quarta-feira, 25 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 21


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 21
 PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
VIRGÍNIA
PAULA
DUDA
RITINHA
JERÔNIMO
MÉDICO
CENA  1  -  RIO DE JANEIRO  -  INTERIOR DO TAXI  -  EXT.  -  DIA.

Sinhana deu o endereço ao motorista e recostou-se no banco traseiro do taxi. Coordenava as idéias e os termos da conversa, enquanto velozmente o veículo cruzava as ruas movimentadas da zona sul. Pagou a corrida e, desajeitada, encaminhou-se para a entrada do prédio.

CORTA PARA:

CENA 2  -  HALL E ELEVADOR DO APARTAMENTO DE PAULA  -  INT.  -  DIA.


Sinhana entrou no hall do edifício, de paredes espelhadas e farta decoração vegetal,  tomou coragem e premiu o botão do elevador.

CENA  3  -  APARTAMENTO DE PAULA  -  CORREDOR   -  INT.  -  DIA. 


Segundos depois achava-se diante da porta do apartamento. Conferiu o número. Era aquele mesmo. Gorda e com ares de interiorana, a figura de Sinhana despertou a curiosidade da criada. Tentava identificar a mulher que estava á sua frente. Sinhana perguntou, sem maiores rodeios, como se fosse íntima da patroa.

SINHANA  -  Ela ta em casa?

CRIADA  -  Tá no banho. A quem anuncio?

Empurrando a porta semicerrada, a velha penetrou no apartamento.


CENA 4  -  APARTAMENTO DE PAULA  -  SALA.  -  INT.  -  DIA.

SINHANA  -  Precisa anunciá nada. Eu espero ela terminá o banho. (ante o espanto da empregada, sentou-se cômodamente no sofá).

CRIADA  -  Minha senhora, Dona Paula vai demorar!

SINHANA  - Não faz mal. Não tenho pressa.

A voz de Paula chegou-lhe aos ouvidos, vinda do fundo do apartamento.

PAULA  -  (off)  Quem é, Virgínia?

Os olhos da criada voltaram-se incontinenti para a mulher estranha que, com total naturalidade, admirava a confortável residência.

CRIADA  -  É... uma mulher... que não quer dizer o nome!

PAULA  -  (of)  Pergunte se é a mãe da moça que vai ter criança.

A empregada fez a pergunta sugerida por Paula. Com um muxoxo Sinhana virou o rosto fugindo á resposta.

CRIADA  -  Ela não quer dizer, Dona Paula.

PAULA  -  (off)  Diga a ela que eu já vou.

Sinhana percebeu os olhares insistentes de Virgínia e a tentativa de aproximação que a mulata, simulando trabalho, fazia para dar continuidade á conversa. Decidiu facilitar as coisas e com um sorriso encorajou  a jovem.

CRIADA  -  (parou diante da velha, amparada á vassoura)  A gente sabe porque a senhora não quer dizer.  Pode confiar em mim que eu conheço o segredo de Dona Paula. Sou liga assim com ela... Olha, foi um custo a gente achar uma pessoa nas condições da sua filha.
  
SINHANA  -  (fechando a carranca)  Que condição, mulhé?

CRIADA  -   ... esperando filho pra daqui a sete meses.  (Baixando a voz, em tom de confidência)  A moça quer mesmo dar a criança logo depois que nascer? (fez uma pausa de alguns segundos esperando a resposta).

Sinhana permanecia muda.


CRIADA  -  Eu digo isto porque Dona Paula precisa de uma criança pra nascer no tempo certo... no mês que devia nascer o filho dela... isto é... se ela estivesse mesmo esperando criança.

Tudo se esclaracia rapidamente e a velha percebia com clareza o jogo sujo da amante do filho. Mostrou-se interessada.

SINHANA  -  Como disse?

Virgínia vibrou com o interesse despertado na senhora.


CRIADA  -  Pois então!  (aproximou-se mais de Sinhana e, quase num sussurro, fez a revelação)  Dona Paula não está esperando criança coisa nenhuma! Seu Hernani não lhe disse?

SINHANA  -  Ah... então... ela não tá esperando não?

CRIADA  -  Não acabei de lhe dizer, dona?
 
SINHANA  -  E pra que a... mentira?
 
CRIADA  -  (diminuiu ainda mais o volume da voz)  Pra amarrar o jogador de futebol. O Duda! Nunca ouviu falar no Duda?

