sábado, 14 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 14


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 14

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DALVA
MARIA DE LARA
ESTELA
RITINHA
HERNANI
CARMEN
DUDA
PAULA
CEMA
DIANA
JOÃO

CENA 1  -  COROADO  -  FAZENDA DE  BARROS - QUARTO DE LARA  -  INT.   -  DIA.

Maria de Lara, agachada, procurava algo desesperadamente quando a tia Dalva entrou na dependência.

DALVA  -  Que está fazendo, Lara?

MARIA DE LARA  -  Quero encontrar o espelho quebrado que feriu minha perna...

DALVA  -  Por que se preocupa com isso? Não se recorda como se feriu? Claro que não pode. Você perdeu os sentidos. Mas eu vi, e a socorri imediatamente!

MARIA DE LARA  -  Então, onde está o espelho quebrado?

Dalva deu alguns passos até o armário. Mostrou o espelho quebrado. Rachado no centro e esfacelado nas laterais da moldura.

DALVA  -  Está aqui. Não se lembra? Você estava deitada... a dor de cabeça quase a cegava... levantou-se, tonta... abriu o armário... O espelho caiu aos  seus pés. Você se abaixou para apanhá-lo... perdeu os sentidos sobre ele... e não sei como... mas ele a cortou. Quando cheguei, logo em seguida... encontrei você, ferida... Isso foi tudo. Lembra-se,  agora?

Lara retirou a atadura da perna. Estela acabara de entrar no quarto. Ouvira as explicações da cunhada.

ESTELA  -  Que horror! Mais parece uma queimadura!

Lara imobilizou-se com as palavras da mãe.

MARIA DE LARA  -  Queimadura!
 
DALVA  -  (nervosa)  Claro... o espelho não cortou fundo... só raspou. Ficou essa impressão de queimadura.

Uma sombra de dúvida começava a obscurecer o espírito de Maria de Lara.

MARIA DE LARA  -  Já não tenho certeza de nada...  João Coragem, na igreja, falou  de uma queimadura... de uma queimadura. E agora, minha mãe fala a mesma coisa!

CORTA PARA:

CENA 2  -  RIO DE JANEIRO  -  ESTÁDIO DO MARACANà -  INT.  -  DIA.

  
Pela primeira vez, Ritinha assistia a um jogo de futebol. O Maracanã lhe parecia uma loucura. Inundado de gente. A seu lado a torcida organizada do Mengo. Surdos, tamborins, cuícas, agogôs. Gritos. Passos de ginga. O eco descomunal que acompanhou o gol do Flamengo, foi para a moça qualquer coisa de irreal. Parecera-lhe que toda aquela multidão recebera, de uma só vez, terrível ferroada de milhares de marimbondos – um salto só, um grito em uníssono. E o delírio.

Rita via Duda. Torcia por ele. Ansiava tocá-lo.


As rampas de acesso formigavam de gente. O Flamengo ganhara e a cidade estava em festas. Ritinha observava a massa a deslocar-se. Seu pensamento em Duda. Tinha de alcançar o portão de saída dos jogadores. Só assim encontraria chance de falar ao marido.

CORTA PARA:

CENA 3  -  MARACANà -  EXT.  -  TARDINHA.


Ritinha conseguira chegar ao grande portão. Lá estava Duda, rodeado de torcedores frenéticos. Tentava ingressar no ônibus especial do clube. Rita forçava passagem. A onda humana atirava-a para trás. Nova tentativa. Súbito, alguém abraçou e beijou o jovem ídolo do futebol. Os olhos de Ritinha não queriam acreditar. O beijo se estendia, interminável, diante de milhares de olhos.

Reconhecera a moça que retinha seu marido nos braços: Carmen Valéria. Rita imobilizou-se, enquanto Duda se ajeitava nos bancos confortáveis do coletivo.

CENA 4  -  MARACANà -  SEQUENCIA  -  EXT.  - ANOITECENDO.


No Estádio vazio o vento brincava de levantar papéis. Ritinha sentara-se num banco do jardim. Hernani despertou-a da meditação. Era um dos sócios do marido, na partilha do apartamento.

