sexta-feira, 21 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 99


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 99
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
CEMA
BRAZ
POTIRA
RODRIGO
DELEGADO FALCÃO
DR. MACIEL
PEDRO BARROS
JERÔNIMO
LÍDIA

CENA 1  -  ALDEIA  -  CHOUPANA -  INT.  -  DIA.

CEMA  -  Puxa! Que felicidade a senhora tê vindo hoje!

Cema abraçava a velha Sinhana. Depois de várias semanas sem ver o filho, a corpulenta e decidida mulher resolvera cruzar as léguas que a distanciavam de João e visitá-lo na choupana da aldeia dos foragidos.

SINHANA  -  Pois é... tive que vim, né? Pra vê meu Jão e dá um recado muito importante prêle.

CEMA  -  Ele já vem. Braz agorinha mesmo foi chamá ele pra tomá café.

SINHANA  -  Pensei que ele tivesse morando aqui. Me dissero que tu e Braz tomava conta dele.

CEMA  -  Que nada. A mulhé dele é que tá tomano conta dele...

SINHANA  -  Lara?

CEMA  -  Márcia.

SINHANA  -  Ele trocô de mulhé? Ah... mas Jão tá ficano muito sem-vergonha. Num gosto disso, não!  (fez um gesto de raiva, com a mão diante da cara).

Cema ria, ainda, quando Braz entrou, pressuroso.


CEMA  -  É nada (disse, ante a fisionomia contraída da velha)  É Dona Lara mesmo que mudô de nome. Ela é esperta. Faz isso pro marido num enjoá dela. Agora tão vivendo que é uma beleza! Os dois num amô que só vendo! Né, Braz?

BRAZ CANOEIRO  -  Puxa, se é! Agora, só tão de beijo e abraço, segredinho... benzim pra cá... benzim pra lá...

SINHANA  -  Graças a Deus! (bradou, com as mãos unidas e olhos fitando o teto)  Se o problema era só mudá de nome, então... que tudo quanto é mulhé mal casada mude também de nome, uai! (a lógica de Sinhana provocou risos no casal de amigos do filho) Cadê o João? (perguntou, voltando-se para Braz Canoeiro).

BRAZ CANOEIRO  -  Já vem. Trouxero notícia de Coroado. A falta d’água... e povo que tá culpando a briga do Jerônimo com o Pedro Barros...

SINHANA  -  Uai, num tou sabeno disso, não! (admirada)  Também, saí tão cedo... de madrugada. Tem légua pra burro de Coroado pra cá. Isto aqui é o fim do mundo!

CORTA PARA:

CENA 2  -  ALDEIA  -  CHOUPANA  -  INT.  -  DIA.

Sinhana mostrava a carta ao filho.


SINHANA  -  Que é que tu acha disso?

JOÃO  -  Duda confessa que Ernesto Bianchinni era outro homem.

SINHANA  -  Então, Duda se enganô?

JOÃO  -  Não... não, Duda num se enganô. Era sonho demais... pensá que Lourenço D’Ávila tava vivo.

Alberto ouvira as últimas palavras entre mãe e filho. Enrubesceu.

ALBERTO  -  Notícia... da visita ao hospital... onde tá minha mãe?

JOÃO  -  É. Era outro homem... mas meu irmão não se dá por vencido.

ALBERTO  -  Eu não digo mais nada (comentou, fingindo uma indiferença que estava longe de sentir).

JOÃO  -  Não precisa. Não quero acusar ninguém, não digo que alguém aqui tá me tapeando. Mas digo que acredito no meu irmão. (Alberto estremeceu imperceptìvelmente)  E vou tomá a frente desse caso. Diz pro Duda ficá sossegado, mãe. Ele que num pense mais nisso. Eu mesmo vou atrás desse home, seguindo todas as pista que ele me deu. Deus há de me ajudá. Eu vou encontrá. Essa tem que sê, de hoje em diante, a minha razão de vivê.

SINHANA  -  Que Deus te abençoe e ajude, meu filho!

CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Os jagunços da casa-grande correram de arma em punho, mas a autoridade do prefeito ainda valia alguma coisa num território pràticamente sem lei. Lídia agarrava-se ao braço do marido.


JERÔNIMO  -  Vim aqui... pra lhe dizer umas verdades...

PEDRO BARROS  -  Conheço de sobra as tuas verdades!

JERÔNIMO  -  Olha aqui... se o senhor é louco... ninguém tem que pagar pelas suas loucuras, não!

