quarta-feira, 5 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 73


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 73
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
MARIA DE LARA
DELEGADO FALCÃO
POTIRA
JERÔNIMO
SINHANA

CENA 1  -  CASA ABANDONADA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Maria de Lara passara um dia tranquilo. A noite chegara. Tornara a ir. E novo dia nascera de céu azul e sol escaldante. João e os garimpeiros haviam se afastado, á procura de alimentos. Mas o galope cadenciado, a princípio indistinto, aos poucos foi despertando a atenção da jovem. Olhou o relógio. Era cedo, ainda, para o retorno da turma. Alguém se aproximava. E alguém não pertencente ao grupo de amigos do marido. Entreabriu a porta, amedrontada. A voz grossa, desagradável e conhecida  entrou-lhe pelos ouvidos.


DELEGADO FALCÃO  -  Como está passando, Dona Lara?

Um calafrio percorreu-lhe a espinha, bambeando-lhe as pernas.

MARIA DE LARA  -  Delegado! O que... o que está fazendo aqui?

DELEGADO FALCÃO  -  (sorriu, sórdido)  Vim só saber como a senhora tá passando...

Examinou a casa, com olhar irônico.

MARIA DE LARA  -  Como descobriu este lugar?

DELEGADO FALCÃO  -  Desde que a senhora veio para cá, eu já sabia pra onde tinha vindo.

MARIA DE LARA  -  Cema lhe disse...

DELEGADO FALCÃO  -  (fingindo bondade)  Coitada da Cema!  Sempre ás voltas com aqueles problemas dela! (pegou uma Bíblia, atirada sobre a mesa)  É do João? Tá muito cristão, agora! Me admira a senhora trocar a vida de dona de Coroado para seguir um foragido da lei. Quer se fazer de Maria Bonita... Acho que não deve...

Lara zangou-se. Pensava rápido em como avisar o marido da presença do policial.

MARIA DE LARA  -  Seu Falcão, não estou disposta a ouvir os seus conselhos. E acho que não veio de tão longe pra me dizer o que eu devo ou não devo fazer...

DELEGADO FALCÃO  -  Não. Eu vim de tão longe... pra prender o João. Foi pra isso que andei léguas.. (encaminhou-se para a janela e espiou a estrada. O sol queimava) Faz tempo que tou por aqui, esperando João sair pra poder entrar e lhe falar.

Maria de Lara perturbou-se ante a revelação do delegado.


MARIA DE LARA  -  Se o viu sair, porque não o prendeu lá fora?

DELEGADO FALCÃO  -  Porque eu sei que ele volta.  E antes eu queria bater esse papo com a senhora. Ando, aqui, com umas idéias a me ferver a cabeça...

MARIA DE LARA  -  (recuou)  Idéias!

DELEGADO FALCÃO  -  A seu respeito. Não sei se é sonho... se é ilusão demais...

MARIA DE LARA  -  Um bom policial não teria esperado tanto tempo para prender um fugitivo.

Falcão encarou fixamente a mulher. Havia algo diferente em seus olhos. Brilhavam de desejo.


DELEGADO FALCÃO  -  Acontece, Dona Lara... que além de policial... eu sou muito mais... um homem apaixonado.

MARIA DE LARA  -  Cada vez entendo menos o que o senhor quer dizer.

DELEGADO FALCÃO  -  É muito simples... eu explico. Vim para prender João. É verdade... mas estou disposto a deixar ele em paz... fingindo que não vi ele... que não sei onde ele está.

Lara estava perplexa. Percebia até onde a indignidade do policial chegaria. O tipo de chantagem que tramara em seu cérebro transtornado. E verificou que ali estava, também, a possibilidade de João permanecer livre.

MARIA DE LARA  -  O senhor... deixaria João em paz?

DELEGADO FALCÃO  -  Ah, deixava! (anuiu, esfregando as mãos)  Ignorava até pra sempre o paradeiro dele... se a senhora exigisse isso de mim.

MARIA DE LARA  -  Mas... a troco de quê?

DELEGADO FALCÃO  -  (fez a oferta infame)  Da senhora voltar comigo. Sozinha. No duro que isso é uma declaração de amor, Dona Lara. (tornou a olhar pela janela, visívelmente preocupado. Alisou a coronha do 45)  Eu tinha... um noivado prometido com a senhora, não se lembra? João apareceu e me roubou. Chegou a minha vez de reaver o que perdi, ora! E não vou perder esta oportunidade, não!

MARIA DE LARA  -  Eu não quero... eu... eu não gosto do senhor. Desculpe, não quero ofender... mas eu tenho horror... só em pensar... não... eu não quero isso. Nenhuma mulher gosta de se dar a quem não dedica, pelo menos, simpatia...

DELEGADO FALCÃO  -  Tá certo.  (postou-se diante da janela, de costas para a mulher, falou em voz suficientemente alta) Não vou obrigar a coisíssima nenhuma. A gente espera o João voltar... e eu levo ele preso, de novo. (tirou a arma do coldre, examinou o tambor e sentou-se num tamborete. Dirigiu-se a Lara com aspereza) A senhora sai de junto da porta. Eu espero ele. Não tenho pressa. Eu espero.