HERNANI  -  Ritinha! Ritinha!

A voz assustara-a. Quem poderia reconhecê-la, áquela hora, naquele lugar?

HERNANI  -  Que custo para te encontrar! Foi uma sorte um sujeito do estádio avisar: tem uma maluquinha ali, no jardim, que não quer ir embora.

Ritinha olhou para o rapaz. Tristonha. Descrente.

HERNANI  -  Desde ontem que estou á tua procura. Vamos, eu te levo em casa.

CORTA PARA:

CENA 5  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  NOITE.

Hernani e Ritinha chegaram ao apartamento e encontraram as luzes acesas, o som de música moderna e a presença de uma mulher. 


CARMEN   -  Graças a Deus! Por onde você andou, menina? Um dia inteiro te procurando!

Ritinha evitou o abraço da outra. Lembrava-se dela – esposa do jogador do segundo time.

CARMEN  -  O que é que ela tem?

RITINHA  -  (irônica)  Já acabou a brincadeira?  Já se divertiram bastante ás custas da caipirinha? Quem foi que ganhou a aposta? Andem. Respondam... (esperou alguns segundos)  Uai, não apostaram... pra ver quem enganava mais a idiota do interior?

CARMEN  -  Bem... eu não tenho nada com isto...
 
HERNANI  -  Ela já sabe de tudo, Carmen. Estava no estádio. Paula também. E... você conhece o gênio da minha irmã...

RITINHA  -  (com ódio no olhar e nas expressões do rosto)  Você, então, é a Carmen. Carmen Valéria. E deu seu lugar pra outra? Quanto ganhou com isso?

CARMEN  -  Espera lá...  Não ganhei nada. Eu tentei explicar, Ritinha. Ela chegou antes de mim... não pude fazer nada. Você já havia acreditado nela. Fiquei numa sinuca sem saber o que fazer. Mas estou aqui, desde ontem, tentando desfazer este engano. Me doeu na consciência.

A porta se abriu e Neca e Duda entraram sorridentes.

CARMEN  -  (atirou-se nos braços do marido)  Meu nego, puxa vida, que saudades!

Rita evitava os olhos de Eduardo. Falou, dirigindo-se a todos.


RITINHA  -  Será que vocês querem fazer o favor de me deixar sozinha com meu marido?

DUDA  -  Gente... vão indo, vão. Depois a gente se fala.

Hernani ao sair explicou ao amigo.

HERNANI  -  Se não fosse buscá-la no estádio, ela não saberia voltar para casa. Olha aí, Duda, ela estava desaparecida desde ontem. Tchau!

As últimas palavras do companheiro despertaram a curiosidade do rapaz.

DUDA  -  Que papelão é esse? Que negócio de desaparecida?
  
RITINHA  -  (esforçando-se para não chorar)  Foi ela... a tal de Paula... a sua noiva, que arranjou tudo isso. Foi me buscar no hotel, disse que era Carmen. Confiei nela. Ela disse que eu podia ir na concentração... me fez passar por aquele vexame. Nunca passei tanta vergonha na minha vida!

DUDA  -  Aquela safada! Ajusto contas com ela, sujeitinha ordinária!  Mas você não podia ter vindo pra casa, em vez de ir pro hotel?

RITINHA  -  Eu não sabia o endereço. Me perdi. Me perdi, Duda.

O esforço fôra demasiado. Ritinha não se conteve mais e os soluços a dominaram por completo.

DUDA  -  Não chore, vá... Ninguém esperava que isso acontecesse. Vem cá!

Puxou a esposa para si, abraçando-a. Rita aconchegou-se ao peito do marido.


DUDA  -  Você não fez bobagem nenhuma, não?

RITINHA  -  Não... porque eu fugi. Mas, um sujeito me enganou e me levou num clube... uma boate. Eu passei mal e o tal moço me levou pro hotel.

DUDA  -  Me perdoe, Ritinha... Eu falei pra você como é a vida de jogador de futebol... sempre controlado em tudo...

