domingo, 17 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 46


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 46

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Inês  -  Betty Faria
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Rosa  - Ana Ariel
Padre Miguel  - Artur Costa Filho
Ester  -  Gloria Menezes
Cândida  - Monah Delacy

 CENA 1  -  PORTO AZUL  -  IGREJA  -  SACRISTIA  -  INTERIOR  -  NOITE

A DECISÃO ESTAVA TOMADA E BABY NÃO ARREDAVA PÉ. POR QUE NÃO ENFRENTAR A REALIDADE? MESTRE JONAS, O PESCADOR, DE HÁ MUITO BUSCAVA UMA RAZÃO PARA A VINGANÇA. NÃO ACEITAVA QUE A FILHA, SUBMETIDA AOS CAPRICHOS DE UM MOÇO RICO, CONTINUASSE A SERVIR DE DISTRAÇÃO, APENAS DISTRAÇÃO, PARA OS MOMENTOS DE FOLGA DE LIBERATO. BABY NÃO DEIXARA DE SE ENCONTRAR COM INÊS, E AGORA MUITO MENOS, DEPOIS DA AMIZADE QUE O UNIA A DANIEL E A TODO O GRUPO DE MINEIROS QUE FORMAVA O SEU BANDO DE HOMENS DE CONFIANÇA. TUDO MUDARA EM POUCO TEMPO. BABY TINHA UM SÓ OBJETIVO – PROGREDIR COM A COMPANHIA E DESTRUIR O PRIMO. TRANSFORMAR OTTO MULLER NUM MISERÁVEL PEDINTE. IDÉIA FIXA.

NAQUELA NOITE, DEPOIS DE BEBER MUITO, BABY LEVOU INÊS À IGREJINHA DE PORTO AZUL E, DE MÃOS DADAS, ESTAVAM DIANTE DO PADRE MIGUEL.

BABY  -  Eu vou me casar com Inês!

PADRE MIGUEL  -  Ótimo, meus filhos! Maravilhoso! Fico muito alegre quando dois jovens decidem se unir pelos santos laços do matrimônio!

BABY  -  (nervoso) Olha aqui, padre, olha! Estou querendo me amarrar nela... porque a gente passou uma noite fora ... e os pais dela... quero dizer... estão pensando que eu... que eu... sou um aproveitador... explorador de mocinhas ingênuas. Eu tenho má fama, padre!

PADRE MIGUEL  -  (com olhar simpático) Ah, meu filho! Você está provando o contrário. Com um ato deste, você está salvando a sua alma! (virou-se para a moça que até então não dera um pio) E você, Inês, está disposta a se unir a ele?

INÊS  -  (queria acreditar que não sonhava) Eu? Padre, sei lá! Ele é meio doido! É capaz de tá fazendo isso e se arrependendo amanhã!

PADRE MIGUEL  -  Baby Liberato é um bom rapaz. Um rapaz de bem, minha filha. Ele vai cumprir a palavra que deu a você. E já que estão decididos, o que resta a fazer é deixar comigo os papéis... ambos já são maiores de idade.

BABY  - (intrigado) Os papéis?

PADRE MIGUEL  -  Documentos de identidade...

BABY  -  Ah, sim! Documentos de identidade... (rebuscou os bolsos, desajeitadamente; caiu sentado contra o banco da sacristia, enquanto procurava a carteira no bolso traseiro da calça jeans) Ôpa! (riu ao tombar sobre o banco) Ah, aqui está!

PADRE  -  E os seus, minha filha?

JONAS E ROSA ACABAVAM DE ENTRAR APRESSADAMENTE NO TEMPLO, AINDA NÃO ACREDITANDO NA DECISÃO INACREDITÁVEL DO PRESIDENTE DA COMPANHIA DE MINERAÇÃO.

MESTRE JONAS  -  (gritou de longe, ao ouvir o pedido do padre) Os documento dela... tá tudo aqui!

PADRE MIGUEL  -  (explodiu de contentamento) Mestre Jonas! Dona Rosa! Que felicidade!

BABY ABRAÇOU O HUMILDE PESCADOR, APERTADAMENTE.

BABY  -  Meu sogro! Estou emocionado!

ROSA  -  (sorridente) Calma... ainda não se casaram!

BABY  -  (feliz) Ainda não?! Pensei que só em falar com o padre a gente já estava amarrado!

PADRE MIGUEL  -  Não, meus filhos... temos alguns dias pela frente. Até lá podem pensar... para que não haja arrependimento depois.

MESTRE JONAS  -  (sério, a voz firme e equilibrada) Não vai havê arrependimento, seu padre. Pode tocá o bonde!

PADRE MIGUEL  -  Então... daqui a alguns dias... depois que eu falar com o juiz... podemos realizar o casamento... aqui mesmo, na Igreja da Lagoinha (benzeu o casal com um sinal da cruz no ar) Vão com Deus, meus filhos... e que Deus os abençoe.

