sexta-feira, 20 de maio de 2011

CAPÍTULO 17


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 17

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DIANA
POTIRA
JOÃO
DALVA
ESTELA
PEDRO BARROS

CENA 1  -  CHOUPANA NA FLORESTA  -  INT. E EXT. -  DIA.
 
A chave rodou no interior da fechadura. Uma, duas vezes. A porta se abriu e Diana recebeu o feixe de luz sobre o rosto. O sol continuava causticante, arrancando raios coloridos das paredes rochosas da margem do riacho. João entrou na estreita sala. Diana recebeu-o com palavrões.

 
DIANA  -  Seu... besta de uma figa! Por que me trancou aqui? Eu tenho de dar o fora. Cachorro! Patife! Pensa que eu sou o quê? Sua prisioneira?

João agarrou o braço da jovem com força. Raivoso.


JOÃO  -  Agora... você vem comigo.

DIANA  -  Aonde?

JOÃO  -  A gente... vai até a casa de Pedro Barros. Vou te levá lá... pra te por frente a frente com a professora!

DIANA  -  Não quero ir. Não me interessa ver aquela débil mental. Quero ir embora, tratar da minha vida.

JOÃO  -  Não. Desta vez ce vai comigo. Estão querendo prejudicá a outra moça e eu não vou deixá.

Diana quis forçar passagem pela porta acanhada. O corpo do rapaz tomava por completo o espaço existente.

DIANA  -  Me deixa passar.

Potira ouvira a discussão, do lado de fora. Pediu ao irmão, tolerante:

POTIRA  -  Larga a moça, Jão.

JOÃO  -  Não vê a necessidade de provar que elas são duas?

Diana tornava-se a cada instante mais violenta. Gritava, enlouquecida.

DIANA  -  A quem você quer ajudar? A ela? E quer me jogar na rua da amargura?

JOÃO  -  A outra moça não merece...

DIANA  -  Eu não quero estar metida nisto.

JOÃO  -  Vai ter que estar!

DIANA  -  Ninguém vai me obrigar. Você me largue! Me deixe em paz! Me deixe em paz!
   
JOÃO  -  (perdendo a paciência)    -Bom... se não vai por bem... vai ter de ir por mal.
   
DIANA  -  (esperneava)  Não. Não vou. Me solta!

De repente, a jovem soltou um grito mais alto e estridente. Suas mãos procuraram as têmporas. Depois Diana tapou o rosto com as mãos. Os joelhos tocaram o chão barrento, avermelhando-se ante a aspereza do solo. A moça permanecia paralisada como num transe mediúnico. Os lábios tremiam-lhe. Potira olhava a cena impressionante. Buscava os olhos de João.

 
POTIRA  -  Que é que ela tem?

A pausa fôra longa. Agora, aos poucos, a jovem levantava o rosto. As mãos macias escorriam vagarosas face abaixo. Havia meiguice e santidade em sua expressão. E cansaço também. João deu um passo á frente. A moça denotava espanto, olhando para os quatro cantos da minúscula sala.

MARIA DE LARA  -  O que foi?

JOÃO  -  Tá melhor? A gente pode ir

Potira interveio. Ajoelhou-se diante da jovem, que agora parecia outra.

POTIRA  -  Espera, Jão. Ela não está bem.  Que foi, moça?

MARIA DE LARA  -  Que lugar é este? Quem me trouxe para cá?

POTIRA  -  Foi João...

MARIA DE LARA  -  O Senhor João? Onde me encontrou? Como foi que vim parar aqui? Por quê? Que lugar é este?

Tentou levantar-se. Potira deu-lhe a mão, ajudando-a a erguer-se do chão duro.


POTIRA  -  Que tá sentindo?

MARIA DE LARA  -  Minha cabeça...
  
JOÃO  -  (sem acreditar naquilo)  Isso é fita, pra não ir...

MARIA DE LARA  -  Senhor João... por favor, me diga... que aconteceu comigo? Como me encontrou?

JOÃO  -  Agora... agora vem ela com senhor  João... e até parece outra!
   
MARIA DE LARA  -  (estremecendo)  Outra?

JOÃO  -  Tá querendo me enganá... não quer que leve você á presença da professora...

MARIA DE LARA  -  Professora?

JOÃO  -  Sim. A filha de Pedro Barros!

MARIA DE LARA  -  Mas... eu sou a filha de Pedro Barros!

A revelação paralisou João e Potira. Lábios entreabertos, na expressão da surpresa, um e outro permaneciam estáticos. Dir-se-ia que o mundo havia parado, que a natureza se transformara num repouso absoluto.

JOÃO  -  (acordou do espanto)  Você? Mas... você?

Potira adiantou-se. Pegou as mãos da jovem, entre as suas.

POTIRA  -  Você é Diana, moça...

MARIA DE LARA  -  Sou Lara...

João segurou-a fortemente pelos ombros. Balançou-lhe o corpo delicado.

JOÃO  -  Tá pensando... que eu sou o que? Um idiota?
  
MARIA DE LARA  -  (chorava abafadamente)  Eu sou Lara!
  
JOÃO  -  (sacudiu-a)  E Diana? E Diana?

MARIA DE LARA  -  Não sei quem é Diana!

JOÃO  -  É doida ou... quer me por doido...

MARIA DE LARA  -  Não sei do que está falando... mas me deixe ir embora... quero ir para minha casa... Seja o que for que tiver acontecido... eu lhe sou muito grata. Meu pai saberá recompensá-lo. Pedirei a Deus para ajudá-lo... Vou orar pelo senhor... mas... agora, eu lhe peço... deixe-me ir embora...

JOÃO  -  Vai rezá, não é? Vai pedir a Deus por mim... Tou precisando mesmo da ajuda dele. Porque tou ficando zonzo. Você tá me pondo doido. Agora vem com essa história de... de não saber quem é Diana... eu não entendo mais nada. E vou pedir a ajuda de alguém pra me explicá

MARIA DE LARA  -  Ajuda de quem?

JOÃO  -  Do Padre Bento.

MARIA DE LARA  -  Faz bem. Chame o Padre Bento... imediatamente. Preciso falar com alguém sensato... Vejo que o senhor não está em condições de me dizer nada... Vá que eu espero. Não estou entendendo nada. Parece que estou num outro mundo... onde as pessoas e as coisas são diferentes. Vá, eu lhe peço... vá buscar o Padre Bento!

JOÃO  -  Vem, Potira...

POTIRA  -  Ela pode precisá de mim.
  
MARIA DE LARA  -  Obrigada. Fico com Deus. Não preciso de nada.

Ajoelhando-se no centro da sala, a moça, com os olhos molhados e mãos postas, rezava a meia-voz. João e Potira, perplexos, saíram, deixando a porta da choupana entreaberta. Lá dentro, Maria de Lara seguia rezando, desligada do mundo.
CORTA PARA:
 
CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  QUARTO DE LARA  -  INT.  -  DIA.

Dalva jogara-se sobre a cama de Lara, enquanto Estela exigia uma explicação.

ESTELA  -  Desde quando isso acontece?

DALVA  -  Certa vez, no Rio, ela se aborreceu com Artur, que a repreendeu severamente por ter arranjado um namorado. Logo após, queixou-se de violenta dor de cabeça. Inexplicavelmente, desapareceu de casa, durante dois dias. Não sabemos até hoje o que foi que lhe aconteceu. Nós a procuramos desesperadamente por toda a cidade.

ESTELA  -  Onde a encontraram?

DALVA  -  Ela voltou... sozinha – atordoada... Quando eu me lembro! Estava muito abatida... cansada, e não se recordava de nada que lhe havia acontecido. Para ela... não havia noção de tempo... me entende?

ESTELA  -  Sim.

DALVA  -  Dois dias, não se passaram na vida dela. Disse que despertou num local completamente estranho... de manhã, num bar aonde nunca tinha ido. Tomou um táxi e mandou tocar para casa. No entanto, estava vestida de forma diferente... ela não conhecia aquelas roupas. Nós a levamos ao hospital.

ESTELA  -  E os médicos, o que disseram?

DALVA  -  Deram o fato como um ataque de amnésia.

ESTELA  -  As crises voltaram?

DALVA  -  Não... não tão fortes... Apenas, ás vezes, uma forte dor de cabeça. Nunca mais tive sossego e, quando me telefonou daqui, revelando que voltara a sentir o mesmo mal-estar, fiquei assustada. E, realmente... aqui... tudo voltou.
   
ESTELA  -  (preocupada)  E o que aconteceu durante essas crises?

DALVA  -  Não sei! Não tenho certeza!

ESTELA  -  Será que durante as crises... ela faz coisas... enfim, ela se transforma?

DALVA  -  Não, não Eu quero acreditar que não! Isto não pode acontecer com a minha Lara!  ( chorava desesperadamente)  Eu não a imagino capaz de fazer certas coisas.
   
ESTELA  -  (dissimulava o nervosismo)  Não se trata do que ela é capaz de fazer.

DALVA  -  Como não, Estela? Eu prefiro morrer... a saber que Lara... se transforma numa mulher... dessa espécie.

ESTELA  -  Ora, lá vem você com seus preconceitos! O que me apavora, não é isso...

DALVA  -  O que é, Estela?

ESTELA  -  É a maneira como Pedro vai receber o fato. Ele não receberá com os seus escrúpulos, nem com a minha tolerância. Se for verdade que ela é aquela mulher... a outra, será capaz de matá-la. Eu tenho quase a certeza de que estamos diante de um caso fantástico. Como? Por que isto acontece? De que maneira? Eu não entendo. Talvez um médico... especialista... ou um estudioso de fatos sobrenaturais...

A porta escancarou-se ante o pontapé violento de Pedro Barros, que entrou no recinto.


PEDRO BARROS  -  Cadê minha filha?
  
ESTELA  -  (amedrontada)  Sua filha não está.

PEDRO BARROS  -  Cadê ela?

Estela e Dalva fitaram-se durante alguns segundos.