PEDRO BARROS  -  Louco, por quê? Porque vou tirar, uma a uma, as regalias que eu dava pro povo de Coroado? E por que eu tenho que ser o bacana, o bonzinho pra essa gente? Pra você fazer bonito, às minhas custas? Não. Agora eles vão ver quem é o verdadeiro dono dessa cidade...

Barros parecia mais insano do que nunca. Ele se julgava, de fato, dono de Coroado, como se todos que ali vivessem fossem obrigados a pagar dízimos ao verdadeiro criador da Terra.

JERÔNIMO  -  Se o senhor fosse um sujeito humano, eu tinha resposta pra lhe dar. Mas eu não posso convencer uma alma ruim como a sua a viver bem, a viver em paz, a viver como gente!

PEDRO BARROS  -  (impacientava-se com a ousadia do rapaz)  Não me interessa viver em paz com você. Não lucro nenhum tostão com isso. E lhe digo mais, isso que aconteceu com a água... vai continuar.

LÍDIA  -  Coronel, isso é perseguição da grossa!

JERÔNIMO  -  Deixa, Lídia.  Ele tá pensando que é o deus-todo-poderoso de Coroado. Pois eu vim... justamente pra lhe dizer... que vou enfrentar sua perseguição. E também não paro aqui. Vou continuar. Acima de mim há outras autoridades municipais, estaduais e federais. Lembre-se disso, coronel!

PEDRO BARROS  -  (riu, com cinismo, e bateu no bolso)  É besta quem pensá que pode competir comigo!

JERÔNIMO  -  Eu vou competir. E desafio o senhor, coronel!

PEDRO BARROS  -  (deu largas passadas pelo interior da sala, expelindo fumaça como uma locomotiva)  Pois muito bem, mocinho. A gente vai entrar numa luta feia. E lhe digo mais: não vou parar por aqui. Vou destriur tudo o que fiz, com meu sacrifício.

JERÔNIMO  -  (bateu com uma das mãos na outra, como num lance de caratê)  O senhor destrói... eu construo, coronel!

PEDRO BARROS  -  Só vou parar no dia em que você chegar, de novo, aqui, sem esta arrogância. Humilde e de cabeça baixa... e me disser: “Olha, coronel, eu entrego os pontos! Eu vou dar um tiro nos miolos”! Aí, depois do teu entêrro, quando o vice-prefeito te substituir, eu juro que as águas voltam nas torneiras de Coroado! A paz volta de novo a brilhar na nossa cidade.

A maldade do velho chefe de garimpo provocava náuseas no prefeito da cidade. Inopinadamente, ele tentou agredir o coronel. Lídia o conteve, arrastando-o para o extremo oposto da grande sala.


JERÔNIMO  -  A água vai voltar outra vez... nos terreiros... a paz há de voltar a Coroado... e a gente não há de necessitar da tua esmola!

LÍDIA  -  Vamos embora!

JERÔNIMO  -  (desejava expelir toda a raiva que lhe tornava a vida insuportável)  Eu tenho dinheiro, tá me ouvindo? A prefeitura tem dinheiro pra canalizar outro rio. Eu não preciso do senhor!

LÍDIA  -  Vamos!

JERÔNIMO  -  Eu volto aqui, sim... mas pra lhe matar a sêde. O senhor há de morrer sozinho. Morto de sêde e sozinho! Miserável! Velho ruim!

PEDRO BARROS  -  Patife! Diz que tem dinheiro na prefeitura! Você ouviu isso, Juca?

JUCA CIPÓ  -  Ouvi, patrãozinho. Mas lhe digo: num tem não, num tem não!

CORTA PARA:

CENA  4  -  BELO HORIZONTE  -  HOSPITAL  -  SALA DE ESPERA  -  INT.  -  DIA.


Àquela hora do dia o corredor do hospital retratava a verdadeira face de um pronto-socorro. Padiolas, doentes a gemer, um sem-número de casos dolorosos. No banco esmaltado de branco, Márcia observava com olhos de jornalista toda a azáfama incessante.


ENFERMEIRA  -  (enfermeira aproximou-se, cautelosa)  É a senhora que quer falar comigo?

MÁRCIA  -  (levantou-se)  Exato. Me mandaram procurar pela senhora.

ENFERMEIRA  -  Pois não. O que deseja? (olhou para ambos os lados receosa. Havia medo nos olhos, nos gestos, nas atitudes da mulher).

MÁRCIA  -  Me disseram que foi a senhora que cuidou do Sr. Ernesto Bianchinni. Um homem que se acidentou num carro na estrada de Belo Horizonte...

ENFERMEIRA  -  (fingiu buscar na memória o nome do paciente)  Foi... foi sim... agora me lembro.

