domingo, 1 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 9


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 9

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DUDA
RITINHA
JOÃO
CEMA
DIANA
SINHANA
POTIRA
JERÔNIMO


CENA 01  -  IMAGENS DO RIO DE JANEIRO  -  EXT.  -  NOITE.

O mar, as montanhas, as duas capitais frente a frente, o mundo de edifícios subindo céu afora, os luminosos coloridos, o asfalto negro – tudo era motivo de admiração para a moça ingênua do interior. Ritinha estava deslumbrada com a beleza do Rio. O táxi parou diante do Hotel Glória. Ritinha se beliscava para admitir que existia.

CORTA PARA:

CENA 02  -  RIO DE JANEIRO  -  HOTEL GLORIA  -  APARTAMENTO  -  INT.  -  NOITE.


DUDA  -  Está contente?

RITINHA  -  Radiante, Eduardo. Que coisa de louco! Nunca pensei que fosse assim...

DUDA  -  (abrindo a janela do apartamento)  Veja, Rita.

RITINHA  -  Bacana, Eduardo! Tudo lindo! A cidade do Rio de Janeiro é uma beleza... Quantas luzes. Eduardo, vem ver!

DUDA  -  Ritinha, eu quero lhe dizer uma coisa. Escute: eu tenho um apartamento... quero dizer... eu e uns amigos. Você sabe... tem muitos solteiros no time... a gente alugou um apartamento, mas quem dá a maior parte sou eu. E agora eu vou tirar aquela cambada de lá.

RITINHA  -  Quando a gente vai?

DUDA  -  Eu vou agora. Você fica aqui e me espera.

RITINHA  -  Eduardo... nem bem a gente chegou. Eu pensei que... você...

DUDA  -  Eu sei o que você pensou.

Beijaram-se longamente.

DUDA  -  Espere, Ritinha. É por pouco tempo.

CORTA PARA:

CENA  03  -  HOTEL GLÓRIA  -  APARTAMENTO  -  INT.  -  NOITE.

  
Há horas que Duda tinha deixado o apartamento do Hotel Glória. Ritinha continuava só, imersa em pensamentos que envolviam desde sua cidadezinha natal, longínqua, no interior, até a sua atual situação, casada, á espera do marido em um luxuoso hotel. Duda não retornava. Rita tomou uma decisão. Na portaria do hotel – pensou ela – deveriam ter o número do telefone particular do Duda. “Afinal, ele é um homem importante”. Acertara em cheio. Conheciam o telefone do “Duda do Flamengo”.

Rita fez a ligação.


RITINHA  -  Alô, Eduardo! Sou eu, Ritinha.

Duda deu as explicações necessárias.


DUDA  -  Eu sei que hoje é a nossa noite de núpcias, mas eu tenho que me concentrar. Descobriram minha volta... É. Azar. O que é que a gente pode fazer. Eu não te avisei que era duro? Olha, toma nota do endereço do meu apartamento. Você pega um carro e vem direto pra cá.

RITINHA  -  Mas, Eduardo, eu não conheço nada do Rio. Nem sei como tomar um carro. Posso me perder. Você não pode vir me buscar?

DUDA  -  Não tenho tempo, Ritinha. Olha, mando a mulher do Neca te pegar aí. Você espera ela. É uma moça muito simpática, alegre. É a Carmen, cantora. Legal ás pampas.

RITINHA  -  Tá bem, Eduardo, se não tem outro jeito... E quando é que eu te vejo? Só domingo á noite? Tá. Hoje ainda é quinta.

CORTA PARA:

CENA 04  -  COROADO  -  CASA DE BRAZ CANOEIRO  -  INT.  -  DIA.

  
Cema cumpriu a palavra empenhada a Diana. Mandou chamar João no garimpo. Há algumas horas a bela mulher aparecera no casebre do Braz, trazida de algum lugar por um garimpeiro das redondezas. E agora, dava um autêntico show, dançando ao som de uma radiola que trouxera.

