terça-feira, 18 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 94


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 94
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
ALBERTO
BRANCA
LÍDIA
MARIA DE LARA / MÁRCIA
JERÔNIMO
 PEDRO BARROS
DOMINGAS
CAPANGAS

 CENA 1  -  MORRINHOS  -  ESCOLA  - SALA DE AULA  -  INT.  -  DIA.

Morrinhos alcançava aquela etapa do dia em que ninguém tem ânimo para mais nada. Meado da tarde. Sol fustigando o chão de areais refulgentes. Branca ministrava aula no cursinho da matriz. A voz chamou-a:


ALBERTO  -  Mãe!

Em poucas palavras o filho fê-la conhecer as razões de sua estada ali.


BRANCA  -  Fale mais!

ALBERTO  -  Queria lhe perguntar... e a senhora tem que me responder com toda a sinceridade. Quando reconheceu o corpo do meu pai... a senhora teve certeza de que era ele?

BRANCA  -  (estremeceu, mas controlou-se)  Que pergunta!

ALBERTO  -  Responde!

BRANCA  -  Por quê?

ALBERTO  -  Porque o irmão de João, aquele que é famoso, viu um sujeito em São Paulo e está dizendo que é meu pai! Brigou até com ele num quarto de hotel!

BRANCA  -  (voltou a tremer com maior intensidade)  Acho tudo um absurdo!

ALBERTO  -  Não teve a menor dúvida quando reconheceu meu pai? (tinha os olhos súplices de um condenado)  Era meu pai mesmo?

BRANCA  -  (replicou, segura de si)  Claro que era!

A consciencia endurecida, nada lhe dizia. Não lhe chegavam a doer os sacrifícios, a vida atormentada e perdida para sempre, de um jovem garimpeiro, simples e honesto. Para Branca, nada disso eram valores no cotejo com os interesses do marido e com a paixão que lhe dedicava.

Em São Paulo, Lourenço tramava sua saída do país. Não sem antes eliminar Duda e... se necessário, a própria mulher.

CORTA PARA:


CENA 2  -  COROADO  -  CASA DE JERÔNIMO  -  INT.  -   DIA.

Lídia deparou com a mulher ao abrir a porta da moderna e confortável residencia.


MARIA DE LARA  -  O prefeito está?

LÍDIA  -  Oh, mas é você! Jerônimo, veja quem está aqui!

Abotoando o roupão de listras verdes, o rapaz chegou pressuroso.

JERÔNIMO  -  Lara!

A moça adentrou a sala, decorada com extremo bom gosto. Sentou-se numa poltrona de couro vinho.

MARIA DE LARA  -  Quero, antes de qualquer coisa, desfazer um equívoco (disse com graça)  Eu sei que vocês conhecem Lara, muito bem. Mas... eu não sou Lara! (o par voltou os olhos num espanto mútuo)  Sou Márcia Lemos. E faço absoluta questão que não me confundam com a outra. Ou com as outras... como queiram.

JERÔNIMO  -  Mas... não... tou entendendo (falou, gaguejante)  Você não é a mulher do meu irmão?

MARIA DE LARA  -  Não (replicou, com segurança)  Eu não sou a mulher do seu irmão. Estou aqui em caráter profissional e quero lhe fazer perguntas sobre os fatos que tem abalado esta cidade, nos últimos dias. Eu me refiro ás divergências entre o senhor e Pedro Barros. Aliás, trouxe meu gravador e desejo fazer uma entrevista. O senhor está disposto a concedê-la?

A presença da mulher e suas estranhas afirmativas provocaram uma estranha sensação de irrealidade, no ambiente caseiro do lar do prefeito. Aquela era, quisesse ou não ela mesma, a mulher do seu irmão: Diana ou Lara ou Márcia. Uma coisa era certa. Diante dele estava a filha do Coronel Pedro Barros, a esposa de João Coragem. Os olhos de Jerônimo pediram ajuda à esposa. Ambos estavam visivelmente sem ação.


JERÔNIMO  -  Claro... mas eu não tou convencido disso. Você pode ser repórter, mas que é minha cunhada, lá isso é...

MARIA DE LARA  -  Eu acho que isso não tem a mínima importância.  Podemos começar nossa entrevista?

JERÔNIMO  -  Claro! Baixa o rádio, Lídia!

Márcia premiu o botão e a fita rolou mansamente no gravador.

Formal ou informal, o trabalho jornalístico chegara ao fim, depois das declarações francas do prefeito: “Pedro Barros é um déspota. Eu me liberto desse homem. E essa liberdade vai me dar chance de fazer tudo o que nenhum prefeito de Coroado pôde fazer até agora.”