PEDRO BARROS  -  (insistiu, colérico)  Cadê ela? Que mistério é esse?
   
ESTELA  -  Ela saiu... não faz muito tempo.

PEDRO BARROS  -  Como saiu? Eu lhe disse que queria lhe falar. Vou buscar ela, onde foi?

ESTELA  -  Deixe Pedro, eu e Dalva a traremos de volta. Vou mandar preparar o carro.

PEDRO BARROS  -  O que tá acontecendo com a minha filha?

DALVA  -  Nada, Pedro, nada... eu lhe garanto. Ela saiu... não faz muito tempo... e eu creio que... foi á igreja.



FIM DO CAPÍTULO 17

 
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
RITINHA TELEFONA PARA DUDA PARA AVISAR DA CHEGADA DE JERÔNIMO E SINHANA AO RIO. O JOGADOR, MUITO ABORRECIDO COM A ESPOSA, DECIDE FUGIR DA CONCENTRAÇÃO PARA RECEBER OS PARENTES, MAS É DESCOBERTO POR FAUSTO PAIVA!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 18 DE


quinta-feira, 19 de maio de 2011

CAPÍTULO 16


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 16

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DIANA
JOÃO
JERÔNIMO
RODRIGO
ESTELA
PEDRO BARROS
DALVA


CENA 1  -  COROADO  -  CHOUPANA NA FLORESTA  -  INT.  -  DIA.

Diana observava o interior da pobre choupana de barro seco, taipa e sapê. Servira, noutros tempos, para armazenagem de material de garimpo. A moça contemplava o conjunto em desordem. Balançava-se indolente. Os ganchos rangiam na parede de barro batido. O tropel do cavalo despertou-a. João entrou.


DIANA  -  Pensei que me deixasse mofando aqui, hoje.

JOÃO  -  Trouxe comida pra você. Tá com fome?

DIANA  -  É claro que estou com fome. Mas, quero saber o que é que você pretende com tudo isso.
   
JOÃO  -  Come!

Diana, esfaimada, atendeu á ordem.

DIANA  -  Bem, hoje vou dar o fora daqui, grandalhão. Já me encheu a paciência. Desde ontem você me tem como sua prisioneira.

O jovem Coragem ajoelhou-se diante da moça.

JOÃO  -  Você não é minha prisioneira... Eu quero te salvar...

DIANA  -  Salvar... mas salvar de que, João?

JOÃO  -  Do pecado. Quero salvar a mim mesmo. Eu chego aqui e... entro em pecado.

DIANA  -  Besteira!  (T) E para que você me prende? Quer me transformar em freira, por acaso?

Ajoelhado ainda, João Coragem ouvia as perguntas da mulher.

JOÃO  -  (insistiu)  Minha idéia... era pedir pra outra... pra filha de Pedro Barros... vir aqui... te dar uma lição de moral. Pra vê se você ficava igual a ela. Se conseguisse... eu me casava com você.

Diana gargalhou. Tomou a cabeça do rapaz entre as mãos, desgrenhando-lhe a cabeleira negra.

DIANA  -  Pedir pra filha de Pedro Barros me dar lição de moral! Esta é muito boa.  ( continuava comendo, avidamente)  E pediu?

JOÃO  -  Não... não tive coragem... de me aproximar da casa dela. Estive hoje, o dia inteiro, rondando a casa. Os criados me dissero que ela está no quarto... doente. Eu não tive coragem de pular a janela pra ir no quarto dela...
  
DIANA  -  (apreensiva)  E fez muito bem. Olhe aqui, João: eu gosto de ser o que sou. Ninguém vai me mudar...

JOÃO  -  Quero que você tenha paciência... porque amanhã cedo... bem cedinho, mesmo, eu vou pedir ao Padre Bento pra vim te dá uns conselho.

DIANA  -  Não adianta!  (com ar altivo)  Nem o padre, nem o papa. Eu não mudo, João. Nem o próprio Deus vai me fazer ficar diferente!
  
JOÃO  -  Por que você não quer mudar de jeito?

DIANA  -  Simplesmente porque não quero. Custei a me livrar daquela prisão...
   
JOÃO  -  (sobressaltado)  Prisão?

DIANA  -  É... prisão... num outro sentido. Agora que eu me libertei... não quero voltar. Estava até te esperando... só pra me despedir... porque, hoje, eu tenho de dar o fora. Vou continuar a minha vida... sem me prender a ninguém. Nem a você, que foi o cara mais legal que conheci até hoje. Mas eu gosto... de variar, me entende?

Diana acabara de comer. Levantou-se, empurrando a cabeça do rapaz, ternamente.

DIANA  -  Estou começando a achar que isto que existe... entre nós... está ficando muito sentimental...

João puxou-a para si e seus lábios colaram-se, mais uma vez, enquanto súbito relâmpago iluminava a escuridade ambiente. Jerônimo estava á porta. Á luz do flash registrara a cena que desejava. O Coronel Pedro Barros não perderia por esperar...

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CHOUPANA NA FLORESTA  -  INT.  E EXT.  -  DIA.

João entendeu tudo ao ver a máquina fotográfica nas mãos de Jerônimo. Enrubesceu de raiva. Aquilo era demais. Avançou contra o rapaz, tentando apoderar-se do aparelho. Jerônimo, mais rápido, escondeu a máquina entre os braços poderosos.


JERÔNIMO  -  Só quero te provar o que disse, Jão. Que ela e a filha de Pedro Barros... são a mesma.
   
DIANA  -  (com ódio)    Idiota! Não sou a mesma, coisa nenhuma!

Tentou investir contra o rapaz em busca da máquina fotográfica. Jerônimo deixou célere a choupana. Pulou no cavalo e afastou-se, perdendo-se na poeira da estrada. O sol causticava a zona dos garimpos.

João Coragem empurrou a moça para a rêde e, fechando a porta, saiu no encalço do irmão. Diana gritava na choupana batida pelo calor.


DIANA  -  Ei, me espera aí. Eu quero ir embora! Me deixa ir embora!

Bateu com raiva na porta de madeira. Resistente.


DIANA  -  João! João!

 As unhas riscavam traços desiguais na madeira lisa. Diana chorava com desespero.


CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  RUAS  -  EXT.  -  DIA.

Os dois cavalos cruzaram em disparada as ruas de Coroado. Pararam diante do hotel de Gentil Palhares. Jerônimo entrou, correndo.


JERÔNIMO  -  Dr. Rodrigo! Dr. Rodrigo!

O promotor surgiu do interior da casa. Jerônimo lhe entregou a máquina. João apareceu, esbaforido.

JOÃO  -   ( partiu na direção do promotor)  Me dê isto!

Rodrigo estendeu a mão, em sinal de advertência.

RODRIGO  -  Pare, João... eu explico.

JOÃO  -  Já sei o que oceis querem!

RODRIGO  -  (procurava explicar)  É uma arma que a gente tem na mão.

JOÃO  -  Arma... contra a moça? Que foi que ela fez proceis?

RODRIGO  -  Não é contra ela... é contra o pai dela.
   
JOÃO  -  Disse e repito: aquela não é a professora. Aquela é outra. Eu dou minha palavra!

O rapaz avançou contra o promotor, desvairado. Jerônimo cerrou o punho e acertou o irmão. O sôco violento, de baixo para cima, dado com ira, lançou João Coragem ao solo. Meio zonzo com o ataque inesperado, João tentou levantar-se.

RODRIGO  -  (enérgico)  Estão loucos, rapazes? Dois irmãos!

JERÔNIMO  -  (espumando)  Essa mulher... tá pondo ele perdido.  Vai ser a destruição de tudo o que planejamos.

JOÃO  -  (levantou-se trêmulo)  Eu acho que tenho o direito de gostar de quem eu quero. Se ocê não teve sorte, irmão, eu não tenho culpa. Não venha agora, desforrá em cima de mim. Pra acabá com isso... me dê esse troço aí... pra destruir o retrato que ocê tirô...

JERÔNIMO  -  (arrancou a máquina das mãos do promotor)  Escuta uma coisa... eu agora vou em frente. Você disse bem. Nunca tive sorte. Sempre fui o irmão apagado, o coitado. Não vou ser mais, Jão. Não vou ser mais!

João ainda tentou retirar a máquina das mãos do rapaz. Jerônimo recuou. Havia qualquer coisa na sua voz que obrigou o mais velho a interromper a investida.

JERÔNIMO  -  Prova, Jão! Prova que as duas não são a mesma mulher... e eu te juro... te devolvo o retrato. Juro!

Rodrigo aproximou-se do garimpeiro alto e robusto. Abraçou-o, em atitude pacificadora.

RODRIGO  -  É uma boa idéia. Prove... prove, João, e estará fazendo um benefício a você mesmo.

Olhando os dois homens, duros e inflexíveis, o rapaz voltou as costas e desapareceu pela porta da frente.

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  INT. - DIA.

PEDRO BARROS  -  (off) Lara! Lara!

O vozeirão de Pedro Barros cruzava o casarão da fazenda como vento de temporal. Estela apareceu no alto da escada Trajava um vestido leve, de padrão alegre.

ESTELA  -  Ela ainda está no quarto, Pedro!

PEDRO BARROS  -  Já tou cheio de ver essa menina no quarto! Manda ela descer. Já! Quero falar com ela. Anda, vai lá e chama ela!

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASA - GRANDE  -  CORREDOR  -  SEQUENCIA  -  INT.  -  DIA.


Estela bateu á porta do quarto da filha. Pancadas leves com os nós dos dedos.


ESTELA  -  Lara! Lara!

A porta se abriu e Dalva apareceu, sombria, o rosto magro, maçãs salientes.

DALVA  -  Que é?

ESTELA  -  Será possível que não podemos falar com nossa filha? Pedro está impaciente. Tenho medo quando ele fica assim. É violento! Está querendo falar com ela imediatamente.

DALVA  -  Falar com ela? Pra que?