RITINHA  -  E aquela mulher... Paula... eu vi quando ela te abraçou e beijou na saída do Maracanã!

DUDA  -  Você precisa entender... o caso com Paula é anterior á decisão quase forçada do nosso casamento. Isso merece melhor compreensão sua, Rita.

RITINHA  -  Compreender e aceitar esta situação? Você continuar com ela e comigo? Mas isso é humilhante!

DUDA  -  Você não tem direito nenhum de fazer exigências, Ritinha.

RITINHA  -  Sou sua mulher!  Se não tenho direito... o que é que eu estou fazendo aqui?

DUDA  -  (explodiu)  Eu te avisei, não avisei? Se estiver achando ruim, pode dar o fora! Amanhã mesmo, pode pegar o primeiro ônibus e voltar para Coroado.

Pegou no paletó e dirigiu-se á porta do apartamento.

RITINHA  -  Aonde você vai?

DUDA  -  Uns amigos... estão me esperando... eu volto daqui a pouco.

Duda saiu. Ritinha correu para a janela.

CORTA PARA:

CENA 6  -  RIO DE JANEIRO - APTO. DE DUDA. -  EXT. - NOITE.


Do alto da janela Ritinha avistou a outra. O fusca gêlo estacionado próximo á entrada do prédio. Paula beijou o rapaz e, abraçados, entraram no carro.

CORTA PARA:

CENA 7  - APTO. DE DUDA  -  INT.  - NOITE.


Rita jogou-se de bruços sobre a cama, dominada pela exaustão. As lágrimas banhavam-lhe a face marcando pontinhos úmidos na brancura do lençol.
CORTA PARA:

CENA 8  -  COROADO  -  CASA DE BRAZ CANOEIRO  -  INT.  -  DIA.

Diana voltara a aparecer na choupana de Braz Canoeiro. Cema correra ao garimpo para avisar João Coragem. Aquilo já estava se tornando rotina, pensava a esposa do garimpeiro.


Cema apontou para a rêde, de onde saíam duas pernas alvas e torneadas.

CEMA  -  Aí tá ela. Doida como sempre. Acho que desta vez tá até pior...
Diana notou a presença dos dois. Com as mãos em concha atirou para cima o feixe de cabelos alourados.

DIANA  -  Olá, grandalhão, como é que é? Tudo bem contigo?

João pediu a Cema que se afastasse. Queria conversar a sós com a jovem doidivanas.


JOÃO  -  E agora, como é que eu te chamo? Lara ou Diana?

DIANA  -  Vai encher, vai. Essa tua mania de me chamar por aquela outra cretina, já me encheu a paciência. E... qual é a bronca? Por que tanta raiva? Até que você estava legal comigo! Só porque eu desapareci com o dinheiro da sua mãe? Mas eu precisei dele... não ia sair de lá com a mão abanando...

JOÃO  -  Você provou o que é.

DIANA  -  O que que eu sou? Sou uma mulher sem freio. E você bem que soube aproveitar. Pra que vem agora com essa fita toda... Sai daqui, quadrado. Quadradão!

JOÃO  -  Eu pensei até em me casar com você... Fui vê o padre e tudo...

Diana sorria, como sempre, abusadamente.

JOÃO  -  Mas não era você...era a outra que eu queria.
Diana continuava rindo. Em escala cada vez maior.

DIANA  -  Prometo que rezo toda noite, um Padre Nosso e uma Ave Maria antes de deitar (falou em tom de caçoada)  Mas, casa comigo, casa!

JOÃO  -  De você eu gostei... só porque se parece com ela.
 
DIANA  -  (irônica)  Não diga, grandalhão! Não diga!

E aproximou-se, insinuante, do jovem rude.

DIANA  -  Tem certeza, absoluta? Então, me beije... só depois aceito sua resposta.

JOÃO  -  (evitando o contato com a moça)  Se prepare. Vou te levar daqui.

DIANA  -  Pra igreja?

JOÃO  -  Não. Você não pode entrar numa igreja. Cheia de pecado, como é.

DIANA  -  Uhn... e você... vai me regenerar?

