Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 86
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
JUIZ DA COMARCA
DEPUTADO SIQUEIRA
PEDRO BARROS
JERÔNIMO
LÍDIA
RITINHA
DAMIÃO
CENA 1 - COROADO - PREFEITURA - AUDITÓRIO - INT. - NOITE.
O carrão de Duda, estacionado diante da prefeitura, chamava a atenção dos populares. Muito poucas vezes alguém cruzara as ruas da cidade com um automóvel moderno e luxuoso, como o do jogador. Lá dentro, tudo estava preparado para a posse do novo prefeito. “Gente bem arrumada, dentro dos ternos da missa ou do entêrro”, como se costumava dizer por aquelas bandas. Jerônimo surpreendeu-se com a presença do seu irmão e seu auxiliar, Dami.
DUDA - (sem maiores preâmbulos) Chegou a sua hora, mano. É o momento de você se definir. Ou se livra de uma vez de Pedro Barros... ou rompe de uma vez com aqueles que te querem bem. Você é o único dono de sua vontade!
A cerimônia começava. Formada a mesa. Jerônimo foi chamado pelo juiz, para sentar-se á direita do magistrado.
JUIZ DA COMARCA - (anunciou solenemente) Tem início, neste momento, a cerimônia de posse do prefeito de Coroado!
Depois de breves palavras, o representante da lei deu a Jerônimo autorização de dirigir-se aos presentes. Na terceira fila do auditório, Duda fez o V da vitória com os dedos, procurando os olhos do irmão. Jerônimo sorriu, sem graça. Mais além, Lídia e o pai, deputado Siqueira.
JERÔNIMO - Bem... meu povo... vocês me conhecem. Todo mundo sabe que eu sou um homem de bem... que nasci aqui... e vou morrer aqui... amando esta terra e essa gente boa de Coroado. Agora... como prefeito, vou poder provar a vocês tudo isso. Vou provar que se pode fazer muito pelo bem de nosso povo e pela grandeza da nossa cidade. Quando se tem o apoio desse mesmo povo e a proteção de Deus Nosso Senhor (algumas pessoas na platéia bateram as primeiras palmas. Jerônimo fez sinal com a mão, pedindo silencio) Como prefeito de Coroado não vou perseguir ninguém. Não vou lutar contra ninguém... porque meu recado é de paz. (Duda impacientou-se ante a submissão patente) Paz pra gente poder trabalhar. Paz pra gente poder trazer pra Coroado o progresso das grandes cidades. Paz pra gente poder transformar em felicidade toda essa riqueza que sai da terra e que foi Deus Nosso Senhor quem plantou. Porque Deus não podia ter feito a terra de Coroado tão rica... pra que o povo daqui se estraçalhasse, brigando pelos diamantes que são os frutos da semente de amor que Deus semeou, pra felicidade de todos nós... e pro bem do Brasil. Muito obrigado.
Enquanto as pessoas aplaudiam com entusiasmo, Duda e Damião levantaram-se, testas franzidas, e procuraram a porta de saída. Todos buscavam abraçar o novo prefeito.
DEPUTADO SIQUEIRA - (com gestos largos, saudou o empossado) Meus parabéns, rapaz! Quero lhe afiançar que você tem um futuro brilhante á sua frente. É muito difícil subir tão depressa como você subiu.
PEDRO BARROS - (fingindo-se emocionado) A gente fez muito por ele, Dr. Siqueira. Mas, verdade seja dita, ele tem talento. Ele tem talento!
Lídia se aproximou e deu o braço a Jerônimo.
LÍDIA - Agora... chega de papo furado. Vou levar o prefeito até em casa!
Pegou da mão do rapaz, puxando-o para longe do burburinho. Jerônimo sentia-se nauseado com a presença do coronel e com a atitude inamistosa do irmão. Ainda via na memória os dedos em V, de Eduardo, e a confiança nele depositada pela família. Deu por si ao ouvir a voz modulada da garota.
LÍDIA - Que é que há, prefeito? Vem logo? Quero te dizer uma coisa!
JERÔNIMO - Ei, moça! Espera aí. Que que você vai fazer?
LÍDIA - Vou te levar em casa. Na sua casa!
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - SALÃO DE FESTAS - INT. - NOITE.
O sino da igrejinha badalava e Coroado ia dormir tarde, nesta noite. Dezenas de pessoas, vestidas com a simplicidade do interior, começavam a chegar para o baile da posse. Já passava das 10 quando Jerônimo, vestido de preto, adentrou o salão de festas. Lídia correu a recebê-lo.
