segunda-feira, 3 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 72


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 72

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
BRAZ
LÁZARO
VENÃNCIO
MARIA DE LARA
DUDA
DAMIÃO
HERNANI

CENA 1  -  ESTRADA DO SERTÃO  - EXT.  -  DIA.

Durante a longa esticada, sertão adentro, João Coragem, cavalgando a trote lento, observava a pobreza e a miséria das populações do interior. A própria estrada, margeada de arbustos ressequidos, dava conta do abandono. O pó se erguia, de sob os cascos do alazão, grudando-se á cara de Braz Canoeiro e nas de seus asseclas. Aqui e ali, buracos e rochas. Galhos secos e pinguelas, a dificultar o acesso àquelas regiões inóspitas.

 
O grupo alcançou o casebre, na encosta de um morro. Depois de aplicar dois ou tres tapas carinhosos no pescoço do animal, o garimpeiro apeou da sela. Sentia-se cansado, alquebrado pela caminhada de várias horas.

CENA 2  -  CASA DE VENÂNCIO  -  INT.  -  DIA.

Lá dentro, maltratado pelo tempo, Joaquim Venâncio, escorado no chão de barro, pitava o cachimbo negro, de madeira e argila. A roupa inteiramente avermelhada, coberta de poeira e de remendos multicoloridos. Mãos e pés davam a impressão de galhos nodosos de árvores frondosas. Um velho tão rude quanto a região. João bateu palmas e entrou.


JOÃO  -  Sou eu, seu Venâncio.

Apertou as mãos calosas do ancião. O velho semicerrou os olhos gastos, para divisar a figura imponente do garimpeiro. Tentava unir idéias e identificar o viajante.


VENÂNCIO  -  Ahn!

JOÃO  -  Muito honrado em lhe conhecer. Sou João Coragem.

BRAZ  -  (dirigindo-se ao grupo)  Num disse que ele ainda tava vivo?

JOÃO  -  (ajoelhando-se diante do velho)  A gente lhe conhecia muito de nome.

LÁZARO  -  Não foi esse o cara que encontrou o diamante Vargas?

JOÃO  -  Ele mesmo.  Podia sê hoje um dos home mais rico desta terra...

LÁZARO  -  Também roubaro o dele, como fizero com o teu?

JOÃO  -  Não. O caso dele foi diferente.

VENÂNCIO  -  Fui roubado, sim... Quem disse que não? Só que foi despois de eu vendê ele por preço muito baixo. Isso num foi roubo?

JOÃO  -  O diamante dele... pesava pouco menos que o meu... 726 quilates!

LÁZARO  -  (benzendo-se)  Nossa Senhora! É diamante que num é vida!

BRAZ   -  Quem comprô seu diamante?

JOÃO  -  Deve de tê sido o Pedro Barros da época!  O sujeito depois foi pro Rio de Janeiro, vendeu bem a pedra... ficou milionário... enquanto este pobre coitado...

VENÂNCIO  -  (impaciente)  O que é que ocês qué de mim?

LÁZARO  -  Por enquanto eu quero comida...

VENÂNCIO  -  Num tem!

JOÃO  -  Num é nada disso.  A gente veio só pra lhe conhecê, pra falá com o senhô. Quis vê de perto sua miséria. Eu também achei uma pedra igual á sua. E não quero ter o fim que o senhô teve. Ninguém merece isso.

VENÂNCIO  -  Se apegue a Deus e Ele lhe dá conforto...

João abraçou o homem, carinhosamente.

JOÃO  -  Eu volto pra lhe buscá, Venâncio.

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA ABANDONADA  -  INT.  -  DIA.

Outrora, aquele lugar formigara de gente. Havia vida, progresso, bons negócios. Agora, as ruínas da casa grande retratavam o infortúnio, o insucesso. Tudo abandonado. Vigas caídas, corroídas pelos cupins. Teias de aranha cruzando as salas, de móveis gastos, apesar de bons, para a época. Uma escada de pedra levava ao andar superior, através de degraus quase destruídos pela ação do tempo. Os ratos guinchavam escondendo-se nas pequenas grutas das paredes.

