Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 100
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
CEMA
BRAZ
POTIRA
RODRIGO
DELEGADO FALCÃO
DR. MACIEL
PEDRO BARROS
JERÔNIMO
LÍDIA
MÁRCIA
CENA 1 - ALDEIA - EXT. - ANOITECER.
João olhou mais uma vez a estrada que se perdia no meio das árvores distantes. O sol começava a cair no poente, tingindo o céu de várias tonalidades. A mata principiava a dormir. Pássaros e aves maiores ganhavam o espaço à procura dos ninhos. E um friozinho agradável arrepiava a pele dos foragidos.
JOÃO - (sempre olhando o infinito, perguntou à mulher de Braz Canoeiro) Minha mulher, nada?
CEMA - Não, João... ainda não. Mas tu espera que... ela num demora.
JOÃO - Espero sentado, que em pé eu canso. Ela te tapeou, Cema. Ela num volta nunca mais. Tu vai vê.
CEMA - Seja pessimista, não, Jão!
JOÃO - Ela tava preparano isso tanto tempo, gente! Pois taí. Num volta mais, não!
Braz interveio, à procura de uma palavra de conforto. Sentia a extensão da dor que consumia o amigo. As eternas escapadas de Lara... Diana... Márcia.
BRAZ - João... o que tu quer que a gente faça?
JOÃO - Deixa o Clemente voltá com a resposta do Jeromo. Se Jeromo qué, a gente toma conta do trabalho da água durante a noite. E eu duvido que algum cabra do Pedro Barros se atreva a se aproximá da gente!
CEMA - (lembrou) E o Alberto?
JOÃO - Falcão deve de ta preparano algum plano pra gente ir tirá ele de lá. Agarrô mais o Alberto por isso. Pra servi de isca. Senão ele tinha se preocupado um pouco mais comigo...
BRAZ - A gente num vai fazê nada por Alberto?
JOÃO - A gente faz sim ... num é já. É preciso encontrá o jeito, uma solução... uma coisa que Falcão nem sonha.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - INT. - NOITE.
Potira abriu a porta, atendendo às pancadas que vinham da parte externa. Seus olhos se abriram como nunca e uma alegria diferente a invadiu sem que pudesse conter-se. Rodrigo estava à sua frente. De terno branco, barba feita e o bigode bem aparado, como de hábito.
POTIRA - Rodrigo!
RODRIGO - (seco, sem dar demonstração de alegria) O que é que você está fazendo aqui?
POTIRA - Ritinha... tá fazendo serão na prefeitura. Eu vim ficar com a menina. O doutô tá na cadeia.
RODRIGO - Eu sei que o doutor está na cadeia. Vim aqui justamente para avisar Ritinha que vou tirar o pai dela, agora, de lá.
POTIRA - Que bom! Ela vai ficar satisfeita.
RODRIGO - Se ela chegar, avise...
O promotor ameaçou retirar-se. A mulher chamou-o com humildade.
POTIRA - Rodrigo... (ele voltou instantâneamente) Você nem perguntou se eu fiquei curada... (sem dar resposta, o jovem procurou a porta de saída) Rodrigo... você nem me disse se já me perdoou...
Não havia o que dizer. Rodrigo abandonou a residência do médico sem atender aos propósitos de reconciliação da esposa.
CORTA PARA:
CENA 3 - DELEGACIA - CELA DO DR. MACIEL - INT. - NOITE.
Falcão abriu a porta da cela. O ferro rangeu nas dobradiças enferrujadas e deu liberdade ao velho e viciado médico de Coroado. Rodrigo acompanhava atento os movimentos do delegado. Ao lado um preso negro e repelente , com vestes encardidas e os dentes roídos pelas cáries, cantava.
RODRIGO - Vamos embora?
Com a brutalidade peculiar aos policiais, Falcão empurrou o médico.
DELEGADO FALCÃO - Vai e não fala muito. Senão eu resolvo te deixar aí até quando eu quiser.
