Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 72
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
BRAZ
LÁZARO
VENÃNCIO
MARIA DE LARA
DUDA
DAMIÃO
HERNANI
CENA 1 - ESTRADA DO SERTÃO - EXT. - DIA.
Durante a longa esticada, sertão adentro, João Coragem, cavalgando a trote lento, observava a pobreza e a miséria das populações do interior. A própria estrada, margeada de arbustos ressequidos, dava conta do abandono. O pó se erguia, de sob os cascos do alazão, grudando-se á cara de Braz Canoeiro e nas de seus asseclas. Aqui e ali, buracos e rochas. Galhos secos e pinguelas, a dificultar o acesso àquelas regiões inóspitas.
O grupo alcançou o casebre, na encosta de um morro. Depois de aplicar dois ou tres tapas carinhosos no pescoço do animal, o garimpeiro apeou da sela. Sentia-se cansado, alquebrado pela caminhada de várias horas.
CENA 2 - CASA DE VENÂNCIO - INT. - DIA.
Lá dentro, maltratado pelo tempo, Joaquim Venâncio, escorado no chão de barro, pitava o cachimbo negro, de madeira e argila. A roupa inteiramente avermelhada, coberta de poeira e de remendos multicoloridos. Mãos e pés davam a impressão de galhos nodosos de árvores frondosas. Um velho tão rude quanto a região. João bateu palmas e entrou.
JOÃO - Sou eu, seu Venâncio.
Apertou as mãos calosas do ancião. O velho semicerrou os olhos gastos, para divisar a figura imponente do garimpeiro. Tentava unir idéias e identificar o viajante.
VENÂNCIO - Ahn!
JOÃO - Muito honrado em lhe conhecer. Sou João Coragem.
BRAZ - (dirigindo-se ao grupo) Num disse que ele ainda tava vivo?
JOÃO - (ajoelhando-se diante do velho) A gente lhe conhecia muito de nome.
LÁZARO - Não foi esse o cara que encontrou o diamante Vargas?
JOÃO - Ele mesmo. Podia sê hoje um dos home mais rico desta terra...
LÁZARO - Também roubaro o dele, como fizero com o teu?
JOÃO - Não. O caso dele foi diferente.
VENÂNCIO - Fui roubado, sim... Quem disse que não? Só que foi despois de eu vendê ele por preço muito baixo. Isso num foi roubo?
JOÃO - O diamante dele... pesava pouco menos que o meu... 726 quilates!
LÁZARO - (benzendo-se) Nossa Senhora! É diamante que num é vida!
BRAZ - Quem comprô seu diamante?
JOÃO - Deve de tê sido o Pedro Barros da época! O sujeito depois foi pro Rio de Janeiro, vendeu bem a pedra... ficou milionário... enquanto este pobre coitado...
VENÂNCIO - (impaciente) O que é que ocês qué de mim?
LÁZARO - Por enquanto eu quero comida...
VENÂNCIO - Num tem!
JOÃO - Num é nada disso. A gente veio só pra lhe conhecê, pra falá com o senhô. Quis vê de perto sua miséria. Eu também achei uma pedra igual á sua. E não quero ter o fim que o senhô teve. Ninguém merece isso.
VENÂNCIO - Se apegue a Deus e Ele lhe dá conforto...
João abraçou o homem, carinhosamente.
JOÃO - Eu volto pra lhe buscá, Venâncio.
CORTA PARA:
CENA 2 - CASA ABANDONADA - INT. - DIA.
Outrora, aquele lugar formigara de gente. Havia vida, progresso, bons negócios. Agora, as ruínas da casa grande retratavam o infortúnio, o insucesso. Tudo abandonado. Vigas caídas, corroídas pelos cupins. Teias de aranha cruzando as salas, de móveis gastos, apesar de bons, para a época. Uma escada de pedra levava ao andar superior, através de degraus quase destruídos pela ação do tempo. Os ratos guinchavam escondendo-se nas pequenas grutas das paredes.
João olhou, demoradamente, antes de dar um passo para o interior da sala. Braz o acompanhou.
JOÃO - (dirigiu-se a Braz Canoeiro) É aqui... que tu marcô com Cema e Lara?
BRAZ - É, João. O lugá é meio estranho, mas cum boa vontade a gente põe um pouco de orde nele.
João voltou a admirar o panorama.