BABY PEGOU DO BRAÇO DA NAMORADA E COMO SE TIVESSE DEIXADO O ALTAR DEPOIS DO ATO NUPCIAL, SAIU ENTOANDO A MARCHA NUPCIAL. INÊS NÃO SE CONTEVE. AS LÁGRIMAS LHE CAÍAM DOS OLHOS COMO CACHOEIRAS DIMINUTAS.

CORTA PARA:
Baby e Inês

CENA 2  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

FAZIA UM MÊS QUE ESTER HAVIA PROCURADO A MÃE DO AVIADOR ASSASSINADO, À PROCURA DE UMA PISTA QUE INCRIMINASSE OTTO MULLER E O LEVASSE ÀS GRADES.

NAQUELA MANHÃ ESTER NÃO HAVIA AINDA DEIXADO A SUA CASA NO ALTO DO OUTEIRO. ALGUÉM BATEU À PORTA COM INSISTÊNCIA.

ESTER  -  Dona Cândida... que surpresa!

CÂNDIDA  -  (entrou, ainda trêmula) Bom encontrar você aqui. Preciso muito lhe falar, minha filha!

A JOVEM CONVIDOU A MÃE DO AVIADOR A ENTRAR E SENTAR-SE NA VARANDA ENVIDRAÇADA.

CÂNDIDA  -  Eu vim... porque fiz uma descoberta muito importante... e achei que você precisava tomar conhecimento!

ESTER  -  (a curiosidade aguçada) ... a respeito de quê?

CÂNDIDA  -  Você sabe que eu conhecia o pai do Senhor Otto...

ESTER  -  Sim, a senhora já me disse, há tempos...

CÂNDIDA  -  Eu o vi, há muitos anos atrás, em Porto Alegre. Estava em companhia de um casal amigo... e foram eles que me mostraram Von Muller Leoschen. O casal havia sido vítima, na guerra, do major da SS.

ESTER  -  Compreendo. Eram judeus.

CÂNDIDA  -  Exato. Daí meu conhecimento com Von Muller Leoschen. Ele fugiu, é claro! Nunca mais ninguém o viu. Mas hoje, Ester, hoje... eu voltei a ver esse homem! Ele está aqui, em Florianópolis!

ESTER  -  (abismou-se com a revelação) O pai de Otto? Aqui?

CÂNDIDA  -  Tenho certeza! Era ele mesmo!

ESTER  -  Como foi que o viu? Me diga em detalhes como a senhora constatou a presença desse carrasco nazista em Florianópolis! Se isso for verdade, Von Muller ficou louco, varrido!

CÂNDIDA  -  Entrei num bar para telefonar, e enquanto falava, minha atenção foi despertada para aquele velho bebendo, numa das mesas. Muito vermelho, olhos azuis, arrogante. Cortei minha conversa para seguir aquele homem. Reconheci-o de estalo! Interessava saber para onde ele se dirigia... Até que cheguei a uma casa pequena, na estrada que leva ao farol. O homem entrou ali. Nas redondezas, ninguém sabe o que ele faz, nem de que vive. Deu o nome de Joseph. Apenas Joseph.

ESTER SE IMPRESSIONOU COM A REVELAÇÃO. ESTAVA MUITO PÁLIDA, OLHOS ESBUGALHADOS, ATENTA À HISTÓRIA.

ESTER  -  Tem certeza de que era ele? Não se enganou? Quantos anos faz que o conheceu, em Porto Alegre?

CÂNDIDA  -   Faz cinco anos. Aquele rosto não me saiu jamais da mente. As coisas que me contaram dele, também não.

ESTER  -  Ele é condenado de guerra.

CÂNDIDA  -  É. Foi julgado e condenado, em Nuremberg, mas conseguiu escapar. Sei que a polícia internacional e organizações judaicas... comandadas por Simon Wiesenthal... andam à procura dele. Quando foi visto em Porto Alegre, o casal o denunciou, mas o homem escapuliu como num passe de mágica. Ninguém conseguiu encontrar nem pista dele.

ESTER  -  Ele deve estar aqui com... o apoio de Otto.

CÂNDIDA  -  Com certeza, Ester. E eu lhe contei isso pra você fazer o que quiser. Eu não posso afirmar ter sido Otto o assassino do meu filho, mas o odeio como... você o odeia.

ESTER  -  Pela primeira vez, acredito que algo vai acontecer, modificando um passado de mentiras e interesses. A riqueza de Otto tem servido para defendê-lo contra a verdade dos fatos. Ninguém gosta ou deseja se opor a um homem bilionário, dono de consciências e de almas. Isso pode mudar muita coisa, Dona Cândida. Pode mudar até minha situação, a minha vida... Isso muda tudo. Tudo!

FIM DO CAPÍTULO 46





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