JOÃO  -  Vou te salvar.

Diana abraçou-o, ternamente.

DIANA  -  Antes de me salvar... a gente bem que pode... conversar mais um pouquinho... do pecado... da vida e da morte... do amor e do ódio.

João procurou desvencilhar-se dos braços da moça. Ela o agarrou mais fortemente, encostando os lábios no rosto dele. Dedos carinhosos alisaram-lhe a fronte.

DIANA  -  Gosto um bocado de você, grandalhão. Se não gostasse... não vinha de tão longe só pra te ver... Olha, eu vou te dizer uma coisa. Ela, aquela coitada,  também está começando a gostar de você. Mas, ela luta pra não gostar...

JOÃO  -  Ela...

DIANA  -  A filha de Pedro Barros.

JOÃO  -  Falou com ela?

DIANA  -  Falo sempre...

JOÃO  -  Ela te confessou isso? Que ta gostando de mim?

DIANA  -  É... a cretina sente uma atração por você... mas reage. Pra ela você não serve. É um boçal. Foi ela mesma quem me disse.

JOÃO  -  Vamos embora.

DIANA  -  Espere aí... não disse tudo. Entre nós... não há diferença de educação. A gente é igual... e eu não me importo com essas coisas...

João empurrou-a brutalmente. Pegou duma correia pendurada na perede e amarrou o pulso da jovem ao dele, semelhantemente aos elos de uma algema. Diana sorria, sem dar importância ao ato grosseiro do rapaz.

JOÃO  -  Você, agora, não me escapa mais.

CORTA PARA:

CENA 9  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  DIA.


Eduardo regressou a casa no dia seguinte. Dia alto. Com as feições abatidas, olheiras arroxeadas e grandes manchas oleosas por toda a roupa.


DUDA  -  Estive desde ontem na concentração.

RITINHA  -  De novo? Depois do jogo, á noite?

DUDA  -  É, depois do jogo, também. Fausto Paiva costuma chamar todos os jogadores para comentar a partida e apontar as falhas. Isso acontece sempre. A gente dormiu lá.
  
RITINHA  -  E... a Paula?

DUDA  -  (aborrecido)  Nâo enche de novo com a Paula!

RITINHA  -  Quando você saiu... ontem, ela estava te esperando. Eu vi.
 
DUDA  -  (embaraçado)    Bem... eu aproveitei para passar aquela bronca! Disse tudo o que tinha a dizer. Foi até bom. Rompi mesmo, no duro, de uma vez!

Duda, intimamente, se julgava um canalha. A consciência o acusava pela ação indigna que cometera, pelo isolamento a que relegara a jovem esposa, desde as primeiras horas do casamento. As coisas efetivamente não andavam bem.

Lembrou-se do perfume que havia comprado. Podia ser uma saída. Quem sabe, um presente?


DUDA  -  Ah, Ritinha. Me lembrei de você e lhe trouxe um presentinho. Vê se você gosta. É o perfume da moçada. Custa uma nota.

RITINHA  -  Não precisava... bastava que você tivesse se lembrado que eu estava sozinha... e voltado.

Com gesto carinhosos, Eduardo Coragem chamou a esposa a seus braços. Beijou-a.

DUDA  -  Estou aqui, não estou, amoreco? Pra que a zanga? Do mundo a gente não leva nada... gostou? Também ataco de filósofo, quando quero. (e meigo)   Me dá um beijo, Rita, e acabe com essa carinha feia...

Ritinha retribuiu o beijo do marido.

FIM DO CAPÍTULO 14
Maria de Lara (Gloria Menezes) e João (Tarcísio Meira)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# PEDRO BARROS ENCONTRA DIANA E FICA CONFUSO, SEM SABER SE É OU NÃO SUA FILHA!

# O PREFEITO DE COROADO É ASSASSINADO!

# RITINHA TENTA CONTAR AO MARIDO QUE  JERÔNIMO E SINHANA, A SEU CHAMADO, ESTARÃO CHEGANDO AO RIO DE JANEIRO!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 15 DE

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