Lara ia falar. Pôs a mão sobre a boca. Queria chorar. Fez força para conter-se. Havia uma solução, pensou. Remédios caros são para grandes males. Aproximou-se do delegado. Um cão gania no fundo do capinzal.


CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  QUARTO DE JERÔNIMO  -  INT.  -  NOITE.  


Jerônimo prometera a si mesmo fugir da ignorância. Aprender a escrever bem e a falar. E passava as noites debruçado nos livros que Rodrigo lhe trouxera. Durante o dia o promotor aproveitava instantes de folga para ensinar ao cunhado matérias básicas para um aprendizado médio. E Jerônimo levava a sério. Pensava lá consigo que um prefeito não podia se dar ao luxo de ser ignorante... Lia àvidamente quando Potira entrou em seu quarto.


POTIRA  -  Preciso falá com ocê, Jeromo.

JERÔNIMO  -  (ergueu a cabeça, embaraçado)  Veio sozinha?

POTIRA  -  Desta vez, sim.

JERÔNIMO  -  Foi bom. A gente precisa de ter um entendimento. Indaiá me disse umas verdade a seu respeito. Que ocê tá perdendo a cabeça. Que quase destruiu sua felicidade, dizendo as coisa que te vem na cabeça, pro seu marido...

POTIRA  -  E isso é verdade... (confirmou com movimentos de cabeça. Parecia mais nervosa do que nunca)  Quase que eu disse tudo...

JERÔNIMO  -  (empalideceu)  Isso me intrigou muito. Você não tem nada que dizê pra ele. Nada que acuse. Nem eu, nem ocê.

Potira atirou-se ao seu pescoço, com a cabeça reclinada no peito do rapaz. As mãos enfiaram-se por entre os seus cabelos longos e ondulados.


POTIRA  -  Ia dizer... que eu te amo. Ia dizer que ocê me ama. Ia contá que a gente não aguenta mais vivê assim.

Jerônimo mal podia falar. Lutava contra o instinto. Contra forças poderosas que o instigavam. Sentia o sangue ferver-lhe nas veias.


JERÔNIMO  -  Pra que, Potira? Pra quê? Se não vai adiantá coisa alguma... se as coisa não vão mudá pra nenhum de nós dois. Se, pelo contrário, tudo vai piorá... Ele vai se senti traído, enganado... e isto não é justo. Ele nem merece isso, Potira. Pense bem...

POTIRA  -  Traição a gente tá cometendo, Jeromo. Traição é isso que a gente tá fazendo. (olhou apaixonadamente o rosto do garimpeiro)  É morrê de amor com os olhos, com o pensamento... e eu fingi que o amor é pra ele! É eu beijá pensando em ocê... é fazê tudo o que a vida a dois exige... pensando em ocê. Isso é traição, Jeromo!

Virando-se com rudeza, Jerônimo livrou-se dos braços da índia e deu alguns passos, encaminhando-se para fora do quarto. Potira abraçou-o por trás.


JERÔNIMO  -  Num faça isso, Potira... pelo amor de Deus. Não faça isso. Você vai... descansada. Eu dou um jeito. Eu... eu num vou mais na tua casa, num te vejo mais. Vou tratá da minha vida. O que os olhos num vê, coração num sente... Vai, Potira... vai embora, por favor...

A porta da entrada rangeu nas dobradiças e Sinhana entrou, deparando com a cena. Jerônimo muito vermelho. Potira pálida e ofegante.


SINHANA  -  Que tá havendo aqui com os dois? Será possível que ocês num tem vergonha?

JERÔNIMO  -  (desculpou-se por ambos)  Não, mãe, não é nada disso. Foi só uma explicação. Potira tá conformada... com umas tantas coisas. Ela vai vivê bem com o marido. Eu é que vou dá sumiço... Num apareço mais na casa dela. E pronto. Logo, logo... a gente esquece.

A velha fechou a cara e dirigiu-se á mestiça, com olhar severo.

SINHANA  -  Veja bem, menina, o que tu tá fazendo? (empurrou a moça, enérgicamente) Vai indo que teu marido tá te esperando.

Potira olhou, sufocada, para Jerônimo e deixou a casa. Correndo.

JERÔNIMO  -  Mãe... eu prometo que a gente num se tortura mais. Tá decidido. Vou arranjá uma moça pra casá.

SINHANA  -  Mesmo sem gostá, filho?

JERÔNIMO  -  Mesmo sem gostá!

SINHANA  -  E tu num vai fazê a infelicidade de mais uma?

JERÔNIMO  -  Tem que sê, mãe. Pra Potira se conformá.

SINHANA  -  Ou pra aumentá o desespêro dela?

JERÔNIMO  -  Alguma coisa eu tenho de fazê. Assim ,a gente num pode continuá! Um dia... um dia, eu perco a cabeça ... e a gente faz uma besteira, mãe!

SINHANA  -  Então casa, filho. Casa, sim. E logo!

FIM DO CAPÍTULO  73
João, feliz, recebe Lara na casa abandonada.
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** JUCA CIPÓ É ESPANCADO E CHORA COMO UMA CRIANÇA!

*** JERÔNIMO CONFESSA A RODRIGO SUA PAIXÃO POR POTIRA!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 74 DE


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