LÍDIA - Prefeito! Estávamos á sua espera para começar o baile!
Lídia não deu tempo aos protestos do rapaz. Levou-o até o meio do salão, fez sinal para a orquestra e colou-se ao corpo do belo chefe da cidade. Potira e Rodrigo acabavam de dar entrada na sede da prefeitura.
Os sons da valsinha chegavam ao fim, quando a bela mulher, sozinha, elegantemente vestida e penteada, surgiu á porta do salão. Sorriu, meiga, respondendo aos olhares dos presentes. Jerônimo ergueu as sobrancelhas não acreditando no que via e partiu rápido na direção de Eduardo. Duda empalideceu.
DUDA - Ritinha!
Seguiram juntos ao encontro da mulher. Rita de Cássia abriu a boca, surpresa, com a presença do marido.
RITINHA - Nossa Mãe do Céu! Eduardo!
JERÔNIMO - (irônico) Será que eu preciso apresentar os dois? (ante a impassividade do casal, voltou a falar) Se vocês não resolvem, eu apresento de novo...
DUDA - (apertou o braço da mulher) Não é preciso. A gente se conhece, e muito. (voltou-se para a esposa) Não podia adivinhar que ia te encontrar aqui.
RITINHA - Nem eu sabia que você tinha vindo... (voltou-se para o cunhado) Só vim mesmo pra te abraçar. Tava aflita pra te dar um abraço e te desejar mil felicidades!
JERÔNIMO - (rindo largamente) Cadê o abraço? Quero um bem forte!
RITINHA - (abraçou-o emocionada) Agora... tou satisfeita... e vou embora.
DUDA - (interceptou-a) Não. Não vai.
RITINHA - Tenho que ir, uai! Sabe, Jerônimo, embora eu não tenha marido... tenho uma filhinha.
DUDA - Ela não tem marido porque não quer, irmão! E deixa de fricotes, vá. Dá licença, seu prefeito... mas a gente tem de dar lição pra mulher que gosta de viver separada do marido.
RITINHA - Não é por meu gosto que meu marido causou uma grande decepção, sabe, seu prefeito?
A conversação enveredara pelo terreno da ironia. Jerônimo sentiu que era necessário intervir como mediador.
JERÔNIMO - Gente, que é isso? Gostava que vocês fizessem as pazes hoje, na minha festa. Ia começar bem o meu mandato.
Duda pegou Ritinha pelo braço e, apesar da reação da esposa, entrou no salão de dança.
RITINHA - (amuada) Eu não disse que não queria dançar?
DUDA - Mas vai dançar e pronto... (determinou. Apertou-a entre os braços e disse, amoroso, ao ouvido dela) Tava com uma saudade louca de te abraçar...
RITINHA - O que é que você tá pensando, Eduardo? Que isso vai me fazer voltar pra você? Acha que eu não tenho vergonha na cara?
DUDA - Acho que você deve é conter seu nervosismo e fingir que a gente tá bem, pra não fazer escândalo. Isso... sorria bastante. Todo mundo tem que pensar que a gente tá vivendo bem...
RITINHA - É de fato uma vergonha todo mundo saber que nosso casamento foi um fracasso.
DUDA - Não foi por minha culpa.
RITINHA - Não seja cínico, tá, Eduardo?
Novamente a conversa tomava o rumo da discussão. Positivamente, os genios dos dois não combinava, pensava Duda.
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - SALÃO DE FESTAS - INT. - NOITE.
LÍDIA - Sabe que para um cara do interior você não dança mal?
JERÔNIMO - (monossilábico, visìvelmente preocupado com a presença de Potira) Acha?
LÍDIA - Seu discurso foi quente pra burro!
JERÔNIMO - Quente?
LÍDIA - Bacana. Sabe o que quer dizer? Gostei. No duro que gostei.
JERÔNIMO - (resolveu usar de franqueza) Olha, não entendo essa linguagem lá da cidade. Sou meio atrasado. Aqui a gente vive muito isolado...
LÍDIA - Vai querer me enganar? Está querendo bancar o puritano ou está querendo me impressionar?
JERÔNIMO - Não é nada disso. Não entendo uma moça como você...
LÍDIA - Ah, não está acostumado! Calma, bicho! Calma! Tenho uma coisa pra te dizer. Sabe o que andei descobrindo a teu respeito?
JERÔNIMO - (franziu a testa interessado) Fala!
