domingo, 9 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 78


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 78
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
RODRIGO
JERÔNIMO
LARA
CLEMENTE
JOÃO
ANTONIO
LÁZARO
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO

CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Sinhana correu ao encontro do filho e de Rodrigo, ligeiramente tocados. Sorriu ao ver a alegria que os contagiava. Adivinhou o motivo.


SINHANA  -  Jerônimo venceu!

Rodrigo perdera o controle, embriagado com a vitória de Jerônimo.

RODRIGO  -  Viva o novo prefeito de Coroado!

JERÔNIMO  -  (gritou, com o rosto em brasa)  Viva!

SINHANA  -  (estreitava o filho entre os braços fortes)  Deus te abençoe, filho! Graças a ele e também ao teu amigo Rodrigo!

JERÔNIMO  -  Oi, mãe, teu filho é importante. Consegui, não consegui?

RODRIGO  -  (rebuscava o bar á cata de bebidas)  Se ele não vencesse... eu acho que daria o fora desta cidade. Porque agora nós vamos consertar muita coisa, botar as coisas nos eixos!

JERÔNIMO  -  (gracejou)  Já sei o que ele vai dizer:  impor a lei e a justiça...

RODRIGO  -  Isso mesmo: a lei e a justiça!

Os amigos riam, entornando cálices de aguardente.

JERÔNIMO  -  Viu a cara do Pedro Barros, seu doutor? Quando desceu do carro e entrou na delegacia? Parecia arrasado.

RODRIGO  -  Parecia uma jibóia que tinha acabado de engolir um boi! Olha aqui, Jerônimo. A primeira coisa que você vai fazer quando tomar posse é tirar aquela estátua da praça! Uma vergonha!

Lara assomou à porta do quarto, séria, sem dizer palavra. Jerônimo correu a desculpar-se.

JERÔNIMO  -  Oi... desculpe... eu não sabia que você... ainda estava aqui.

RODRIGO  -  Olhe, me desculpe também . (segurou a moça pelo braço, visìvelmente alto..)  Vem cá... quero lhe dizer uma coisa... honestamente. Tenho sede de vingança do seu pai... mas com você... olha... não tenho nada.(cambaleava)  Até gosto muito. É a cunhada do meu melhor amigo!

JERÔNIMO  -  Deixa ela, Rodrigo.

RODRIGO  -  Não. Ela tem que saber. O negócio é o seguinte. Dois pontos. Pode pensar que minha raiva por ele é gratuita. Não é não. Vou lhe dizer. Ele mandou meu pai pra cadeia. Acusou meu pai de um roubo. O velho foi julgado e condenado. E estava inocente! (fez uma pausa teatral)  Sabe o que foi que ele fez? Se enforcou... Se enforcou. Eu tinha 8 anos, moça. E... nunca me esqueço... a corda pendurada. Aquele homem... Era dia de visita... eu tinha ido com minha mãe. E quem tinha sido o autor do roubo não era outro. O próprio acusador: Pedro Barros.

JERÔNIMO  -  (insistiu)  Rodrigo, acabe com isso!

RODRIGO  -  Não. Ela tem que saber... porque é que eu vou fazer com que o pai dela acabe também numa fôrca...

MARIA DE LARA  -  O senhor é vingativo. Esta não é uma boa qualidade.

Lara pediu licença e deixou a sala.

Sinhana condenou a atitude dos dois amigos.


SINHANA  -  Deus é bom. Deus é justo e deu felicidade aos dois, hoje. Não tinham o direito de pisá na Lara. Ter um pai como Pedro Barros já é um castigo prela.

Rodrigo e Jerônimo voltaram a encher as taças, enquanto de Coroado chegavam ruídos de foguetes riscando o céu na noite clara. A bandinha da prefeitura entoava o hino do Flamengo, homenagem ao ex-clube do irmão do prefeito. A noite se aprofundava, os galos cantavam e os grilos, em sintonia, anunciavam o toque de recolher. Os rapazes, esticados ao comprido, dormiam profundamente, sonhando com a estátua de ôlho furado, do dono de Coroado.

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA ABANDONADA  -  EXT.  -  NOITE.


Clemente galopou ligeiro e depois saltou do lombo do alazão.

CENA 3  -  CASA ABANDONADA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


CLEMENTE  -  Tu num sabe das nova? Trouxe uma garrafa de cachaça, da boa! Pra comemorá!

JOÃO  -  O quê? Pedro Barros bateu a bota?