RODRIGO - Você sabe que não tem argumentos para isso, Falcão.
DELEGADO FALCÃO - É... ele até que teve sorte... a vítima não deu queixa... até já foi embora.
RODRIGO - É. A vítima era um santo em figura de gente. (mudando de tom) Vamos deixar de conversa fiada. O senhor está livre, Dr. Maciel.
Pela primeira vez o médico se dirigiu de maneira superior ao delegado da cidade.
DR. MACIEL - Você se aproveitou da minha fraqueza. Bateu no meu rosto. No rosto de um homem de bem. Deus o castigará por isso.
Um sorriso irônico abria os lábios grosseiros do policial.
RODRIGO - E Alberto?
DELEGADO FALCÃO - Deixa ele comigo (falou, com os dentes cerrados de raiva) Deixa ele que contra esse as provas são mais concretas. Ele vai ser julgado como João Coragem, se Deus quiser.
Diogo Falcão voltou-se para a imagem de Cristo, pregada no topo de uma pilastra e se benzeu teatralmente.
Rodrigo olhou a cena horrorizado. Maciel fechou a carranca.
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - PRAÇA - EXT. - DIA.
A luta estava declarada entre os homens do coronel e o grupo de abnegados, reunido pelo prefeito. Jerônimo se prometera construir nova canalização para a cidade. Coroado teria água potável dentro de pouco tempo. Os tiroteios se sucediam nas margens do rio, porém os trabalhos prosseguiam lentos, mas produtivos.
Nem sempre as hostilidades resultavam em fracasso para os jagunços do coronel. Muita vez eles destruíam o que os homens laboriosamente haviam construído durante o dia.
Pedro Barros planejara uma tirada a mais, na sua longa lista de tramas, em prejuízo do prefeito. Reunira-se no centro da pracinha, rodeado de curiosos e capangas assalariados. Ao lado um monstrengo pouco conhecido na cidadezinha: um carro-pipa. O coronel subiu a uma cadeira e, enquanto seus homens distribuíam água à população, ajudado por um amplificador, falava com gesticulação dramática:
PEDRO BARROS - “Gente boa da minha terra. Meu povo! Tou aqui e tou estendendo a minha mão pra todos vocês. Eu num podia faltar numa hora destas, em que falhou escandalosamente a proteção do sujeito que se diz prefeito desta cidade, desta pobre cidade abandonada! (aguardou os olhares de aprovação dos presentes) A água taí! (abriu os braços mostrando o carro-pipa) Num vai faltá água pra vocês. Tou aqui zelando por todos os residentes da minha cidade. Bem sabem que podem confiar em mim. Todos conhecem meu passado. E a minha luta para dar a todos vocês conforto e felicidade. Eu quis provar, também, é que aqui ninguém faz nada. Ninguém tem competência pra nada! Ai de Coroado se num fosse Pedro Barros!”
Da sede da prefeitura Jerônimo e vários de seus auxiliares observavam a atitude demagógica do velho.
JERÔNIMO - Eu vou lá... eu mato esse sujeito à-toa!
LÍDIA - É isso que ele quer (ponderou, com a mão segurando a do marido) Quer te levar ao desespero. Tem calma, Jerônimo. Vamos embora daqui.
JERÔNIMO - Mas eu preciso... preciso fazer alguma coisa!
No meio da praça o clamor aumentara. Lázaro comandava os trabalhos dos aguadeiros. E o coronel sorria, retirando densas fumaçadas do charuto grosso e de boa qualidade.
Algumas pessoas mais entusiasmadas ensaiavam vivas ao “Seu Coronel Pedro Barros, o dono de Coroado!”
CORTA PARA:
CENA 5 - ALDEIA - CHOUPANA - INT. - DIA.
As pequenas pedras acumulavam-se sobre a mesa rústica, enquanto João selecionava os vários tipos. Fruto de muitos meses de trabalho duro.