LÍDIA - Que você não é mais noivo... Dizem até que você gosta de outra. Só que não me disseram o nome da outra. A ex noiva eu sei quem é. E a fulana? Me conta...
JERÔNIMO - Quer parar de fazer pergunta idiota? (estava a ponto de abandonar a moça no meio do salão) Olha aqui, não tou me sentindo bem pra dançar. Tou cansado. Tive um dia muito agitado...
LÍDIA - Só queria te fazer mais uma pergunta (falou, retendo o braço do prefeito) Aquele discurso estava tão direitinho. Você decorou aquelas palavras?
JERÔNIMO - Já encheu, tá? É melhor a gente parar senão eu engrosso...
LÍDIA - Por quê? Você não vai com a minha cara?
JERÔNIMO - Não... é porque... não me dou bem com gente assim, como você. Acho que sou de outro mundo, sei lá. Entendeu? Então, vai me dar licença, viu? Me desculpa, eu sinto muito, mas vai procurar outro cara que te aguente. Eu... já não aguento mais. Tchau.
Sem mais assunto, Jerônimo afastou-se da jovem, deixando-a sem par no meio do salão, repleto de casais. Alguns pares observaram a cena, divertidos. Certamente. Algum desentendimento originado pelo ciúme, pensavam. Lídia rodou os olhos pelas laterais e divisou Juca Cipó. Seria a salvação daquela noite.
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - SALÃO DE FESTAS - INT. - NOITE.
Duda acabou de beber o copo de chope e, pegando no queixo da esposa, convidou:
DUDA - Olha... vou dar um passeio com minha mulher... pela noite... como fizemos da primeira vez que eu vim aqui em Coroado. Lembra?
RITINHA - Vamos, mas contra minha vontade!
DUDA - Vamos, então. Eu quero que você me faça um favor. (dirigiu-se a Damião) Passa lá na casa do velho dela, dá um recado pra ele. Diga que eu levei Ritinha pra um passeio, de novo... pela madrugada. Quero ver o que ele vai fazer.
Damião concordou com um gesto de cabeça.
Saíram noite a fora, fugindo ao rebuliço da festa.
O carrão de Duda, estacionado diante da prefeitura, chamava a atenção dos populares. Muito poucas vezes alguém cruzara as ruas da cidade com um automóvel moderno e luxuoso, como o do jogador. Lá dentro, tudo estava preparado para a posse do novo prefeito. “Gente bem arrumada, dentro dos ternos da missa ou do entêrro”, como se costumava dizer por aquelas bandas. Jerônimo surpreendeu-se com a presença do seu irmão e seu auxiliar, Dami.
DUDA - (sem maiores preâmbulos) Chegou a sua hora, mano. É o momento de você se definir. Ou se livra de uma vez de Pedro Barros... ou rompe de uma vez com aqueles que te querem bem. Você é o único dono de sua vontade!
A cerimônia começava. Formada a mesa. Jerônimo foi chamado pelo juiz, para sentar-se á direita do magistrado.
JUIZ DA COMARCA - (anunciou solenemente) Tem início, neste momento, a cerimônia de posse do prefeito de Coroado!
Depois de breves palavras, o representante da lei deu a Jerônimo autorização de dirigir-se aos presentes. Na terceira fila do auditório, Duda fez o V da vitória com os dedos, procurando os olhos do irmão. Jerônimo sorriu, sem graça. Mais além, Lídia e o pai, deputado Siqueira.
JERÔNIMO - Bem... meu povo... vocês me conhecem. Todo mundo sabe que eu sou um homem de bem... que nasci aqui... e vou morrer aqui... amando esta terra e essa gente boa de Coroado. Agora... como prefeito, vou poder provar a vocês tudo isso. Vou provar que se pode fazer muito pelo bem de nosso povo e pela grandeza da nossa cidade. Quando se tem o apoio desse mesmo povo e a proteção de Deus Nosso Senhor (algumas pessoas na platéia bateram as primeiras palmas. Jerônimo fez sinal com a mão, pedindo silencio) Como prefeito de Coroado não vou perseguir ninguém. Não vou lutar contra ninguém... porque meu recado é de paz. (Duda impacientou-se ante a submissão patente) Paz pra gente poder trabalhar. Paz pra gente poder trazer pra Coroado o progresso das grandes cidades. Paz pra gente poder transformar em felicidade toda essa riqueza que sai da terra e que foi Deus Nosso Senhor quem plantou. Porque Deus não podia ter feito a terra de Coroado tão rica... pra que o povo daqui se estraçalhasse, brigando pelos diamantes que são os frutos da semente de amor que Deus semeou, pra felicidade de todos nós... e pro bem do Brasil. Muito obrigado.
