Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 47
Participam deste
capítulo
Baby - Claudio
Cavalcanti
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
Daniel -
Paulo Araujo
Padre Miguel - Artur Costa Filho
Pé-na-Cova -
Antonio Pitanga
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Rosa - Ana Ariel
Inês - Betty Faria
CENA 1 -
PORTO AZUL - RUA
- EXTERIOR - DIA
MESTRE JONAS E DANIEL CAMINHAVAM RUMO À IGREJINHA DE PORTO
AZUL.
MESTRE JONAS - (contando nos dedos) Já se passaram 30 dias.
Um pouco mais, 33, eu acho. E desde a noite do pedido de casamento, Padre
Miguel não deu a mínima notícia sobre a data do casório de Inês com Baby
Liberato.
DANIEL - Esse
negócio é pra levar a sério mesmo, pai?
MESTRE JONAS - Claro que é, filho. O moço deixou os
documentos dele e tudo aí, com o padre!
DANIEL - (entusiasmado) Então vamos falar com ele,
pai!
CORTA PARA:
CENA 2 - VILA
DOS MINEIROS - CASA DE DAS DORES -
INTERIOR - DIA
NAQUELE MESMO INSTANTE, BABY CHEGAVA À CASA DA NEGRA DAS
DORES, NA BANDA DE SUA JURISDIÇÃO.
BABY - Das Dores... estou procurando meus documentos
que perdi há mais de um mês. Como andei por aqui naquela ocasião, se recorda?
DAS DORES - Me recordo. Foi nos dia de nossa mudança. Num
se lembra onde deixou, seu Baby?
BABY - Lembro nada! Aconteceram tantas coisas
naqueles dias!
CORTA PARA:
CENA 3 -
PORTO AZUL - IGREJA
- INTERIOR - DIA
PADRE MIGUEL DEIXOU A BÍBLIA SOBRE A MESA E SE ENCAMINHOU
PARA OS RECÉM-CHEGADOS.
PADRE MIGUEL - Querem
falar comigo?
MESTRE JONAS - E a gente num tem de conversá, padre?
PADRE MIGUEL - Ah, sim... eu ia mesmo procurá-los. É sobre o
casamento!
MESTRE JONAS - Isso mesmo. Sobre o casamento.
DANIEL - (curioso) Como é que está a história?
PADRE MIGUEL - Tudo muito bem. Muito bem, mesmo. Ia procurar
vocês para marcarmos a data! Os papéis já estão prontos. Houve demora, mas foi
culpa do Senhor Juiz.
MESTRE JONAS - (não cabia em si de contentamento) Se tá tudo
pronto, a gente pode marcar pra amanhã mesmo, que é domingo. É um dia bunito!
PADRE MIGUEL - Ótimo. Então marcaremos para amanhã. Os
noivos podem estar aqui, na igreja, às duas da tarde.
MESTRE JONAS - Tá certo, padre, às duas da tarde. Té amanhã!
MESTRE JONAS SAIU QUASE A CORRER DO INTERIOR DA IGREJINHA
BRANCA. DANIEL APRESSOU O PASSO PARA ACOMPANHAR O VELHO PAI.
CORTA PARA:
CENA 4 -
REGIÃO DAS MINAS - EXTERIOR
- DIA
ERA SÁBADO. AS MINAS VAZIAS TINHAM UM ASPECTO SOMBRIO, MAIS
SILENCIOSAS DO QUE NUNCA. DANIEL PROCUROU ALGUÉM. UM VIGIA. QUERIA SABER ONDE
ACHAR O PRESIDENTE DA COMPANHIA. VIU PÉ-NA-COVA APOIADO NO BALCÃO DA BIROSCA,
NO CENTRO DA PEQUENA PRAÇA QUE LIMITAVA COM A ALDEIA DOS MINEIROS. FOI ATÉ ELE.
DANIEL - Viu o chefe?
PÉ-NA-COVA - Tá na administração.
DANIEL - (falou alegre) Olha, convida a turma toda pro
casamento da minha irmã, amanhã, na igreja de Porto Azul!
PÉ-NA-COVA - (surpreendeu-se) Inês vai casá? Com quem?
DANIEL NÃO RESPONDEU. SUBIU CORRENDO OS POUCOS DEGRAUS DE
MADEIRA QUE DAVAM ACESSO AOS ESCRITÓRIOS.
CORTA PARA:
CENA 5 -
ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS - ESCRITÓRIO
- INTERIOR - DIA.
BABY EXAMINAVA UNS DOCUMENTOS, ENQUANTO RICARDO CALCULAVA,
COM AUXÍLIO DE UMA RÉGUA E ALGUNS APARELHOS COMPLICADOS.
DANIEL PAROU À ENTRADA DA PORTA.
DANIEL - Dá licença!