JOÃO - (mostrando a amplidão da sala) Que foi isso?
BRAZ - Uma casa, ora! Casarão de fazenda abandonada.
João forçou uma viga-escora, de madeira. Parte do rebôco do teto ruiu, cobrindo de pó a cabeça do rapaz.
JOÃO - Virge, mãe! (saltou para o lado. Virou-se para Braz) Cema conhece esse lugá?
BRAZ - Num havera de cunhecê! Ela nasceu aqui. Aqui a gente se viu pela primeira vez. Aqui a gente se casô.
JOÃO - Por que o abandono?
BRAZ - Uma historia comprida. Duma dona que ganhou uma fortuna, de sociedade com um sujeito, num bilhete de loteria. Comprô essa fazenda, os dois. A gente trabalhava prela.
JOÃO - E que fim levô?
BRAZ - Morreu, de morte matada. Pelo marido. Ele não gostô da história da “sociedade”. Descobriu que num era só de dinhero. Aí os dois entraro em questão, na justiça, por causa das terra. E acho que os dois morreu, porque nunca mais ninguém apareceu pra reclamá nada. Ficô assim, no abandono.
João examinava as gavetas, armários.
JOÃO - Acho que tá tudo bom, não? A gente vai ficano por aqui... Tô de acordo, Braz.
BRAZ - (apontando para as montanhas) É perto de Morrinhos... mais pro lado de Goiás. Também, num fica longe de Coroado. Lázaro foi até Morrinhos, fazê compra com o único dinheiro que a gente tinha. Agora, é esperá até amanhã pra vê se as duas vem se encontrá com a gente. Até lá, vamo pensá nas coisa que tão aconteceno... por vontade de Deus.
Os garimpeiros se aboletaram nos quartos. Depois do descanso pretendiam dar novo aspecto á velha casa da fazenda. Faxina geral. Na sujeira e nas evocações do passado.
CORTA PARA:
CENA 3 - SÃO PAULO - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - DIA.
A imprensa martelara o assunto, explorando em manchetes, a saída do craque. O Flamengo sempre fora o prato preferido das páginas de revistas e jornais e dos comentários de rádio e televisão. Vendia. E era o suficiente. As ondas se sucediam. Mas a dignidade do clube, sua força histórica, sua grandeza, permaneciam incólumes. Duda se fora, assim como Domingos, Leônidas, Zizinho, Fausto. Este para o silencio do túmulo, num cemitério esquecido de um subúrbio qualquer. E este fim Duda não queria. Pensando nas incertezas da profissão, ele entrou no apartamento. Ele e Damião, que não o deixava. Nem mesmo ao transferir-se para a capital bandeirante, deixando o Rio. Surpreendeu-se ao entrar no apartamento em que ficaria:
DUDA - Uai, rapaz! Você tá aqui, em São Paulo?
Hernani pousou o copo de uísque sobre o tampo de mármore da mesinha de centro.
HERNANI - Claro que sim! Precisava ver os teus negócios. Quem você acha que arranjou este apartamento?
Eduardo agradeceu, apertando a mão que o outro lhe estendia.
DUDA - Gostei, viu? Tá muito bom.
HERNANI - Como foi a reunião com os maiorais do Coríntians?
DUDA - (jogando-se na poltrona) Ótima!
DAMIÃO - Tão o com uma bruta esperança de botar o cracão já no jogo de domingo.
HERNANI - Eu sabia disso. Eu leio jornal, meu chapa. A torcida vibrou com a aquisição do Duda. (bateu com a mão espalmada no ombro musculoso do jogador) Tá em forma de novo?
DUDA - Tou, não tou, Dami?
DAMIÃO - Posso até me responsabilizar por ele.
Hernani ergueu-se, de repente, pôs a mão na testa, como a lembrar-se de alguma coisa.
HERNANI - Esperem... eu acho que está faltando alguém. Ritinha não devia estar aqui com você?
DUDA - (cerrou os dentes e respondeu, seco) Não. Ela não está.
DAMIÃO - Ah... ela vem depois.
DUDA - Não. Nem antes, nem depois.
HERNANI - Não vá me dizer que vocês...
