terça-feira, 18 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 94


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 94
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
ALBERTO
BRANCA
LÍDIA
MARIA DE LARA / MÁRCIA
JERÔNIMO
 PEDRO BARROS
DOMINGAS
CAPANGAS

 CENA 1  -  MORRINHOS  -  ESCOLA  - SALA DE AULA  -  INT.  -  DIA.

Morrinhos alcançava aquela etapa do dia em que ninguém tem ânimo para mais nada. Meado da tarde. Sol fustigando o chão de areais refulgentes. Branca ministrava aula no cursinho da matriz. A voz chamou-a:


ALBERTO  -  Mãe!

Em poucas palavras o filho fê-la conhecer as razões de sua estada ali.


BRANCA  -  Fale mais!

ALBERTO  -  Queria lhe perguntar... e a senhora tem que me responder com toda a sinceridade. Quando reconheceu o corpo do meu pai... a senhora teve certeza de que era ele?

BRANCA  -  (estremeceu, mas controlou-se)  Que pergunta!

ALBERTO  -  Responde!

BRANCA  -  Por quê?

ALBERTO  -  Porque o irmão de João, aquele que é famoso, viu um sujeito em São Paulo e está dizendo que é meu pai! Brigou até com ele num quarto de hotel!

BRANCA  -  (voltou a tremer com maior intensidade)  Acho tudo um absurdo!

ALBERTO  -  Não teve a menor dúvida quando reconheceu meu pai? (tinha os olhos súplices de um condenado)  Era meu pai mesmo?

BRANCA  -  (replicou, segura de si)  Claro que era!

A consciencia endurecida, nada lhe dizia. Não lhe chegavam a doer os sacrifícios, a vida atormentada e perdida para sempre, de um jovem garimpeiro, simples e honesto. Para Branca, nada disso eram valores no cotejo com os interesses do marido e com a paixão que lhe dedicava.

Em São Paulo, Lourenço tramava sua saída do país. Não sem antes eliminar Duda e... se necessário, a própria mulher.

CORTA PARA:


CENA 2  -  COROADO  -  CASA DE JERÔNIMO  -  INT.  -   DIA.

Lídia deparou com a mulher ao abrir a porta da moderna e confortável residencia.


MARIA DE LARA  -  O prefeito está?

LÍDIA  -  Oh, mas é você! Jerônimo, veja quem está aqui!

Abotoando o roupão de listras verdes, o rapaz chegou pressuroso.

JERÔNIMO  -  Lara!

A moça adentrou a sala, decorada com extremo bom gosto. Sentou-se numa poltrona de couro vinho.

MARIA DE LARA  -  Quero, antes de qualquer coisa, desfazer um equívoco (disse com graça)  Eu sei que vocês conhecem Lara, muito bem. Mas... eu não sou Lara! (o par voltou os olhos num espanto mútuo)  Sou Márcia Lemos. E faço absoluta questão que não me confundam com a outra. Ou com as outras... como queiram.

JERÔNIMO  -  Mas... não... tou entendendo (falou, gaguejante)  Você não é a mulher do meu irmão?

MARIA DE LARA  -  Não (replicou, com segurança)  Eu não sou a mulher do seu irmão. Estou aqui em caráter profissional e quero lhe fazer perguntas sobre os fatos que tem abalado esta cidade, nos últimos dias. Eu me refiro ás divergências entre o senhor e Pedro Barros. Aliás, trouxe meu gravador e desejo fazer uma entrevista. O senhor está disposto a concedê-la?

A presença da mulher e suas estranhas afirmativas provocaram uma estranha sensação de irrealidade, no ambiente caseiro do lar do prefeito. Aquela era, quisesse ou não ela mesma, a mulher do seu irmão: Diana ou Lara ou Márcia. Uma coisa era certa. Diante dele estava a filha do Coronel Pedro Barros, a esposa de João Coragem. Os olhos de Jerônimo pediram ajuda à esposa. Ambos estavam visivelmente sem ação.


JERÔNIMO  -  Claro... mas eu não tou convencido disso. Você pode ser repórter, mas que é minha cunhada, lá isso é...

MARIA DE LARA  -  Eu acho que isso não tem a mínima importância.  Podemos começar nossa entrevista?

JERÔNIMO  -  Claro! Baixa o rádio, Lídia!

Márcia premiu o botão e a fita rolou mansamente no gravador.

Formal ou informal, o trabalho jornalístico chegara ao fim, depois das declarações francas do prefeito: “Pedro Barros é um déspota. Eu me liberto desse homem. E essa liberdade vai me dar chance de fazer tudo o que nenhum prefeito de Coroado pôde fazer até agora.”


Márcia despediu-se e deixou a casa.

CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  EXT.  -  DIA.


Do outro lado da cidadezinha os homens reuniam-se em torno do velho coronel. Pedro Barros danara-se com as últimas atitudes do Delegado Falcão. Rebeldias que o chefão não podia tolerar. E o rompimento veio como consequencia inevitável. Formaram-se duas linhas distintas no poder de Coroado. De um lado, Pedro Barros e seu dinheiro; do outro, Jerônimo e sua força de vontade.


O coronel parecia imponente montado em seu cavalo puro-sangue, adquirido de um haras paulista.


PEDRO BARROS  -  Tinha de dizer a vocês que a gente não conta mais com o Falcão. O safado se passou pro lado do prefeito com medo de perder o cargo. De agora em diante, a gente faz a nossa própria lei. Eu não vou esperar ajuda de ninguém. Nem preciso. Preciso é da ajuda de vocês. Eu pago bem. Pago dobrado. Pago o que ninguém pode pagar por estas terras. Mas exijo fidelidade. Aquele que se passar pro lado do inimigo é homem morto. (pegou provocadoramente do revólver 45)  Temos muito com quem lutar. João, Jerônimo e agora o bandido do Falcão. Repito... quem faz a lei aqui sou eu! Sou eu e mais ninguém! Eu sou o dono desta terra! Criei Coroado! Tenho direitos de pai pra filho! Não aceito lei de prefeito, nem delegado, nem de autoridade nenhuma... Eu sou a única autoridade em toda esta região imensa! Até Deus tem de me respeitar! Estão me entendendo? Eu sou o dono de Coroado! Vou fazer todo mundo compreender isso!

Um brado elevou-se do grupo, contagiado pelas palavras do coronel.

CORTA PARA:

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  INT.  -  NOITE.


Tudo passara com a chegada da paz noturna.

Lídia afirmava ao coronel que o marido não tinha conhecimento de sua presença na casa-grande. Limpava as lágrimas que lhe escorriam face abaixo. Barros olhava-a como um imperador a um súdito, do alto do trono.


PEDRO BARROS  -  Foi teu marido que te mandou aqui, sim!

LÍDIA  -  Não. Ele não sabe que vim.

PEDRO BARROS  -  E por que veio?

LÍDIA  -  Coronel... Dr. Rodrigo e Potira chegaram hoje a Coroado...

PEDRO BARROS  -  Já me disseram...

LIDIA  -  Eu queria lhe fazer um pedido... muito importante, coronel. Pela amizade que une o senhor ao meu pai.

PEDRO BARROS  -  (pigarreou insolente)  Calma, Lídia... não fica nervosa. Fala.

LÍDIA  -  Esquece... o caso do Jerônimo... com a índia. Não faça mais nada além do que já fez. Desista de perseguir meu marido... Desista... por favor.

PEDRO BARROS  -  E você acha que seu marido merece que eu faça isso? (com cinismo) Que não conte agora pro Dr. Rodrigo as sujeiras que ele andou fazendo? O que aconteceu numa noite de tempestade, quando os dois ficaram dentro de uma gruna, preso? Eu que fui lá, livrar eles!  (mostrou um grande envelope pardo) Tenho tudo aqui, escrito, prontinho pra mandar pro Dr. Rodrigo. Pra dá um castigo merecido naquela sujeitinha que num sabe honrá o nome do homem que lhe deu um lar. E não quero mais ouvir falar nisso. Não adianta pedido, nem lágrima. Fui desafiado pra uma luta. Vou levar ela até ao fim!  )e virando-se para Lázaro)  Toma. Entrega amanhã ao promotor. O Jerônimo há de ver com quantos paus se faz uma canoa!

Com as mãos sobre o rosto a filha do deputado deixou a sala, amparada por Domingas.

DOMINGAS  -  Que Deus te perdoe, Pedro!

FIM DO CAPÍTULO  94
Lourenço (Hemilcio Fróes) e Branca (Neuza Amaral)


e no próximo capítulo...

*** LÁZARO, A MANDO DE PEDRO BARROS, ENTREGA A RODRIGO AS FOTOS DE POTIRA E JERÔNIMO BEIJANDO-SE NO DIA DO CASAMENTO DA ÍNDIA COM O PROMOTOR.

*** RODRIGO E JERÔNIMO LUTAM EM PLENA PRAÇA DE COROADO, SOB OS OLHARES DE TODA A CIDADE!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 95 DE

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 93


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 93
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO
POTIRA
JERÔNIMO
PADRE BENTO
JOÃO
LÁZARO
RODRIGO
LÍDIA
DUDA
ALBERTO
BRAZ CANOEIRO

CENA 1  -  BOSQUE  -  EXT.  -  DIA.

Não havia ninguém naquela hora em toda a extensão do bosque. Apenas o canto da passarada dava conta de que ainda existia vida sobre a terra. Jerônimo sentara-se na grama a observar a curiosa formação das nuvens. O vulto esgueirou-se por entre a vegetação, apoiando-se aos troncos e se acercou do rapaz. Os olhos de ambos se encontraram e os dois permaneceram estáticos sem sequer pronunciar palavra.

Diante da claridade, protegidos por algumas árvores frondosas, o coronel e o delegado assistiam à cena.


PEDRO BARROS  -  (orgulhoso)  Que foi que eu te disse?

DELEGADO FALCÃO  -  Em que mundo eu andava que nem desconfiei?

PEDRO BARROS  -  Bem... prepare a máquina (sugeriu, animando-o com uma leve cotovelada no braço).

DELEGADO FALCÃO  -  Pra alcançar eles daqui, tenho que usar a teleobjetiva.

O  delegado abriu a maleta de couro alaranjado e tirou a peça necessária, encaixando-a na parte frontal da máquina fotográfica.