CEMA - (entrou alegre, quase aos pulos) João, adivinha quem ta aí?
JOÃO - Sei lá, Cema! Sou adivinho?
CEMA - Mas fala! Uma pessoa que tu deseja muito!
JOÃO - Ah, deixa de brincadeira! Brincadeira tem hora, Cema. Num tou aqui pra servi de palhaço pra ninguém, não!
CEMA - (piscando um olho) Arrisca um bom pensamento!
João Coragem parou o serviço e recolheu as pedras a uma bolsinha de couro cru.
JOÃO - Tu tá falano sério, mulher?
CEMA - Ia menti, João? Tu me conhece, num conhece?
Sem aguardar maiores detalhes, o grandalhão arremessou-se na direção do quarto.
CENA 6 - CHOUPANA - QUARTO - INT. - DIA.
JOÃO - Márcia! Márcia!
Márcia retirava as roupas que trouxera de Coroado numa maleta de couro. Voltou-se ao ouvir os berros do marido. Não houve tempo para explicações. Os braços abriram e a mulher aninhou-se entre eles. Os lábios uniram-se mais uma vez, selando um amor que força nenhuma conseguia destruir.
Meio sufocada, Márcia separou seus lábios dos do marido.
JOÃO - Ia te buscá, malvada...
MÁRCIA - Pensou que eu não voltasse?
JOÃO - Pensei.
MÁRCIA - Pensou que eu não gostasse mais de você?
JOÃO - Pensei. Pensei o pior de você...
MÁRCIA - Já estou perdoada? (perguntou, passando a unha de leve pela linha dos lábios do marido).
JOÃO - Tá, com a condição de nunca mais falá em separação...
MÁRCIA - Não falo mais, amor (respondeu, mordiscando o queixo do rapaz).
JOÃO - Então jura...
MÁRCIA - Até o dia... em que tiver de ir para sempre.
JOÃO - Esse dia nunca vai chegá.
MÁRCIA - Vai, João... vai chegar, sim... e temos que estar preparados.
JOÃO - Você num larga mais de mim. Você quis fazê uma experiência e voltô. Tá amarrada em mim... pro resto da vida... confessa... eu quero ver você confessá.
Lara ou Márcia ou Diana, lá quem fosse, sorria ante as palavras simples e ingênuas de um homem tão forte e decidido.
CORTA PARA:
CENA 7 - COROADO - CIDADE - EXT. - DIA.
O sol queimava. Os homens pareciam formar um só corpo. Suor, sangue, esforço. Uma semana de trabalhos terrìvelmente duros estava chegando ao fim. Jerônimo e João aguardavam o sinal de Braz, afastado no extremo da margem. De repente o negro levantou o braço e o prefeito acionou a alavanca, de ferro fundido, pintada de vermelho-vivo. Em todas as torneiras da cidade a água começou a jorrar. A princípio escura, barrenta, com forte precipitação terrosa. A seguir a água mudou de cor, amarelou, embranqueceu. Tornou-se límpida, incolor. Coroado voltava a ter água potável, sem necessidade do dinheiro ou da interferência do Coronel Pedro Barros. Jorrava água no hotel do Gentil. Na sede da prefeitura. Nos lares. Nos bares e clubes. O ruído da água era como uma música maravilhosa.
CENA 8 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - COZINHA - INT. - DIA.
Na casa do Dr. Maciel, um grito levou o médico a derrubar uma pipeta no chão.
POTIRA - Indaiááá! Seu doutô! (berrava) Tá chegando água. Coroado num tem mais seca. Jeromo venceu! Jeromo venceu!
A água que jorrava dos canos confundia-se com a água que corria dos olhos alegres da população.
*** Na aldeia, Márcia descobre que tem uma rival, Nita, apaixonada por João e capaz de odiá-la com todas as forças por ciúmes do garimpeiro.
