sábado, 28 de maio de 2011

CAPÍTULO 22


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 22

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 

PEDRO BARROS
JUCA CIPÓ
JOÃO
RODRIGO
DELEGADO FALCÃO
POTIRA
SEBASTIÃO
SINHANA
JERÕNIMO

CENA 1  -  COROADO  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Pedro Barros acabara de ser informado que dois homens desejam falar-lhe.


PEDRO BARROS  -  Quem são?

JUCA CIPÓ  -  O promotor e João Coragem.

O coronel levantou-se de um salto e Juca Cipó automáticamente levou a mão á cintura quando João Coragem e o promotor entraram.

JOÃO  -  Me dá sua arma, Juca!

JUCA CIPÓ  -  Espera lá... dá minha arma... por quê? Qual é sua autoridade aí nesse caso, João Corage?
 
RODRIGO  -  (severo)  Eu sou a autoridade!

JUCA CIPÓ  -  É não!

RODRIGO  -  (controlou-se)  Será que tenho que explicar tudo de novo?

Juca não se deu por vencido e, atrevidamente, tornou a fustigar o promotor.


JUCA CIPÓ  -  Autoridade que eu conheço é só o seu douto delegado. E esse ficô satisfeito com as pergunta que me fez.  (Voltou-se para Pedro Barros que ouvia calado)  Não é mesmo, meu patrão?

O coronel, num gesto rápido, contrariou a convicção do jagunço.

PEDRO BARROS  -  Não, Juca... infelizmente... temos de reconhecer a autoridade do seu doutor promotor. (Visivelmente irritado,  voltou-se para Rodrigo)  Mas, eu lhe digo, o senhor não precisava vir até minha casa. E veio muito mal acompanhado. Me admira como há certa gente... que tem valentia de voltar na minha casa, depois de daqui ter sido expulso!

Virou as costas para os rapazes.

JOÃO  -  Eu vim não foi pra mostrá valentia, não. Vim pra ajudá o seu douto a cumprir o dever.
  
PEDRO BARROS  -  (gesticulou, ordenando irritado)  Juca, entrega logo essa arma preles. Acaba com essa história.

JUCA CIPÓ  -      -Mas... meu patrão... isso é um desaforo!
  
PEDRO BARROS  -  (categórico)  Prova logo sua inocência, homem. E deixa de coisa!

A contragosto, Juca atirou os revólveres sobre a mesa, voltando as costas ao promotor.

RODRIGO  -  Vou mandar examinar.

Com o dedo em riste, Pedro Barros apontou a porta da rua. Grossas veias sobressaíam de suas frontes.


PEDRO BARROS  -  Já chega! Aquela é a saída. Façam o favor...

CENA  2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA  -  INT.  -  DIA.
 
Com um sorriso zombeteiro, Juca Cipó aproximou-se do patrão, alisando a coronha de um revólver. Ao longe, pela vidraça da janela, via os cavalos afastarem-se em galope cadenciado. A poeira subindo desenhava no ar cogumelos barrentos. 


JUCA CIPÓ  -  (sorria)  Patrão... esta é a minha arma verdadeira.

Barros fitou a pistola grosseira.

PEDRO BARROS  -  É bom não ficar dizendo isso aí pelos cantos. Devia ter dado fim a ela.

JUCA CIPÓ  -  (apertando o revólver contra o peito, em atitude de ternura)   Que nada! É a minha arma do coração...

Falcão entrou sem avisar, deparando com a cena inusitada. Deu alguns passos para o interior da sala.


PEDRO BARROS  -  Entre, delegado.

DELEGADO FALCÃO  -  Boa tarde!  (depois de curta pausa, comentou)   Encontrei aí fora o João Coragem.

PEDRO BARROS  -  É. O sem-vergonha se atreveu a voltar a esta casa.

DELEGADO FALCÃO  -  Que foi que ele veio fazer?

