sexta-feira, 20 de maio de 2011

CAPÍTULO 17


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 17

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DIANA
POTIRA
JOÃO
DALVA
ESTELA
PEDRO BARROS

CENA 1  -  CHOUPANA NA FLORESTA  -  INT. E EXT. -  DIA.
 
A chave rodou no interior da fechadura. Uma, duas vezes. A porta se abriu e Diana recebeu o feixe de luz sobre o rosto. O sol continuava causticante, arrancando raios coloridos das paredes rochosas da margem do riacho. João entrou na estreita sala. Diana recebeu-o com palavrões.

 
DIANA  -  Seu... besta de uma figa! Por que me trancou aqui? Eu tenho de dar o fora. Cachorro! Patife! Pensa que eu sou o quê? Sua prisioneira?

João agarrou o braço da jovem com força. Raivoso.


JOÃO  -  Agora... você vem comigo.

DIANA  -  Aonde?

JOÃO  -  A gente... vai até a casa de Pedro Barros. Vou te levá lá... pra te por frente a frente com a professora!

DIANA  -  Não quero ir. Não me interessa ver aquela débil mental. Quero ir embora, tratar da minha vida.

JOÃO  -  Não. Desta vez ce vai comigo. Estão querendo prejudicá a outra moça e eu não vou deixá.

Diana quis forçar passagem pela porta acanhada. O corpo do rapaz tomava por completo o espaço existente.

DIANA  -  Me deixa passar.

Potira ouvira a discussão, do lado de fora. Pediu ao irmão, tolerante:

POTIRA  -  Larga a moça, Jão.

JOÃO  -  Não vê a necessidade de provar que elas são duas?

Diana tornava-se a cada instante mais violenta. Gritava, enlouquecida.

DIANA  -  A quem você quer ajudar? A ela? E quer me jogar na rua da amargura?

JOÃO  -  A outra moça não merece...

DIANA  -  Eu não quero estar metida nisto.

JOÃO  -  Vai ter que estar!

DIANA  -  Ninguém vai me obrigar. Você me largue! Me deixe em paz! Me deixe em paz!
   
JOÃO  -  (perdendo a paciência)    -Bom... se não vai por bem... vai ter de ir por mal.
   
DIANA  -  (esperneava)  Não. Não vou. Me solta!

De repente, a jovem soltou um grito mais alto e estridente. Suas mãos procuraram as têmporas. Depois Diana tapou o rosto com as mãos. Os joelhos tocaram o chão barrento, avermelhando-se ante a aspereza do solo. A moça permanecia paralisada como num transe mediúnico. Os lábios tremiam-lhe. Potira olhava a cena impressionante. Buscava os olhos de João.

 
POTIRA  -  Que é que ela tem?

A pausa fôra longa. Agora, aos poucos, a jovem levantava o rosto. As mãos macias escorriam vagarosas face abaixo. Havia meiguice e santidade em sua expressão. E cansaço também. João deu um passo á frente. A moça denotava espanto, olhando para os quatro cantos da minúscula sala.

MARIA DE LARA  -  O que foi?

JOÃO  -  Tá melhor? A gente pode ir

Potira interveio. Ajoelhou-se diante da jovem, que agora parecia outra.

POTIRA  -  Espera, Jão. Ela não está bem.  Que foi, moça?

MARIA DE LARA  -  Que lugar é este? Quem me trouxe para cá?

POTIRA  -  Foi João...

MARIA DE LARA  -  O Senhor João? Onde me encontrou? Como foi que vim parar aqui? Por quê? Que lugar é este?

Tentou levantar-se. Potira deu-lhe a mão, ajudando-a a erguer-se do chão duro.


POTIRA  -  Que tá sentindo?

MARIA DE LARA  -  Minha cabeça...
  
JOÃO  -  (sem acreditar naquilo)  Isso é fita, pra não ir...

MARIA DE LARA  -  Senhor João... por favor, me diga... que aconteceu comigo? Como me encontrou?

JOÃO  -  Agora... agora vem ela com senhor  João... e até parece outra!
   
MARIA DE LARA  -  (estremecendo)  Outra?

JOÃO  -  Tá querendo me enganá... não quer que leve você á presença da professora...

MARIA DE LARA  -  Professora?

JOÃO  -  Sim. A filha de Pedro Barros!

MARIA DE LARA  -  Mas... eu sou a filha de Pedro Barros!

A revelação paralisou João e Potira. Lábios entreabertos, na expressão da surpresa, um e outro permaneciam estáticos. Dir-se-ia que o mundo havia parado, que a natureza se transformara num repouso absoluto.

JOÃO  -  (acordou do espanto)  Você? Mas... você?

Potira adiantou-se. Pegou as mãos da jovem, entre as suas.

POTIRA  -  Você é Diana, moça...

MARIA DE LARA  -  Sou Lara...

João segurou-a fortemente pelos ombros. Balançou-lhe o corpo delicado.

JOÃO  -  Tá pensando... que eu sou o que? Um idiota?
  
MARIA DE LARA  -  (chorava abafadamente)  Eu sou Lara!
  
JOÃO  -  (sacudiu-a)  E Diana? E Diana?

MARIA DE LARA  -  Não sei quem é Diana!

JOÃO  -  É doida ou... quer me por doido...

MARIA DE LARA  -  Não sei do que está falando... mas me deixe ir embora... quero ir para minha casa... Seja o que for que tiver acontecido... eu lhe sou muito grata. Meu pai saberá recompensá-lo. Pedirei a Deus para ajudá-lo... Vou orar pelo senhor... mas... agora, eu lhe peço... deixe-me ir embora...