João olhou, demoradamente, antes de dar um passo para o interior da sala. Braz o acompanhou.


JOÃO   -  (dirigiu-se a Braz Canoeiro)  É aqui... que tu marcô com Cema e Lara?

BRAZ  -  É, João. O lugá é meio estranho, mas cum boa vontade a gente põe um pouco de orde nele.

João voltou a admirar o panorama.

JOÃO  -  (mostrando a amplidão da sala) Que foi isso?

BRAZ  -  Uma casa, ora! Casarão de fazenda abandonada.

João forçou uma viga-escora, de madeira. Parte do rebôco do teto ruiu, cobrindo de pó a cabeça do rapaz.

JOÃO  -  Virge, mãe!  (saltou para o lado. Virou-se para Braz)  Cema conhece esse lugá?

BRAZ  -  Num havera de cunhecê!  Ela nasceu aqui. Aqui a gente se viu pela primeira vez. Aqui a gente se casô.

JOÃO  -  Por que o abandono?

BRAZ  -  Uma historia comprida. Duma dona que ganhou uma fortuna, de sociedade com um sujeito, num bilhete de loteria. Comprô essa fazenda, os dois. A gente trabalhava prela.

JOÃO  -  E que fim levô?

BRAZ  -  Morreu, de morte matada. Pelo marido. Ele não gostô da história da “sociedade”. Descobriu que num era só de dinhero. Aí os dois entraro em questão, na justiça, por causa das terra. E acho que os dois morreu, porque nunca mais ninguém apareceu pra reclamá nada. Ficô assim, no abandono.

João examinava as gavetas, armários.


JOÃO  -  Acho que tá tudo bom, não? A gente vai ficano por aqui... Tô de acordo, Braz.

BRAZ  -  (apontando para as montanhas)  É perto de Morrinhos... mais pro lado de Goiás. Também, num fica longe de Coroado. Lázaro foi até Morrinhos, fazê compra com o único dinheiro que a gente tinha. Agora, é esperá até amanhã pra vê se as duas vem se encontrá com a gente. Até lá, vamo pensá nas coisa que tão aconteceno... por vontade de Deus.

Os garimpeiros se aboletaram nos quartos. Depois do descanso pretendiam dar novo aspecto á velha casa da fazenda. Faxina geral. Na sujeira e nas evocações do passado.

CORTA PARA:

CENA 3 -  SÃO PAULO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  SALA -  INT.  -  DIA.

A imprensa martelara o assunto, explorando em manchetes, a saída do craque. O Flamengo sempre fora o prato preferido das páginas de revistas e jornais e dos comentários de rádio e televisão. Vendia. E era o suficiente. As ondas se sucediam. Mas a dignidade do clube, sua força histórica, sua grandeza, permaneciam incólumes. Duda se fora, assim como Domingos, Leônidas, Zizinho, Fausto. Este para o silencio do túmulo, num cemitério esquecido de um subúrbio qualquer. E este fim Duda não queria. Pensando nas incertezas da profissão, ele entrou no apartamento. Ele e Damião, que não o deixava. Nem mesmo ao transferir-se para a capital bandeirante, deixando o Rio. Surpreendeu-se ao entrar no apartamento em que ficaria:


DUDA  -  Uai, rapaz! Você tá aqui, em São Paulo?

Hernani pousou o copo de uísque sobre o tampo de mármore da mesinha de centro.

HERNANI  -  Claro que sim! Precisava ver os teus negócios. Quem você acha que arranjou este apartamento?

Eduardo agradeceu, apertando a mão que o outro lhe estendia.

DUDA  -  Gostei, viu? Tá muito bom.

HERNANI  -  Como foi a reunião com os maiorais do Coríntians?

DUDA  -  (jogando-se na poltrona)  Ótima!