PEDRO BARROS  -  Use o que quiser, mas bata o retrato. E espere um momento importante...quando os dois se juntá!  (e fazia força para não gargalhar de alegria).

Durante alguns minutos o delegado fixou o olho contra o pequeno visor, á espera da hora H. Tudo era silencio.

Num movimento brusco os dois amantes jogam-se nos braços um do outro. Potira tremia. Jerônimo arfava.


POTIRA  -  É só uma despedida?

JERÔNIMO  -  É. Uma despedida!

O longo, desesperado beijo, selou o adeus dos dois.

A câmara retratara tudo. No jogo de interesses o Coronel Pedro Barros acabara de ganhar outro trunfo valioso.

Esgueirando-se cuidadosamente, os dois alcançaram o carro na estrada. Na clareira do bosque Potira acariciava a face do amante.


POTIRA  -  Adeus, Jeromo.

JERÔNIMO  -  India... eu te amo... vou me casar com outra, mas vou te amar sempre...

POTIRA  -  Até nunca mais, Jeromo!

Jerônimo gesticulou com o braço, mostrando o horizonte ao longe.

JERÔNIMO  -  Tu presta atenção, quando amanhecer o dia. Olha bem pro céu e pensa que tou pensando em ocê.

As palavras eram demais. De menos a vontade imensa de se possuírem. Tudo era pouco diante do amor que unia duas vidas e dois destinos. A tarde começava a cair quando o casal se separou na bifurcação da estrada que ligava Coroado ao rancho dos Irmãos Coragem.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.


Não era todo dia que um prefeito se casava em Coroado. E muito menos com a filha de um homem famoso. De um deputado com assento em Brasília. A igrejinha estava cheia de amigos e curiosos. Todos queriam ver “a filha do Dr. Siqueira” que havia fisgado um peixe difícil de ser apanhado.

De repente o ruído de pés e gente a se levantar.


A noiva surgiu à entrada do templo, mão levemente apoiada no antebraço do Coronel Pedro Barros. Mais atrás, duas figuras enquadradas no vão da entrada: Falcão e Lázaro.

Diante do espanto geral, um homem de barba cerrada encaminhou-se para o altar a passos largos.

A uma só voz, como em côro gigantesco, a igreja exclamou: João! 


PEDRO BARROS  -  (quase gritou)  O que é isso? Um casamento ou uma reunião de bandoleiros?

PADRE BENTO  -  (com uma ponta de recriminação)  Por que... você veio, meu filho?

JOÃO  -  Uai, padre, vim vê de perto o casamento do meu irmão. Vim cunhecê a noiva dele. Ora, eu tenho direito, não tenho? Afinal, sou filho de Deus. Sou católico, apostólico, romano. Por que é que eu não posso entrá dentro de uma igreja?

DELEGADO FALCÃO  -  Acontece que você, além de tudo, é também um bandido! (gritou, afastando os populares e encaminhando-se para o altar)  E direito de andar livremente você não tem.

João Coragem pediu silencio, abrindo os braços num gesto largo, palmas voltadas para a multidão.

JOÃO  -  Tá bão, minha gente! Eu quero que todo mundo aqui julga a justiça do Falcão. A justiça que tá imperando nesta cidade. Falcão anda, agora, na companhia de um assassino. Deu liberdade pra ele. Ora... por que é que eu não posso usá do mesmo provilégio? Me diga, minha gente! Meu irmão, que é autoridade, se consente nisso, tem que consenti também que eu assista o seu casamento!

Houve um murmúrio de aprovação no interior do templo. Algumas cabeças moveram-se em sinal de aquiescencia.

JERÔNIMO  -  Você tem razão, irmão! (virou-se para os presentes)  Ele pode assistir meu casamento. Se ele não pode, Lázaro, aqui presente, também não pode, não! Se tem que prendê ele, Lázaro também tem que sê preso!

RODRIGO  -  (ergueu a voz possante)  Estou de pleno acôrdo!

PADRE BENTO  -  Gente! Só lhes peço para respeitar a casa de Deus!

JOÃO  -  Nós respeita!  Ninguém move uma palha, se ninguém molestá a gente.

JERÔNIMO  -  (ordenou, enviando um olhar de satisfação para o irmão)  Pode começar a cerimônia, padre!

JOÃO  -  (anunciou, ameaçador, fitando os olhos do delegado)  Só aviso que lá fora tá cercado de meus home. E enquanto eu tou aqui, ninguém entra nem sai. Mas, nós respeita, padre, esta igreja. Pode dá início.

PEDRO BARROS  -  Desculpem! Eu aqui não posso ficar!  (vociferou,  ameaçando deixar o templo).

JOÃO  -  Mas vai ficá!  (retrucou com voz enérgica. Seus olhos fuzilavam de ódio) Já disse. Daqui ninguém arreda pé. Padre, fala o que tem que falá...

O sacerdote deu início à cerimônia. A um sinal, Lídia e Jerônimo se ajoelharam, curvando a cabeça. O órgão encheu de som o interior da igrejinha. Na parte externa, dezenas de homens, em atitude hostil, moviam-se nervosamente. A igreja estava cercada como uma praça de guerra.

PADRE BENTO  -  (concluía)  Em nome de Deus, eu os declaro marido e mulher. E que nenhuma força humana seja capaz de desfazer estes laços feitos por Deus.

Jerônimo colocou a aliança no dedo fino da moça.


JOÃO  -  Posso beijá ela, irmão?

João Coragem beijou a face da cunhada ante os olhares admirados dos presentes. Fez um sinal com a mão e vários capangas enfileiraram-se no centro da igreja, formando um corredor de proteção. Falcão suava.


JERÔNIMO  -  Té outra vez, mano!

JOÃO  -  Agora, a gente vai embora. E vou satisfeito. Provei que tenho direito de andá como cidadão livre, já que num sou nenhum assassino. E previno. Eu volto!

Como se fôra um braço de maré que tivesse invadido um pedaço do litoral, os foras-da-lei, sempre cercando o chefe, á medida que ele andava, deixavam, de costas, o recinto sagrado.

LÍDIA  -  (radiante)  Legal! Legal! Que casamento bacana! Se eu contar ninguém vai acreditar na cidade!

PEDRO BARROS  -  (chegou perto do recém-casado)  Vou te pedir conta disso, Jerônimo!

O prefeito ignorou-o solenemente.

CORTA PARA:

CENA 3  -  ALDEIA DE JOÃO  -  EXT.  -  DIA.

Sol a pino na aldeia afastada, terra dos foragidos. João avistou o carrão vermelho á frente de uma espiral de poeira.


JOÃO  -  Que surpresa é essa, gente! Os dois de uma vez!

Imediatamente os homens deixaram as tocaias de armas voltadas para o chão. Surgiram aos grupos. Duda e Rodrigo entenderam a manobra de proteção. Seria difícil alcançá-los de supetão. Uma manobra em pinça encontraria obstáculos do próprio terreno. Isso deu-lhes tranquilidade.


DUDA  -  Trazemos boas notícias (disse-lhe, apertando-o contra o peito).

RODRIGO  -  Coisa muito importante...

JOÃO  -  Boa notícia pra mim? Será que deu um troço no coração de Pedro Barros e ele esticou as canela?...

Os rapazes riram.

Alberto e Braz se aproximaram, sorridentes.

O promotor voltou-se para o filho de Lourenço D’Ávila; puxou-o amistisamente pelo ombro.


RODRIGO  -  Alberto, você viu seu pai depois de morto?

ALBERTO  -  Não. Não fui chamado pra ver o corpo. Por quê? (um tom de preocupação ressaltou a pergunta do adolescente).

JOÃO  -  Que é que tem que vê isso, agora? (indagou, parando de beber o café forte e quente).

DUDA  -  João, há poucos dias eu vi Lourenço D’Ávila em São Paulo, e briguei com ele num quarto de hotel!

ALBERTO  -  (incrédulo)  Meu pai?

DUDA  -  Ninguém me acreditou e é possível que até você não acredite. Mas era ele mesmo! Em carne e osso!

JOÃO  -  Espera lá! Isso é coisa muito importante! Braz, tu tá ouvindo?

BRAZ CANOEIRO  -  E tão espantado quanto você, João!

DUDA  -  Gente! Vocês tem que acreditar em mim!  Olha... a primeira vez... foi numa joalheria. A segunda...

Eduardo relatou minuciosamente os encontros com o falso-morto e sua luta no interior do pequeno quarto do Hotel Confôrto, na zona da estrada de ferro. Se a verdade pudesse ser comprovada, haveria uma guinada de 360 graus no processo do irmão e as coisas ficariam feias para o lado contrário. Alberto meditava profundamente.

CORTA PARA:

CENA  4  -  ALDEIA DE JOÃO  -  CHOUPANA  -  INT.  -  DIA.


DUDA  -  ... por isso larguei tudo e vim logo lhe contar. Sua liberdade e sua alegria são mais importantes para mim, que todas as partidas co Coríntians.

JOÃO  -  E, pensando bem... aquele cara morto, com o rosto estragado... até que podia ser outro homem! Gente! Tá na cara! Meu diamante sumiu com a morte dele! Ele tá vivo, aproveitando o dinheiro da minha pedra!

Alberto levantou-se, nervoso, e tentou sair. Braz segurou-o pelo pulso.

BRAZ CANOEIRO  -  Guenta firme, rapaz! A vida é assim mesmo.

ALBERTO  - Minha mãe reconheceu o corpo! Vocês não querem dizer que ela tomou parte numa trama!

RODRIGO  -  Acredito que ela pode nos ajudar muito.  Isto não quer dizer que ela tomou parte!

ALBERTO  -  (descontrolado)  Eu... desculpe, gente... não estou me sentindo bem. Pensar que meu pai pode ter feito isso... me dá um mal-estar horrível!

Afastou-se do local sob os olhares compadecidos dos companheiros e dos visitantes.

JOÃO  -  A gente tem que entender o rapaz. Eu não quero magoá ele (falou, baixando a voz, quase num sussurro.. E para o promotor)  Rodrigo, é importante prová isso... e que seja o mais depressa possível.

RODRIGO  -  Vou tentar. Vou me dedicar inteiramente à sua causa. Eu lhe prometo. Eu mesmo irei com Duda de volta a São Paulo e, juntos, trataremos de encontrá-lo.

Apertaram-se as mãos em sinal de compromisso.