CORTA PARA:

CENA 05  -  CASA DE BRAZ CANOEIRO  -  SEQUENCIA  -  EXT.  -  DIA.


 João estava chegando, quando Cema correu até o portão.


CEMA  -  Achei melhor a gente conversar aqui.

JOÃO  -  (impaciente)  Cadê ela, Cema?  Cê não disse que aquela doida estava aqui?

CEMA  -  Está, Jão. Agora foi no rio. Tá tomano banho. Jão, eu acho que ela não regula da bola, não. Botou isso aí...

Cema mostrou a vitrola de Diana.


CEMA  -  Tocou alto que não era vida. Umas musgas maluca. Ela se rebolava e dançava de um jeito... Jão, essa mulher não é procê, não.

JOÃO  -  Por que, Cema?

 CEMA  -  Porque vai te trazer muito sofrimento.

 JOÃO  -  E que é que eu posso fazer, Cema... se já tou meio maluco prela.

CORTA PARA:

CENA 06  -  RIACHO  -  EXT.  -  DIA.

 
João correu para o riacho. A moça estava acabando de se vestir. Os cabelos molhados, a pele ainda úmida. Avistou o garimpeiro.


DIANA  -  Ei, grandalhão! Vem cá!

João se aproximou, receoso. Ela deixou a margem do riacho e, puxando-o pelo braço, levou-o até perto das águas.

DIANA  -  Te esperei um tempão.

JOÃO  -  Tava no garimpo...

DIANA  -  Quase que eu fui lá.

JOÃO  -  Então, ocê resolveu voltar?

DIANA  -  Voltei pra você. Sou sua, não sou? Não quer aproveitar?

JOÃO  -  Aproveitar?

DIANA  -  Homem não gosta de mulher? Se estou dizendo que sou sua... você pode fazer de mim o que quiser. A não ser que não me queira mais. Aí é outro caso. Eu pego meus trapinhos e vou assentar praça noutro lugar.

João não resistiu á tentação da mulher diabólica.

As águas corriam molemente, os pássaros cantavam e o mundo sempre a girar, a girar.

CORTA PARA:

CENA 07  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  EXT. - DIA.

Sinhana, encostada á porta, descansava da labuta incessante no rancho. Os rapazes davam trabalho. Ela e Potira tinham de se desdobrar para atender aos deveres da casa e do rancho.


POTIRA  -  (abriu a porta dos fundos e anunciou) Jão vem aí com uma moça bonita.

SINHANA  -  Fecha a porta dos fundos, índia do inferno.

João apeou do cavalo e retirou a moça da garupa.

JOÃO  -  Mãe, Jerônimo. Abram a porta.

SINHANA  -  Vai simbora, Jão. Vai simbora.

JOÃO  -  Abre, mãe.

Jerônimo interveio, abrindo a porta ao irmão.


DIANA  -  Alô, garotão. Era você que não queria abrir a porta?

Jerônimo não respondeu. Dirigiu-se ao irmão.

JERÔNIMO  -  Pra que você trouxe ela aqui?

Inquieta, a moça olhava detidamente a casa.

JOÃO  -  Olha, estou precisando de duas coisas: comida e água pra ela lavar os pés. Estão todos sujos de areia...

SINHANA  -  (voltou-se, irritada)  E ocê acha que tua mãe vai lavar pé da filha de Pedro Barros?

DIANA  -  (deu uma gargalhada)  Taí, grandalhão. Taí a chave do mistério. Tua velha está de cara feia porque está pensando que eu sou aquela cretina. Manjei tudo.

SINHANA    -  (zangada)  Que língua é essa que ela tá falando, filho?

JOÃO  -  É jeito dela, mãe.

JERÔNIMO  -  (olhou severo para a moça)    Quem é essa sujeita?

DIANA  -  (raivosa)  Não engrossa, rapaz. Não engrossa e não me confunde. Não sou filha de Pedro, nem de Paulo. Não tenho pai, nem mãe. Não sou daqui.