JOÃO  -  Vai rezá, não é? Vai pedir a Deus por mim... Tou precisando mesmo da ajuda dele. Porque tou ficando zonzo. Você tá me pondo doido. Agora vem com essa história de... de não saber quem é Diana... eu não entendo mais nada. E vou pedir a ajuda de alguém pra me explicá

MARIA DE LARA  -  Ajuda de quem?

JOÃO  -  Do Padre Bento.

MARIA DE LARA  -  Faz bem. Chame o Padre Bento... imediatamente. Preciso falar com alguém sensato... Vejo que o senhor não está em condições de me dizer nada... Vá que eu espero. Não estou entendendo nada. Parece que estou num outro mundo... onde as pessoas e as coisas são diferentes. Vá, eu lhe peço... vá buscar o Padre Bento!

JOÃO  -  Vem, Potira...

POTIRA  -  Ela pode precisá de mim.
  
MARIA DE LARA  -  Obrigada. Fico com Deus. Não preciso de nada.

Ajoelhando-se no centro da sala, a moça, com os olhos molhados e mãos postas, rezava a meia-voz. João e Potira, perplexos, saíram, deixando a porta da choupana entreaberta. Lá dentro, Maria de Lara seguia rezando, desligada do mundo.
CORTA PARA:
 
CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  QUARTO DE LARA  -  INT.  -  DIA.

Dalva jogara-se sobre a cama de Lara, enquanto Estela exigia uma explicação.

ESTELA  -  Desde quando isso acontece?

DALVA  -  Certa vez, no Rio, ela se aborreceu com Artur, que a repreendeu severamente por ter arranjado um namorado. Logo após, queixou-se de violenta dor de cabeça. Inexplicavelmente, desapareceu de casa, durante dois dias. Não sabemos até hoje o que foi que lhe aconteceu. Nós a procuramos desesperadamente por toda a cidade.

ESTELA  -  Onde a encontraram?

DALVA  -  Ela voltou... sozinha – atordoada... Quando eu me lembro! Estava muito abatida... cansada, e não se recordava de nada que lhe havia acontecido. Para ela... não havia noção de tempo... me entende?

ESTELA  -  Sim.

DALVA  -  Dois dias, não se passaram na vida dela. Disse que despertou num local completamente estranho... de manhã, num bar aonde nunca tinha ido. Tomou um táxi e mandou tocar para casa. No entanto, estava vestida de forma diferente... ela não conhecia aquelas roupas. Nós a levamos ao hospital.

ESTELA  -  E os médicos, o que disseram?

DALVA  -  Deram o fato como um ataque de amnésia.

ESTELA  -  As crises voltaram?

DALVA  -  Não... não tão fortes... Apenas, ás vezes, uma forte dor de cabeça. Nunca mais tive sossego e, quando me telefonou daqui, revelando que voltara a sentir o mesmo mal-estar, fiquei assustada. E, realmente... aqui... tudo voltou.
   
ESTELA  -  (preocupada)  E o que aconteceu durante essas crises?

DALVA  -  Não sei! Não tenho certeza!

ESTELA  -  Será que durante as crises... ela faz coisas... enfim, ela se transforma?

DALVA  -  Não, não Eu quero acreditar que não! Isto não pode acontecer com a minha Lara!  ( chorava desesperadamente)  Eu não a imagino capaz de fazer certas coisas.
   
ESTELA  -  (dissimulava o nervosismo)  Não se trata do que ela é capaz de fazer.

DALVA  -  Como não, Estela? Eu prefiro morrer... a saber que Lara... se transforma numa mulher... dessa espécie.

ESTELA  -  Ora, lá vem você com seus preconceitos! O que me apavora, não é isso...

DALVA  -  O que é, Estela?

ESTELA  -  É a maneira como Pedro vai receber o fato. Ele não receberá com os seus escrúpulos, nem com a minha tolerância. Se for verdade que ela é aquela mulher... a outra, será capaz de matá-la. Eu tenho quase a certeza de que estamos diante de um caso fantástico. Como? Por que isto acontece? De que maneira? Eu não entendo. Talvez um médico... especialista... ou um estudioso de fatos sobrenaturais...

A porta escancarou-se ante o pontapé violento de Pedro Barros, que entrou no recinto.


PEDRO BARROS  -  Cadê minha filha?
  
ESTELA  -  (amedrontada)  Sua filha não está.

PEDRO BARROS  -  Cadê ela?

Estela e Dalva fitaram-se durante alguns segundos.


PEDRO BARROS  -  (insistiu, colérico)  Cadê ela? Que mistério é esse?
   
ESTELA  -  Ela saiu... não faz muito tempo.

PEDRO BARROS  -  Como saiu? Eu lhe disse que queria lhe falar. Vou buscar ela, onde foi?

ESTELA  -  Deixe Pedro, eu e Dalva a traremos de volta. Vou mandar preparar o carro.

PEDRO BARROS  -  O que tá acontecendo com a minha filha?

DALVA  -  Nada, Pedro, nada... eu lhe garanto. Ela saiu... não faz muito tempo... e eu creio que... foi á igreja.



FIM DO CAPÍTULO 17

 
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
RITINHA TELEFONA PARA DUDA PARA AVISAR DA CHEGADA DE JERÔNIMO E SINHANA AO RIO. O JOGADOR, MUITO ABORRECIDO COM A ESPOSA, DECIDE FUGIR DA CONCENTRAÇÃO PARA RECEBER OS PARENTES, MAS É DESCOBERTO POR FAUSTO PAIVA!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 18 DE


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