FIM DO CAPÍTULO  93
Lídia (Sonia Braga) e Jerônimo (Claudio Cavalcanti)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** Márcia vai á casa de Jerônimo e Lídia como repórter, para entrevistar o novo prefeito de Coroado.

*** Pedro Barros reúne seus homens, avisa que rompeu com Falcão, afirma ser o dono de Coroado e exige fidelidade!

*** Lídia vai á Fazenda de Pedro Barros pedir que esqueça o caso de Jerônimo com a índia e pare de persegui-lo!



NÃO PERCA O CAPÍTULO 94 DE

domingo, 16 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 92


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 92
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DR. RAFAEL
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
DALVA
FAUSTO PAIVA
DAMIÃO
DUDA
LOURENÇO
CENA 1  -  COROADO  -  CLUBE DE JOGOS  -  INT.  -  NOITE.

Daquela vez a dor de cabeça superara as anteriores. Era como se um estilete houvesse penetrado em seu cérebro. Dor cegante. Fortíssima. Diana perdeu os sentidos em poucos segundos.

O telefonema levou o coronel e o Dr. Rafael ao clube do Souza, ainda conturbado pela presença inesperada do grupo de foragidos.

A moça havia recuperado os sentidos e ajeitava femininamente os cabelos, num coque jeitoso e informal. 


DR. RAFAEL  -  Por favor...

A moça voltou-se, sorriu com meiguice, mostrando dentes claros e certos. Havia um quê inteiramente inédito em seus gestos e movimentos. Não parecia Lara. E muito menos Diana.


MARIA DE LARA  -  Desculpe-me. Estava distraída.

O médico percebeu tudo. Uma terceira personalidade apoderara-se da moça e – quem sabe? – talvez de forma definitiva.

DR. RAFAEL  -  Quero que cumprimente este senhor (disse, apresentando o coronel).

MARIA DE LARA  -  (estendeu-lhe a mão)  Muito prazer... o senhor é...

DR. RAFAEL  -  Pedro Barros...

PEDRO BARROS  -  E ela... quem é... desta vez?

MARIA DE LARA  -  (respondeu sorrindo)  Eu sou Márcia!

O tempo parou no ambiente tenso. Rafael suava.


PEDRO BARROS  -  Márcia... quem é Márcia?

MARIA DE LARA  -  Sou Márcia, apenas. Isto não lhe basta? (perguntou com naturalidade).

PEDRO BARROS  -  Você é minha filha!

MARIA DE LARA  -  Lamento, mas creio que o senhor está enganado. E se me dá licença... (afastou-se, deixando o local).

PEDRO BARROS  -  (puxou do lenço e enxugou o suor que lhe caía do rosto)  Que quer dizer isto, doutor? Que feitiço o senhor fez pra ela? Que sujeita é essa... tão firme... tão diferente das outras... que apareceu de repente?

DR. RAFAEL  -  Confesso que meu espanto não foi menor do que o seu, quando ela apareceu. Apesar de esperar que isso acontecesse a qualquer momento.

PEDRO BARROS  -  (mostrou-se interessado)  Como esperava? Me explica! Não entendo nada!

DR. RAFAEL  -  Seu Barros... “Márcia” já havia se manifestado três vezes antes... não pessoalmente, mas por atitudes... e por cartas. Da primeira vez ela salvou a vida de Lara, recorda-se? Da segunda, ela deixou um bilhete sugerindo a cura... foi o mesmo que sugerir que se chamasse por ela. E a terceira vez foi a carta serena e firme que ela escreveu ao João, apontando soluções lógicas, que se tivessem sido obedecidas teriam resolvido o problema de ambos. Agora... ela decidiu aparecer... e foi a coisa mais espantosa que já vi até hoje.

PEDRO BARROS  -  Foi isso, então?

DR. RAFAEL  -  Exatamente. Quem é, por que apareceu, de onde veio... eu ainda não sei. Só sei que é a manifestação de uma mulher até então desconhecida, que demonstra capacidade de poder e de julgamento bem adultos, uma mulher firme, serena e confiante, que nada tem em comum nem com Lara, nem com Diana. (diminuiu a voz e fez a proposta que pretendia)  Eu lhe peço permissão para levá-la agora mesmo para minha clínica, onde ficará sob rigorosa observação e estudo.

PEDRO BARROS  -  (aquiesceu, com a cabeça baixa e as mãos entrelaçando-se)  Tem toda a minha permissão. Eu até prefiro. Quero mesmo que ninguém tome conhecimento disso É uma coisa do outro mundo e acho que ninguém vai compreender. Leva ela, doutor, vela ela e só me devolve ela curada. E das três mulheres que dominam ela, eu juro... gostei muito mais dessa tal de Márcia. Seja quem for... não me incomodo, porque me parece que essa fulana... tem mais juízo. Pelo menos ela não falou nenhuma vez em João.

DR. RAFAEL  -  É uma observação interessante. Ela de fato não mencionou nenhuma vez o nome do marido.

PEDRO BARROS  -  Isso é bom. Isso é mesmo bom!  Vai, leva ela, doutor.

CORTA PARA:

CENA 2  -  RIO DE JANEIRO  -  CLÍNICA DO DR. RAFAEL  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

E o médico cumpriu o prometido. O quarto de paredes brancas era um convite ao descanso, á tranquila meditação. Lá fora, muito ao longe, a cidade em rebuliço, entrecortada de ruídos os mais diversos. Na clínica de repouso Lara, ou Diana, ou Márcia... sorria com meiguice.


DR. RAFAEL  -  Conhece esta senhora?

MARIA DE LARA  -  Certamente. Ela, com certeza, é que não me conhece.

DALVA  -  (cumprimentou-a indecisa)  Alô... como está passando?

MARIA DE LARA  -  Muito bem. E a senhora? (mudou ràpidamente de assunto, dirigindo-se ao médico)  Ah, doutor, estive na redação de um jornal. E, com a sua apresentação, parece que vou conseguir um lugar de repórter.

DR. RAFAEL  -  (bateu palmas de satisfação)  Ótimo. Só que você não deve se comprometer agora. Pelo menos para trabalhar durante os próximos meses.

MARIA DE LARA  -  Por que, doutor?

DR. RAFAEL  -  Eu só posso responder esta pergunta... a Lara. É com Lara que eu preciso falar, agora. Você me deixaria falar com ela, Márcia?

MARIA DE LARA  -  Prometi não criar obstáculos. O que é que devo fazer para isso?

Sem dizer palavra, o médico deitou-a num sofá com travesseiro fino e baixo.


DR. RAFAEL  -  Apenas... deve obedecer às minhas ordens (disse, enquanto girava as mãos diante dos seus olhos. Minutos depois chamou-a com energia)  Lara!

Como que por encanto, o rosto torturado de Lara acordou para a vida. Trêmula, insegura, incerta.

MARIA DE LARA  -  Doutor... tia Dalva... o que é que eu estou fazendo aqui?

DR. RAFAEL  -  Está em tratamento, Lara. (segurou as mãos da mulher entre as suas, insuflando-lhe confiança)  Eu tenho uma revelação a lhe fazer, minha filha.

MARIA DE LARA  -  Qual, doutor?

DR. RAFAEL  -  Você vai ser mãe, Lara!

CORTA PARA:

CENA  3  -  SÃO PAULO - PARQUE SÃO JORGE  -  CONCENTRAÇÃO  -  INT.  -  DIA.

Fausto Paiva percorreu o Parque São Jorge de ponta a ponta. Todas as portas fechadas. A enfermaria com dois ou três jogadores jogando damas. No barzinho, diretores reunidos e na quadra de basquete a maior parte dos craques a divertir-se numa animada pelada de salão. Duda, nada.


FAUSTO PAIVA  -  (perguntou a Damião)  Tem uma idéia de onde ele possa ter ido?

DAMIÃO  -  Sei lá. Amanhã é o casamento do irmão dele, o tal prefeito de Coroado. Mas ele não ia fazer a loucura de fugir e abandonar o jogo do mesmo dia. Ele me parece muito desnorteado com aquele sujeito que viu um dia na joalheria...

FAUSTO PAIVA  -  (lembrou-se do episódio)  O morto-vivo? Como é mesmo a história?

DAMIÃO  -  Duda cismou que viu um sujeito que já morreu. O fulano que dizem que o irmão matou.

FAUSTO PAIVA  -  (com seu jeitão grosseiro)  Está é doido! (incrédulo)  Precisa é de um tratamento psiquiátrico!

DAMIÃO  -  Ele é bem capaz de ter fugido para voltar àquele hotel.

FAUSTO PAIVA  -  (aborrecido)  Que hotel?

DAMIÃO  -  Um hotelzinho vagabundo, perto da Estação da Luz.

CORTA PARA:

CENA 4  -  SÃO PAULO  -  HOTEL CONFÔRTO  -  CORREDOR  -  INT.  -  DIA.

E, realmente, perto da Estação da Luz, Duda parou á frente do edifício. Leu o nome: Hotel Confôrto, pintado em letras vivas. Entrou, empurrando a porta de vaivém. Era ali. Quarto 26-A. Bateu à porta.


VOZ   -  (off)  Quem é?

DUDA  -  (imitando sotaque paulista)  Garçom!

VOZ  -  Não pedi nada!  (disse o homem, entreabrindo a porta).

CENA 5  -  SÃO PAULO  -  HOTEL CONFÔRTO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.


Com um rápido empurrão com o bico do sapato, Duda forçou entrada no aposento. A ação inesperada pegou desprevenido o homem que se encontrava ali. Duda segurou-o fortemente pela camisa e olhou-o dentro dos olhos.


DUDA  -  Era você, desgraçado! Era você!

Lourenço aplicou-lhe um gancho de direita, aproveitando o momento de surpresa. Duda caiu sobre o lençol amarfanhado da cama de ferro. Num átimo, o ladrão escapuliu pela porta aberta.

CORTA PARA:

CENA 6  -  SÃO PAULO  -  HOTEL CONFORTO  -  CORREDOR  -  INT.  -  DIA.

Fausto Paiva e Damião esbarraram com o homem no corredor. Desalinhado, com os cabelos despenteados e resfolegante.


FAUSTO PAIVA  -  Estamos procurando um rapaz...

HOMEM  -  O jogador? Entrem. Está aqui.

CENA 7  -  SÃO PAULO  -  HOTEL CONFÔRTO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

Duda continuava estirado na cama, desacordado.


DAMIÃO  -  O que foi isso?