DUDA - É. É isso mesmo. Ela me acusou injustamente de ter denunciado o pai dela, Dr. Maciel, ao Conselho Regional de Medicina. Ele foi acusado... da morte da esposa... e da bala que deixou na minha perna. Eu não denunciei aquele velho... mas ela não acreditou em mim! Nós rompemos. Está tudo acabado. Ela me deu o fora. Não fui eu! Foi ela! Ela que não me quis. Pode dizer isto aos jornais. Foi ela, foi minha mulher que me mandou embora. E diga também, nas suas declarações, que estou curtindo a maior dor de cotovelo de toda a história!
CORTA PARA:
CENA 4 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - NOITE.
O leve rumor de passos acordou João Coragem. Braz e os outros dormiam a sono solto. A chama bruxuleante do lampião desenhava vultos negros na caiação da parede. O garimpeiro levantou-se, num salto, abriu cuidadosamente a porta e espiou o exterior escuro. Um largo sorriso cortou-lhe a cara, lado a lado. Escancarou a porta e atirou-se noite adentro. As vozes confundiram-se em meio ás expansões amorosas.
MARIA DE LARA - João!
JOÃO - Lara!
CORTA PARA:
CENA 5 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - DIA.
O alvorecer dava um toque poético á tragédia do sertão. João levantou-se, alegre. Desceu a escada e encaminhou-se para os amigos.
JOÃO - Ei, seus vagabundos! Acorda! Já amanheceu o dia!
Braz e Lázaro, esfregando os olhos vermelhos, ergueram os bustos despidos.
LÁZARO - Que foi que ele viu hoje, heim? Passarinho verde?
João deu as ordens do dia: água, pó de café, gravetos para o fogo.
BRAZ - (estupefato) Espera aí! Tou te desconhecendo! Êsse bom humor não é comum! Que foi que te aconteceu durante a noite?
JOÃO - (fez a revelação) Foi ela que veio até aqui!
BRAZ - (estremeceu) Com a Cema?
Lara descia a escada. Dirigia-se aos garimpeiros.
MARIA DE LARA - Olá, Braz... queria tanto agradecer o que fez pelo João...
BRAZ - Dona... e minha Cema?
MARIA DE LARA - Não quis vir, Braz. Está com Sinhana. Parecia muito nervosa... um pouco demais, talvez. Disse que não viria por nada deste mundo.
BRAZ - (esmurrou o ar) Diacho... diacho...
Durante a longa esticada, sertão adentro, João Coragem, cavalgando a trote lento, observava a pobreza e a miséria das populações do interior. A própria estrada, margeada de arbustos ressequidos, dava conta do abandono. O pó se erguia, de sob os cascos do alazão, grudando-se á cara de Braz Canoeiro e nas de seus asseclas. Aqui e ali, buracos e rochas. Galhos secos e pinguelas, a dificultar o acesso àquelas regiões inóspitas.
O grupo alcançou o casebre, na encosta de um morro. Depois de aplicar dois ou tres tapas carinhosos no pescoço do animal, o garimpeiro apeou da sela. Sentia-se cansado, alquebrado pela caminhada de várias horas.
CENA 2 - CASA DE VENÂNCIO - INT. - DIA.
Lá dentro, maltratado pelo tempo, Joaquim Venâncio, escorado no chão de barro, pitava o cachimbo negro, de madeira e argila. A roupa inteiramente avermelhada, coberta de poeira e de remendos multicoloridos. Mãos e pés davam a impressão de galhos nodosos de árvores frondosas. Um velho tão rude quanto a região. João bateu palmas e entrou.
JOÃO - Sou eu, seu Venâncio.
Apertou as mãos calosas do ancião. O velho semicerrou os olhos gastos, para divisar a figura imponente do garimpeiro. Tentava unir idéias e identificar o viajante.
VENÂNCIO - Ahn!
JOÃO - Muito honrado em lhe conhecer. Sou João Coragem.
BRAZ - (dirigindo-se ao grupo) Num disse que ele ainda tava vivo?
JOÃO - (ajoelhando-se diante do velho) A gente lhe conhecia muito de nome.
LÁZARO - Não foi esse o cara que encontrou o diamante Vargas?
JOÃO - Ele mesmo. Podia sê hoje um dos home mais rico desta terra...
LÁZARO - Também roubaro o dele, como fizero com o teu?
JOÃO - Não. O caso dele foi diferente.
VENÂNCIO - Fui roubado, sim... Quem disse que não? Só que foi despois de eu vendê ele por preço muito baixo. Isso num foi roubo?