CLEMENTE  -  Melhor que isso, turma!

JOÃO  -  Melhor que isso! Só se encontraro meu diamante!

CLEMENTE  -  (fazia mistério)  Nada disso...

JOÃO  -  Só se a sorte virô e o mano foi eleito prefeito de Coroado! Num me diga que é isso!

CLEMENTE  -  Dito e feito, home!

 João enrubesceu. E dando vazão á alegria, saltou com as pernas encolhidas, as mesmo tempo que berrava, para que todos ouvissem:

JOÃO  -  Ei! Minha gente! Vem cá todo mundo beber! O mano foi ganhador das eleição. É o novo prefeito de Coroado! Tamo com tudo, gente! Tem bebida pra todo mundo!

ANTONIO  -  Tamo com o cachorro da sorte!  Jeromo prefeito, as coisa correm bem pra gente.

O grupo marginalizado ergueu copos de latão e flandres, em saudação á vitória do irmão do chefe. Mais um Coragem na ordem do dia...

JOÃO  -  (a Clemente)  Como é que tu soube?

CLEMENTE  -  Dei um pulo na cidade. A única notícia triste vem da parte do Braz. Tão maltratando ele, na cadeia. Ouvi isto da boca de muita gente.

LÁZARO  -  E a gente não vai fazê nada pra salvá ele?

JOÃO  -  Vamo... claro que vamo! Me deixa pensá, gente... deixa pensá... tem que sê de um jeito... que a gente não pode errá.

Os garimpeiros dispersaram-se em várias direções, peitos nus, pés descalços. A noite não trazia presentes, como a luz do sol. Garimpo não dava bamburra em noite escura.

João Coragem permaneceu meditando. Obrigando-se a organizar um plano de ação, eficiente e simples, com vistas a retirar o negro das mãos do fantoche de Pedro Barros: o delegado Diogo Falcão. Á luz das velas, João Coragem começou a rabiscar traços num papel de pão. A cadeia de Coroado, as ruas de acesso. E os locais de fácil visão da delegacia. O esquema tinha de surtir efeito. Braz era valioso demais para permanecer nas mãos odientas dos homens de Pedro Barros.

CORTA PARA:


CENA 4  -  COROADO  -  PRAÇA  -  EXT.  -  NOITE.

De todas as povoações da região chegavam sertanejos para assistirem ás festas comemorativas da vitória de Jerônimo Coragem, o prefeito mais moço de toda a zona diamantífera. Falcão impacientava-se diante da alegria da gente humilde.

O cantador havia chegado de Bom Jesus da Lapa, famoso em todo o São Francisco pelos seus repentes. Ungulino do Cariri polarizava as atenções no centro da praça, acompanhando-se à viola.


Pedro Barros achegou-se, lento, com um chicote na mão, a vergastar a calça de casimira azul.

PEDRO BARROS  -  Eu sinto... muito... terminar com uma festa tão bonita. Afinal de contas... eu devia ter vindo aqui pra cumprimentar o novo prefeito desta cidade. Infelizmente, as novidades que a gente trouxe, são outras, bem diferentes. Fala você, Falcão!

DELEGADO FALCÃO  -  É que... o novo prefeito... infelizmente, repito, é irmão de um assassino, foragido da justiça. Todo mundo sabe. E este foragido faz questão de manter esta pobre cidade em constante pânico. E o irmão dele, como prefeito, não vai poder fazer nada contra isso, porque são irmãos!

A pequena multidão ouvia atenta as argumentações do delegado. Havia inquietação entre os partidários do prefeito.


JERÔNIMO  -  Todo mundo sabe que eu tou contra João. (replicou, exaltado, dedo em riste, dirigindo-se mais aos homens que ali se achavam, do que ao coronel e seu aliado policial)  E vou acabar com tudo quanto é pouca-vergonha, aqui. Seja da parte dele, seja da parte de quem for.

PEDRO BARROS  -  Muito bem. Então... seu novo prefeito... vai ajudar a gente a esperar seu próprio irmão amanhã... pra agarrar ele... quando ele chegar pra fazer o que prometeu em Coroado!

JERÔNIMO  -  (berrou, colérico, com a face rubra e os olhos cintilantes)  Mentira dele, gente!

PEDRO BARROS  -  Mostra, Falcão!

A autoridade apresentou ao povo um pequeno papel amarrotado e sujo.