Correram até o rapaz, Fausto amparando-lhe a cabeça.

FAUSTO PAIVA  -  Duda! Duda!

HOMEM  -  (procurava explicar, balbuciante)  Esse... cara... cismou comigo... chega aqui... me agride... cismando que sou não sei quem. Eu tive que me defender. Ia até chamar a polícia.

O treinador bateu com a mão aberta no rosto do rapaz. Uma... duas... três vezes. Várias vezes. Duda movimentou as pálpebras e abriu os olhos, sonolento.


DUDA  -  (levantando o tórax)  Cadê aquele patife?

DAMIÃO  -  Quem, Duda?

DUDA  -  Lourenço D’Ávila. Eu lutei com ele. Tava quase dando conta dele.

O técnico apontou, com um dedo grosso o comparsa do falso morto.

FAUSTO PAIVA  -  Você lutou com esse homem.

HOMEM  -  É... foi... comigo!

De um salto o jogador se pôs de pé e encarou o desconhecido. Agarrou-o pelo paletó, com força.

DUDA  -  Não. Não foi ele. Tava quase dando conta do outro. Foi com Lourenço. Na certa enquanto eu estive desmaiado eles fizeram uma trama e o outro escapuliu. Mas não deve estar longe, Seu Fausto. (fez menção de sair).

FAUSTO PAIVA  -  (com azedume)  Rapaz, vou mandar te examinar a cuca. Vamos indo!  (ordenou enérgico).

DUDA  -  Esperem. Eu lutei com Lourenço. Eu dei nele. Tenho certeza.

HOMEM  -  Não me chamo Lourenço, moço. Meu nome é Ernesto Bianchinni.

FAUSTO PAIVA  -  Acho que o negócio é mais sério do que eu pensava.  Deve ter sido aquela bolada na cabeça, no último jogo.

Duda gritava como um possesso, enquanto Fausto e Damião o arrastavam para fora.


DUDA  -  Eu volto, ouviu? Eu volto! E venho com a polícia!

Quando todos saíram, Lourenço apareceu, vindo do interior do banheiro.

LOURENÇO  -  O negócio tá se complicando. O jogador me viu... Agora, a gente tem que dá um jeito nele. Um jeito definitivo... compreendeu?


FIM DO CAPÍTULO  92
Dr. Rafael (Renato Master)  e Maria de Lara (Gloria Menezes)

e no próximo capítulo...
 *** Pedro Barros e o Delegado Falcão fotografam no bosque o encontro amoroso de Jerônimo e Potira!

***  A igreja de Coroado estava lotada para o casamento de Jerônimo e Lídia, quando João entrou, surprendendo a todos, para assistir o enlace do irmão!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 93 DE

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 91


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 91
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
MARIA DE LARA / DIANA
JOÃO
LÁZARO
ALBERTO
DELEGADO FALÃO
SINHANA
JERÔNIMO
LÍDIA
DEPUTADO SIQUEIRA
JUCA CIPÓ
SOUZA
HERNANI
PEDRO BARROS

CENA 1  -  MATA  -  ACAMPAMENTO DE JOÃO  -  EXT.  -  DIA.

A madrugada, com seus raios dourados, encontrou Alberto vigilante á porta da tenda, arma ao alcance da mão. Depois da tentativa de violação, Lara e o rapaz haviam acertado nada contar a João, para evitar um choque e maior problema entre os dois homens. O garimpeiro retornou quando o sol já ia alto e a manhã avançada, e no curto intervalo em que o adolescente se afastara – fôra recolher gravetos para a fogueira - , o bandido ameaçara mais uma vez a mulher. A situação tornara-se insustentável. E Lara decidiu contar tudo ao marido, mesmo ante a possibilidade de uma reação furiosa da sua parte.

Agora ela abraçava o esposo, cabeça encostada ao seu peito.


MARIA DE LARA - (falava nervosa)   Não aguento mais... me livra dele. Ele me desrespeita! Ele me odeia! Não queria te dizer, mas não aguento mais, João! Não fosse Alberto, ele teria me matado ou...coisa pior! Esperou você sair para me fazer propostas!

João Coragem tinha a testa franzida ao abrir a cortina da tenda. Lázaro bebia café junto ao fogo.


JOÃO  -  Levanta.

O assassino percebeu tudo. Lara tinha contado.


LÁZARO  -  Que é que há, João? Zangado comigo? (perguntou cínico, procurando ganhar tempo).

JOÃO  -  (ordenou, com a veia a latejar-lhe na fronte direita)  Levanta, tou mandando!

Lentamente, Lázaro ergueu o corpo, levando a mão discretamente ao punhal. João Coragem percebeu o movimento sorrateiro do bandido.

LÁZARO  -  Olha aqui... se ela te disse alguma coisa... (as mãos fortes do garimpeiro apertavam-lhe a garganta)  Devagá com o andô! (berrou, meio asfixiado) Tou cansado de servi de saco de pancada. Já sei que ela te encheu a cabeça contra mim. Mas não é nada disso, não, João!

Alberto aproximou-se, correndo.


JOÃO  -  Já sei tudo o que tu fez, cabra safado!  Só não te mato porque num quero sujá as minha mão, nem a minha alma, matando um verme fedorento. (apertava cada vez mais o pescoço do jagunço)  Tu tem cinco minuto pra prepará tuas coisa e desaparecê daqui...

LÁZARO  -  Tu sempre confiou em mim!

Afrouxando a pressão, João Coragem empurrou violentamente o bandido, atirando-o ao chão.

JOÃO  -  Fora! Fora, desgraçado!

Lázaro saiu correndo, sem ao menos recolher os trapos e bugigangas que trouxera ao fugir dos homens do delegado. Tinha um plano em mente e tentaria executá-lo mais tarde. João Coragem não perderia por esperar...

CORTA PARA:


CENA 2  -  MATA  -  EXT.  -  DIA.

Falcão não acreditava no que seus olhos viam: Lázaro á sua frente, quieto como um cordeiro.


DELEGADO FALCÃO  -  O que é isto? Uma cilada?

LÁZARO  -  Nada disto. Tou aqui em missão de entendimento e de paz!

DELEGADO FALCÃO  -  Como quer que eu confie na tua palavra? Se você é o braço-forte do João?

LÁZARO  -  Era. Até há pouco, quando ele me escorraçou por causa da mulher.

DELEGADO FALCÃO  -  Que mulher?

LÁZARO  -  A dele. A que tem duas cara. (coçou o dedo anular, antes de abrir o jogo)  Se meu delegado garante a minha liberdade e mais uns cobre... eu dou conta dos passo do João, direitinho. E num demora muito... o delegado agarra ele e mais aquele pirralho. E mais o negro e Cema.

DELEGADO FALCÃO  -  (interessado)  Tu me diz que eu agarro ele? Onde?

LÁZARO  -  Só digo se minha liberdade for prometida... Bastava meu delegado se esquecê de mim.

Falcão concordou com um sorriso frio e um tapinhas nas costas. Era um aliado a mais. E muito importante para o coronel.

CORTA PARA:

CENA 3  -  CASA DO RANCHO CORAGEM   -  SALA  -  INT.  -  DIA.


Decididamente Sinhana antipatizara com a noiva do filho. Lídia, com suas atitudes e modos de moça moderna, livre de preconceitos, acabara por chocar a sensibilidade e os hábitos antiquados da velha. Ela estava zangada e seu rosto era a expressão do descontentamento.

SINHANA  -  Eu só quero vê se tu vai tê corage de trazer pra cá aquele traste, com quem tu tá pensando que vai casá. Um jeito de falá, um jeito de andá que Deus me perdoe!

JERÔNIMO  -  Mãe, num fala bobage, tá?

SINHANA  -  Legal! Legal! Manja só!

JERÔNIMO  -  (sorriu, surpreso, ao ver a mãe expressar-se em termos inteiramente diferentes)  Vem cá, velha. Onde é que tu aprendeu a falar assim?

SINHANA  -  Uai! Cum a tua noiva!

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  INT.  -  DIA.


Lídia aguardava-o no gabinete do prefeito.


LÍDIA  -  Trago novidades! Papai chegou. Alugou um taxi aéreo e veio aflito para Coroado. Pela primeira vez vejo o velho apavorado.

JERÔNIMO  -  Tá zangado?

LÍDIA  -  Mais ou menos. Vim te buscar pra você falar com ele. Não consegui acalmar o nervoso dele.

JERÔNIMO  -  Vamo lá falar com teu pai!

CORTA PARA:

CENA 5  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


O Deputado Siqueira, como de hábito, sempre que visitava Coroado, hospedava-se na casa de Pedro Barros. Jerônimo cumprimentou-o cerimoniosamente.


JERÔNIMO  -  Doutor deputado... desculpe o mau jeito...

DEPUTADO SIQUEIRA  -  Prefeito! Confesso que, desta vez, o senhor me passou um susto.

Lídia correu a preparar uma bebida para o pai.

Jerônimo, sem maiores rodeios, encarou com firmeza o parlamentar.


JERÔNIMO  -  É que eu decidi me casar com sua filha.

LÍDIA  -  (ponderou, sentando-se ao seu lado)  Nós pensamos que o senhor estaria de acôrdo, papai!

DEPUTADO SIQUEIRA  -  Bem... (coçou o queixo)  eu não sou contra. Mas não gosto das coisas feitas assim, precipitadamente. É preciso que vocês estejam certos de seus sentimentos, para não haver risco de um fracasso. (pigarreou, tomando a bebida)  Não quero colocar problemas. Faço gosto em que você se case com o prefeito (falou, dirigindo-se á filha)  Só quero que não se engane a si mesma e saiba enfrentar a realidade. Conheço o seu temperamento e por isso tenho receio. Sei que você não se conformará com meias situações. Sei que não abrirá mão de um tipo de vida a que está acostumada.

LÍDIA  -  (replicou, com voz trêmula) No momento estou disposta a tudo. (e com fervor, fitando o rapaz)  Estou apaixonada, papai! (abraçou-o emocionada)  O senhor dá o seu consentimento?

DEPUTADO SIQUEIRA  -  Vocês me puseram contra a parede. Eu consinto. Mas... é preciso que pensem bem nas minhas palavras. (Lídia beijou-o, entusiasmada)  Tenho muito gôsto, muito mesmo. Agora, refeito do susto, posso dar vazão á minha felicidade.