ESTELA  -  Há dois dias que você não nos deixa entrar neste quarto. Isto não pode continuar.

DALVA  -  Entre. Veja você mesma... com seus próprios olhos...

CORTA PARA:

CENA 6  -  CASA - GRANDE  -  QUARTO DE LARA  -  SEQUENCIA  -   INT.  -  DIA.

Afastando-se da porta, Dalva permitiu a entrada de Estela. Era visível o nervosismo das duas. Estela olhou o interior da dependência. Olhos arregalados, feições transtornadas.

ESTELA  -  Onde... onde ela está?

DALVA  -  Há dois dias que eu minto. Há dois dias que ela não está em casa. (desesperava-se)  Que é que eu podia fazer, Estela? Que é que eu podia fazer?


FIM DO CAPÍTULO 16
Maria de Lara (Gloria Menezes) e Dalva (Mirian Pires)


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# DIANA SENTE A TERRÍVEL DOR DE CABEÇA E VOLTA A SER MARIA DE LARA, DIANTE DE JOÃO E POTIRA, QUE FICAM PERPLEXOS, SEM ACREDITAR NO QUE VÊEM!

# COM UM VIOLENTO PONTAPÉ, PEDRO BARROS ENTRA NO QUARTO DE LARA  E PERGUNTA A DALVA E ESTELA - ONDE ESTÁ MINHA FILHA?


NÃO PERCA O CAPÍTULO 17 DE

terça-feira, 17 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 15


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 15

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

HERNANI
PAULA
RITINHA
DUDA
DIANA
JOÃO
GENTIL PALHARES
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO

CENA  1  -  RIO DE JANEIRO  -  PRÉDIO DO APTO.  DE DUDA  -  PORTARIA  -  INT.   -  DIA.

Alguns pingos de chuva tamborilavam sobre o tapete do portão de entrada do edifício. Hernani conteve a irmã por alguns segundos.


HERNANI  -  Onde você pensa que vai, Paula?

PAULA  -  Que é que você acha?

HERNANI  -  Deixa o casal em paz. Não esteve com o Duda até agora? O que quer mais?

PAULA  -  Me esqueci de um troço que comprei com ele. Vou pegar, senão ela pensa que é dela.

HERNANI  -  Você quer estragar tudo?  (segurava o pulso da irmã, impedindo-a de subir ao apartamento de Eduardo)   Ou será que você está levando a sério esse romance?

Paula deu-lhe as costas e premiu o botão do elevador.

CORTA PARA:

CENA 2  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

Havia silencio no apartamento. Ritinha e Duda descobriam-se, mutuamente, como marido e mulher. A campainha soou. A moça deixou a maciez da cama. Lá fora a chuva ganhava intensidade. 

 
CENA 3  -  APTO. DE DUDA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

A campainha tornou a soar. Rita abriu a porta.

 
RITINHA  -  Quê que você quer?

PAULA  -  Vim rapidamente. Estive fazendo compras com o Duda hoje de manhã... e ele trouxe meu perfume por engano. Vim buscá-lo. ( estendeu a mão)   Quer me dar, por favor?

Rita olhou para dentro da casa com ira. Seus olhos buscavam o marido. “Mentiroso...” – pensava.


PAULA  -  Avant La Fête... é o perfume da moçada.

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  RUA  -  EXT.  -  DIA.

Durante a esticada do casebre de Braz ao hotel do Gentil, Diana deixou-se, languidamente, cair sobre o peito forte de João Coragem. Sentia-lhe o odor másculo, a rijeza dos músculos, a segurança dos movimentos. Nem sentia o trote ás vezes duro do alazão. A proximidade do rapaz fazia seu sangue ferver.  Ao passar por uma pequena multidão,  João parou o cavalo e tirou o chapéu, fazendo o sinal da cruz.

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  PENSÃO DE GENTIL PALHARES  -  INT.  -  DIA.


João e Diana entraram na Pensão. Gentil se achava desolado.

GENTIL PALHARES -  Ai, meu Deus, quanta desgraça!

JOÃO  -  Quem morreu? Vi um enterro com gente,  pra burro.

GENTIL PALHARES  -  Oh, homem,  está no mundo da lua? Pois não foi o senhor prefeito, o seu Jorginho! Foi assassinado, ontem, em plena praça!

JOÃO  -  Jorginho! Meu Deus do Céu, Coroado tá virando uma cidade perigosa... Ontem, Braz Canoeiro, quase assassinado! Hoje, Jorginho prefeito. E amanhã, quem vai sê?

GENTIL PALHARES  -  Estou dizendo, João! Estou dizendo!

O hoteleiro não havia notado a presença de Diana. Olhou-a agora, aterrorizado.

GENTIL PALHARES  -  Esta mulher, de novo! O que ela veio fazer aqui?

DIANA  -  Vim cantar um fado, portuga!

Pedro Barros apareceu á porta. Aproximou-se, lentamente, de Diana. De costas a moça nada pressentia.

PEDRO BARROS  -  Soube que minha filha Lara está aqui. Vim do enterro pra ver se é verdade.

João correu em socorro da moça.


JOÃO  -  Lhe informaro errado. Esta não é sua filha.
  
PEDRO BARROS  -  Lara?

Diana não se voltou. Permaneceu de costas para o coronel do garimpo. Atirou-lhe a resposta por entre dentes.

DIANA  -  Já ando cheia de me confundirem com aquela zinha. Desguia, velho, desguia e vai procurar tua filha na igreja.
   
PEDRO BARROS  -  (atordoado)  Que foi que ela disse?
   
DIANA  -  (virou-se irritada, olhar de fera)  Vai procurar tua filha na igreja. A cretina não faz outra coisa senão rezar. Sabe pra quê? Pra compensar diante de Deus os teus pecados!
  
PEDRO BARROS  -  (sem acreditar no que ouvia)  Minha filha... eu não tou te entendendo bem...

DIANA  -  Não sou sua filha. Já disse que estou cheia dessa confusão!
  
PEDRO BARROS  -  (dirigiu-se a João Coragem)  O que foi que você fez com ela?

JOÃO  -  Eu? Nada. Essa daí é outra. Pelo menos é o que ela diz. Que não é sua filha.

Barros fixou o rosto da jovem. Examinou seu corpo, suas mãos.

PEDRO BARROS  -  Mas... como, como é possível! Será que eu tou ficando louco?
   
DIANA  -  É bem capaz.  (Bateu com o copo sobre a madeira do balcão. Gentil olhava, paralisado)   Ei, portuga, veja outra dose daí, dessa porcaria que queima...
   
PEDRO BARROS  -   Você nunca bebeu!

Tentou retirar o copo de suas mãos. Ela afastou-se rápida.


DIANA  -  Como é? Não se ouve música nessa pinóia? Só se canta o fado, é, portuga?

Pedro Barros chegara no auge do espanto.

PEDRO BARROS  -  Deus do céu! Deus do céu!
   
JOÃO  -  É bom o senhor ir pro enterro. Eu cuido dela.

PEDRO BARROS  -  (irado)  Foi você, patife, que fez ela ficar assim?

Gentil interferiu, para explicar a Pedro Barros o que vinha acontecendo:

GENTIL PALHARES  -  Seu coronel... o João não tem culpa disso. Esta mulher apareceu por aqui, assim, e João nem a conhecia.

PEDRO BARROS  -  Mas... vocês estão vendo? Esta mulher não pode ser outra! É minha filha!

Passos apressados indicaram que alguém vinha entrando no hotel. Era o delegado Falcão.

DELEGADO FALCÃO  -  Seu coronel, sua presença está fazendo falta. O enterro já chegou ao cemitério.

PEDRO BARROS  -  Falcão... tou meio zonzo... Aquela moça... diz que não é minha filha.

Falcão aproximou-se de Diana, lento, mastigando o palito que jamais deixava de mover entre os dentes.

DELEGADO FALCÃO  -  É, seu coronel. Essa daí não é mesmo a Senhorita Lara. Conheço muito ela. É uma doida que apareceu por aqui, um dia destes. Furtou a caixa da igreja, ficou presa e tudo o mais...

PEDRO BARROS  -  Mas como? Isso é impossível!

CORTA PARA:

CENA 6  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA   -  INT.  -  DIA.


Ritinha fazia a limpeza do apartamento. Pano enrolado á cabeça, espanador na mão. A voz de Hernani roubou-a ás suas reflexões.

 
HERNANI  -  Sabe... você podia ser a futura miss Brasil!
   
RITINHA  -  (assustou-se)  Eu?

HERNANI  -  Você mesma... tem uma carinha linda... e um corpinho de endoidar... Venceria de estalo. Deixaria as outras no chinelo.
   
RITINHA  -  (envaidecida com o galanteio)  Tá brincando.

HERNANI  -  Não. Falo sério. Sonhei com você... e a vi numa passarela, com faixa e tudo... Estava de maiô azul. Linda. Linda de fazer inveja...

Hernani se aproximou ante o ar espantado da jovem. Arrancou-lhe o pano da cabeça. Com o espanador de penas negras, improvisou o cetro e com uma tira de pano rosa, preparou a faixa. Convidou, em seguida, a moça a desfilar de um lado para outro da sala. Passarela íntima. Incitava-a.

 
HERNANI  -  Venha. Caminhe... como uma rainha... majestosa.

Ritinha obedecia, embevecida.

HERNANI  -  Magnífica! Vou ser seu empresário. Vou tratar de te inscrever!
  
RITINHA  -  Mas... as misses não podem ser casadas.

HERNANI  -  Se você não diz... quem é que vai adivinhar? Pense nisso... pense bem, e resolva. Coloque seu futuro nas minhas mãos. A provinciana que venceu na cidade grande. A Miss Coroado. A futura Miss Brasil! Pense... pense bem, Ritinha... e depois me dê a sua resposta.