Márcia despediu-se e deixou a casa.

CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  EXT.  -  DIA.


Do outro lado da cidadezinha os homens reuniam-se em torno do velho coronel. Pedro Barros danara-se com as últimas atitudes do Delegado Falcão. Rebeldias que o chefão não podia tolerar. E o rompimento veio como consequencia inevitável. Formaram-se duas linhas distintas no poder de Coroado. De um lado, Pedro Barros e seu dinheiro; do outro, Jerônimo e sua força de vontade.


O coronel parecia imponente montado em seu cavalo puro-sangue, adquirido de um haras paulista.


PEDRO BARROS  -  Tinha de dizer a vocês que a gente não conta mais com o Falcão. O safado se passou pro lado do prefeito com medo de perder o cargo. De agora em diante, a gente faz a nossa própria lei. Eu não vou esperar ajuda de ninguém. Nem preciso. Preciso é da ajuda de vocês. Eu pago bem. Pago dobrado. Pago o que ninguém pode pagar por estas terras. Mas exijo fidelidade. Aquele que se passar pro lado do inimigo é homem morto. (pegou provocadoramente do revólver 45)  Temos muito com quem lutar. João, Jerônimo e agora o bandido do Falcão. Repito... quem faz a lei aqui sou eu! Sou eu e mais ninguém! Eu sou o dono desta terra! Criei Coroado! Tenho direitos de pai pra filho! Não aceito lei de prefeito, nem delegado, nem de autoridade nenhuma... Eu sou a única autoridade em toda esta região imensa! Até Deus tem de me respeitar! Estão me entendendo? Eu sou o dono de Coroado! Vou fazer todo mundo compreender isso!

Um brado elevou-se do grupo, contagiado pelas palavras do coronel.

CORTA PARA:

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  INT.  -  NOITE.


Tudo passara com a chegada da paz noturna.

Lídia afirmava ao coronel que o marido não tinha conhecimento de sua presença na casa-grande. Limpava as lágrimas que lhe escorriam face abaixo. Barros olhava-a como um imperador a um súdito, do alto do trono.


PEDRO BARROS  -  Foi teu marido que te mandou aqui, sim!

LÍDIA  -  Não. Ele não sabe que vim.

PEDRO BARROS  -  E por que veio?

LÍDIA  -  Coronel... Dr. Rodrigo e Potira chegaram hoje a Coroado...

PEDRO BARROS  -  Já me disseram...

LIDIA  -  Eu queria lhe fazer um pedido... muito importante, coronel. Pela amizade que une o senhor ao meu pai.

PEDRO BARROS  -  (pigarreou insolente)  Calma, Lídia... não fica nervosa. Fala.

LÍDIA  -  Esquece... o caso do Jerônimo... com a índia. Não faça mais nada além do que já fez. Desista de perseguir meu marido... Desista... por favor.

PEDRO BARROS  -  E você acha que seu marido merece que eu faça isso? (com cinismo) Que não conte agora pro Dr. Rodrigo as sujeiras que ele andou fazendo? O que aconteceu numa noite de tempestade, quando os dois ficaram dentro de uma gruna, preso? Eu que fui lá, livrar eles!  (mostrou um grande envelope pardo) Tenho tudo aqui, escrito, prontinho pra mandar pro Dr. Rodrigo. Pra dá um castigo merecido naquela sujeitinha que num sabe honrá o nome do homem que lhe deu um lar. E não quero mais ouvir falar nisso. Não adianta pedido, nem lágrima. Fui desafiado pra uma luta. Vou levar ela até ao fim!  )e virando-se para Lázaro)  Toma. Entrega amanhã ao promotor. O Jerônimo há de ver com quantos paus se faz uma canoa!

Com as mãos sobre o rosto a filha do deputado deixou a sala, amparada por Domingas.

DOMINGAS  -  Que Deus te perdoe, Pedro!

FIM DO CAPÍTULO  94
Lourenço (Hemilcio Fróes) e Branca (Neuza Amaral)


e no próximo capítulo...

*** LÁZARO, A MANDO DE PEDRO BARROS, ENTREGA A RODRIGO AS FOTOS DE POTIRA E JERÔNIMO BEIJANDO-SE NO DIA DO CASAMENTO DA ÍNDIA COM O PROMOTOR.

*** RODRIGO E JERÔNIMO LUTAM EM PLENA PRAÇA DE COROADO, SOB OS OLHARES DE TODA A CIDADE!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 95 DE

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