JOÃO - O diamante dele... pesava pouco menos que o meu... 726 quilates!
LÁZARO - (benzendo-se) Nossa Senhora! É diamante que num é vida!
BRAZ - Quem comprô seu diamante?
JOÃO - Deve de tê sido o Pedro Barros da época! O sujeito depois foi pro Rio de Janeiro, vendeu bem a pedra... ficou milionário... enquanto este pobre coitado...
VENÂNCIO - (impaciente) O que é que ocês qué de mim?
LÁZARO - Por enquanto eu quero comida...
VENÂNCIO - Num tem!
JOÃO - Num é nada disso. A gente veio só pra lhe conhecê, pra falá com o senhô. Quis vê de perto sua miséria. Eu também achei uma pedra igual á sua. E não quero ter o fim que o senhô teve. Ninguém merece isso.
VENÂNCIO - Se apegue a Deus e Ele lhe dá conforto...
João abraçou o homem, carinhosamente.
JOÃO - Eu volto pra lhe buscá, Venâncio.
CORTA PARA:
CENA 2 - CASA ABANDONADA - INT. - DIA.
Outrora, aquele lugar formigara de gente. Havia vida, progresso, bons negócios. Agora, as ruínas da casa grande retratavam o infortúnio, o insucesso. Tudo abandonado. Vigas caídas, corroídas pelos cupins. Teias de aranha cruzando as salas, de móveis gastos, apesar de bons, para a época. Uma escada de pedra levava ao andar superior, através de degraus quase destruídos pela ação do tempo. Os ratos guinchavam escondendo-se nas pequenas grutas das paredes.
João olhou, demoradamente, antes de dar um passo para o interior da sala. Braz o acompanhou.
JOÃO - (dirigiu-se a Braz Canoeiro) É aqui... que tu marcô com Cema e Lara?
BRAZ - É, João. O lugá é meio estranho, mas cum boa vontade a gente põe um pouco de orde nele.
João voltou a admirar o panorama.
JOÃO - (mostrando a amplidão da sala) Que foi isso?
BRAZ - Uma casa, ora! Casarão de fazenda abandonada.
João forçou uma viga-escora, de madeira. Parte do rebôco do teto ruiu, cobrindo de pó a cabeça do rapaz.
JOÃO - Virge, mãe! (saltou para o lado. Virou-se para Braz) Cema conhece esse lugá?
BRAZ - Num havera de cunhecê! Ela nasceu aqui. Aqui a gente se viu pela primeira vez. Aqui a gente se casô.
JOÃO - Por que o abandono?
BRAZ - Uma historia comprida. Duma dona que ganhou uma fortuna, de sociedade com um sujeito, num bilhete de loteria. Comprô essa fazenda, os dois. A gente trabalhava prela.
JOÃO - E que fim levô?
BRAZ - Morreu, de morte matada. Pelo marido. Ele não gostô da história da “sociedade”. Descobriu que num era só de dinhero. Aí os dois entraro em questão, na justiça, por causa das terra. E acho que os dois morreu, porque nunca mais ninguém apareceu pra reclamá nada. Ficô assim, no abandono.
João examinava as gavetas, armários.
JOÃO - Acho que tá tudo bom, não? A gente vai ficano por aqui... Tô de acordo, Braz.
BRAZ - (apontando para as montanhas) É perto de Morrinhos... mais pro lado de Goiás. Também, num fica longe de Coroado. Lázaro foi até Morrinhos, fazê compra com o único dinheiro que a gente tinha. Agora, é esperá até amanhã pra vê se as duas vem se encontrá com a gente. Até lá, vamo pensá nas coisa que tão aconteceno... por vontade de Deus.
Os garimpeiros se aboletaram nos quartos. Depois do descanso pretendiam dar novo aspecto á velha casa da fazenda. Faxina geral. Na sujeira e nas evocações do passado.
CORTA PARA:
CENA 3 - SÃO PAULO - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - DIA.