*** Nita serve um chá para Márcia, e substitui açúcar por terra! Márcia é equilibrada e tenta entender a mulher, mas Diana não, e retorna pronta para vingar-se, atacando Nita como uma fera!
João olhou mais uma vez a estrada que se perdia no meio das árvores distantes. O sol começava a cair no poente, tingindo o céu de várias tonalidades. A mata principiava a dormir. Pássaros e aves maiores ganhavam o espaço à procura dos ninhos. E um friozinho agradável arrepiava a pele dos foragidos.
JOÃO - (sempre olhando o infinito, perguntou à mulher de Braz Canoeiro) Minha mulher, nada?
CEMA - Não, João... ainda não. Mas tu espera que... ela num demora.
JOÃO - Espero sentado, que em pé eu canso. Ela te tapeou, Cema. Ela num volta nunca mais. Tu vai vê.
CEMA - Seja pessimista, não, Jão!
JOÃO - Ela tava preparano isso tanto tempo, gente! Pois taí. Num volta mais, não!
Braz interveio, à procura de uma palavra de conforto. Sentia a extensão da dor que consumia o amigo. As eternas escapadas de Lara... Diana... Márcia.
BRAZ - João... o que tu quer que a gente faça?
JOÃO - Deixa o Clemente voltá com a resposta do Jeromo. Se Jeromo qué, a gente toma conta do trabalho da água durante a noite. E eu duvido que algum cabra do Pedro Barros se atreva a se aproximá da gente!
CEMA - (lembrou) E o Alberto?
JOÃO - Falcão deve de ta preparano algum plano pra gente ir tirá ele de lá. Agarrô mais o Alberto por isso. Pra servi de isca. Senão ele tinha se preocupado um pouco mais comigo...
BRAZ - A gente num vai fazê nada por Alberto?
JOÃO - A gente faz sim ... num é já. É preciso encontrá o jeito, uma solução... uma coisa que Falcão nem sonha.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - INT. - NOITE.
Potira abriu a porta, atendendo às pancadas que vinham da parte externa. Seus olhos se abriram como nunca e uma alegria diferente a invadiu sem que pudesse conter-se. Rodrigo estava à sua frente. De terno branco, barba feita e o bigode bem aparado, como de hábito.
POTIRA - Rodrigo!
RODRIGO - (seco, sem dar demonstração de alegria) O que é que você está fazendo aqui?
POTIRA - Ritinha... tá fazendo serão na prefeitura. Eu vim ficar com a menina. O doutô tá na cadeia.
RODRIGO - Eu sei que o doutor está na cadeia. Vim aqui justamente para avisar Ritinha que vou tirar o pai dela, agora, de lá.
POTIRA - Que bom! Ela vai ficar satisfeita.
RODRIGO - Se ela chegar, avise...
O promotor ameaçou retirar-se. A mulher chamou-o com humildade.
POTIRA - Rodrigo... (ele voltou instantâneamente) Você nem perguntou se eu fiquei curada... (sem dar resposta, o jovem procurou a porta de saída) Rodrigo... você nem me disse se já me perdoou...
Não havia o que dizer. Rodrigo abandonou a residência do médico sem atender aos propósitos de reconciliação da esposa.
CORTA PARA:
CENA 3 - DELEGACIA - CELA DO DR. MACIEL - INT. - NOITE.
Falcão abriu a porta da cela. O ferro rangeu nas dobradiças enferrujadas e deu liberdade ao velho e viciado médico de Coroado. Rodrigo acompanhava atento os movimentos do delegado. Ao lado um preso negro e repelente , com vestes encardidas e os dentes roídos pelas cáries, cantava.
RODRIGO - Vamos embora?
Com a brutalidade peculiar aos policiais, Falcão empurrou o médico.
DELEGADO FALCÃO - Vai e não fala muito. Senão eu resolvo te deixar aí até quando eu quiser.
RODRIGO - Você sabe que não tem argumentos para isso, Falcão.
DELEGADO FALCÃO - É... ele até que teve sorte... a vítima não deu queixa... até já foi embora.
