segunda-feira, 10 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 81


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 81
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
PADRE BENTO
JOÃO
DELEGADO FALCÃO
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
RODRIGO
INDAIÁ
JERÔNIMO
POTIRA

CENA 1  -  MORRINHOS  -  HOTEL CENTRAL  -  QUARTO DE FALCÃO  -  INT.  -  NOITE.

Por um breve instante o aço brilhou á luz mortiça do quarto do hotel. O pé do garimpeiro esmagava o peito do delegado, caído ao solo, submisso e trêmulo. João curvou-se no gesto estremo de espetar o punhal na garganta do inimigo. O braço ia descer, impiedoso, mas em fração de segundo, ficou retido no ar, como se parado por estranha força sobrenatural. Ele voltou a cabeça assustado, para encarar um rosto conhecido.


PADRE BENTO  -       Está maluco, João?

Padre Bento segurava firme o punho ameaçador, impedindo a descida fatal. A mão do foragido tremia.


JOÃO  -  (implorou, ofegante) Me solta, padre! Esse bandido tem que morrê!

PADRE BENTO  -  (autoritário)  Se você nunca matou ninguém, não perca sua alma agora. Entregue-se e defenda-se!

JOÃO  -  Vou embora, padre... não lhe perdôo por isso. Eu vou... mas danado com Deus que botô o senhô no meu caminho!

Afrouxando a pressão do pé, João libertou o corpo de Falcão e, num átimo, desapareceu pela porta do quarto.

CENA 2  -  HOTEL CENTRAL  -  PORTARIA  -  INT.  -  NOITE.


João avançou estreito corredor do hotel, ladeado por uma parede pintada de rosa e por dezenas de quartos enfileirados, de portas azuis. Lara assistia, incrédula, à descida alucinada do marido. Os olhos de ambos se encontraram á entrada do estabelecimento.


MARIA DE LARA  -  João! O que está acontecendo?

JOÃO  -  Você... você e esse delegado... tem cuidado! Eu dou cabo, também, de você!

DELEGADO FALCÃO  -  (gritava, do interior, esbaforido)  Agarrem ele! Não deixem ele sair!

João olhou com raiva a mulher e saiu apressado pela rua empoeirada que confluenciava com a estrada principal de Morrinhos. Ao alto, num pequeno outeiro, as luzes da matriz contilavam ofuscando o brilho das estrelas. Lara encostou-se, aflita, ao corrimão da escada. Padre Bento aproximou-se, a passos lentos.

PADRE BENTO  -  Não se assuste, Lara, já passou. Ele tentou matar o delegado. Ouvi tiros... me levantei assustado, a tempo de evitar o crime. João estava se preparando para matá-lo. E o teria feito se eu não tivesse segurado a mão dele!

MARIA DE LARA  -  (não entendia)  Por que... por que João está tão fora de si?

PADRE BENTO  - (ficou indeciso, mas não podia mentir)  Um homem... na situação dele, já não tem controle de suas próprias emoções. Soube que você estava aqui... chegou... viu o delegado... bem... sei lá o que pensou!

MARIA DE LARA  -  Isto é absurdo... eu não tenho culpa se o delegado veio...

PADRE BENTO  -  Eu sei que você não tem. Mas, é preciso que entenda. João não está em condições de destinguir o bem do mal. No seu modo de ver, só reconhece o mal. (segurou as mãos da moça)  Você terá oportunidade de se defender, minha filha. Tenha fé em Deus.

O delegado voltava, cansado, guardando a arma no coldre, depois de procurar o garimpeiro nas imediações do hotel.


DELEGADO FALCÃO  -  É, padre, agora o negócio ficou mais sério. Já não tenho dúvida. Um de nós tem que dar sumiço deste mundo. Aqui... não há lugar para nós dois.

CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  INT.  -  DIA.

Pedro Barros acendeu o charuto, calmamente, após o almoço. Desde a madrugada, uma forte chuva lavava toda a região castigada durante meses por uma estiagem desalentadora. E os céus continuavam despejando torrentes de água sobre a terra ressequida do sertão.

Falcão aproximou-se da janela, ao ouvir o barulho surdo de um veículo e, logo após, a pancada seca da porta que se fechava. Fez sinal ao coronel, alertando-o. Algum importuno, pensou Barros, que se ajeitou no sofá largo.


Sem maiores preâmbulos, Rodrigo foi direto ao assunto, com Indaiá aflita, a seu lado.


RODRIGO  -  Vim pedir seu auxílio, delegado, para encontrar minha mulher.

DELEGADO FALCÃO  -  Que foi que houve com Potira?

INDAIÁ  -  Desapareceu!

RODRIGO  -  Calma.  Não é nada disso. Estávamos acampados longe daqui... pros lados do garimpo dos Coragem. Depois (apontou para o céu)   começou a chover, a princípio sem intensidade, a seguir o toró se formou e caiu uma carga de amedrontar. Potira saiu em busca de abrigo... Já a procuramos em todos os lugares possíveis pelas redondezas e não vimos a menor pista. A tarde vai cair daqui a pouco; virá a noite e ela está desaparecida, seguramente, há umas 5 horas. Já estou começando a ficar preocupado.

PEDRO BARROS  -  (lançou a semente da desconfiança)  Jerônimo Coragem deve saber onde ela anda.

RODRIGO  -  (esclareceu, ignorando a instigação)  Jerônimo tava comigo e ajudou a procurar.

INDAIÁ  -  (com os cabelos molhados e a face pálida)  Ele voltou pra ver se acha ela...

RODRIGO  -  (voltou a solicitar, humilde)  O senhor pode me ajudar, delegado?