Satisfeita com a revelação da criada, Sinhana respondeu irônica:

SINHANA  -  Já! Muito!

CRIADA  -  Pensei que seu Hernani tinha dado o serviço direitinho á senhora. Olha... o negócio tem que ficar em segredo... mas não vamos exagerar, não é? A senhora pode saber.
Com uma toalhinha á guisa de turbante e outra de banho a envolver-lhe o corpo ainda molhado, Paula surgiu na sala. Virgínia apontou para a velha.

CRIADA  -  Está aí a mulher!

Paula vinha agitada.


PAULA  -  Prontinho, gente! Desculpem a demora! (E dirigindo-se a Sinhana)  Muito prazer. Então a senhora é a mãe da  moça... (Não chegou a concluir a frase. De pé, reconhecera a mulher que se encontrava em sua casa).

PAULA  -  A mãe do Duda!

Virgínia desapareceu pela porta da cozinha.

PAULA  -  (procurou controlar-se)  A que... devo a honra da visita?

SINHANA  -  Eu vim pra lhe desmascará. Tinha uma coisa que me dizia, aqui dentro – “essa mulhé ta mentindo...”

Paula sorria, sem graça, as pernas tremendo.

PAULA  -  Como? Não estou entendendo o que a senhora diz. Eu menti? Menti... em quê?

SINHANA  -  Acho que não precisa dá explicação. A senhora mesmo se desmascarô.

Sinhana deu alguns passos em direção á saída. A jovem tentou interceptá-la.


PAULA  -  Minha senhora! A senhora me condena por amar o seu filho?

SINHANA  -  Não é por gostá dele que a senhora mentiu.

PAULA  -  Quem lhe garante?

SINHANA  -  A sua cara, dona! (abriu a porta com energia).

PAULA  -  (revoltada)  Minha vingança e´que, nem a senhora nem a esposinha arranjada de última hora vão conseguir afastá-lo de mim. (quase suplicante, procurou saber o que, desde o primeiro instante, tanto temia) – Vai dizer tudo a ele?

SINHANA  -  (sem piedade na voz)  Agora mesmo!

PAULA  -  Pensa que vai adiantar alguma coisa?

SINHANA  -  Vai... se ele não for trôxa!  Seu desespêro, dona, é o medo de não tê quem lhe pague as conta! Mas, quer sabê de uma coisa? Cria vergonha e vai trabalhá. Pega um cabo de enxada ou mesmo uma vassoura, dona!
  
PAULA  -  Ai, que ódio! Que ódio! Que ódio!

Sapateava, histéricamente, enquanto Sinhana descia ao térreo.

CORTA PARA:

CENA 5  -  RUA.  -  EXT.  -  DIA.


SINHANA  -  (para si)  Quero vê o que o Duda vai falá quando eu contá quem é essa mulhé!

 Com o coração alegre e renovadas esperanças, a mãe Coragem fez sinal com o braço estendido e o taxi parou, rangendo os freios.

CORTA PARA:

CENA 6  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  DIA.
    

DUDA  -  Ela está mal, doutor?

Guardando o aparelho de pressão na maleta, o médico sorriu, dando um tapinha nas costas do rapaz.

MÉDICO  -  Absolutamente... tudo isto é natural no estado dela.

DUDA  -  Estado! Que estado?

Ritinha escondia o rosto, envergonhada.

MÉDICO  -  Há quanto tempo estão casados?

DUDA  -  Um mês e pouco, né, Ritinha?

Por entre a proteção dos travesseiros, Ritinha fez que sim com a cabeça.


MÉDICO  -  Pois é...   Ela deve estar grávida.

DUDA  -  (atônito)  Gra... grávida!

MÉDICO  -  Parabéns! O bom é assim. Deixar vir os filhos logo no início de casados.  (Levantando-se, avisou Ritinha)   Qualquer coisa, pode me telefonar. (E para Duda)   Dentro de alguns dias ela deverá ir ao meu consultório para iniciarmos os exames pré-natais.

CENA 7  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  DIA.

Jerônimo fechou a porta. Sinhana acabara de chegar, esbaforida, pelas sucessivas aventuras no vaivém do elevador.


SINHANA  -  Diabo! Sê obrigada a entrá naquela joça! Quase que eu perco o ar,  lá dentro!

Jerônimo suspirou, tranqüilizado com o regresso da mãe. Vivera instantes de preocupação ante a ausência de Sinhana. Ninguém sabia dizer onde fôra a velha, nem o porquê de tanta demora.