Hernani despediu-se. Ritinha correu ao quarto. Desnudou-se diante do espelho do guarda-roupa. Era mesmo bela. Vestiu o maiõ de cores discretas e, com o espanador-cetro, a tira-faixa e a coroa de pano, deixou-se sonhar, partir para o infinito dos devaneios, agarrada ás asas do irreal. Rita de Cássia – sem Coragem – Miss Brasil de mil novecentos e qualquer ano.

Uma voz chamou Ritinha á realidade.


DUDA  -  (off) Ritinha! Ritinha!

Duda entrou no quarto, enrolado numa toalha, saído do banho.

DUDA  -  Depressa! Me ajude, Tenho que ir correndo pra concentração. Vamos ter um jogão no sábado.
  
RITINHA  -  (sonhava ainda)  Duda... eu sou bonita?

DUDA  -  Ah, Ritinha... isso é hora de você fazer perguntas? Anda, vê minhas coisas!

A jovem retirava as roupas do armário, enquanto o marido trocava de vestimenta.

RITINHA  -  (arriscou a pergunta)  Eduardo... você disse... ontem, que ia ver se endireitava as coisas. Será que endireitou?

Duda relembrou as palavras de Paula:  “Você não pode se livrar de mim, assim como pensa... como um piparote, como um carrapicho que grudou na sua roupa. Não. Na situação em que estou, você não pode se descartar de mim...”
   
RITINHA  -  (insistente)  Endireitou?

DUDA  -  Mais ou menos.

RITINHA  -  Entre nós não pode haver mais ou menos. Duda! Se você quiser... eu dou o fora de sua vida!

DUDA  -  Não. Eu não quero. Depois do jogo de sábado, a gente conversa.
  
RITINHA  -  (arriscou de novo)  Eduardo, vou chamar Domingas pra ficar comigo. Eu não agüento mais ficar sozinha.

DUDA  -  Chame ninguém de Coroado. Não dá certo. Não quero ninguém aqui. Olha, estou atrasado!

Beijou rápido a esposa e saiu ás pressas.


DUDA  -  Tchau! Não telefone, nem me amole na concentração. Não dê vexame.

Ás últimas palavras, o rapaz já ia descendo as escadas, saltando degraus e cantando alegremente. Ritinha ainda correu á porta.

RITINHA  -  Duda! Esqueci de dizer que chamei Jerônimo.

Tinha sumido no caracol da escadaria. Rita dirigiu-se ligeiro á janela. Duda partira num carro.

RITINHA  -  (para si)  Meu Deus! Jerônimo é capaz de brigar com o irmão, por minha causa.



FIM DO CAPÍTULO 15 
Maria de Lara (Gloria Menezes)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

JERÔNIMO FOTOGRAFA JOÃO E DIANA AOS BEIJOS E DEIXA O IRMÃO FURIOSO.

PEDRO BARROS PROCURA A FILHA NA CASA-GRANDE, E DALVA FICA DESESPERADA, POIS A SOBRINHA DESAPARECEU HÁ 2 DIAS!



NÃO PERCA O CAPÍTULO 16 DE
 

sábado, 14 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 14


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 14

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DALVA
MARIA DE LARA
ESTELA
RITINHA
HERNANI
CARMEN
DUDA
PAULA
CEMA
DIANA
JOÃO

CENA 1  -  COROADO  -  FAZENDA DE  BARROS - QUARTO DE LARA  -  INT.   -  DIA.

Maria de Lara, agachada, procurava algo desesperadamente quando a tia Dalva entrou na dependência.

DALVA  -  Que está fazendo, Lara?

MARIA DE LARA  -  Quero encontrar o espelho quebrado que feriu minha perna...

DALVA  -  Por que se preocupa com isso? Não se recorda como se feriu? Claro que não pode. Você perdeu os sentidos. Mas eu vi, e a socorri imediatamente!

MARIA DE LARA  -  Então, onde está o espelho quebrado?

Dalva deu alguns passos até o armário. Mostrou o espelho quebrado. Rachado no centro e esfacelado nas laterais da moldura.

DALVA  -  Está aqui. Não se lembra? Você estava deitada... a dor de cabeça quase a cegava... levantou-se, tonta... abriu o armário... O espelho caiu aos  seus pés. Você se abaixou para apanhá-lo... perdeu os sentidos sobre ele... e não sei como... mas ele a cortou. Quando cheguei, logo em seguida... encontrei você, ferida... Isso foi tudo. Lembra-se,  agora?

Lara retirou a atadura da perna. Estela acabara de entrar no quarto. Ouvira as explicações da cunhada.

ESTELA  -  Que horror! Mais parece uma queimadura!

Lara imobilizou-se com as palavras da mãe.

MARIA DE LARA  -  Queimadura!
 
DALVA  -  (nervosa)  Claro... o espelho não cortou fundo... só raspou. Ficou essa impressão de queimadura.

Uma sombra de dúvida começava a obscurecer o espírito de Maria de Lara.

MARIA DE LARA  -  Já não tenho certeza de nada...  João Coragem, na igreja, falou  de uma queimadura... de uma queimadura. E agora, minha mãe fala a mesma coisa!

CORTA PARA:

CENA 2  -  RIO DE JANEIRO  -  ESTÁDIO DO MARACANà -  INT.  -  DIA.

  
Pela primeira vez, Ritinha assistia a um jogo de futebol. O Maracanã lhe parecia uma loucura. Inundado de gente. A seu lado a torcida organizada do Mengo. Surdos, tamborins, cuícas, agogôs. Gritos. Passos de ginga. O eco descomunal que acompanhou o gol do Flamengo, foi para a moça qualquer coisa de irreal. Parecera-lhe que toda aquela multidão recebera, de uma só vez, terrível ferroada de milhares de marimbondos – um salto só, um grito em uníssono. E o delírio.

Rita via Duda. Torcia por ele. Ansiava tocá-lo.


As rampas de acesso formigavam de gente. O Flamengo ganhara e a cidade estava em festas. Ritinha observava a massa a deslocar-se. Seu pensamento em Duda. Tinha de alcançar o portão de saída dos jogadores. Só assim encontraria chance de falar ao marido.

CORTA PARA:

CENA 3  -  MARACANà -  EXT.  -  TARDINHA.


Ritinha conseguira chegar ao grande portão. Lá estava Duda, rodeado de torcedores frenéticos. Tentava ingressar no ônibus especial do clube. Rita forçava passagem. A onda humana atirava-a para trás. Nova tentativa. Súbito, alguém abraçou e beijou o jovem ídolo do futebol. Os olhos de Ritinha não queriam acreditar. O beijo se estendia, interminável, diante de milhares de olhos.

Reconhecera a moça que retinha seu marido nos braços: Carmen Valéria. Rita imobilizou-se, enquanto Duda se ajeitava nos bancos confortáveis do coletivo.

CENA 4  -  MARACANà -  SEQUENCIA  -  EXT.  - ANOITECENDO.


No Estádio vazio o vento brincava de levantar papéis. Ritinha sentara-se num banco do jardim. Hernani despertou-a da meditação. Era um dos sócios do marido, na partilha do apartamento.

HERNANI  -  Ritinha! Ritinha!

A voz assustara-a. Quem poderia reconhecê-la, áquela hora, naquele lugar?

HERNANI  -  Que custo para te encontrar! Foi uma sorte um sujeito do estádio avisar: tem uma maluquinha ali, no jardim, que não quer ir embora.

Ritinha olhou para o rapaz. Tristonha. Descrente.

HERNANI  -  Desde ontem que estou á tua procura. Vamos, eu te levo em casa.

CORTA PARA:

CENA 5  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  NOITE.

Hernani e Ritinha chegaram ao apartamento e encontraram as luzes acesas, o som de música moderna e a presença de uma mulher. 


CARMEN   -  Graças a Deus! Por onde você andou, menina? Um dia inteiro te procurando!

Ritinha evitou o abraço da outra. Lembrava-se dela – esposa do jogador do segundo time.

CARMEN  -  O que é que ela tem?

RITINHA  -  (irônica)  Já acabou a brincadeira?  Já se divertiram bastante ás custas da caipirinha? Quem foi que ganhou a aposta? Andem. Respondam... (esperou alguns segundos)  Uai, não apostaram... pra ver quem enganava mais a idiota do interior?

CARMEN  -  Bem... eu não tenho nada com isto...
 
HERNANI  -  Ela já sabe de tudo, Carmen. Estava no estádio. Paula também. E... você conhece o gênio da minha irmã...

RITINHA  -  (com ódio no olhar e nas expressões do rosto)  Você, então, é a Carmen. Carmen Valéria. E deu seu lugar pra outra? Quanto ganhou com isso?

CARMEN  -  Espera lá...  Não ganhei nada. Eu tentei explicar, Ritinha. Ela chegou antes de mim... não pude fazer nada. Você já havia acreditado nela. Fiquei numa sinuca sem saber o que fazer. Mas estou aqui, desde ontem, tentando desfazer este engano. Me doeu na consciência.

A porta se abriu e Neca e Duda entraram sorridentes.

CARMEN  -  (atirou-se nos braços do marido)  Meu nego, puxa vida, que saudades!

Rita evitava os olhos de Eduardo. Falou, dirigindo-se a todos.


RITINHA  -  Será que vocês querem fazer o favor de me deixar sozinha com meu marido?

DUDA  -  Gente... vão indo, vão. Depois a gente se fala.

Hernani ao sair explicou ao amigo.

HERNANI  -  Se não fosse buscá-la no estádio, ela não saberia voltar para casa. Olha aí, Duda, ela estava desaparecida desde ontem. Tchau!

As últimas palavras do companheiro despertaram a curiosidade do rapaz.

DUDA  -  Que papelão é esse? Que negócio de desaparecida?
  
RITINHA  -  (esforçando-se para não chorar)  Foi ela... a tal de Paula... a sua noiva, que arranjou tudo isso. Foi me buscar no hotel, disse que era Carmen. Confiei nela. Ela disse que eu podia ir na concentração... me fez passar por aquele vexame. Nunca passei tanta vergonha na minha vida!