Os olhos viraram-se a um só tempo para o fundo da sala de onde vinha o ruído de um sininho a bimbalhar.


JUCA CIPÓ  -  (gritava, alegre)  Jeromo vai casá com Lídia! Vou dizê pra todo mundo! Jeromo vai casá com Lídia!

CORTA PARA:

CENA  6  -  MATA  -  ACAMPAMENTO DE JOÃO  -  EXT.  -  NOITE.


Num repente Lara sentiu a dor de cabeça. E num repente Diana voltou á vida. Deixou a tenda da montanha e desapareceu envolta na noite.

Já havia três dias da fuga e João não se perdoava pela fragilidade da vigilância exercida sobre ela.

CORTA PARA:

CENA  7  -  COROADO  -  CLUBE DE JOGOS  -  INT.  -  NOITE.


A música envolvia os pares e enchia de alegria os velhos comerciantes do lugar, a gente humilde, os que todas as noites se deslocavam das cidades vizinhas para gozar os instantes fugidios do prazer e do jogo. Diana dançava, abraçada a um homem pouco conhecido no local. Hernani acariciava-lhe o pescoço. Souza aproximou-se cauteloso.


SOUZA  -  (falou baixo)  Tenho que lhe dizer uma coisa!

DIANA  -  (ordenou, sem gentileza)  Diga logo!

SOUZA  -  (falou-lhe ao ouvido, visivelmente nervoso)  Fui avisado. João Coragem vem aí!

Era como se um petardo ali caísse inopinadamente. A mulher empalideceu, cravando , involuntàriamente, as unhas no braço de Hernani.


DIANA  -  João?

SOUZA  -  É. Não quero barulho aqui. Com certeza vem por sua causa. Dê o fora!

Hernani tentou reagir, em defesa da moça. Ela mesma o conteve.


SOUZA  -  (ordenou, alterado)  Depressa! Ele não pode encontrar você aqui!

Num átimo enfiou a jovem por entre as cortinas do reservado, entregando-a aos cuidados de uma mulher gorda e mal-encarada.

SOUZA  -  Cuida dela, aí! Não deixa ela sair!

CORTA PARA:

CENA 8  -  CLUBE DE JOGOS  -  INT.  -  NOITE.


Hernani, sentado á mesa, observou a chegada do foragido. E admirou-se ao ver o rapagão de cara barbada e longos cabelos negros. Mais atrás outros três em atitude vigilante. Antonio, Alberto e Braz descansavam as mãos nas coronhas dos revólveres. Um silencio envolveu o recinto e os pares procuraram as mesas, assustados.


JOÃO  -  Ninguém tem medo.  Num se assusta. A gente num vai fazê bagunça, nem vai fazê mal pra ninguém. (deu alguns passos no interior do clube)  Tou procurando uma pessoa... e num vou fazê ninguém pagá pelos meus problema. Ninguém tem nada com isso, eu reconheço. Só tou pedindo procêis ficá um pouco mais... porque quero vê se acho essa pessoa.

Fitou, um a um, os rostos atônitos que apresentavam expressões as mais variadas.

SOUZA  -  (encorajado ante as palavras do fora-da-lei)  A pessoa que procura... não veio aqui hoje.

JOÃO  -  Veio onte?

SOUZA  -  Ontem, veio. Hoje não apareceu. Você pode ir embora, João!

João Coragem chamou o adolescente, com um movimento do indicador.


JOÃO  -  Alberto... vai lá por dentro e vê se ele tá falando a verdade!

SOUZA  -  (fingiu sentir-se ofendido)  Por que não acredita em mim?

JOÃO  -  Sua palavra num merece confiança, moço. Não foi ocê quem mandô um bilhete pra viúva do Lourenço?

Souza estremeceu, imperceptìvelmente.

CORTA PARA:

CENA  9  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA DE JANTAR  -  INT.  -  NOITE.


Pedro Barros jamais obedecera a etiquetas. Desconhecia-as por completo. E com os dedos lambuzados arrancava pedaços engordurados da macia carne assada. O jantar reunia os familiares e os visitantes da casa-grande. O Deputado Siqueira interrompeu seu jantar e tomou a palavra:


DEPUTADO SIQUEIRA  -  Eu... quero aproveitar pra lhes falar da minha grande alegria... (era como se houvesse subido á tribuna do Congresso para comunicar aos pares uma decisão importante)  E essa alegria é pela união que vai se concretizar daqui a alguns dias. Confesso que, quando vim a Coroado e trouxe minha filha, nunca podia imaginar que ela iria conquistar o seu prefeito. Pelo menos, da minha parte, não houve a menor intenção...(e galhofeiro)  por ela, eu não posso responder...

LÍDIA  -  (sorriu, apertando a mão do noivo)  Da minha parte, não houve má intenção... Logo que vi o prefeito, disse cá comigo: vou domar essa fera. Olha, digo a vocês: não foi fácil, não.

PEDRO BARROS  -  (limpou a boca com um guardanapo e convidou, entre alegre e envaidecido)  Vocês me deixem fazer um brinde pela felicidade dos noivos. E tem mais: desde já faço questão de ser o padrinho do casamento. Afinal, foi nesta casa que vocês se conheceram... e faço questão de dá um presentão procês.

LÍDIA  -  (interveio, feliz)  Vai ser o meu padrinho. Dona Mingas, minha madrinha. Jerônimo deve escolher os dele.

JERÔNIMO  -  Escolho o doutor deputado e minha mãe.

PEDRO BARROS  -  (ergueu a taça vermelha de vinho)  Felicidades, gente...

FIM DO CAPÍTULO  91
Lázaro é surpreendido por Alberto assediando Lara.
e no próximo capítulo...

*** Márcia, a terceira personalidade de Lara, se manifesta!

*** Em São Paulo, Duda vê Lourenço e foge da concentração para ir no seu encalço!

 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 92 DE

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 90


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 90
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
JERÔNIMO
PEDRO BARROS
LÍDIA
LÁZARO
MARIA DE LARA
ALBERTO

CENA 1  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  INT.  -  DIA.

Como secretária do novo prefeito de Coroado, Ritinha atendia diàriamente, a dezenas de pessoas interessadas em falar ou avistar-se com Jerônimo. Trabalho a que, aos poucos, foi se acostumando. Aquela era a primeira vez que o Coronel Pedro Barros punha os pés na prefeitura, desde que Jerônimo assumira o cargo. Durante alguns minutos o velho arrogante questionou Ritinha, querendo saber de tudo – quanto ganhava? De onde vinha o dinheiro? Por que estava trabalhando, etc. E logo após, passou a criticar a personalidade de Jerônimo: “Um turrão! Cabeça dura! Burro de viseira!” Ritinha absorveu como podia a indelicadeza do coronel. Ele agora cachimbava na sala de espera, aguardando a chegada do prefeito.


Rita de Cássia levantou-se antes que o cunhado abrisse a porta e ingressasse em seu gabinete. Avisou-o da presença de Pedro Barros.

JERÔNIMO  -  (fechando a cara)  Mande entrar.

PEDRO BARROS  -  (entrou, zangado)  Tou muito chateado com você, moço. Tão chateado que minha intenção era a de te mandar pro inferno, junto com a mulher do seu amigo promotor.

JERÔNIMO  -    Eu lhe peço pra nunca mais falar nisso!

PEDRO BARROS  -  Não tou satisfeito com teus atos, com tua maneira de falar comigo. Você aqui é um simples empregado meu. (frisou, com um acento de maldade, as palavras finais do que acabara de dizer).

JERÔNIMO  -  Não pode ser como o senhor tá pensando!  (retrucou, levantando-se e esmurrando a mesa)  O senhor não pode mandar em mim!

PEDRO BARROS  -  Posso e vou mandar!  (ripostou inteiramente descontrolado)  E não tolero tua arrogância. Depois daquilo que você me disse na delegacia, eu devia acabar com a sua alegria. Mas te dou mais uma chance. Se for cordato, a gente pode continuar juntos. Se botar as manguinhas de fora, (indicou com o dedo a porta da rua)  pode ir tratando de abandonar o cargo, porque eu vou botar pra quebrar...

Barros sentou-se na poltrona de couro macio e Jerônimo cruzou a sala em passo lento, preocupado. Tornou a falar, depois de alguns instantes de reflexão.


JERÔNIMO  -  Acho que assim a gente não pode continuar!

PEDRO BARROS  -  Pode muito bem. É só você amansar esse gênio miserável e abrandar esse orgulho idiota! Você pode até vencer na vida. Pode subir de posto e amanhã ser deputado na capital, representando Coroado. Tudo depende de você!

JERÔNIMO  -  Não desse jeito! (retrucou, balançando a cabeça)  Não desse jeito!

PEDRO BARROS  -  (com movimento calculado, retirou um papel do bolso)  Não seja burro! Aproveita a oportunidade que a vida te deu. Você tá preso a sentimento de família e tua família nem merece. Veja isto! (entregou a carta ao rapaz)  Muito confidencial.  Recebi do meu amigo deputado Siqueira. Ele ficou impressionado com você. E, num desabafo, diz que tá muito satisfeito porque a filha dele mostrou um interesse fora do comum por você. Pode ler.

Jerônimo começou a ler a carta, enquanto o coronel continuava a falar, matraqueando incessante:

PEDRO BARROS  -  Nem era pra te mostrar. Mas eu mostro, pra você ver que pode até fazer um bom casamento com a moça, se quiser. É do gosto do pai, que tá doido pra que a filha assente a cabeça. É uma desmiolada e precisa sossegar. Pra isso, tem que casar. E você é o marido ideal pra ela, porque tem gênio. Essa espécie de moça não pode casar com homem banana...

Acabara de ler a carta do Deputado Siqueira, devolvendo-a ao coronel.

JERÔNIMO  -  Nunca pensei em me casar com essa moça.

PEDRO BARROS  -  Pois pensa, de agora em diante. Convém pra você. O pai é rico, você tá arrumado na vida.

JERÔNIMO  -  (com azedume)  É... também... uma ordem?

