA DE DAS DORES  -  INTERIOR  -  DIA

NAQUELE MESMO INSTANTE, BABY CHEGAVA À CASA DA NEGRA DAS DORES, NA BANDA DE SUA JURISDIÇÃO.

BABY  -  Das Dores... estou procurando meus documentos que perdi há mais de um mês. Como andei por aqui naquela ocasião, se recorda?

DAS DORES  -  Me recordo. Foi nos dia de nossa mudança. Num se lembra onde deixou, seu Baby?

BABY  -  Lembro nada! Aconteceram tantas coisas naqueles dias!

CORTA PARA:

CENA 3  -  PORTO AZUL  -  IGREJA  -  INTERIOR  -  DIA

PADRE MIGUEL DEIXOU A BÍBLIA SOBRE A MESA E SE ENCAMINHOU PARA OS RECÉM-CHEGADOS.

PADRE MIGUEL -  Querem falar comigo?

MESTRE JONAS  -  E a gente num tem de conversá, padre?

PADRE MIGUEL  -  Ah, sim... eu ia mesmo procurá-los. É sobre o casamento!

MESTRE JONAS   -  Isso mesmo. Sobre o casamento.

DANIEL  -  (curioso) Como é que está a história?

PADRE MIGUEL  -  Tudo muito bem. Muito bem, mesmo. Ia procurar vocês para marcarmos a data! Os papéis já estão prontos. Houve demora, mas foi culpa do Senhor Juiz.

MESTRE JONAS  -  (não cabia em si de contentamento) Se tá tudo pronto, a gente pode marcar pra amanhã mesmo, que é domingo. É um dia bunito!

PADRE MIGUEL  -  Ótimo. Então marcaremos para amanhã. Os noivos podem estar aqui, na igreja, às duas da tarde.

MESTRE JONAS   -  Tá certo, padre, às duas da tarde. Té amanhã!

MESTRE JONAS SAIU QUASE A CORRER DO INTERIOR DA IGREJINHA BRANCA. DANIEL APRESSOU O PASSO PARA ACOMPANHAR O VELHO PAI.

CORTA PARA:

CENA 4  -  REGIÃO DAS MINAS  -  EXTERIOR  -  DIA

ERA SÁBADO. AS MINAS VAZIAS TINHAM UM ASPECTO SOMBRIO, MAIS SILENCIOSAS DO QUE NUNCA. DANIEL PROCUROU ALGUÉM. UM VIGIA. QUERIA SABER ONDE ACHAR O PRESIDENTE DA COMPANHIA. VIU PÉ-NA-COVA APOIADO NO BALCÃO DA BIROSCA, NO CENTRO DA PEQUENA PRAÇA QUE LIMITAVA COM A ALDEIA DOS MINEIROS. FOI ATÉ ELE.

DANIEL  -  Viu o chefe?

PÉ-NA-COVA  -  Tá na administração.

DANIEL  -  (falou alegre) Olha, convida a turma toda pro casamento da minha irmã, amanhã, na igreja de Porto Azul!

PÉ-NA-COVA  -  (surpreendeu-se) Inês vai casá? Com quem?

DANIEL NÃO RESPONDEU. SUBIU CORRENDO OS POUCOS DEGRAUS DE MADEIRA QUE DAVAM ACESSO AOS ESCRITÓRIOS.

CORTA PARA:

CENA 5  -  ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS  -  ESCRITÓRIO  -  INTERIOR  -  DIA.

BABY EXAMINAVA UNS DOCUMENTOS, ENQUANTO RICARDO CALCULAVA, COM AUXÍLIO DE UMA RÉGUA E ALGUNS APARELHOS COMPLICADOS.

DANIEL PAROU À ENTRADA DA PORTA.

DANIEL  -  Dá licença!

RICARDO  -  (ergueu os olhos e fez que sim com a cabeça) Fala, Daniel. O quê que há?

DANIEL  -  (hesitou) Desculpe a intromissão...

RICARDO  -  (cortou) Vai dizendo!

DANIEL  -  Eu... queria... falá com seu Baby.

LIBERATO LEVANTOU OS OLHOS DOS PAPÉIS, FITANDO O FILHO DO PESCADOR.

BABY  -  Comigo? Pois não. O que há?

DANIEL  -  Queria avisá... do casamento, amanhã.