PEDRO BARROS  -  Veio com o promotor... Bobageira!

DELEGADO FALCÃO  -  Estão propalando pelos quatro cantos da cidade que vão desmascarar a todos nós.

Juca Cipó, com risinhos histéricos, insistiu no contrário, batendo com o pé no chão.

JUCA CIPÓ  -  Vai, não! Prova contra nós é que eles não tem. Só a língua, a infâmia.
  
DELEGADO FALCÃO  -  Estou sinceramente preocupado. Temos que nos calçar bem, numa defesa convincente. Caso contrário... não vai ser sopa enrolar o promotor.

CORTA PARA:

CENA 3  -  RANCHO CORAGEM  -  EXT.  -  DIA


Postada diante da velha cacimba que abastecia de água potável o rancho dos Coragem, Potira admirava a poesia da tarde que começava a morrer. De repente um ponto se moveu na estrada sinuosa percorrendo o trajeto em marcha lenta. O velho Ford dos Coragem cortava o campo, margeando o riacho sonolento. A índia sentiu as faces enrubescerem de contentamento.


POTIRA  -  (gritou para o velho Sebastião)  Padrim! Tão chegano aí! Jerome e mãe Sinhana!

O velho, meio trôpego, alcançou a janela.

SEBASTIÃO  -  Louvado seja Deus! Chegaram são e salvo!

CORTA PARA:

CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  INT.  -  DIA.

Sinhana entrou capengando agitada, banhada de suor e com as vestes amarfanhadas.  Com as costas curvadas.


SINHANA  -  Gentes! Graças a Deus, cheguei na minha casa!

POTIRA  -  (abraçando a velha, com os olhos cheios de lágrimas)  A gente tava morreno de saudade!
  
SINHANA  -  (para o marido, carinhosa)  E ocê, velho, tá bão?

Juntos deixaram a sala, internando-se na casa.

Ajeitando as malas no chão de barro, Jerônimo observou demoradamente a índia. Seus cabelos, de ondas negras, caíam-lhe sobre os ombros e a mecha teimosa ocultava-lhe parte do rosto. Muito justa, a calça de tergal desenhava os músculos das coxas. O rapaz era todo vida e robustez. 


JERÕNIMO  -  E de mim, não sentiu falta, índia do inferno?

POTIRA  -  De você... tenho a ardência dos tapa que me deu na cara! Até hoje!

Sorrindo, Jerônimo fez menção de abraçá-la. Num salto rápido ela esquivou-se e correu para a porta.

POTIRA  -  Vou buscá lenha no galpão.

Desapareceu, lépida, pés descalços, antes que o rapaz pudesse detê-la. Desconcertado, Jerônimo voltou-se á procura do pai. Os velhos haviam entrado e conversavam animadamente no quarto de paredes brancas. Sinhana, pela porta entreaberta, viu o filho partir no encalço da mestiça. 

SINHANA  -  (para o marido)  Êsses dois... (T)  Afinal, Bastião, a gente pode ou não pode fazê o casamento deles? Jerome tá precisando de casá. Tá ficando um home muito nervoso. É falta de assentá a cabeça. E a índia é doida por ele...

SEBASTIÃO  -  (piscando nervosamente)  Não... não é bão mexê em casamento, por enquanto.

SINHANA  -  Bastião... um dia pode ser tarde!

O velho limitou-se a balançar a cabeça, em sinal de protesto.

CORTA PARA:

CENA  5  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT.  -  DIA

A lenha fugia-lhe dos braços, caía ao chão e a mestiça tornava a apanhá-la, numa rotina cansativa. Os últimos raios de sol traçavam riscos de luz por entre as frestas da parede de madeira. Jerônimo parou, encostado ao portal.


JERÔNIMO  -  Índia... vem comigo buscá o irmão.

POTIRA  -  Vai sozinho. Não nasceu grudado comigo! (T)  Viu Ritinha? Ela tá bem?