PEDRO BARROS  -  Não. Na tua vida particular eu não me meto. É só um conselho. Ordem é pra outra coisa... (falava rápido, sem dar tempo a contestações. Com a intimidade de quem dá ordens, o coronel retirou do arquivo a pasta do registro de impostos)  É sobre isto que a gente tem de conversar (falou, batendo com a mão espalmada contra a capa dura e negra)   Você está intimado a comparecer na minha casa, hoje á noite. Vamos falar também sobre as coisas que você tem que fazer aí, na prefeitura. Eu tenho muitas sugestões a te dar. Apenas umas sugestõezinhas à toa... (jogou a pasta na mesa de carvalho, esparramando papéis pelo chão. Jerônimo cerrou os dentes de raiva. Permanecia indefeso, diante daquele homem diabólico. Barros terminou a conversa)  Leva isso... é de interesse teu e meu...

O rapaz pegou do livro de impostos e recolocou-o no arquivo. Pedro Barros saiu, jogando cinzas do charuto no tapete azulado.

Ritinha apareceu na porta.


JERÔNIMO  -  Ele quer me dominar, Ritinha! Até quando eu vou ter que agüentar isso?

RITINHA  -  Tem paciência. Com jeito você vai amansando ele!

JERÔNIMO  -  É o mesmo que tentar amansar o diabo, Rita. Esse homem é o demônio!

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  EXT.  -  NOITE.

Passava das 8 horas e a noite avançada. Coroado iniciava sua atividade noturna. Jovens a passear de mãos dadas na pracinha, forasteiros a beber tragos nas vendinhas e bares e alguma movimentação nas casas de jogo e dança. Jerônimo apagara as luzes do gabinete e dirigia-se para fora, quando Lídia sussurrou ao seu ouvido:


LÍDIA  -  Oi, gostosão! (Jerônimo voltou-se, assustado)  Vim te buscar pra te levar á casa do coronel. Ele disse que você ia jantar conosco.

JERÔNIMO  -  Não precisa se preocupar.

LÍDIA  -  Quero te mostrar uma pedra que eu encontrei ontem, no rio. Juca me disse que é um diamante. E eu digo que não é.

JERÔNIMO  -  (com interesse profissional)  A pedra... tá aí com você?

LÍDIA  -  Tá. Quer ver? Pode acender a luz?

CENA 3  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  INT.  -  NOITE.

Jerônimo tornou a abrir a porta e iluminou o confortável gabinete. Do fundo da bolsinha de crochê a jovem retirou uma pequena caixinha de couro. De dentro puxou uma pequenina pedra coruscante.


JERÔNIMO  -  É... é olho de mosquito. Como foi que você achou?

LÍDIA  -  Garimpando! Eu e Juca. Achei gozadíssimo. Uma emoção nova, sensacional! Quero te levar no lugar do rio onde achei a pedra. Quer vir comigo?

JERÔNIMO  -  (surpreso)  Agora, de noite?

LÍDIA  -  Que é que tem? Só pra te mostrar o local. (falou insinuante, com um toque sensual na voz)  Você me ensina como é que se cata as pedras, com técnica? Eu sei que há um jeito especial...

JERÔNIMO  -  (rindo)  Você quer ser garimpeira?

A moça conseguira reavivar o bom humor perdido do jovem prefeito. Ele sorriu com gosto.


LÍDIA  -   Só pra sentir um prazer... diferente.

JERÔNIMO  -  Vamos indo.

LÍDIA  -  (aproximou-se como uma gata em cio)  Você me dá essa sensação... diferente. Eu adoro sensações novas, excitantes... (suas mãos de Lídia exploraram o peito forte e cabeludo do rapaz, num carinho irresistível. Jerônimo ouvia, em eco, as palavras de Pedro Barros: “Essa espécie de moça não pode casar com homem banana...” Lídia continuava alisando-lhe a pele)  Só que eu dava a vida pra saber se você sabe beijar... (ergueu a cabeça, com os lábios a centímetros da boca do rapaz)  Só por curiosidade...

JERÔNIMO  -  (sentiu as forças fugirem)  Você tá doidinha pra isso, não?

Apertou-a contra o peito, esmagando-lhe os seios com uma das mãos. O beijo, a princípio brando, transformara-se num vulcão de ânsias. Lídia suspirou.


LÍDIA  -  Nossa! Quase perco o ar!

JERÔNIMO  -  Você já pode dizer que o animal raro sabe beijar. (afastou-a, carinhosamente e, tomando o livro de impostos, tornou a convidar)  Vamos indo.

LÍDIA  -  (não se moveu um milímetro do lugar)  Vem cá! Não deu pra ver bem, Jerônimo! Volta!

Por entre a blusa aberta, fina e leve, o jovem prefeito fixou dois pontinhos róseos, como setas dirigidas ao seu coração. Era preciso fugir da mira. Esperou-a do lado de fora.

CORTA PARA:

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  NOITE.


PEDRO BARROS  -  É muito pouco o que eu exijo de você...

JERÔNIMO  -  Mas, coronel...

Jerônimo discutia os pontos básicos do interesse de Pedro Barros. O velho chefe desejava que o prefeito fizesse vista grossa a algumas atividades comerciais, escapando, desta forma, ao rigor do fisco. Era pedir demais.


PEDRO BARROS  -  Só deve fechar os olhos... Mais nada. Acho que não precisamos mais discutir.

Impotente, Jerônimo levantou-se, empurrando a cadeira com raiva. Fixou olhos fuzilantes na cara perversa do antagonista. E deixou o escritório. Lídia correu atrás dele.


LÍDIA  -  Ei, espera! Eu te trouxe, eu te levo!

PEDRO BARROS  -  (vociferou)  Cabeça dura, desgraçado!

CORTA PARA:

CENA 5  -  MATA ADENTRO  -  ACAMPAMENTO  -  EXT.  -  NOITE.


João Coragem partira pela manhã, à procura de Braz e Cema. As tendas de lona, armadas á beira do rio, davam ao local o aspecto de um safári. A noite caíra e os vagalumes enchiam a escuridão de pontinhos luminosos. Alberto cochilava diante da barraca de Lara. O fogo murchara. Tudo era silencio. Lázaro passou as pernas por cima do corpo do rapaz e entrou na tenda. Ajoelhou-se ao lado da mulher. Maria de Lara abriu os olhos, sonolenta. Com um movimento rápido, Lázaro tapou-lhe a boca com a mão.


LÁZARO  -  Quietinha! É melhor pra ti! Não vou te fazer nada. Só quero saber se você ainda quer me gratificá pra eu te ajudá a dá sumiço daqui. (Lara tinha os olhos abertos de medo) Se quer, é só fazê que sim com a cabeça. Aí a gente pode ganhá o mundo. Te levo pra longe de teu marido. (a moça tentou desvencilhar-se das mãos do bandido)  Por que agora você quer reagi? Daquela vez tava até mais camarada... disposta a tudo. Tava até mais bunita. De repente, virou essa pamonha que num quer nada...

O leve gemido de Lara despertou Alberto á entrada da cabana.


MARIA DE LARA  -  Hã!

LÁZARO  -  Quietinha... ou eu dou conta de ocê!

ALBERTO  -  Larga ela! Larga ou eu atiro!

A voz indefinível do rapaz obrigou Lázaro a erguer-se como uma mola. Viu o cano apontado em sua direção. E o dedo de Alberto premindo de leve o gatilho. Lázaro espumou de raiva.

LÁZARO  -  (deu um passo à frente)  Atira nada. Você não sabe manejar isso, pirralho!

ALBERTO  -  (avisou, seguro e frio)  Não te dou nem tempo pra pensar!

FIM DO CAPÍTULO  90
Lourenço e Branca
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** LARA CONTA A JOÃO QUE ESTÁ SENDO ASSEDIADA POR LÁZARO. IRADO, JOÃO EXPULSA O BANDIDO DO ACAMPAMENTO E GANHA MAIS UM INIMIGO!

*** JERÔNIMO E LÍDIA FICAM NOIVOS.

*** DIANA VOLTA À VIDA, NO ACAMPAMENTO, E FOGE!

 NÃO PERCA O CAPÍTULO 91 DE



IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 89


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 89
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
ALBERTO
JOÃO
LÁZARO
CEMA
DELEGADO FALCÃO
FRANCISCO
MÉDICO
LOURENÇO
BRANCA

CENA 1  - MATA ADENTRO  -  EXT.  -  DIA.

Léguas e léguas mais adiante o grupo parou por causa de Cema. A mulher de Braz não suportava as dores. A longa caminhada, serra acima, e depois pela mata densa e inóspita, provocara a dor que Cema estava sentindo. No oitavo mês de gestação, a forte mulher de Braz resistira demais, acompanhando o marido nas aventuras perigosas que tinham vivido nos últimos tempos. Cema chorava, com os dentes cerrados. Lara procurava minorar os sofrimentos da mulher. Alberto apareceu correndo. Vinha do seu ponto de vigilancia no alto das encostas. Entrou na barraca, espavorido.


ALBERTO  -  João, eles vêm aí!

JOÃO  -  Falcão?

ALBERTO  -  Ele e mais um bando!

JOÃO  -  Se prepare, Lázaro. Falcão vem aí!

O rapaz guiou os homens por entre a vegetação até uma pequena elevação, distante.


ALBERTO  -  Olha, lá! (apontou para baixo) Eles vêm por ali! Rastrearam as pistas e chegaram até aqui.

JOÃO  -  É. Parece que vem muita gente com ele.

LÁZARO  -  Daqui a gente tá numa boa posição de tiro (considerou, fazendo mira)  Deixa eles chegá mais perto e a gente acaba com a alegria deles.

JOÃO  -  Não.  Acho melhor a gente levantá acampamento e dá o fora. Acho que ainda dá tempo.

LÁZARO  -  Pôxa, João! A gente vai perdê uma oportunidade dessas? De liquidá de vez com esses macaco?

Saltando rápido por sobre as pedras, João retornou ao acampamento, seguido de Lázaro e Alberto.

JOÃO  -  Vamos, pessoal, depressa. Temos que sair daqui, num minuto!

CENA 2  -  ACAMPAMENTO  -  EXT.  -  DIA.
 
Deitada na esteira, Cema gemia. Lara lhe afagava a testa suada.


JOÃO  -  (dirigiu-se a Alberto) Você fica lá, vigiando!

O tiro ecoou na mata, espantando os pássaros pousados nas árvores. Lázaro saltou, jogando-se colado ao solo.

LÁZARO  -  Num dianta, João. Eles tão aí. Queira ou não queira, a gente vai tê que lutá.

ALBERTO  -  (alertou do lado contrário)  João! Já viram a gente!