DELEGADO FALCÃO  -  Tá aqui, gente! O novo desafio de João! Não fui eu que inventei, nem falsifiquei a letra dele! Tá aqui, vejam!

Um por um os homens observaram o bilhete nas mãos do delegado. Jerônimo pegou-o e entregou-o ao promotor. Pedro Barros reiniciou a discussão.


PEDRO BARROS  -  Se é verdade que o novo prefeito está contra o irmão, nós todos exigimos... que ele mesmo... escolha os homens... voluntários... que queiram ajudar a agarrar o João, conforme o prometido!

Jerônimo buscou ajuda nos olhos do amigo. Diante dele dezenas de outros olhos acusadores, exigiam uma decisão urgente. Com as mãos trêmulas, o rapaz apontou a multidão.


JERÔNIMO  -  Quem quiser ir... que dê um passo á frente... Você. (outro sujeito apresentou-se)  Você... você... você.

DELEGADO FALCÃO  -  Você também, Valdemar... e você, Juquinha... olha aí, gente... não tou obrigando ninguém.

PEDRO BARROS  -  (rodando o chicote nas mãos)  Todos estão de acordo em que é preciso acabar esse clima de terror na cidade, ou não estão?

DELEGADO FALCÃO  -   O prefeito tem que ajudar a gente!

JERÔNIMO  -  Só peço que tenham cuidado com a vida dele. É de direito que ele seja preso e que aguarde julgamento. Não é direito que matem ele.

PEDRO BARROS  -  (berrou)  Mas... eu quero ele, vivo ou morto! Se um de vocês pegá ele, tem 5 milhões. Cinco por ele morto; 10 por ele vivo. Estamos entendidos?

RODRIGO  -  Com que direito o senhor faz exigencias desse tipo, seu Barros? Não é autoridade policial. Não é autoridade judicial. Não é nada. Acho que Coroado tem prefeito, juiz, promotor e por último um delegado. A esse é que cabe zelar pela segurança e exigir em nome da lei. Não lhe reconheço nenhuma autoridade. E a oferta que está fazendo é um estímulo ao crime. Posso prendê-lo por isso...

Barros cerrou os dentes e procurou refúgio nas palavras do delegado, que argumentou:

DELEGADO FALCÃO  -  A verdade é que o coronel está sèriamente ameaçado e tem de se proteger. Vocês entendem. O João prometeu vir pegar o Braz, amanhã, ás 5 horas. A gente espera ele, rodeando a cidade, todo mundo armado. Por isso, preciso de vocês. Vamos ver se ele cumpre a palavra! Agora, vamos indo até a delegacia. Tenho umas ordens para dar a vocês...

PEDRO BARROS  -  Vai indo. Eu já vou já, Falcão.

Pedro Barros parecia, àquela altura, o verdadeiro xerife da cidade. Os homens espalharam-se, permanecendo apenas Barros, Rodrigo e o prefeito. O coronel aproximou-se dos inimigos.

PEDRO BARROS  -  Parece que a gente agora vai enfrentar a mesma luta, Jerônimo... A vida jogou a gente de um lado só!

JERÔNIMO  -  (blasfemou)  Do seu lato eu não estou, nem que fosse do lado de Jesus Cristo!

PEDRO BARROS  -  (voltou-se para o promotor)  E você pensa que me derrubou, Rodrigo?

RODRIGO  -  Ainda não.  Isto é apenas o começo.

PEDRO BARROS  -  Sabe que se eu tivesse medo das suas ameaças já tinha mandado você pro outro mundo?

RODRIGO  -  Não tenho a menor dúvida. Sei que o senhor é um assassino. Há muitos anos...

PEDRO BARROS  -  (cortou)  Estamos num jogo. Num jogo interessante. Eu, João, Jerônimo e você. Eu fico com Jerônimo.

RODRIGO  -  Contra você eu fico até com João, se for o caso.

PEDRO BARROS  -  (sorria, cínico, calculista)  Você se meteu numa enrascada, doutorzinho!

FIM DO CAPÍTULO  78
Lázaro (Dary Reis) e Braz (Milton Gonçalves)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** O PLANO DE JOÃO DÁ CERTO E CONSEGUE RESGATAR BRAZ DA PRISÃO, DEIXANDO PEDRO BARROS E FALCÃO ATRÁS DAS GRADES!

*** PEDRO BARROS REÚNE SEUS CAPANGAS PARA IR ATRÁS DE JOÃO!

 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 79 DE

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