RODRIGO - É. A vítima era um santo em figura de gente. (mudando de tom) Vamos deixar de conversa fiada. O senhor está livre, Dr. Maciel.
Pela primeira vez o médico se dirigiu de maneira superior ao delegado da cidade.
DR. MACIEL - Você se aproveitou da minha fraqueza. Bateu no meu rosto. No rosto de um homem de bem. Deus o castigará por isso.
Um sorriso irônico abria os lábios grosseiros do policial.
RODRIGO - E Alberto?
DELEGADO FALCÃO - Deixa ele comigo (falou, com os dentes cerrados de raiva) Deixa ele que contra esse as provas são mais concretas. Ele vai ser julgado como João Coragem, se Deus quiser.
Diogo Falcão voltou-se para a imagem de Cristo, pregada no topo de uma pilastra e se benzeu teatralmente.
Rodrigo olhou a cena horrorizado. Maciel fechou a carranca.
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - PRAÇA - EXT. - DIA.
A luta estava declarada entre os homens do coronel e o grupo de abnegados, reunido pelo prefeito. Jerônimo se prometera construir nova canalização para a cidade. Coroado teria água potável dentro de pouco tempo. Os tiroteios se sucediam nas margens do rio, porém os trabalhos prosseguiam lentos, mas produtivos.
Nem sempre as hostilidades resultavam em fracasso para os jagunços do coronel. Muita vez eles destruíam o que os homens laboriosamente haviam construído durante o dia.
Pedro Barros planejara uma tirada a mais, na sua longa lista de tramas, em prejuízo do prefeito. Reunira-se no centro da pracinha, rodeado de curiosos e capangas assalariados. Ao lado um monstrengo pouco conhecido na cidadezinha: um carro-pipa. O coronel subiu a uma cadeira e, enquanto seus homens distribuíam água à população, ajudado por um amplificador, falava com gesticulação dramática:
PEDRO BARROS - “Gente boa da minha terra. Meu povo! Tou aqui e tou estendendo a minha mão pra todos vocês. Eu num podia faltar numa hora destas, em que falhou escandalosamente a proteção do sujeito que se diz prefeito desta cidade, desta pobre cidade abandonada! (aguardou os olhares de aprovação dos presentes) A água taí! (abriu os braços mostrando o carro-pipa) Num vai faltá água pra vocês. Tou aqui zelando por todos os residentes da minha cidade. Bem sabem que podem confiar em mim. Todos conhecem meu passado. E a minha luta para dar a todos vocês conforto e felicidade. Eu quis provar, também, é que aqui ninguém faz nada. Ninguém tem competência pra nada! Ai de Coroado se num fosse Pedro Barros!”
Da sede da prefeitura Jerônimo e vários de seus auxiliares observavam a atitude demagógica do velho.
JERÔNIMO - Eu vou lá... eu mato esse sujeito à-toa!
LÍDIA - É isso que ele quer (ponderou, com a mão segurando a do marido) Quer te levar ao desespero. Tem calma, Jerônimo. Vamos embora daqui.
JERÔNIMO - Mas eu preciso... preciso fazer alguma coisa!
No meio da praça o clamor aumentara. Lázaro comandava os trabalhos dos aguadeiros. E o coronel sorria, retirando densas fumaçadas do charuto grosso e de boa qualidade.
Algumas pessoas mais entusiasmadas ensaiavam vivas ao “Seu Coronel Pedro Barros, o dono de Coroado!”
CORTA PARA:
CENA 5 - ALDEIA - CHOUPANA - INT. - DIA.
As pequenas pedras acumulavam-se sobre a mesa rústica, enquanto João selecionava os vários tipos. Fruto de muitos meses de trabalho duro.
CEMA - (entrou alegre, quase aos pulos) João, adivinha quem ta aí?
JOÃO - Sei lá, Cema! Sou adivinho?