JOÃO  -  É... não tem jeito, não! Lara fica aqui com Cema. Vamos!

O grupo se entrincheirou por detrás das rochas acinzentadas, confundindo-se com a leve bruma que descia sobre a mata. A temperatura caíra abruptamente. Como uma cobra, Alberto rastejou por entre o mato, deslocando-se furtivamente. O ângulo era favorável. Ergueu o revólver e demorou na pontaria. Falcão surgia por inteiro. Um alvo fácil. No instante do tiro, o sargento do destacamento policial de Ribeirinho entrou no campo de mira. E a bala alcançou-o em cheio. Falcão recuou ligeiro e mais ligeiro ainda Albero retornou às linhas do seu grupo.


ALBERTO  -  Acho que matei um deles!

BRAZ CANOEIRO  -  Foi o sargento!

LÁZARO  -  Muito bom, guri. Tu tá melhorando!

JOÃO  -  Eles pararo de atirá!  Vamo aproveitá e vê se a gente escapa daqui!

LÁZARO  -  (esticando-se por entre o capim alto)  Vão que eu cubro ocês!

Os cavalos já selados aprontavam-se para partir. Mochilas, barracas, material, alimento... tudo em ordem. João esporeou o animal.

CORTA PARA:

CENA 3  -  MATA ADENTRO  -  EXT.  -  DIA.


Um soldado, protegido pelo tronco grosso de uma aroeira, gritou para os soldados:

SOLDADO  -  Eles tão fugindo!

Falcão levantou os olhos, ajoelhado junto ao corpo do sargento. O sangue esguichava pelo buraco aberto pelo chumbo.


DELEGADO FALCÃO  -  Deixa. A gente pega eles depois. É preciso socorrer o sargento. Ele está com uma bala no peito. Mas eles me pagam. Mais um que a gente vai perder por culpa deles

Falcão cerrou os olhos e trincou os dentes. As unhas cravaram-se nas palmas das mãos. O delegado consumia-se de ódio.

FRANCISCO  -  Foi o rapazinho, filho do Lourenço!

DELEGADO FALCÃO  -  Foi. Eu vi!  Um menino, quase. Tá aí... agora, é um assassino. Me ajude aqui, gente. Muito cuidado. Nós temos que salvar esse coitado a qualquer preço. Vamos voltar e procurar um médico na primeira cidade que a gente encontrar.

CORTA PARA:

CENA 4  -  CIDADE DE RIBEIRINHO  -  HOSPITAL  -  INT.  -  DIA.

O médico cobriu o corpo inanimado do policial. Dos pés à cabeça o lençol branco formava um todo. Falcão engoliu em seco.


DELEGADO FALCÃO  -  Morreu, doutor?

O médico fez que sim, com um gesto de tristeza.

FRANCISCO  -  Nós vamos desistir da perseguição, chefe?

DELEGADO FALCÃO  -  De jeito nenhum!  Agora é que a gente vai mesmo na pista deles. Não devem de estar muito longe. Com duas mulheres, na garupa, não podem correr muito. Além do João, tenho que agarrar Lázaro e mais esse menino do Lourenço... (mostrou o corpo do sargento)  Aquele pirralho cretino não tinha mais nada que fazer! Matar o pobre do sargento!

FRANCISCO  -  E o que é que a gente faz com o corpo?

DELEGADO FALCÃO  -  Manda Zacarias tratar de tudo. Eu, você e mais Fidélis continuamos.

CORTA PARA:

CENA 5  -  MORRINHOS  -  CASA DE BRANCA  -  INT.  -  NOITE.

Morrinhos dormia, mas a luz frouxa que vinha da casa de Branca dava conta de atividade. Branca rodou o trinco da porta. Num passe de mágica, Lourenço fez desaparecer o diamante que examinava em cima da mesa.


LOURENÇO  -  Quem é?

BRANCA  -  Eu, Branca.

LOURENÇO  -  (retirou a tranca e abriu a porta)  Foi bom te encontrar...

BRANCA  -  Você desapareceu. Desde ontem estou á tua espera.

LOURENÇO  -  Vim te avisar que vou pra São Paulo ver se consigo contato com alguns aventureiros internacionais. Essa gente que contrabandeia diamante para o mundo, no mercado negro. Quero ver se vendo o bicho...

BRANCA  -  Por que no mercado negro?

LOURENÇO  -  No mercado interno não acho comprador que me dê o preço justo... nem ninguém tem toda a importancia em dinheiro pra me pagar de uma vez.

BRANCA  -  É muito alto o valor da pedra?

LOURENÇO  -  Se é muito? Dá uns 900 milhões de cruzeiros novos...

BRANCA  -  Por que você não parte a pedra e a vende em pedaços?

LOURENÇO  -  Porque vira bagulho. O valor dela se reduz à milésima parte do que vale inteira. Me entende?

BRANCA  -  (agarrando o marido)  Por que não faz as coisas pelo caminho legal?

LOURENÇO  -  Você não nasceu ontem, mulher. A pedra foi roubada. Que explicação eu ia dar pras autoridades? Isso é coisa muito séria. Controlada! Aqui dentro mesmo não vou ter muita chance de negociar com ela. O melhor seria eu deixar o país. Furar a fronteira e cair na Argentina, no Uruguai. Em São Paulo vou tentar obter uma identidade falsa. Conseguindo isso, a gente tira a barriga da miséria. Venho te buscar depois e a gente vai viver no estrangeiro, como milionário. Vou te encher de roupa bonita, de jóias...

BRANCA  -  Não incliu seu filho nos planos de ricaço?

LOURENÇO  -  Ah... como vai ele?

BRANCA  -  Sabe que ontem, fui procurar o Dr. Rodrigo César, em Coroado, pra dizer a ele toda a verdade?

LOURENÇO  -  (exaltado)  Que verdade?

BRANCA  -  Que você está vivo, que sua morte foi uma farsa e que João Coragem está inocente!

LOURENÇO  -  Tá maluca!

BRANCA  -  Sabe onde está nosso filho? (perguntou, quase chorando)  Você não se preocupou em saber o que foi feito do Alberto. Pois fique sabendo que ele faz parte do bando do João e seguiu essa vida porque confiou na inocência dele!

Lourenço vestiu o paletó sem dizer palavra.


LOURENÇO  -  (afinal falou)  Alberto é um desmiolado.

BRANCA  -  O rapaz abandonou tudo: estudo, lar, família, tudo, para seguir esse homem... será possível que isso não significa nada para você?

LOURENÇO  -  Já disse o que significa. É um vagabundo.

BRANCA  -  (encostando um dedo no peito do marido)  Você se esquece de que é um ladrão, não se esquece?

LOURENÇO  -  Tá contra mim, Branca? Agora você se volta contra mim?

BRANCA  -  Meu filho está perdido e você é o único culpado, tá me entendendo? E se eu cismar, um dia, pra salvar o Alberto, eu conto toda a verdade pras autoridades.

LOURENÇO  -  Pois conte. Você vai ver o que te acontece! Não te dou mais que um dia de vida. Eu te mato!

Uma idéia passou pela mente doentia do ladrão. Branca tornara-se um perigo. Tomou a decisão:


LOURENÇO  -  Arrume suas coisas. Você vai comigo pra São Paulo.

BRANCA  -  (recusando-se)  Não há nada que me obrigue a isso!

LOURENÇO  -  Se eu for pra cadeia, você vai comigo. Você mentiu e continua mentindo. E fez um homem pagar na cadeia por um crime que não cometeu. Quer mesmo ir pro xadrez?


FIM DO CAPÍTULO  89
     
João e Lázaro
 e no próximo capítulo...   

*** Jerônimo e Lídia, cada vez mais envolvidos, beijam-se.

*** Pedro Barros exige que Jerônimo faça vista grossa para suas atividades ilícitas. O prefeito fica indignado!

*** Lázaro aguarda o momento em que Lara fica sozinha e tenta agarrá-la!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 90 DE

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 88


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 88
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
CEMA
JOÃO
ALBERTO
DIANA
LÁZARO
ANTONIO
PEDRO BARROS
JERÔNIMO
DELEGADO FALCÃO
FRANCISCO

CENA 1  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  INT.  -  DIA.

Cema preparava o café. O aroma da bebida impregnava o ar da pequena aldeia de foragidos. João empurrou a porta e, seguido de Alberto, entrou afobado.


CEMA  -  Puxa! Ceis demoraro...

JOÃO  -  Vê café aí pra gente, Cema. Tá todo mundo cansado.

O barulho dos cavalos relinchando e pisoteando o terreiro chegava aos ouvidos da mulher de Braz.

CEMA  -  Foi tudo bem?

JOÃO  -  Não. E ela?

CEMA  -  Acabou se acalmando, depois de me dar um tranco aqui na cabeça. Agora tá lá, dormindo.

João cruzou a sala e abriu a porta do quarto.

CORTA PARA:

CENA 2  -  ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

 
Diana dormia tranquila, respirando compassadamente. O peito subia e descia, em cadencia regular. “Linda”, pensou João, sentindo vontade de acariciá-la. Deu alguns passos em direção á cama, ajeitou a mão da esposa, caída no chão. Controlava-se para não a apertar entre os braços. Num átimo, Diana acordou.


DIANA  -  Que foi?

JOÃO  -  Nada. Só queria avisá que cheguei...

DIANA  -  Grandalhão... você me assusta!

Ainda era ela, constatou, com tristeza, e retirou-se do quarto, sem dar margem a diálogos.

CENA 3  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


João  retornou á sala, onde Cema acabara de pôr o café na mesa. Lázaro apareceu. Chapelão de couro, botas com esporas e farto material de luta: revólver, facão, punhal, balas...


LÁZARO  -  Alô, companheiro... vai reunir os homem? Qual é o galho?

João não respondeu; nem sequer ergueu os olhos. O grosso traço negro das sobrancelhas transformou-se numa linha reta. Braz também acabara de entrar na sala.

ALBERTO  -  A gente tá correndo risco!  Falcão pediu reforços e prometeu mandar esta aldeia pelos ares.

LÁZARO  -  No duro? (gesticulou, contente)  Desespero de causa dessa gente.

JOÃO  -  É. O Pedro Barros tá querendo a filha dele. Como eu não quero entregá, ele vem me tirá ela à força.

LÁZARO  -  E tu... vai resistir? Não vai entregá essa mulhé?