DUDA  -  Aquela safada! Ajusto contas com ela, sujeitinha ordinária!  Mas você não podia ter vindo pra casa, em vez de ir pro hotel?

RITINHA  -  Eu não sabia o endereço. Me perdi. Me perdi, Duda.

O esforço fôra demasiado. Ritinha não se conteve mais e os soluços a dominaram por completo.

DUDA  -  Não chore, vá... Ninguém esperava que isso acontecesse. Vem cá!

Puxou a esposa para si, abraçando-a. Rita aconchegou-se ao peito do marido.


DUDA  -  Você não fez bobagem nenhuma, não?

RITINHA  -  Não... porque eu fugi. Mas, um sujeito me enganou e me levou num clube... uma boate. Eu passei mal e o tal moço me levou pro hotel.

DUDA  -  Me perdoe, Ritinha... Eu falei pra você como é a vida de jogador de futebol... sempre controlado em tudo...

RITINHA  -  E aquela mulher... Paula... eu vi quando ela te abraçou e beijou na saída do Maracanã!

DUDA  -  Você precisa entender... o caso com Paula é anterior á decisão quase forçada do nosso casamento. Isso merece melhor compreensão sua, Rita.

RITINHA  -  Compreender e aceitar esta situação? Você continuar com ela e comigo? Mas isso é humilhante!

DUDA  -  Você não tem direito nenhum de fazer exigências, Ritinha.

RITINHA  -  Sou sua mulher!  Se não tenho direito... o que é que eu estou fazendo aqui?

DUDA  -  (explodiu)  Eu te avisei, não avisei? Se estiver achando ruim, pode dar o fora! Amanhã mesmo, pode pegar o primeiro ônibus e voltar para Coroado.

Pegou no paletó e dirigiu-se á porta do apartamento.

RITINHA  -  Aonde você vai?

DUDA  -  Uns amigos... estão me esperando... eu volto daqui a pouco.

Duda saiu. Ritinha correu para a janela.

CORTA PARA:

CENA 6  -  RIO DE JANEIRO - APTO. DE DUDA. -  EXT. - NOITE.


Do alto da janela Ritinha avistou a outra. O fusca gêlo estacionado próximo á entrada do prédio. Paula beijou o rapaz e, abraçados, entraram no carro.

CORTA PARA:

CENA 7  - APTO. DE DUDA  -  INT.  - NOITE.


Rita jogou-se de bruços sobre a cama, dominada pela exaustão. As lágrimas banhavam-lhe a face marcando pontinhos úmidos na brancura do lençol.
CORTA PARA:

CENA 8  -  COROADO  -  CASA DE BRAZ CANOEIRO  -  INT.  -  DIA.

Diana voltara a aparecer na choupana de Braz Canoeiro. Cema correra ao garimpo para avisar João Coragem. Aquilo já estava se tornando rotina, pensava a esposa do garimpeiro.


Cema apontou para a rêde, de onde saíam duas pernas alvas e torneadas.

CEMA  -  Aí tá ela. Doida como sempre. Acho que desta vez tá até pior...
Diana notou a presença dos dois. Com as mãos em concha atirou para cima o feixe de cabelos alourados.

DIANA  -  Olá, grandalhão, como é que é? Tudo bem contigo?

João pediu a Cema que se afastasse. Queria conversar a sós com a jovem doidivanas.


JOÃO  -  E agora, como é que eu te chamo? Lara ou Diana?

DIANA  -  Vai encher, vai. Essa tua mania de me chamar por aquela outra cretina, já me encheu a paciência. E... qual é a bronca? Por que tanta raiva? Até que você estava legal comigo! Só porque eu desapareci com o dinheiro da sua mãe? Mas eu precisei dele... não ia sair de lá com a mão abanando...

JOÃO  -  Você provou o que é.

DIANA  -  O que que eu sou? Sou uma mulher sem freio. E você bem que soube aproveitar. Pra que vem agora com essa fita toda... Sai daqui, quadrado. Quadradão!

JOÃO  -  Eu pensei até em me casar com você... Fui vê o padre e tudo...

Diana sorria, como sempre, abusadamente.

JOÃO  -  Mas não era você...era a outra que eu queria.
Diana continuava rindo. Em escala cada vez maior.

DIANA  -  Prometo que rezo toda noite, um Padre Nosso e uma Ave Maria antes de deitar (falou em tom de caçoada)  Mas, casa comigo, casa!

JOÃO  -  De você eu gostei... só porque se parece com ela.
 
DIANA  -  (irônica)  Não diga, grandalhão! Não diga!

E aproximou-se, insinuante, do jovem rude.

DIANA  -  Tem certeza, absoluta? Então, me beije... só depois aceito sua resposta.

JOÃO  -  (evitando o contato com a moça)  Se prepare. Vou te levar daqui.

DIANA  -  Pra igreja?

JOÃO  -  Não. Você não pode entrar numa igreja. Cheia de pecado, como é.

DIANA  -  Uhn... e você... vai me regenerar?

JOÃO  -  Vou te salvar.

Diana abraçou-o, ternamente.

DIANA  -  Antes de me salvar... a gente bem que pode... conversar mais um pouquinho... do pecado... da vida e da morte... do amor e do ódio.

João procurou desvencilhar-se dos braços da moça. Ela o agarrou mais fortemente, encostando os lábios no rosto dele. Dedos carinhosos alisaram-lhe a fronte.

DIANA  -  Gosto um bocado de você, grandalhão. Se não gostasse... não vinha de tão longe só pra te ver... Olha, eu vou te dizer uma coisa. Ela, aquela coitada,  também está começando a gostar de você. Mas, ela luta pra não gostar...

JOÃO  -  Ela...

DIANA  -  A filha de Pedro Barros.

JOÃO  -  Falou com ela?

DIANA  -  Falo sempre...

JOÃO  -  Ela te confessou isso? Que ta gostando de mim?

DIANA  -  É... a cretina sente uma atração por você... mas reage. Pra ela você não serve. É um boçal. Foi ela mesma quem me disse.

JOÃO  -  Vamos embora.

DIANA  -  Espere aí... não disse tudo. Entre nós... não há diferença de educação. A gente é igual... e eu não me importo com essas coisas...

João empurrou-a brutalmente. Pegou duma correia pendurada na perede e amarrou o pulso da jovem ao dele, semelhantemente aos elos de uma algema. Diana sorria, sem dar importância ao ato grosseiro do rapaz.

JOÃO  -  Você, agora, não me escapa mais.

CORTA PARA:

CENA 9  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  DIA.


Eduardo regressou a casa no dia seguinte. Dia alto. Com as feições abatidas, olheiras arroxeadas e grandes manchas oleosas por toda a roupa.


DUDA  -  Estive desde ontem na concentração.

RITINHA  -  De novo? Depois do jogo, á noite?

DUDA  -  É, depois do jogo, também. Fausto Paiva costuma chamar todos os jogadores para comentar a partida e apontar as falhas. Isso acontece sempre. A gente dormiu lá.
  
RITINHA  -  E... a Paula?

DUDA  -  (aborrecido)  Nâo enche de novo com a Paula!

RITINHA  -  Quando você saiu... ontem, ela estava te esperando. Eu vi.
 
DUDA  -  (embaraçado)    Bem... eu aproveitei para passar aquela bronca! Disse tudo o que tinha a dizer. Foi até bom. Rompi mesmo, no duro, de uma vez!

Duda, intimamente, se julgava um canalha. A consciência o acusava pela ação indigna que cometera, pelo isolamento a que relegara a jovem esposa, desde as primeiras horas do casamento. As coisas efetivamente não andavam bem.

Lembrou-se do perfume que havia comprado. Podia ser uma saída. Quem sabe, um presente?


DUDA  -  Ah, Ritinha. Me lembrei de você e lhe trouxe um presentinho. Vê se você gosta. É o perfume da moçada. Custa uma nota.

RITINHA  -  Não precisava... bastava que você tivesse se lembrado que eu estava sozinha... e voltado.

Com gesto carinhosos, Eduardo Coragem chamou a esposa a seus braços. Beijou-a.

DUDA  -  Estou aqui, não estou, amoreco? Pra que a zanga? Do mundo a gente não leva nada... gostou? Também ataco de filósofo, quando quero. (e meigo)   Me dá um beijo, Rita, e acabe com essa carinha feia...

Ritinha retribuiu o beijo do marido.

FIM DO CAPÍTULO 14
Maria de Lara (Gloria Menezes) e João (Tarcísio Meira)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# PEDRO BARROS ENCONTRA DIANA E FICA CONFUSO, SEM SABER SE É OU NÃO SUA FILHA!

# O PREFEITO DE COROADO É ASSASSINADO!

# RITINHA TENTA CONTAR AO MARIDO QUE  JERÔNIMO E SINHANA, A SEU CHAMADO, ESTARÃO CHEGANDO AO RIO DE JANEIRO!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 15 DE

domingo, 8 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 13


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 13

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JUCA CIPÓ
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO
RITINHA
GERENTE
FAUSTO PAIVA
NECA
DUDA
PLAYBOY

CENA  1  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

 Juca Cipó passeava de um lado para outro, diante da igrejinha. Figura hedionda, detestada pela população de Coroado, que nele via a mão assassina do Coronel Pedro Barros. Juca se benzia, ajoelhado no chão.


JUCA CIPÓ  -  Que Deus Nosso Sinhô me ajude! Que Deus Nosso Sinhô me livre de todo mal! Bala do inimigo e de tudo quanto é praga. Que Deus Nosso Sinhô me ajude...

O coronel viu o ajuntamento. Correu até o local.

PEDRO BARROS  -  Que é que você veio fazer aqui?

JUCA CIPÓ  -  Tenho uma coisa pra lhe dizê, meu patrão...  (e sério)  É uma coisa que eu acabo de saber, na feira da Praça.

PEDRO BARROS  -  Desembucha, home, e deixa de tanta preparação.