DAMIÃO  -  Tão o com uma bruta esperança de botar o cracão já no jogo de domingo.

HERNANI  -  Eu sabia disso.  Eu leio jornal, meu chapa. A torcida vibrou com a aquisição do Duda. (bateu com a mão espalmada no ombro musculoso do jogador)  Tá em forma de novo?

DUDA  -  Tou, não tou, Dami?

DAMIÃO  -  Posso até me responsabilizar por ele.

Hernani ergueu-se, de repente, pôs a mão na testa, como a lembrar-se de alguma coisa.

HERNANI  -  Esperem... eu acho que está faltando alguém. Ritinha não devia estar aqui com você?

DUDA  -  (cerrou os dentes e respondeu, seco)  Não. Ela não está.

DAMIÃO  -  Ah... ela vem depois.

DUDA  -  Não. Nem antes, nem depois.

HERNANI  -  Não vá me dizer que vocês...

DUDA  -  É. É isso mesmo. Ela me acusou injustamente de ter denunciado o pai dela, Dr. Maciel, ao Conselho Regional de Medicina. Ele foi acusado... da morte da esposa... e da bala que deixou na minha perna. Eu não denunciei aquele velho... mas ela não acreditou em mim! Nós rompemos. Está tudo acabado. Ela me deu o fora. Não fui eu! Foi ela! Ela que não me quis. Pode dizer isto aos jornais. Foi ela, foi minha mulher que me mandou embora. E diga também, nas suas declarações, que estou curtindo a maior dor de cotovelo de toda a história!

CORTA PARA:

CENA 4  -  CASA ABANDONADA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


O leve rumor de passos acordou João Coragem. Braz e os outros dormiam a sono solto. A chama bruxuleante do lampião desenhava vultos negros na caiação da parede. O garimpeiro levantou-se, num salto, abriu cuidadosamente a porta e espiou o exterior escuro. Um largo sorriso cortou-lhe a cara, lado a lado. Escancarou a porta e atirou-se noite adentro. As vozes confundiram-se em meio ás expansões amorosas.


MARIA DE LARA  -  João!

JOÃO  -  Lara!

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASA ABANDONADA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

O alvorecer dava um toque poético á tragédia do sertão. João levantou-se, alegre. Desceu a escada e encaminhou-se para os amigos.


JOÃO  -  Ei, seus vagabundos! Acorda! Já amanheceu o dia!

Braz e Lázaro, esfregando os olhos vermelhos, ergueram os bustos despidos.

LÁZARO  -  Que foi que ele viu hoje, heim? Passarinho verde?

João deu as ordens do dia: água, pó de café, gravetos para o fogo.

BRAZ  -  (estupefato)  Espera aí! Tou te desconhecendo! Êsse bom humor não é comum! Que foi que te aconteceu durante a noite?

JOÃO  -  (fez a revelação)  Foi ela que veio até aqui!

BRAZ  -  (estremeceu)  Com a Cema?

Lara descia a escada. Dirigia-se aos garimpeiros.

MARIA DE LARA  -  Olá, Braz... queria tanto agradecer o que fez pelo João...

BRAZ  -  Dona... e minha Cema?

MARIA DE LARA  -  Não quis vir, Braz. Está com Sinhana. Parecia muito nervosa... um pouco demais, talvez. Disse que não viria por nada deste mundo.

BRAZ  -  (esmurrou o ar)  Diacho... diacho...

FIM DO CAPÍTULO  72
Braz e João
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** SOZINHA NA CASA ABANDONADA, LARA É SURPREENDIDA PELA CHEGADA DO DELEGADO FALCÃO, QUE EXIGE QUE ELA VOLTE COM ELE PARA COROADO COMO SUA NOIVA, OU VAI ESPERAR E PRENDER JOÃO!

*** JERÔNIMO DIZ A SINHANA QUE VAI ARRANJAR UMA MULHER PARA SE CASAR.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 73 DE

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