A imprensa martelara o assunto, explorando em manchetes, a saída do craque. O Flamengo sempre fora o prato preferido das páginas de revistas e jornais e dos comentários de rádio e televisão. Vendia. E era o suficiente. As ondas se sucediam. Mas a dignidade do clube, sua força histórica, sua grandeza, permaneciam incólumes. Duda se fora, assim como Domingos, Leônidas, Zizinho, Fausto. Este para o silencio do túmulo, num cemitério esquecido de um subúrbio qualquer. E este fim Duda não queria. Pensando nas incertezas da profissão, ele entrou no apartamento. Ele e Damião, que não o deixava. Nem mesmo ao transferir-se para a capital bandeirante, deixando o Rio. Surpreendeu-se ao entrar no apartamento em que ficaria:
DUDA - Uai, rapaz! Você tá aqui, em São Paulo?
Hernani pousou o copo de uísque sobre o tampo de mármore da mesinha de centro.
HERNANI - Claro que sim! Precisava ver os teus negócios. Quem você acha que arranjou este apartamento?
Eduardo agradeceu, apertando a mão que o outro lhe estendia.
DUDA - Gostei, viu? Tá muito bom.
HERNANI - Como foi a reunião com os maiorais do Coríntians?
DUDA - (jogando-se na poltrona) Ótima!
DAMIÃO - Tão o com uma bruta esperança de botar o cracão já no jogo de domingo.
HERNANI - Eu sabia disso. Eu leio jornal, meu chapa. A torcida vibrou com a aquisição do Duda. (bateu com a mão espalmada no ombro musculoso do jogador) Tá em forma de novo?
DUDA - Tou, não tou, Dami?
DAMIÃO - Posso até me responsabilizar por ele.
Hernani ergueu-se, de repente, pôs a mão na testa, como a lembrar-se de alguma coisa.
HERNANI - Esperem... eu acho que está faltando alguém. Ritinha não devia estar aqui com você?
DUDA - (cerrou os dentes e respondeu, seco) Não. Ela não está.
DAMIÃO - Ah... ela vem depois.
DUDA - Não. Nem antes, nem depois.
HERNANI - Não vá me dizer que vocês...
DUDA - É. É isso mesmo. Ela me acusou injustamente de ter denunciado o pai dela, Dr. Maciel, ao Conselho Regional de Medicina. Ele foi acusado... da morte da esposa... e da bala que deixou na minha perna. Eu não denunciei aquele velho... mas ela não acreditou em mim! Nós rompemos. Está tudo acabado. Ela me deu o fora. Não fui eu! Foi ela! Ela que não me quis. Pode dizer isto aos jornais. Foi ela, foi minha mulher que me mandou embora. E diga também, nas suas declarações, que estou curtindo a maior dor de cotovelo de toda a história!
CORTA PARA:
CENA 4 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - NOITE.
O leve rumor de passos acordou João Coragem. Braz e os outros dormiam a sono solto. A chama bruxuleante do lampião desenhava vultos negros na caiação da parede. O garimpeiro levantou-se, num salto, abriu cuidadosamente a porta e espiou o exterior escuro. Um largo sorriso cortou-lhe a cara, lado a lado. Escancarou a porta e atirou-se noite adentro. As vozes confundiram-se em meio ás expansões amorosas.
MARIA DE LARA - João!
JOÃO - Lara!
CORTA PARA:
CENA 5 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - DIA.
O alvorecer dava um toque poético á tragédia do sertão. João levantou-se, alegre. Desceu a escada e encaminhou-se para os amigos.
JOÃO - Ei, seus vagabundos! Acorda! Já amanheceu o dia!
Braz e Lázaro, esfregando os olhos vermelhos, ergueram os bustos despidos.
LÁZARO - Que foi que ele viu hoje, heim? Passarinho verde?
João deu as ordens do dia: água, pó de café, gravetos para o fogo.
BRAZ - (estupefato) Espera aí! Tou te desconhecendo! Êsse bom humor não é comum! Que foi que te aconteceu durante a noite?
JOÃO - (fez a revelação) Foi ela que veio até aqui!
BRAZ - (estremeceu) Com a Cema?
Lara descia a escada. Dirigia-se aos garimpeiros.
MARIA DE LARA - Olá, Braz... queria tanto agradecer o que fez pelo João...
BRAZ - Dona... e minha Cema?
MARIA DE LARA - Não quis vir, Braz. Está com Sinhana. Parecia muito nervosa... um pouco demais, talvez. Disse que não viria por nada deste mundo.
BRAZ - (esmurrou o ar) Diacho... diacho...
FIM DO CAPÍTULO 72
Braz e João |
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