JUCA CIPÓ  -  Meu patrão, o Coragem tá pensando que vai ser o presidente da Associação dos Garimpeiros.
  
PEDRO BARROS  -  (estremeceu)  Isso é hora de brincadeira?

JUCA CIPÓ  -  Quem falou, não brincou. O seu Doutor Rodrigo é que meteu na cabeça dele.

PEDRO BARROS  -  Qual dos Coragens?

JUCA CIPÓ  -  O mais moço, o Jeromo.

Pedro Barros atirou, com raiva, o charuto a distancia. Virou-se para o Delegado Falcão.

PEDRO BARROS  -  Como é que deixou acontecer uma coisa destas? É coisa certa, mesmo?

O delegado, terno branco, palito dançando entre os lábios – confirmou a novidade.

DELEGADO FALCÃO  -  Mais do que certo, coronel. No Hotel do Gentil já estão até preparando uma festa, pra essa noite. Vão festejar a decisão do Jerônimo.

PEDRO BARROS  -  Eu não disse? (explodiu)  Tinha que acabar com a raça maldita desse promotor. E agora?

DELEGADO FALCÃO  -  Agora é abrir luta ferrada com eles. A gente não pode facilitar. Agora, é guerra.

CORTA PARA:

CENA 2  -  RIO DE JANEIRO  -  HOTEL GLÓRIA  -  EXT.  -  DIA

Fachada do Hotel Glória. Um taxi pára, Ritinha desce e dirige-se á portaria,  ar desanimado, segurando a pequena mala.

CORTA PARA:


CENA 3  -  RIO DE JANEIRO  -  EXT.  -   NOITE.

A noite invadia a grande cidade. Luzes multicoloridas pintavam o Rio com o brilho dos luminosos.

CENA 4  -  HOTEL GLÓRIA  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  NOITE.

Ritinha pegou o telefone e comunicou-se com a portaria do hotel.


RITINHA  -  O senhor podia telefonar de novo pra esse tal de clube? Eu mando chamar ele.

GERENTE  -  Pois não. Antes, permita-me avisá-la de que amanhã, bem cedo, preciso do apartamento onde a senhora está alojada.

RITINHA  -  Sim, senhor. Faça o favor de ligar pra mim.

CENA 5  -  SEDE DO FLAMENGO  -  INT.  -  NOITE.

O telefone tilintou na sede do clube. Fausto Paiva atendeu.


FAUSTO PAIVA  -  Alô! É, é aqui mesmo. Com quem quer falar? Duda? Não pode atender. Está dormindo. Mulher dele? E o que me importa? Nem que fosse a mãe dele. Agora não posso chamar, mais! Podia ter ligado há meia hora. Ele falava. Agora é impossível. A menos que a mulher dele esteja morrendo. É este o caso? Não? Então, não amole. Mande essa guria esperar até amanhã, de noite. Como enche! Boa noite!

Bateu o fone, com raiva, no gancho.

CORTA PARA:

CENA 6  -  HOTEL GLÓRIA  -  SAGUÃO  -  INT.  -  NOITE.

O gerente comunicou o incidente a Ritinha. A moça sentou-se numa poltrona, no saguão de entrada do luxuoso hotel. Pessoas entravam e saíam.

  
RITINHA  -  (insistiu)  Seu gerente!

GERENTE  -  Ás suas ordens.

RITINHA  -  O senhor tem alguma resposta pra mim?

GERENTE  -  Resposta?

RITINHA  -  Sou a mulher do jogador de futebol. Perdi o endereço de minha casa... Estou neste hotel, desde hoje, cedo... porque não sei pra onde ir...

GERENTE  -  Ah, sim. O seu marido está na concentração do Flamengo. Vai jogar amanhã.

RITINHA  -  É Eduardo... o Duda! O senhor ficou de ver se me arrumava o endereço da minha casa. Lembra?

GERENTE  -  Exatamente. Tive todo o interesse em resolver o seu caso. Telefonei para a sede do clube. Do Flamengo. E tenho uma resposta.

RITINHA  -  Falou com meu marido? Sabe onde eu moro?

GERENTE  -  Não falei com seu marido. Do clube me disseram que o jogador Duda não é casado. Desculpe, mas volto a lembrá-la que amanhã vamos precisar do seu apartamento pela manhã.

CORTA PARA:

CENA 7  -  RIO DE JANEIRO  -  SEDE DO FLAMENGO  -  CONCENTRAÇÃO  -  INT.  -  DIA

Aquela hora os jogadores  descansavam, alguns deitados em poltronas ou sofás, outros estendidos no chão, gozando da umidade doentia do cimento. Duda, alheio ás conversas, parecia perdido em seus pensamentos. Neca sentou-se ao seu lado.


NECA  -  Alguma informação da tua mulher?

DUDA  -  Nada, rapaz.

NECA  -  Ela não ligou pra ti?

DUDA  -  Não. Acho que tudo está bem por lá. Senão já tinha dado sinal de vida. E depois... que adianta eu me preocupar? Não posso fazer nada, não é?
 
NECA  -  O melhor é a gente se desligar de vez dos galhos lá de fora. Mulher é assim mesmo, rapaz. A gente casa, a gente compra amolação. Se não gostasse tanto da Carmen, não agüentava ela, não.

Fausto Paiva interrompeu a sesta dos rapazes.

FAUSTO PAIVA  -  Hora de dormir, rapazes!

Em grupos de dois os jogadores seguiram para o dormitório. Silenciosos. Cabisbaixos.

CORTA PARA:

CENA 8  -  RIO DE JANEIRO  -  HOTEL GLÓRIA  -  SAGUÃO   -  INT.  -  DIA.

Durante o incidente com o chefe do hotel, o rapaz de cabelos longos e roupa moderna – medalhão caindo sobre o peito, não tirara os olhos de Ritinha. Ouvira a conversa e a conclusão do gerente: “Duda não é casado”. As últimas palavras ainda soavam em seus ouvidos, encadeando idéias. O rapaz elaborava um plano.


Aproximou-se da moça.

PLAYBOY  -  Pra que toda essa tristeza, garota? Não vejo drama na sua história.

RITINHA  -  Estou... perdida no Rio de Janeiro. Não sei onde moro.

PLAYBOY  -  Amnésia?

RITINHA  -  Não. Burrice mesmo. Esqueci de tomar nota do endereço do apartamento do meu marido. Sou uma tonta, sabe?

PLAYBOY  -  Mas, vem cá... seu marido não é o Duda, do Flamengo?
 
RITINHA  -  É! Conhece ele?

PLAYBOY  -  Se conheço! Ele é legal comigo!

RITINHA  -  É mesmo? Por acaso sabe onde ele mora?

PLAYBOY  -  Sei onde mora, onde se diverte, onde nasceu, o que faz, o que come! Conheço tudo sobre a vida dele.
  
RITINHA  -  (sorria de satisfação)  Então pode me dar o endereço dele?

PLAYBOY  -  Faço mais. Levo você até lá.

RITINHA  -  Ah, que bom! Ainda bem que a gente encontra amizade em todo canto. Espera aí. Vou pagar minha conta. Não quero voltar mais aqui. Sabe? A sorte sempre chega na horinha certa...

Saem ambos. O rapaz segurando as malas. A moça ajeitando os longos cabelos negros.

RITINHA  -  Puxa! Como tudo aqui é diferente da minha terra!

PLAYBOY  -  Sua terra?

RITINHA  -  Coroado.

Um táxi parou ao aceno do rapaz. Entraram ambos.

PLAYBOY  -  Copacabana!

O rosto de Ritinha, colado ao vidro lateral do carro, revelava a admiração que lhe proporcionava a cidade gigante. Os anúncios corriam como um rolo de celulóide colorido. Os postes gigantescos, as vitrines dos grandes magazins, os viadutos, o túnel, a igrejinha de Santa Terezinha, a saída para o mar. Ritinha deslumbrava-se com o panorama do Rio á noite. Esqueceu até mesmo do rapaz que a acompanhava e de sua excessiva proximidade.

O carro parou diante da boate.

CORTA PARA:

CENA 9  -  RIO DE JANEIRO  -  BOATE  -  INT.  -  NOITE.


Lá dentro a música envolvia por completo o ambiente. Os pares que giravam entonteceram Ritinha. Tentou fugir. Os braços do rapaz a envolviam, qual tenazes. Quis gritar, os lábios do playboy não permitiam. Sentiu que flutuava no espaço. Que tudo escurecia repentinamente. Que o mundo e a vida se apagavam.

FIM DO CAPÍTULO 13
Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

#  RITINHA DESCOBRIU QUE ESTAVA SENDO ENGANADA POR PAULA E CARMEN VALÉRIA.

#  JOÃO E DIANA ENCONTRAM-SE NA CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO.

#  RITINHA SOFRE AO VER DUDA E PAULA SE BEIJANDO!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 14 DE

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 12


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 12

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

PAULA
RITINHA
FAUSTO PAIVA
PORTEIRO
DUDA
JOGADOR 1
JOGADOR 2
DALVA
JOÃO
MARIA DE LARA
TAXISTA

CENA 1  -  RIO DE JANEIRO  -  SEDE DO FLAMENGO  -  EXT.  -  DIA.
  
O táxi estacionou diante da sede do Flamengo. Homens de short, tamanco ao pé, toalhas enroladas no pescoço, transitavam no interior do edifício. Vez por outra, um jornalista era visto tomando apontamentos, enquanto outros batiam fotografias. Paula virou-se para Ritinha.


PAULA  -  Pode descer. É aqui.

RITINHA  -  Não vem comigo?

PAULA  -  Não. Não devo. Vá você. Boa sorte.

A jovem, pegando da pequena mala, desceu do táxi.

RITINHA  -  Obrigada, Carmen. Ah...

PAULA  -  Que foi?

RITINHA  -  Acho que me esqueci da camisola de dormir.

PAULA  -  Teu marido te empresta um pijama.

O táxi largou rápido, enquanto Ritinha entrava na sede do clube.