JERÔNIMO  -  Por onde andou, mãe?

Ignorando a pergunta do filho, Sinhana dirigiu-se a Duda, que se sentara sobre o tapete de feltro.

SINHANA  -  Olha aí, filho. Fui desmascarar aquela tipa que dizia que ia sê mãe de um filho teu...
 
DUDA  -  (ergueu-se como se movido a jato)  Qual foi a bobagem que a senhora andou fazendo?

SINHANA  -  (recriminando-o)  Bobagem! Bobagem! Bôbo é você! Pois eu fui lá e fiquei sabendo que ela tá te enganando!

DUDA  -  O quê? A senhora obrigou ela a dizer isso?

SINHANA  -  Obriguei, nada.  A empregada dela pensou que eu era mãe de uma moça que ia dá uma criança... pra ela te enganá, seu bobalhão! E me deu todo... como é mesmo? Ah... o “serviço”!

DUDA  -  (absolutamente incrédulo)  A senhora está brincando!

JERÔNIMO  -  Mãe não é disso! Acredita nas palavras dela e não se arrepende, irmão! E vamo acabá logo com essa conversa que tá na hora da gente picá a mula...

Incontinenti, abriu a porta do quarto da cunhada.

JERÔNIMO  -  Ritinha, tá na hora. Vem ou não vem?

Agarrado á mãe, Eduardo procurava confirmação.

DUDA  -  Mãe, essa história é pra valer? A senhora descobriu isso mesmo? Não é engano seu?

SINHANA  -  Engano... engano ia sê o seu, bôbo. Precisa abri os olho com essa mulhé sabida, filho.  (Afagou, carinhosamente, a cabeça do rapaz).

Ritinha apareceu com a maleta na mão, vestido simples, de chita, em padrão florido.

RITINHA  -  Estou pronta. A gente pode ir.

Duda correu a abraçá-la. Instintivamente, a moça recuou, procurando a proteção de Jerônimo.


CENA  8  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

Fôra tudo repentino. E a própria Sinhana optou pela reconsideração. Ritinha acabou ficando, para alegria do marido. E agora, meio desajeitado, mas ansioso para mostrar suas aptidões domésticas, Duda levava uma xícara de chá á esposa deitada.


DUDA  -  Olha, fui eu que fiz. Mãe me ensinou. Não sei se acertei a fazer o chá pra você... (Sentou-se á beira da cama com a xícara na mão).
  
RITINHA  -  (ressentida)  Obrigada. Não quero dar trabalho.

Duda colocou a xícara na mesinha de cabeceira e pegou na mão da esposa.


DUDA  -  Vou te arranjar uma empregada. Estou ganhando uma nota, Rita. Ontem, enchi meus bolsos de grana. Fiz 3 gols! Mandei brasa! Você tem que esnobar como esposa do grande Duda!

RITINHA  -  (revoltada)  É... eu compreendo. Você tem mania de grandeza. Por isso tem duas mulheres. É o grande Duda. Tem direito a isso.

DUDA  -  Não fala bobagem.  Não te disse que agora as coisas vão ser diferentes? A sujeita me tapeou. E ninguém ilude o Duda, não! Ah, essa não!

Ritinha, menos enfurecida, aceitou o diálogo.

RITINHA  -  Afinal... ficou mesmo provado que ela estava mentindo?

DUDA  -  Peguei Hernani no pulo. O safado deu mil desculpas... “é, eu estava contra, mas sabe... ela é minha irmã, etc., etc.”. (Mudando de tom)  Hernani é boa praça, não quero mal a ele. E toma conta dos meus negócios direitinho. A irmã dele... não quero ouvir mais o nome dela.

Passara a raiva e Ritinha era toda ternura.


RITINHA  -  Jura, Eduardo?

DUDA  -  É preciso, amor?

FIM DO CAPÍTULO 21
Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

JERÔNIMO E SINHANA VOLTAM A COROADO.

 O PROMOTOR RODRIGO, NA COMPANHIA DE JOÃO CORAGEM, VAI Á FAZENDA DE PEDRO BARROS E EXIGE QUE JUCA CIPÓ ENTREGUE SUA ARMA PARA SER PERICIADA. CONSEGUIRÃO SEU INTENTO?

TENTANDO DESPERTAR OS CIÚMES DE JERÔNIMO, POTIRA SE INSINUA E DIZ QUE O PROMOTOR A BEIJOU NA BOCA.

 
NÃO PERCA O CAPÍTULO 22 DE 
   

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