Falcão olhou de esguelha para o velho chefe.

DELEGADO FALCÃO  -  (com ares dramáticos)  Bem... com muito prazer... vou mandar uns homens procurar Potira... eu mesmo vou comandar eles...

PEDRO BARROS  -  Se precisar do meu auxílio...

Pedro Barros despejou uma fumaça azulada e densa que subiu ao teto e se desfez como as esperanças dos seus inimigos.

CORTA PARA:

CENA 4  -  GARIMPO DOS CORAGEM  -  GRUNA  -  INT.  -  DIA.

Depois da luz prateada do relâmpago, os trovões pipocavam, rachando a cobertura dos céus com a violencia dos estrondos. A água voltava a cair caudalosa das cataratas de São Pedro. Dentro da gruna o eco dos ribombos misturava-se aos suspiros medrosos da mestiça. Potira, encolhida a um canto, abrigava-se da chuva e do vento. Recordava das palavras de Jerônimo, tempos atrás: “Mulhé num entra em gruna! Nem padre, porque usa saia!” Um clarão mais forte iluminou as paredes úmidas da gruta. A moça levantou-se assustada. Reconhecera o vulto silhuetado pelo relâmpago.


POTIRA  -  Jeromo!

O jovem prefeito tinha as feições endurecidas e as vestes totalmente encharcadas. A água escorria dos cabelos, colados á testa e ao rosto, dando-lhe o aspecto de um náufrago atirado á praia.


JERÔNIMO  -  (falou, enérgico)  Sabia que ia... te encontrar aqui!

Encararam-se, frente a frente. O foco da lanterna de pilha iluminava o rosto sensual da índia.

POTIRA  -  E eu... sabia que tu vinha me buscá!

Jerônimo correu a mão pela roupa ensopada.


JERÔNIMO  -  Se sabia, tanto melhor. Vamos simbora daqui!

POTIRA  -  (recusou-se)  Não vou. Quero ficá!

JERÔNIMO  -  Teu marido tá feito louco te esperando (apelou)  Anda. Vem. Eu te levo. (a chuva se intensificara e o temporal alcançava o auge)  Tá querendo encrencar mais a minha vida?

POTIRA  -  A minha vida não é a tua. Pode dá o fora se tem medo de se comprometê.

JERÔNIMO  -  Não é isso, índia (falou, procurando acalmá-la)  é que esta gruna tá pondo em perigo a minha vida e a sua. Depois que meu irmão achou o diamante e se escondeu da polícia, ela foi condenada. Vai desabar a qualquer momento!

POTIRA  -  Eu fico. Tu num é obrigado a morrê comigo. Pode ir embora.

JERÔNIMO  -  Acha que eu vou fazer isso com ocê?

POTIRA  -  Era melhor, num era? Acabava a tentação de tua vida... acabava tudo... tudo quanto era problema.

JERÔNIMO  -  (fitou-a com piedade)  Índia... tu gosta tanto assim... de mim?

Ela não respondeu, apenas se voltou e encarou o rapaz, com olhos semicerrados de desejo. Um raio desenhou um risco sinuoso nos céus e derrubou o galho secular da árvore frondosa que servia de tenda aos garimpeiros, nos dias de calor escaldante. O vento assobiava nas frondes do arvoredo, numa sinfonia amedrontadora. As águas penetravam assustadoramente pela boca da gruna. De repente as vigas dançaram na base e, após alguns segundos de inclinação, ruíram, trazendo ao solo toneladas de terra. O ruído ensurdeceu os ouvidos do casal. Toda a entrada da gruna transformara-se numa parede compacta de terra negra e rochas despedaçadas. Agora, o silencio era total, o ar menos renovado e a escuridão atenuada apenas pelo foco da lanterna elétrica. A morte parecia certa.

CORTA PARA:

CENA 5  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Juca Cipó entrou atropelando tudo. Móveis e gente.


JUCA CIPÓ  -  Eu vi! Eu vi!

PEDRO BARROS  -  (ergueu-se, impulsionado pelo interesse)  Viu o quê?

JUCA CIPÓ  -  Os dois tão lá! Na gruna. Desabô. Eu vi! Ninguém mais pode entrá. Os dois vão morrê!

PEDRO BARROS  -  (com energia)  Deixa de conversa fiada, moleque! Conta logo a história!

JUCA CIPÓ  -  Depois da discussão das duas moça, Potira saiu correndo, enquanto Margarida chamava ela: “Vorta, doida! Vorta!” Ela nem deu trela. Correu pra gruna. Queria morrê. Ela sabia que a gruna tava condenada. Eu fiquei só esperando ela saí. Mas num saía nunca, a disgramada. Dispois de um tempão vi que Jeromo se aproximava da gruna... e entrô também. (o coronel remexia-se, impaciente)  Ele entrô e os dois ficaro lá. Num demorô... e a entrada da gruna... se fechô. Desabô uma porção de troço... caiu, caiu, caiu! E os dois ficaro preso lá dentro!

A mente do coronel trabalhava em ritmo de computador á procura de um motivo, de uma oportunidade que o levasse a recomandar as engrenagens, agora, muito mais nas mãos dos inimigos. Ali estava a chance sonhada.


PEDRO BARROS  -  Ninguém mais precisa sabê disso... a não ser nós três! Vem comigo, Juca. Você, Mingas, fecha o bico.

FIM DO CAPÍTULO  81
Potira e Jerônimo estão presos na gruna!

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** JERÔNIMO E POTIRA, ACREDITANDO QUE VÃO MORRER, AMAM-SE NO INTERIOR DA GRUTA.

*** NASCE O FILHO DE DUDA E RITINHA!

 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 82 DE



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