CORTA PARA:

CENA 2  -  SEDE DO FLAMENGO  -  PORTARIA  -  INT.  -  DIA.

Fausto Paiva, o técnico, apareceu na portaria. Homem rude, desprovido de maneiras humanas, foi logo “atacando”:


FAUSTO PAIVA  -  Que é que há? Que é que está havendo aí?

PORTEIRO  -  Essa dona aí, seu Fausto. Tá querendo falar com o Duda. Disse que veio pra ficar com ele.

FAUSTO PAIVA  -  Ficar ou falar com ele?
  
RITINHA  -  É, com o Eduardo.

PORTEIRO  -  (visivelmente nervoso)  Eu disse a ela que não pode entrar. Ela está insistindo. Não quer entender.
  
FAUSTO PAIVA  -  Moça, o Duda está em concentração.

RITINHA  -  Mas... eu sou mulher dele. Será que não posso ver meu marido?

FAUSTO PAIVA  -  Marido? Que historia é esta? Escute, minha filha, que golpe é esse que você está querendo dar?

Ritinha quase chorava. A voz se embargava na garganta.

RITINHA  -  Não quero dar golpe nenhum. Estou dizendo a verdade. Eu me casei com ele. Sou mulher dele.

FAUSTO PAIVA  -  Ora, menina, vê se toma vergonha, vai andando, vai. (E virando-se para o porteiro)  Jarbas! Bota essa vigarista daqui pra fora!

O porteiro, pegando a jovem pelo braço, forçava sua retirada do clube.

RITINHA  -  (esbravejando)  O que o senhor está pensando? Eu não sou quem o senhor está imaginando... Vim aqui... porque me disseram que eu podia ficar com ele.

FAUSTO PAIVA  -  Então você não sabe que jogador concentrado não pode receber mulher? Mulher da sua laia, então...!

O técnico estava lívido de raiva. Punhos fechados em atitude ameaçadora.

FAUSTO PAIVA  -  Vamos, desguia. Dê o fora. Ande, ande! Essas vigaristas...

Ritinha, chorando, deixou a sede do Flamengo. Fausto Paiva calou um palavrão e retornou ao interior das dependências.

CORTA PARA:

CENA 3  -  SEDE DO FLAMENGO  -  SALA DE  RECREAÇÃO  -  INT.  -  DIA.

Alguns jogadores relaxavam em frente á TV, enquanto outros jogavam cartas ou simplesmente cochilavam no enorme e confortável sofá.


FAUSTO PAIVA  -  (entrando no recinto)  Olha aí, Duda. Uma sujeitinha chegou agora, na portaria, querendo falar com você. Dizia que era sua mulher. E veja só, a imbecil trouxe uma malinha, tipo da roça, e disse que ia ficar com você. Tem cada uma...

DUDA  -  Minha mulher?

Os jogadores riram.

JOGADOR  1  -  Ficar com ele? Essa e boa!

JOGADOR 2  -  Está pensando que isto aqui é hotel...

DUDA  -  (empalidecendo)  Minha Nossa Senhora! Deve ter sido a Ritinha.

FAUSTO PAIVA  -  Disse que é sua mulher.
  
DUDA  -  (confirmou, raivoso)  Mas é minha mulher!

Todos os olhos se voltaram para ele, espantados. Fausto Paiva acercou-se do jogador e fez a pergunta:

FAUSTO PAIVA  -  Você casou, Duda?

DUDA  -  Casei. Esqueci de avisar o senhor, seu Fausto! Me deixe ir falar com ela. Ver se encontro ela por aí.

FAUSTO PAIVA  -   Absolutamente. Daqui você não sai. ( e, irritado)  - Isto é concentração ou parque de diversão? Mais respeito, minha gente! Mais respeito!

CORTA PARA:

CENA 4  -  GÁVEA  -  RUA  -  EXT.   -  DIA.

 
Ritinha perambulava pelas imediações do clube. Não conhecia ninguém. Estava ás vésperas do desespero. Procurou um táxi.


TAXISTA  -  Pra onde, moça?

RITINHA  -  Eu... eu não sei! Eu não sei!

O carro rolava, maciamente. Pela janela estreita, Rita de Cássia via afastar-se a sede imensa. O mundo parecia ruir. Ritinha sentia o mundo esmagar seu frágil corpo. Para onde ir? O táxi se perdia em retas e curvas furando o bloqueio do tráfego a caminho do nada. Ritinha estava perdida na cidade grande.

CENA 5  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA


João Coragem rezava diante do altar da Virgem. Era seu hábito procurar o silencio da casa de Cristo nas horas em que, atormentado por algum problema, não encontrava nas coisas terrenas solução ou saída. Rezava com fervor, desligado do mundo. Nem sequer notou as duas mulheres que se sentaram a um dos cantos da igreja.

Dalva e Maria de Lara benzeram-se. A tia lembrou-se de falar ao Padre Bento.


DALVA  -  Lara, fique aqui. Vou falar com o padre Bento e volto já.

João acabara as orações. Viu Lara sozinha a poucos passos. As atitudes da moça – Lara ou Diana – já não o surpreendiam tanto. Aproximou-se.

JOÃO  -  Diana.

Lara não ergueu os olhos.

JOÃO  -  (insistiu)    -Diana... por que faz isso comigo?
  
MARIA DE LARA  -  (voltou-se para o rapaz)  O senhor de novo, Senhor João Coragem?

JOÃO  -  Você quer me dar uma explicação, pelo amor de Deus?

MARIA DE LARA  -  Eu não sei do que o senhor está falando.

JOÃO  -  Você... você é Maria de Lara... ou é Diana?

MARIA DE LARA  -  Sou Maria de Lara. A explicação para essa confusão que o senhor está fazendo comigo, é que existe outra moça, com esse nome de Diana, que se parece muito comigo.

JOÃO  -  Outra? Então... é outra?

MARIA DE LARA  -  Estou desolada, seu João. Essa criatura faz coisas horríveis, comete atos indignos, rouba, briga, insulta... e talvez... outras coisas piores... que me envergonham... só em pensar. ( E, baixando a cabeça, tímida)   Estou desesperada, mesmo. O senhor nem imagina quanto. Peço que me ajude a desfazer esta confusão.

JOÃO  -  (atônito)  Ajudar!

MARIA DE LARA  -  É. Ajudar. Fale com ela... se a encontrar novamente. Diga que eu preciso vê-la... preciso orientá-la. Coitada! Deve ser tão infeliz!

João não tirava os olhos de um ponto no corpo da jovem. Lembrava-se da queimadura provocada pela água fervente que caíra sobre a perna de Diana, na noite em que a levara para casa. Lara estava ferida no mesmo lugar!

JOÃO  -  Vendo a senhora falar... a gente tem certeza que ela é outra.

MARIA DE LARA  -  Nunca duvide disso, seu João.


JOÃO  -  Mas quando eu vejo... que a senhora... tem um ferimento... no mesmo lugar em que ela se feriu...
  
MARIA DE LARA  -  (assustou-se)  Como?

JOÃO  -  Que foi isso na sua perna?
 
MARIA DE LARA  -  (olhou para a perna enfaixada)    -Isso? Ah, sim... foi hoje de manhã... ou foi ontem de manhã? Não sei... ás vezes eu fico um pouco atordoada... é que sinto esta dor de cabeça. Mas, espere... foi hoje... hoje, mesmo. Eu estava no quarto.

Dalva retornava da sacristia. Lara buscou salvação na presença da tia.

MARIA DE LARA  -  Titia, isso na minha perna... como foi?

DALVA      Um ferimento, hoje de manhã. O espelho do guarda-roupa que quebrou. Por quê?

MARIA DE LARA  -  Ah, sim, o espelho... é mesmo. Eu estava explicando ao senhor João Coragem... a origem de toda essa confusão. A outra mulher que se parece comigo. Ele disse que ela tem um ferimento como eu.

Dalva não escondia o menosprezo que votava á família Coragem. As conversas sucessivas entre a sobrinha e o garimpeiro – jovem, belo, mas pobre e de família detestada pelo irmão, Pedro Barros – tornavam-na irritadiça, nervosa.

DALVA  -  Quando é que o senhor vai deixar minha sobrinha em paz? Será que toda vez que nos encontramos é preciso nova explicação?

JOÃO  -  Eu não tenho culpa...

MARIA DE LARA  -  E por que insiste em falar comigo?

JOÃO  -  É que... eu e aquela outra mulher... a gente... quero dizer... a gente se gosta... a gente se gosta muito. Eu tou quase ficando doido por causa dela... Dona Lara.

As duas – tia e sobrinha – deixaram a igreja. João voltou os olhos para a imagem da Virgem. O rosto da santa confundindo-se com um outro rosto diabólico. No meio da visão, a lembrança de uma perna enfaixada – de Lara ou de Diana? O jovem não podia compreender o fato de tanta coincidência. Mesmo rosto, mesmo ferimento – apenas duas personalidades diametralmente diferentes. Um dia haveria de descobrir tudo.

FIM DO CAPÍTULO 12
Gentil Palhares (Artur Costa Filho) e Diana (Gloria Menezes)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# RITINHA, PERDIDA NA CIDADE GRANDE, ENTRA EM MAIS UMA ENRASCADA, CAINDO NA LÁBIA DE UM PLAYBOY QUE SE OFERECEU A AJUDÁ-LA A ENCONTRAR O MARIDO.

# PEDRO BARROS É INFORMADO DE QUE JERÔNIMO SE CANDIDATOU A PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS E FICA POSSESSO!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 13 DE

sexta-feira, 6 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 11


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 11
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

RITINHA
PAULA
CARMEN VALÉRIA
RODRIGO
JOÃO
POTIRA
GARIMPEIRO 1


CENA 1  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  DIA.