MÁRCIA  -  De Dona Branca também, evidentemente.

ENFERMEIRA  -  Claro... de Dona Branca!

MÁRCIA  -  Pois... eu queria saber onde posso encontrar o casal.

ENFERMEIRA  -  Eles estavam naquele quarto (apontou para uma porta próxima)  Mas... já deixaram o hospital, recuperados.

Márcia deu alguns passos até a porta. Rodou a maçaneta e observou seu interior.


MÁRCIA  -  Eu sei. Já me disseram. Eu quero que a senhora me informe, justamente, para onde eles foram.

ENFERMEIRA  -  (gaguejou)  Eu... eu não sei. Não deixaram endereço.

MÁRCIA  -  Mas segundo eu soube... o Sr. Bianchinni não teve alta... estava ainda passando mal... foi transferido com certeza para outro hospital ou casa de saúde. É isto que eu quero que a senhora me informe.

Agora a enfermeira tinha certeza de que fôra apanhada na mentira. Eles sabiam que o casal não deixara o pronto-socorro recuperado. O homem, muito pelo contrário, deixara o quarto quase à morte.

ENFERMEIRA -  Não sei... se eles foram pra outro lugar. A mim não disseram nada. Já perguntou aos médicos?

MÁRCIA  -  Já. Fui á direção do hospital e ninguém sabe dizer para onde eles foram. (fechou a porta com delicadeza e ajeitou a bolsinha de couro marrom)  Bem... não tem importância. Obrigada.

CORTA PARA:

CENA  5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  CELA DO DR. MACIEL  -  INT.  -  DIA.

O Dr. Maciel estava na cadeia, acusado de tentativa de homicídio por ter querido partir a cabeça de Hernani. O rapaz tivera a ousadia de lhe propor entregar-lhe Ritinha em troca do perdão da dívida que o médico contraíra com ele, e o Dr. Maciel se indignara.


Ao tomar conhecimento do caso, Duda ficara furioso e tivera uma briga com a esposa, terrivelmente enciumado. Pagara afinal a dívida do sogro, mas ao voltar para São Paulo, a fim de fazer os exames de rotina na perna operada, ainda não voltara às boas com Ritinha.

Agora a moça estava diante do pai, na prisão.

DR. MACIEL  -  Oi... Ritinha... te esperei tanto...

O médico, com a barba por fazer e as mãos trêmulas, beijou a face da filha.

RITINHA  -  Como é que o senhor está?

DR. MACIEL  -  Cansado! Doente! Muito mal!  Quando é que vão me tirar daqui?

RITINHA  -  Doutor Rodrigo disse que não passa de hoje.

DR. MACIEL  -  Deus queira. Já não aguento mais. (virou-se para um vulto que estava meio oculto pelas sombras, sentado no colchão)  Conhece aqui... o Alberto... companheiro do João, teu cunhado?

Ritinha arregalou os olhos para fixar a figura esguia e de cabelos lisos, que escondia o rosto entre as mãos. O rapaz cumprimentou-a com um mover de cabeça.


ALBERTO  -  Olá!

RITINHA  -  Olá! Então te agarraram?

ALBERTO  -  Pra ver. Esse delegado sujo está se vingando em mim, do que não pode se vingar no João.

Ritinha ignorou a presença do rapazola. Abriu a bolsinha de longas correias e de lá tirou alguns documentos amarfanhados. Deu-os ao pai.

RITINHA  -  Toma isto.

DR. MACIEL -  Que é isto?

RITINHA  -  As promissórias que o senhor assinou pro Hernani.

DR. MACIEL   -   (surpreso)  Você... pagou?

RITINHA  -  Não interessa quem pagou... Alguém pagou... O senhor está livre da dívida. Eu estou livre daquele homem. Em compensação... Eduardo foi embora... e nunca mais... quer ouvir falar de mim. (Maciel emudeceu. A moça bateu na grade com o punho fechado) Pode abrir esta porta! Eu quero sair. Êh, seu guarda...

FIM DO CAPÍTULO  99
Jerônimo vai com a mulher, Lídia á Fazenda de Pedro Barros e o desafia!
e no próximo capítulo...

*** Rodrigo encontra Potira na casa do Dr. Maciel e a ignora, ainda muito magoado.

*** Márcia volta para a aldeia, deixando João muito feliz.

*** Jerônimo conseguiu que a água voltasse a jorrar nas torneiras de Coroado, trazendo de volta a alegria á população!
 
NÃO PERCA O CAPÍTULO 100 DE

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