JOÃO  -  (sentiu o sangue subir-lhe à cabeça)  Veja lá como fala. Essa mulhé é minha esposa.

LÁZARO  -  É um sacrificio besta, home! Tu não pode arriscá a vida da sua gente... só por causa da Dona Lara!

JOÃO  -  É para isso que vou reunir os home. Quem quisé ficá comigo, pra enfrentá a situação, que fique. Eu não vou obrigá ninguém. Quem tivé medo, pode dá o fora!

CORTA PARA:

CENA 4  -  ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO   -  EXT.  -  DIA.


O dia amanhecera bom, céu claro, interrompido aqui e ali por nuvenzinhas claras, de algodão. Uma aragem fresca banhava os campos, esbatendo-se na fronde das árvores e nas encostas longínquas das montanhas. Os homens sentaram-se em roda, sob os galhos de uma mangueira e limpavam alegremente as armas. Lázaro abriu a conversa.


LÁZARO  -  João tá é doido. Alguém tem que abri os olho dele. Tá se matando por causa dessa mulhé que não vale nada. (distraído, inteiramente voltado para o trabalho, não viu a aproximação do chefe do bando) Onte ela me cantô. Tentô me suborná. Antonio viu. Como eu me neguei a traí João, ela me deu a entender outra coisa. (todos os olhos estavam voltados para o garimpeiro. Qualquer coisa eletrizava o ar).

JOÃO  -  (com ódio na voz)  Deu a entendê... o quê?

LÁZARO  -  (levantou-se de um salto)  Ora! Você sabe. Todo mundo sabe.

JOÃO  -  (agarrou-o violentamente pelo colarinho)  O quê?

LÁZARO  -  Essa mulhé não vale nada. É por ela que ocê qué sacrificá sua gente. Ela não presta!

O braço direito do garimpeiro distendeu-se como uma lançadeira, atingindo em cheio o queixo do antagonista. Lázaro foi ao chão e no mesmo instante levantou-se com uma faca na mão.


LÁZARO  -  Tava esperando por isto!

JOÃO  -  Eu te ensino a respeitá minha mulhé...

LÁZARO  -  Ela não merece respeito! Ela me cantô, João! Ela me cantô pra cama! Eu que num quis...

Descontrolado, João atirou-se contra o companheiro. Lázaro ergueu o punho e...


ALBERTO  -  Para com isso, gente! (a mão de Alberto segurava firme o punho do bandido. Antonio agarrava João pelas costas).

LÁZARO  -  (insistia)  Diz a ele, Antonio. Tu ouviu, home. Diz a ele que foi que a dona dele me ofereceu! E como é que ela tava sentada... a gente via tudo...

ANTONIO  -  (negou as acusações do outro)  Que eu visse ofereceu só dinheiro!

LÁZARO  -  Tu saiu. Não viu o resto!

JOÃO  -  Olha aqui. Fica prevenido!  Se falá no nome de minha mulhé... nessa boca suja... eu te arranco a língua. Tá me ouvindo? Eu te arranco a língua com os dedo...

Deu meia volta e entrou na choupana.

CORTA PARA:

CENA  5  -  CHOUPANA  -  QUARTO DE JOÃO  -  INT.  -  DIA.


Diana, deitada, pareceu amedrontada diante da expressão fuzilante do marido.


DIANA  -  Que é que há, bonitão? Que é que você tem? Vai me bater?

JOÃO  -  Era o que você merecia. Não só que te batessa, mas que te matasse de uma vez. Tenho até certeza que Deus ia me perdoá esse crime. Era como matá um demônio ou uma cobra venenosa dos campo. Como pisá a cabeça dela.

DIANA  -  (ergueu-se a meio, já senhora de si) Olha, cuidado, hem? A serpente pode te morder!

JOÃO  -  Já mordeu. Você já me envenenou o corpo e a alma.

DIANA  -  Chi! Então precisa tomar contra-veneno! (o cinismo da mulher revoltava o garimpeiro).

JOÃO  -  Que foi que ocê prometeu ao Lázaro... pra ele te ajudá a fugi?

DIANA  -  Ah, isso? Prometi dinheiro!

JOÃO  -  Não foi o que ele disse!

DIANA  -  Não prometi outra coisa... porque não quis. Porque se me der na telha... eu prometo mesmo. É justamente isto que eu quero que fique acertado entre nós. Sou dona de mim mesma! Eu mando em mim!

A pesada mão do garimpeiro desabou sobre o rosto da mulher. Com um grito desesperado, Diana caiu sobre a cama.

CENA  6  -  ALDEIA  -  CHOUPANA  -  EXT.  -  DIA.


Lá fora os foragidos escutavam em silencio as imprecações e os berros da mulher do chefe. Cema se benzeu.

CORTA PARA:

CENA 7  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

O relógio da delegacia marcava onze e meia. Barros entrou agitado, armado até os dentes.


PEDRO BARROS  -  A gente não pode esperar mais. Tá todo mundo preparado? Vamos embora. Você, Jerônimo, vai na frente dos homens.

O coronel dava ordens, como se fosse a autoridade máxima da cidade. Ignorava a presença do delegado, do prefeito, do juiz. Coroado era dele e tinha de viver sob o tacão de sua bota. Jerônimo sentiu-se diminuído.

JERÔNIMO  -  Quem é que manda aqui?

Barros virou-se para o rapaz com cara de mau vizinho. Detestava ver-se na posição de subalterno.


PEDRO BARROS  -  Você me desafia, rapaz?

O prefeito deu-lhe as costas. Não era policial. A função que lhe conferia o cargo era bem diferente. Administrar, supervisionar. Traçar planos para o progresso e desenvolvimento de Coroado. As ações policiais que ficassem por conta do delegado. As ações legais, a cargo do juiz e de Rodrigo. A ele cabia olhar pela cidade. O coronel era figura estranha. Um tirano poderoso que comprava tudo às custas do poder econômico. Rico e mau. Ambicioso e sem caráter. Um verme, pensava Jerônimo. E se lamentava pela fraqueza da noite de temporal, na gruna. O delegado, quem sabe, poderia ser o irmão foragido, depois de comprovada sua inocencia. E a carreira infame de Pedro Barros estaria finda na cidade que ele dizia ser dele.

O pensamento de Jerônimo divagava, lento...


CORTA PARA:

CENA 8  -  COLINA PRÓXIMA À ALDEIA  -  EXT.  - DIA.

Os homens se aproximavam da aldeia dos foragidos de Coroado. Falcão dava ordens rápidas, organizando o plano estratégico. As pequenas choupanas eram agora vistas do altiplano onde se achavam os policiais. Os homens se espalhavam em colunas.


DELEGADO FALCÃO  -  Tomem cuidado! Ao meu sinal, mandem fogo! Fiquem de ôlho! Muita atenção, gente!

Como num movimento ensaiado, Falcão e Pedro Barros retiraram as armas do coldre. Rodaram o tambor, verificando a carga. Tudo em ordem. O braço erguido de Diogo Falcão baixou num movimento vertical. Era o sinal. O tiroteio quebrou o silencio da região. Durante vários minutos as balas picotaram as pequenas choupanas de barro batido e sapê O chumbo penetrava como dedos na manteiga. Protegidos por uma barragem de fogo, os dois entraram no terreno da aldeia. Falcão fez um sinal, pedindo a cessação do fogo. Parou diante do casebre mais amplo.

DELEGADO FALCÃO  -  (gritou, arma em punho)  João Coragem! Estamos aqui e viemos te buscar! Onde você está?

Não houve resposta. Um silencio enervante se seguiu às palavras do delegado.


PEDRO BARROS  -  Cuidado! Isso pode ser uma emboscada!

DELEGADO FALCÃO  -  Se for mesmo, estão roubados, porque agora, vai ser pra valer!

Fez outro sinal com o braço, num chamamento coletivo. Os homens ocuparam o centro da aldeia. De todas as choupanas saíam pessoas humildes. Imediatamente voltavam as costas para os soldados, num protesto mudo. Ninguém falava. Ninguém respondia às perguntas ásperas dos chefes da ação.


PEDRO BARROS  -  Onde está João? (gritou, irritado)  Onde está minha filha?

Falcão decidiu entrar na choupana.

DELEGADO FALCÃO  -  Venha comigo, coronel. Ele deve morar aí. (voltou-se para os soldados que enchiam o terreiro)  Vocês vem comigo. Muito cuidado! (empurrou a porta com o bico da botina)  João, se você está aí, se entrega, que é melhor!

A porta rangeu nos trincos. Silencio. Pedro Barros levantou a arma e entrou no casebre.

CENA 9  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO   -  INT.  -  DIA.


PEDRO BARROS  -  Lara! Lara! Onde está você?

Entraram o coronel, o delegado e alguns soldados.


FRANCISCO  -  (um dos cabras de Pedro Barros, anunciou)  Não tão em lugá nenhum!

PEDRO BARROS  -  João fugiu!

DELEGADO FALCÃO  -    (balançando a cabeça e triturando o palito preso entre os dentes)  Por esta eu não esperava!

PEDRO BARROS  -  Mande revistar todas as cabanas. É possível que João tenha se escondido numa delas.

DELEGADO FALCÃO  -  Está certo, chefe. (ordenou ao grupo)  Vamos, minha gente. Vamos dar uma busca em regra. Mas cuidado pra não assustar ninguém.

Sobre a mesa de madeira bruta, alguns pedaços de carne-seca, uma terrina de farinha e duas garrafas de aguardente, pela metade. Falcão deu um tapa nos copos, sujos de café.

DELEGADO FALCÃO  -  Só lhe posso prometer uma coisa, coronel. Nossa investida de hoje fracassou e, sinceramente, estou dando graças a Deus. Mas lhe juro, daqui por diante vou me meter pelos matos afora à procura do João e da Lara. Vou me empenhar nisso como um dever de honra. Renuncio ao meu cargo, se não agarrar João. Vou buscar ele, vou revirar esse sertão de cabeça para baixo. Repito: é uma questão de honra.

Os olhos do policial despejavam faíscas.


FIM DO CAPÍTULO 88
Potira e Jerônimo
e no próximo capítulo...

*** ALBERTO ATIRA NOS HOMENS DE FALCÃO E ACERTA UM DELES, QUE ACABA MORRENDO.

*** BRANCA AMEAÇA CONTAR TODA A TRAMÓIA DE LOURENÇO ÀS AUTORIDADES!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 89 DE