JERÔNIMO  -  (sincero)  Não como merecia lá.

POTIRA  -  Pensei que trouxesse ela, roubando do seu irmão.

JERÔNIMO  -  Veja lá como diz as coisa!   Não tem um pingo de respeito pelos outro... Isso é coisa que se diga de um home como eu?

Irônicamente, curvando-se em saudação, Potira zombou da raiva do rapaz.

POTIRA  -  Desculpa, seu prefeito. Não ta mais aqui quem falô.

JERÔNIMO  -   Vim por bem. Cê só fala bobage!

Agastado com a atitude desrespeitosa da moça, Jerônimo virou as costas e ameaçou retirar-se. Ela o chamou amorosamente, com a voz inteiramente modificada, e uma expressão diferente no olhar. Havia ternura e desejo nos olhos negros.

POTIRA  -  Jerome!

Ele virou-se, encontrando olhar lânguido da moça.

POTIRA  -  Tá pesado... vem me ajudá.

Pedaços de madeira escapavam-lhe das mãos, enquanto os joelhos, firmados no solo, suportavam o peso do corpo. Jerônimo aproximou-se, penalizado com o esforço despendido pela mestiça. Ajoelhou-se para segurar os toros, no instante em que a índia deixou cair a lenha, de propósito, para abraçá-lo, fervorosamente.

POTIRA  -  Jerome! Jerome! Eu te quero tanto! Tanto!

Jerônimo forçava os braços, na tentativa de desvencilhar-se do abraço. Do rosto de Potira, colado ao dele, uma quentura gostosa irradiava-se por todo o corpo.

JERÔNIMO  -  Pera aí, índia...

POTIRA  -  (voz meiga, no ouvido do rapaz)  Por que ocê é tão ruim? Por que me judia, Jerome? Não gosta nem um pouquinho de mim?

JERÔNIMO  -  Não quero me prendê a ninguém.  Nem que não tivesse o que tem, entre nós... ocê num era mulhé pra mim.
 
POTIRA  -  (ofendida)    -Por quê?

JERÔNIMO  -  Não quero me amarrá. Meu caminho é um só. Ser alguém, custe o que custá. Vencê.

POTIRA  -  (insistiu, apertando-o mais) E mulhé atrapalha.

JERÔNIMO  -  Mulhé pra diversão, não. Mas, pra se amar, atrapalha. E ocê não é de brincadeira...

Dito isto, conseguiu retirar as mãos que lhe cingiam o peito, levantando-se. A índia não se deu por vencida e forçou a tecla do ciúme-provocação.

POTIRA  -  O douto Rodrigo me beijou!  Na boca! Na boca!  (percebeu o leve estremecimento que percorreu o corpo do rapaz)  Ele diz que me quer bem.
 
JERÔNIMO  -  (pigarreou, tentando controlar os nervos)  Vou pedi satisfação a ele. Ele tem que se definir. Se é pra casá ou... se quer se diverti.

Deixou o galpão de cara amarrada, enquanto Potira, silenciosamente, deixava que as lágrimas lhe banhassem o rosto moreno e sensual. Com as mãos em concha, cobrindo as faces, vergou o corpo até encostá-lo no chão barrento.


FIM DO CAPÍTULO 22 
Juca Cipó (Emiliano Queiroz)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...


===> PEDRO BARROS ARMOU UMA CILADA PARA OS IRMÃOS CORAGEM NO DISCURSO DE JERÔNIMO PARA OS GARIMPEIROS, MAS, LITERALMENTE, "O TIRO SAIU PELA  CULATRA" E SUA FILHA, MARIA DE LARA, FOI ATINGIDA POR UM TIRO.


===>DESESPÊRO, CORRE-CORRE, CULPA, REVOLTA E MUITA EMOÇÃO NAS PRÓXIMAS CENAS DE IRMÃOS CORAGEM!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 23 DE 
 

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