O dia nascera belo. Claro e quente como são os dias de verão no Rio. O apartamento de Eduardo Coragem, num edifício moderno, abria ampla visão para o mar, para as belezas das praias cariocas, coloridas de biquínis, formigando de gente. Ritinha  perdeu minutos na admiração de tudo aquilo. Tão diverso da simplicidade interiorana de Coroado. Assim mesmo iniciou seus afazeres de dona de casa. Aqui, restos de bebidas. Ali, uma camisa de Duda, amarrotada, jogada a um canto do sofá. Ritinha beijou e apertou contra o seio a camisa amarfanhada. Era um pedaço dele.

De repente a porta se abriu e Paula entrou. Ainda na pele de Carmen Valéria, esposa de Neca, amigo e companheiro de Duda, no Flamengo.

RITINHA  -  Bom dia, Dona Carmen. Tudo aqui estava muito sujo. Também, homem não sabe fazer limpeza, não é?

Paula sentou-se, displicentemente. Tirou um cigarro do maço, quase cheio, e o acendeu.


RITINHA  -  Quer tomar um café? Fiz agora mesmo.

PAULA  -  Não. Pode deixar.

RITINHA  -  Zangada, Dona Carmen?
 
PAULA  -  (grosseira)  Não enche!

RITINHA  -  Eu... estava aqui sozinha... e estava pensando... que eu bem podia ir ver meu marido na tal de concentração.

Paula sorriu, soltando uma baforada de fumaça.

PAULA  -  Ah, você quer ir, é?

RITINHA  -  Eu posso?

PAULA  -  Mas, claro que pode! Você chega lá e diz: sou mulher do Duda. Recém-casada. Acho que tenho o direito de ficar com o meu marido. Você vai ver como tudo é fácil.

Ritinha animou-se, em sua inocência.

RITINHA  -  Eles deixam?

PAULA  -  Lógico! Vá, vá se arrumar. Eu te deixo, num carro, no prédio da concentração. Você salta e manda chamar o técnico, Fausto Paiva. Guarde bem o nome. Fausto Paiva. Ele é um anjo...

Ritinha dirigiu-se ao quarto para mudar de roupa. A campainha da porta soou. Paula atendeu. Era Carmen Valéria.

PAULA    -Carmen!   (E em voz baixa, para que Ritinha não ouvisse)   Que é que está fazendo aqui?

CARMEN  -  Me deixa entrar. Quero explicar a confusão que você fez com a mulher do Duda.

PAULA  -  Calma! Calma!

CARMEN  -  Vou dizer a ela quem você é.

PAULA  -  Você vai é complicar as coisas. Dê o fora que eu vou me encontrar contigo longe daqui e te dou todas as explicações.
  
CARMEN  -  (insistiu)  Cadê a guria? Telefonei hoje cedinho e a coitada falou comigo como se me conhecesse. Na hora não entendi. Depois, fiquei queimando as pestanas e dei com a coisa. Você disse que era eu, não disse?

Paula confirmou, balançando a cabeça.

CARMEN  -  Isso é sujeira da grossa! Eu ia pegar a menina no hotel, ontem á noite. Você foi na minha frente. Cheguei lá, ela já tinha saído. Tentei telefonar para cá, ninguém atendia. Mas hoje eu boto esse troço em pratos limpos. Não quero confusão com o Duda. Pra cima da mamãe aqui, não!

Paula percebia a dificuldade da situação. Mais um minuto e tudo estaria perdido. Quem sabe? – até mesmo o Duda – para sempre. Não viu outra saída.

PAULA  -  É pena você botar as coisas em pratos limpos. Eu estava pensando em te dar uma mãozinha na carreira, em troca desse favor.

Carmen ouvia sem dizer nada.

PAULA  -  Pois é, eu ia te apresentar ao Nelson Mota, que pode te arranjar um contrato na Phillips...

CARMEN  -  Você está me gozando...

PAULA  -  Falo sério. Ele é meu chapa. E conheço, também, a turma da pesada da Globo. Sou assim com a mulher do Chacrinha! Sou liga do Borjalo, amiga do Pacote. Andei pelos corredores da Globo e recebi dois imensos sorrisos do Boni! Sabe que eu tenho cara de chegar lá e exigir: olhe aí, quero que vocês dêem uma oportunidade pra minha amiga, a grande sambista Carmen Valéria!
  
CARMEN  -  (voz baixa)  Não sabia que você tinha tantos conhecimentos...

PAULA  -  Aguenta mão aí com o nosso segredo e você vai ver só uma coisa...

Ritinha acabara de aprontar-se e assomara á porta.

RITINHA  -  Estou pronta...

Paula fez a apresentação.


PAULA  -  Esta é a mulher do Duda...  E esta é a esposa de um jogador da reserva.

Ritinha e Carmen Valéria deram-se as mãos.

PAULA  -  Vamos até a concentração do Flamengo.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS  -  INT.  - DIA.
 
Em Coroado, o promotor Rodrigo comentava o fim da gestão do Presidente da Associação dos Garimpeiros.


RODRIGO  -  Quem vai ser o novo presidente?

GARIMPEIRO 1  -  Quem escolhe são os garimpeiros. Mas os coitados são obrigados a escolher aquele que Pedro Barros quiser. Sabe como é. Pra essa pouca-vergonha de exploração continuar...

Rodrigo ouvia atento.

GARIMPEIRO 1  -  Olha, eu lhe digo. Um dos Coragens é que devia ir pro lugar do Maneco. Só assim a gente derrubava o Pedro Barros...

RODRIGO  -  (pensativo)  Talvez fosse mesmo a saída para o impasse!

Rodrigo pôs o paletó e saiu apressado.

CORTA PARA:

CENA 3  -  GARIMPO DE JOÃO CORAGEM  -  EXT.  -  DIA.


RODRIGO  -  Alô, João. Quero te dar duas palavrinhas. Pode vir até aqui?

João se impacientou. Não gostava de ser interrompido quando estava no garimpo.

JOÃO  -  Diabo de gente que agora vem atrapalhar o trabalho!

Rodrigo, sorrindo, sentou-se numa pedra enquanto João depositava a peneira em cima do mato rasteiro.

RODRIGO  -  Sabe o que é, companheiro. Eu me preocupo com a próxima escolha do presidente da Associação dos Garimpeiros. Acho que é uma oportunidade de vocês elegerem um homem que  defenda os interesses de vocês e não os de Pedro Barros. Você ou seu irmão podem ser esse homem.

Estava lançada a isca. João balançou a cabeça, negativamente.

RODRIGO  -  (insistiu)  Você pode fazer muito por sua gente, pelos seus garimpeiros. Pode realizar seus velhos sonhos... melhorar a condição de vida deles... pode fazer um trabalho de esclarecimento junto a esses homens, mostrando a eles os seus direitos e o valor daquilo que acham. Vocês podem terminar com o jugo do seu maior inimigo, o Pedro Barros.

O jovem Coragem levantou-se, abriu os braços num ângulo de 180 graus e, mostrando o garimpo, disse ao promotor.

JOÃO  -  Minha esperança toda tá ali. Se eu bamburro... se acho pedra boa... um diamante pra valer... faço tudo isso que o senhor me disse. Preciso só de dinheiro. Dou emprego pra muita gente e boto máquina no garimpo. Largando isso... eu não faço nada por ninguém. Não, seu doutor, o cargo não me atrai.

RODRIGO  -  (sem se dar por vencido)  E o seu irmão? Ele também tem boa fama.

JOÃO  -  Meu irmão é dono da vida dele.

RODRIGO  -  Vou falar com ele. Onde está?

JOÃO  -  Em casa, eu acho.

CORTA PARA:

CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  COZINHA  -  INT.  -  DIA.


Jerônimo estava chegando do garimpo, ainda sujo de barro, com os cabelos desgrenhados e as botas cobertas de lama. Foi direto ao pote de água, na cozinha. A sêde era muita depois de horas e horas ao sol do rio. Não se deu conta de Potira, que o esperava, fumando, perna estendida sobre uma cadeira. O rapaz assustou-se ao deparar com a cena, a ponto de se engasgar com a água fresca.

POTIRA  -  (rindo)  Que é isso, Jerome?

Aproximou-se do rapaz, imitando os trejeitos mundanos de Diana.

POTIRA  -  Tudo legal?

JERÔNIMO  -  (escandalizado)  Tá doente, índia?

POTIRA  -  Nada disso. Tou morando na minha filosofia.

JERÔNIMO  -  Sua quê?

POTIRA  -  As filosofia da vida. Sabe qual é a minha? Rir, correr, ser livre... amar, quando quero.

Enlaçou o pescoço do rapaz.

POTIRA  -  Me livrar de tudo que angustia... fazer o que der na telha... pôr a alma pra fora... dizer o que sinto. Beijar quando tenho vontade...

As últimas palavras da índia misturaram-se ao beijo desesperado que uniu os seus lábios aos de Jerônimo. Espantado, surpreso com a atitude da irmã-de-criação, Jerônimo se entregou aos apelos da jovem. Ao fundo da sala, dois olhos assistiam a toda a cena: Sinhana. A velha mãe dos garimpeiros se afastou, procurando o sossego do fundo do quintal. Jerônimo reagiu após os primeiros instantes de excitação e com gestos grosseiros, bateu violentamente no rosto de Potira.

POTIRA  -  Jerome, chega! Chega!

JERÔNIMO  -  Sua... sua... doida!

Potira soluçava, cabeça caída ao peito.

JERÔNIMO  -  Desavergonhada! Precisa tomá vergonha nessa cara!

FIM DO CAPÍTULO 11
João (Tarcísio Meira) e Braz (Milton Gonçalves)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

RITINHA É DEIXADA POR PAULA NA CONCENTRAÇÃO DO FLAMENGO E É HUMILHADA E EXPULSA PELO TÉCNICO FAUSTO PAIVA.

JOÃO ENCONTRA LARA NA IGREJA E VAI TOMAR SATISFAÇÕES, JULGANDO TRATAR-SE DE DIANA, E DEIXA TIA DALVA INDIGNADA.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 12 DE