CEMA - Mas fala! Uma pessoa que tu deseja muito!
JOÃO - Ah, deixa de brincadeira! Brincadeira tem hora, Cema. Num tou aqui pra servi de palhaço pra ninguém, não!
CEMA - (piscando um olho) Arrisca um bom pensamento!
João Coragem parou o serviço e recolheu as pedras a uma bolsinha de couro cru.
JOÃO - Tu tá falano sério, mulher?
CEMA - Ia menti, João? Tu me conhece, num conhece?
Sem aguardar maiores detalhes, o grandalhão arremessou-se na direção do quarto.
CENA 6 - CHOUPANA - QUARTO - INT. - DIA.
JOÃO - Márcia! Márcia!
Márcia retirava as roupas que trouxera de Coroado numa maleta de couro. Voltou-se ao ouvir os berros do marido. Não houve tempo para explicações. Os braços abriram e a mulher aninhou-se entre eles. Os lábios uniram-se mais uma vez, selando um amor que força nenhuma conseguia destruir.
Meio sufocada, Márcia separou seus lábios dos do marido.
JOÃO - Ia te buscá, malvada...
MÁRCIA - Pensou que eu não voltasse?
JOÃO - Pensei.
MÁRCIA - Pensou que eu não gostasse mais de você?
JOÃO - Pensei. Pensei o pior de você...
MÁRCIA - Já estou perdoada? (perguntou, passando a unha de leve pela linha dos lábios do marido).
JOÃO - Tá, com a condição de nunca mais falá em separação...
MÁRCIA - Não falo mais, amor (respondeu, mordiscando o queixo do rapaz).
JOÃO - Então jura...
MÁRCIA - Até o dia... em que tiver de ir para sempre.
JOÃO - Esse dia nunca vai chegá.
MÁRCIA - Vai, João... vai chegar, sim... e temos que estar preparados.
JOÃO - Você num larga mais de mim. Você quis fazê uma experiência e voltô. Tá amarrada em mim... pro resto da vida... confessa... eu quero ver você confessá.
Lara ou Márcia ou Diana, lá quem fosse, sorria ante as palavras simples e ingênuas de um homem tão forte e decidido.
CORTA PARA:
CENA 7 - COROADO - CIDADE - EXT. - DIA.
O sol queimava. Os homens pareciam formar um só corpo. Suor, sangue, esforço. Uma semana de trabalhos terrìvelmente duros estava chegando ao fim. Jerônimo e João aguardavam o sinal de Braz, afastado no extremo da margem. De repente o negro levantou o braço e o prefeito acionou a alavanca, de ferro fundido, pintada de vermelho-vivo. Em todas as torneiras da cidade a água começou a jorrar. A princípio escura, barrenta, com forte precipitação terrosa. A seguir a água mudou de cor, amarelou, embranqueceu. Tornou-se límpida, incolor. Coroado voltava a ter água potável, sem necessidade do dinheiro ou da interferência do Coronel Pedro Barros. Jorrava água no hotel do Gentil. Na sede da prefeitura. Nos lares. Nos bares e clubes. O ruído da água era como uma música maravilhosa.
CENA 8 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - COZINHA - INT. - DIA.
Na casa do Dr. Maciel, um grito levou o médico a derrubar uma pipeta no chão.
POTIRA - Indaiááá! Seu doutô! (berrava) Tá chegando água. Coroado num tem mais seca. Jeromo venceu! Jeromo venceu!
A água que jorrava dos canos confundia-se com a água que corria dos olhos alegres da população.
FIM DO CAPÍTULO 100
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** Na aldeia, Márcia descobre que tem uma rival, Nita, apaixonada por João e capaz de odiá-la com todas as forças por ciúmes do garimpeiro.
*** Nita serve um chá para Márcia, e substitui açúcar por terra! Márcia é equilibrada e tenta entender a mulher, mas Diana não, e retorna pronta para vingar-se, atacando Nita como uma fera!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 101 DE
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