Enquanto as pessoas aplaudiam com entusiasmo, Duda e Damião levantaram-se, testas franzidas, e procuraram a porta de saída. Todos buscavam abraçar o novo prefeito.
DEPUTADO SIQUEIRA - (com gestos largos, saudou o empossado) Meus parabéns, rapaz! Quero lhe afiançar que você tem um futuro brilhante á sua frente. É muito difícil subir tão depressa como você subiu.
PEDRO BARROS - (fingindo-se emocionado) A gente fez muito por ele, Dr. Siqueira. Mas, verdade seja dita, ele tem talento. Ele tem talento!
Lídia se aproximou e deu o braço a Jerônimo.
LÍDIA - Agora... chega de papo furado. Vou levar o prefeito até em casa!
Pegou da mão do rapaz, puxando-o para longe do burburinho. Jerônimo sentia-se nauseado com a presença do coronel e com a atitude inamistosa do irmão. Ainda via na memória os dedos em V, de Eduardo, e a confiança nele depositada pela família. Deu por si ao ouvir a voz modulada da garota.
LÍDIA - Que é que há, prefeito? Vem logo? Quero te dizer uma coisa!
JERÔNIMO - Ei, moça! Espera aí. Que que você vai fazer?
LÍDIA - Vou te levar em casa. Na sua casa!
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - SALÃO DE FESTAS - INT. - NOITE.
O sino da igrejinha badalava e Coroado ia dormir tarde, nesta noite. Dezenas de pessoas, vestidas com a simplicidade do interior, começavam a chegar para o baile da posse. Já passava das 10 quando Jerônimo, vestido de preto, adentrou o salão de festas. Lídia correu a recebê-lo.
LÍDIA - Prefeito! Estávamos á sua espera para começar o baile!
Lídia não deu tempo aos protestos do rapaz. Levou-o até o meio do salão, fez sinal para a orquestra e colou-se ao corpo do belo chefe da cidade. Potira e Rodrigo acabavam de dar entrada na sede da prefeitura.
Os sons da valsinha chegavam ao fim, quando a bela mulher, sozinha, elegantemente vestida e penteada, surgiu á porta do salão. Sorriu, meiga, respondendo aos olhares dos presentes. Jerônimo ergueu as sobrancelhas não acreditando no que via e partiu rápido na direção de Eduardo. Duda empalideceu.
DUDA - Ritinha!
Seguiram juntos ao encontro da mulher. Rita de Cássia abriu a boca, surpresa, com a presença do marido.
RITINHA - Nossa Mãe do Céu! Eduardo!
JERÔNIMO - (irônico) Será que eu preciso apresentar os dois? (ante a impassividade do casal, voltou a falar) Se vocês não resolvem, eu apresento de novo...
DUDA - (apertou o braço da mulher) Não é preciso. A gente se conhece, e muito. (voltou-se para a esposa) Não podia adivinhar que ia te encontrar aqui.
RITINHA - Nem eu sabia que você tinha vindo... (voltou-se para o cunhado) Só vim mesmo pra te abraçar. Tava aflita pra te dar um abraço e te desejar mil felicidades!
JERÔNIMO - (rindo largamente) Cadê o abraço? Quero um bem forte!
RITINHA - (abraçou-o emocionada) Agora... tou satisfeita... e vou embora.
DUDA - (interceptou-a) Não. Não vai.
RITINHA - Tenho que ir, uai! Sabe, Jerônimo, embora eu não tenha marido... tenho uma filhinha.
DUDA - Ela não tem marido porque não quer, irmão! E deixa de fricotes, vá. Dá licença, seu prefeito... mas a gente tem de dar lição pra mulher que gosta de viver separada do marido.
RITINHA - Não é por meu gosto que meu marido causou uma grande decepção, sabe, seu prefeito?
A conversação enveredara pelo terreno da ironia. Jerônimo sentiu que era necessário intervir como mediador.
JERÔNIMO - Gente, que é isso? Gostava que vocês fizessem as pazes hoje, na minha festa. Ia começar bem o meu mandato.
Duda pegou Ritinha pelo braço e, apesar da reação da esposa, entrou no salão de dança.
RITINHA - (amuada) Eu não disse que não queria dançar?