RICARDO - (ergueu os olhos e fez que sim com a cabeça)
Fala, Daniel. O quê que há?
DANIEL - (hesitou) Desculpe a intromissão...
RICARDO - (cortou) Vai dizendo!
DANIEL - Eu... queria... falá com seu Baby.
LIBERATO LEVANTOU OS OLHOS DOS PAPÉIS, FITANDO O FILHO DO
PESCADOR.
BABY - Comigo? Pois não. O que há?
DANIEL - Queria avisá... do casamento, amanhã.
BABY FRANZIU A TESTA, INTRIGADO. RICARDO PRESTOU ATENÇÃO.
RICARDO - Quem vai casar?
DANIEL - Minha irmã, Inês.
BABY - (aguçou a atenção) Ah, Inês vai casar? Bom
pra ela. Muito bom, mesmo. Quem é o felizardo?
DANIEL CAIU EM SI DEPOIS DE ALGUNS SEGUNDOS DE ESTUPEFAÇÃO.
DANIEL - O senhor não tem ideia... de quem seja o
noivo?
BABY - (com sinceridade) Não. Palavra de honra. Nem
sabia que ela estava noiva. Mais de um mês que não vejo sua irmã!
DANIEL ENGOLIU EM SÊCO. OLHOU PARA UM E OUTRO SEM SABER COMO
COMEÇAR A DIZER.
RICARDO - (animou-o) Diga, rapaz! Você veio nos
convidar para o casamento. Nós iremos, sim! A que horas?
DANIEL - Às duas, na igreja de Porto Azul.
BABY - Estaremos lá, Daniel. (voltou-se para o
engenheiro, apontando-lhe uns documentos com carimbo vermelho) Isto aqui,
Ricardo, é preciso ver com urgência.
O ENGENHEIRO LEVANTOU-SE PARA EXAMINAR OS PAPÉIS, QUANDO
DANIEL VOLTOU A FALAR. SUA VOZ SAÍA ÔCA, VAZIA, COMO SE NÃO HOUVESSE VIDA EM
SEU CORPO.
DANIEL - Me dão licença de dizer mais uma coisa?
BABY - Diga, meu caro!
DANIEL - (respirou fundo) O noivo... o noivo é o
senhor, seu Baby!
DURANTE ALGUNS SEGUNDOS NINGUÉM EMITIU PALAVRA. BABY
EMPALIDECEU SEM ENTENDER COISA ALGUMA.
BABY - Calma, rapaz, calma! Você não pode me assustar
desse jeito!
AO LADO, RICARDO ABRIA A BOCA DE ADMIRAÇÃO.
DANIEL - (começou a irritar-se) Não tou dizendo
mentira! Faz um mês que seu Baby foi com minha irmã falar com padre Miguel.
Entregou pra ele os documento tudo... pra fazê o casamento com ela! Disse que
ia cumpri a palavra! Não pode ter se esquecido disso! E acho bom cumpri mesmo a
palavra! Porque senão vai ficar muito ruim pro senhor e pra todo mundo! Minha
família não é de graça! Meu pai não é palhaço! Minha irmã não é brinquedo! (as
mãos agitavam-se, ferozmente) Acho bom tá lá na igreja de Porto Azul, amanhã,
na hora marcada. Senão... senão... vai ter!
SAIU SEM VOLTAR O ROSTO PARA OS DOIS ALTOS CHEFES DA
COMPANHIA.
BABY - Caramba... só agora lembro de qualquer coisa,
muito vagamente... Um altar... um padre... E mais nada. Agora eu sei! Meus
documentos! Eu estava de pileque, rapaz! E agora?!
RICARDO - Agora... agora... sei lá! Você se mete em
cada uma!
CORTA PARA:
CENA 6 -
PORTO AZUL - CHOUPANA DE MESTRE JONAS -
INTERIOR - DIA
HAVIA UM MOVIMENTO DIFERENTE NA VILAZINHA DE PORTO AZUL, ONDE
OS PESCADORES CONCENTRAVAM SEUS BARRACOS HUMILDES. NA CHOUPANA DE MESTRE JONAS,
ROSA PROVAVA O VESTIDO DE NOIVA NA FILHA. RETOCAVA COM ALFINÊTES, AJEITAVA O
VÉU, ENQUANTO INÊS, COM AR DISTANTE, PARECIA ALHEIA A TUDO.
CENA 7
- PORTO AZUL -
PRAÇA - EXTERIOR
- DIA
MESTRE JONAS CENTRALIZAVA AS ATENÇÕES, RODEADO DE SEUS
AMIGOS, PESCADORES.
MESTRE JONAS - Tá todo mundo convidado, minha gente! Afinal.
Vou ser sogro de um dos mais importantes figuraços de Santa Catarina! Sorte
grande que só a muito poucos é dada na vida!
FIM DO CAPÍTULO 47
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