BABY FRANZIU A TESTA, INTRIGADO. RICARDO PRESTOU ATENÇÃO.

RICARDO  -  Quem vai casar?

DANIEL  -  Minha irmã, Inês.

BABY  -  (aguçou a atenção) Ah, Inês vai casar? Bom pra ela. Muito bom, mesmo. Quem é o felizardo?

DANIEL CAIU EM SI DEPOIS DE ALGUNS SEGUNDOS DE ESTUPEFAÇÃO.

DANIEL  -  O senhor não tem ideia... de quem seja o noivo?

BABY  -  (com sinceridade) Não. Palavra de honra. Nem sabia que ela estava noiva. Mais de um mês que não vejo sua irmã!

DANIEL ENGOLIU EM SÊCO. OLHOU PARA UM E OUTRO SEM SABER COMO COMEÇAR A DIZER.

RICARDO  -  (animou-o) Diga, rapaz! Você veio nos convidar para o casamento. Nós iremos, sim! A que horas?

DANIEL  -  Às duas, na igreja de Porto Azul.

BABY  -  Estaremos lá, Daniel. (voltou-se para o engenheiro, apontando-lhe uns documentos com carimbo vermelho) Isto aqui, Ricardo, é preciso ver com urgência.

O ENGENHEIRO LEVANTOU-SE PARA EXAMINAR OS PAPÉIS, QUANDO DANIEL VOLTOU A FALAR. SUA VOZ SAÍA ÔCA, VAZIA, COMO SE NÃO HOUVESSE VIDA EM SEU CORPO.

DANIEL  -  Me dão licença de dizer mais uma coisa?

BABY  -  Diga, meu caro!

DANIEL  -  (respirou fundo) O noivo... o noivo é o senhor, seu Baby!

DURANTE ALGUNS SEGUNDOS NINGUÉM EMITIU PALAVRA. BABY EMPALIDECEU SEM ENTENDER COISA ALGUMA.

BABY  -  Calma, rapaz, calma! Você não pode me assustar desse jeito!

AO LADO, RICARDO ABRIA A BOCA DE ADMIRAÇÃO.

DANIEL  -  (começou a irritar-se) Não tou dizendo mentira! Faz um mês que seu Baby foi com minha irmã falar com padre Miguel. Entregou pra ele os documento tudo... pra fazê o casamento com ela! Disse que ia cumpri a palavra! Não pode ter se esquecido disso! E acho bom cumpri mesmo a palavra! Porque senão vai ficar muito ruim pro senhor e pra todo mundo! Minha família não é de graça! Meu pai não é palhaço! Minha irmã não é brinquedo! (as mãos agitavam-se, ferozmente) Acho bom tá lá na igreja de Porto Azul, amanhã, na hora marcada. Senão... senão... vai ter!

SAIU SEM VOLTAR O ROSTO PARA OS DOIS ALTOS CHEFES DA COMPANHIA.

BABY  -  Caramba... só agora lembro de qualquer coisa, muito vagamente... Um altar... um padre... E mais nada. Agora eu sei! Meus documentos! Eu estava de pileque, rapaz! E agora?!

RICARDO  -  Agora... agora... sei lá! Você se mete em cada uma!

CORTA PARA:

CENA 6  -  PORTO AZUL  -  CHOUPANA DE MESTRE JONAS  -  INTERIOR  -  DIA

HAVIA UM MOVIMENTO DIFERENTE NA VILAZINHA DE PORTO AZUL, ONDE OS PESCADORES CONCENTRAVAM SEUS BARRACOS HUMILDES. NA CHOUPANA DE MESTRE JONAS, ROSA PROVAVA O VESTIDO DE NOIVA NA FILHA. RETOCAVA COM ALFINÊTES, AJEITAVA O VÉU, ENQUANTO INÊS, COM AR DISTANTE, PARECIA ALHEIA A TUDO.

CENA  7  -  PORTO AZUL  -  PRAÇA  -  EXTERIOR  -  DIA

MESTRE JONAS CENTRALIZAVA AS ATENÇÕES, RODEADO DE SEUS AMIGOS, PESCADORES.

MESTRE JONAS  -  Tá todo mundo convidado, minha gente! Afinal. Vou ser sogro de um dos mais importantes figuraços de Santa Catarina! Sorte grande que só a muito poucos é dada na vida!

FIM DO CAPÍTULO  47

Nenhum comentário:

Postar um comentário