DUDA - Mas vai dançar e pronto... (determinou. Apertou-a entre os braços e disse, amoroso, ao ouvido dela) Tava com uma saudade louca de te abraçar...
RITINHA - O que é que você tá pensando, Eduardo? Que isso vai me fazer voltar pra você? Acha que eu não tenho vergonha na cara?
DUDA - Acho que você deve é conter seu nervosismo e fingir que a gente tá bem, pra não fazer escândalo. Isso... sorria bastante. Todo mundo tem que pensar que a gente tá vivendo bem...
RITINHA - É de fato uma vergonha todo mundo saber que nosso casamento foi um fracasso.
DUDA - Não foi por minha culpa.
RITINHA - Não seja cínico, tá, Eduardo?
Novamente a conversa tomava o rumo da discussão. Positivamente, os genios dos dois não combinava, pensava Duda.
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - SALÃO DE FESTAS - INT. - NOITE.
LÍDIA - Sabe que para um cara do interior você não dança mal?
JERÔNIMO - (monossilábico, visìvelmente preocupado com a presença de Potira) Acha?
LÍDIA - Seu discurso foi quente pra burro!
JERÔNIMO - Quente?
LÍDIA - Bacana. Sabe o que quer dizer? Gostei. No duro que gostei.
JERÔNIMO - (resolveu usar de franqueza) Olha, não entendo essa linguagem lá da cidade. Sou meio atrasado. Aqui a gente vive muito isolado...
LÍDIA - Vai querer me enganar? Está querendo bancar o puritano ou está querendo me impressionar?
JERÔNIMO - Não é nada disso. Não entendo uma moça como você...
LÍDIA - Ah, não está acostumado! Calma, bicho! Calma! Tenho uma coisa pra te dizer. Sabe o que andei descobrindo a teu respeito?
JERÔNIMO - (franziu a testa interessado) Fala!
LÍDIA - Que você não é mais noivo... Dizem até que você gosta de outra. Só que não me disseram o nome da outra. A ex noiva eu sei quem é. E a fulana? Me conta...
JERÔNIMO - Quer parar de fazer pergunta idiota? (estava a ponto de abandonar a moça no meio do salão) Olha aqui, não tou me sentindo bem pra dançar. Tou cansado. Tive um dia muito agitado...
LÍDIA - Só queria te fazer mais uma pergunta (falou, retendo o braço do prefeito) Aquele discurso estava tão direitinho. Você decorou aquelas palavras?
JERÔNIMO - Já encheu, tá? É melhor a gente parar senão eu engrosso...
LÍDIA - Por quê? Você não vai com a minha cara?
JERÔNIMO - Não... é porque... não me dou bem com gente assim, como você. Acho que sou de outro mundo, sei lá. Entendeu? Então, vai me dar licença, viu? Me desculpa, eu sinto muito, mas vai procurar outro cara que te aguente. Eu... já não aguento mais. Tchau.
Sem mais assunto, Jerônimo afastou-se da jovem, deixando-a sem par no meio do salão, repleto de casais. Alguns pares observaram a cena, divertidos. Certamente. Algum desentendimento originado pelo ciúme, pensavam. Lídia rodou os olhos pelas laterais e divisou Juca Cipó. Seria a salvação daquela noite.
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - SALÃO DE FESTAS - INT. - NOITE.
Duda acabou de beber o copo de chope e, pegando no queixo da esposa, convidou:
DUDA - Olha... vou dar um passeio com minha mulher... pela noite... como fizemos da primeira vez que eu vim aqui em Coroado. Lembra?
RITINHA - Vamos, mas contra minha vontade!
DUDA - Vamos, então. Eu quero que você me faça um favor. (dirigiu-se a Damião) Passa lá na casa do velho dela, dá um recado pra ele. Diga que eu levei Ritinha pra um passeio, de novo... pela madrugada. Quero ver o que ele vai fazer.
Damião concordou com um gesto de cabeça.
Saíram noite a fora, fugindo ao rebuliço da festa.
FIM DO CAPÍTULO 86
Jerônimo discursa na cerimônia de posse como prefeito de Coroado. |
e no próximo capítulo...
*** Duda e Ritinha passeiam pela madrugada e fazem as pazes. Ao voltar para casa, enfrentam mais uma vez a ira do Dr. Maciel.
*** Pedro Barros e o Delegado Falcão estão organizando a invasão da aldeia onde está João Coragem!
*** Jerônimo, temeroso, pede ao irmão que não enfrente os homens de Falcão, mas o irmão está irredutível e diz que vai em frente!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 87 DE
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