JERÔNIMO  -  (dirigindo-se a João)  Explica, irmão. Essa... não é aquela moça que eu vi na casa do safado do Barros?

DIANA  -  (bateu palmas, sorrindo)  Gostei! Isso mesmo! O safado do Barros.

JOÃO  -  Esta... é outra, irmão. Acha que se fosse filha dele... dizia essas coisas? Do próprio pai?

O jovem se aproximou da moça, num exame meticuloso. Pegou no rosto de Diana, suspendendo-o com ira.

JERÔNIMO  -  Ela não é outra. É a filha de Pedro Barros, Jão!

DIANA  -  (insolente)  Conheço a filha dele. É uma cretina, metida a besta. Olha aí, tenho até pena dela.

JERÔNIMO    -  Ela tá te enganando, Jão. Isso é coisa do pai dela. Um truque... ou qualquer coisa parecida, para dar um golpe na gente.

SINHANA  -  (possessa)   É isso mesmo. Não acredita nessa mulher, meu filho.

DIANA  -  Diz pra eles, grandalhão. Diz o que foi que você decidiu a meu respeito.

João não sabia por onde começar. Titubeava.


JOÃO  -  Eu... eu e ela... a gente vai se unir... eu quero dizer... vou amanhã bem cedinho falar com Padre Bento... a gente vai se casar.

JERÔNIMO  -  A gente não vai deixar cê fazer essa besteira, mano. De jeito nenhum.

JOÃO  -  Quem decide minha vida sou eu...

JERÔNIMO  -  Além de ser filha de um bandido, é uma...

João Coragem moveu-se em direção do irmão. Havia desvario no seu gesto. Seus olhos faiscavam como as pedras que descobria no garimpo.

JOÃO  -  Veja como fala, irmão.

SINHANA  -  (dirigiu-se á moça)  Cê não é mulher pro meu filho.

João saíra por alguns minutos e Jerônimo não se deixava vencer.


JERÔNIMO  -  Seja mulher de Pedro Barros ou de um santo, mulher como você se encontra ás dúzias.

Diana sorriu.

SINHANA  -  Só quero te fazer uma pergunta. Cê gosta do meu filho?

DIANA  -  Ele me distrai. É um bom sujeito.

SINHANA  -  E vai fazer ele se casar com você... porque é um bom sujeito? Cê é uma aventureira e quer desgraçar com a vida de um homem bão.

DIANA  -  Quero desgraçar com ninguém, dona! Me deixa! Um canto pra dormir... um prato de comida... poder rir quando  quero... amar... correr... brincar, sem medo... é a minha filosofia.

Sinhana sentiu a possibilidade de se desfazer da jovem. Ela não tinha dinheiro. Retirou algumas notas de um pote guardado na prateleira.

SINHANA  -  Gosta muito de dinheiro, também, não?

DIANA  -  Não desprezo. Ás vezes preciso... até roubar... sabe como é? Quem tem uma vida livre, como eu...

SINHANA  -  (entregou-lhe o dinheiro)  Pois toma. Leva. São as economias da família. É tudo quanto a gente tem. Pega isto e some. Some da vida do meu filho.

Diana sorriu, pegou das notas e guardou-as, em grupo, no seio.


FIM DO CAPÍTULO 9
Diana (Gloria Menezes) e João (Tarcísio Meira)
 E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# NO RIO DE JANEIRO, PAULA METE RITINHA NA MAIOR ENRASCADA:  APROVEITANDO-SE DA INGENUIDADE DA MOÇA, SE FAZ PASSAR POR CARMEN VALÉRIA E CONVENCE A  POBRE CAIPIRA A IR AO ENCONTRO DO MARIDO, NA CONCENTRAÇÃO DO FLAMENGO!

# A MÃE CORAGEM OFERECE DINHEIRO A DIANA PARA AFASTAR-SE DO FILHO!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 10 DE...
 


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