terça-feira, 18 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 96


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 96
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DR. MACIEL
ALBERTO

CENA 1  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  INT.  -  DIA.

Durante um jogo, Duda fôra atingido na perna, justamente no lugar anteriormente operado por causa da bala. Sofrera nova intervenção cirúrgica e afinal recebera autorização para descansar em casa por algum tempo. Um taxi-aéreo o levara, num vôo direto, de Congonhas a Coroado.


Na tarde daquele dia Eduardo Coragem ouvira do irmão a confissão do êrro e o desenrolar dos acontecimentos que mancharam a honra do promotor e abalaram  o prestígio popular que o levara à chefia administrativa  e política da pequena cidade do interior mineiro. A pressão moral de Pedro Barros e o domínio que vinha exercendo sobre o jovem haviam provocado a decisão definitiva. Ou tudo ou nada. E Jerônimo preferira optar pela liberdade. Mesmo sabendo de antemão que a vingança do velho seria impiedosa. Duda ouvira atento as explicações. Achava que, passado o período crítico, o promotor voltaria à razão, ao raciocínio lógico e, consequentemente, procuraria entender a realidade. Um homem da lei jamais poderia se deixar levar pelos sentimentos. Duda não acreditava que Rodrigo se entregasse ao descontrôle. “Amanhã ele estará normal”, disse.


Agora, lá estava ele na ante-sala do gabinete. Bateu à porta e entrou, sem autorização. Ritinha estremeceu.


RITINHA  -  Eduardo! Nossa Senhora! Já tava aflita. Já ia lá na casa da Sinhana pra saber notícias tuas...

DUDA  -  Pois é... cheguei hoje (anunciou, beijando a esposa)  Cheguei cedinho na casa da mãe e perguntei: Uai, mãe, cadê Ritinha? Ela me disse que você não quis ficar lá.

RITINHA  -  Não quis, não. Não pude. Ainda não ajeitei as coisas lá em casa.

DUDA  -  E eu, desde que cheguei, não vi minha filhinha.

RITINHA  -  Não seja por isso... Olha ela ali! (apontou com o dedo o pequeno carrinho, escondido por trás da mesa).

DUDA  -  (correu para o carrinho)  Uai, você tá trabalhando com ela?

RITINHA  -  Que remédio? Mingas me deixou. Não tem podido me ajudar. Eu trago a Gabi pra cá. Ela fica quietinha...

Duda levantou a menininha do carro, embriagado de contentamento. Ritinha observava as reações do marido. E sorria diante das sucessivas expressões de espanto que modificavam a cara do rapaz.


DUDA  -  Nossa mãe! Como tá grande! (voltou-se para a mulher)  Quero que tu volte para casa. Não sou mais jogador de futebol. Pronto. Vou lá e digo isso a eles. A gente vai viver junto e vai viver bem. Vem cá.

Tornou a deitar a criança no carrinho estofado. Obrigou a mulher a sentar-se em seu colo. Ritinha tentou reagir, encabulada.

RITINHA  -  Não, Eduardo, não faz isso, aqui não!

DUDA  -  Bobagem, que é que tem?

RITINHA  -  Tua perna!

DUDA  -  Você tá sentada em cima da outra, ora!

RITINHA  -  Mas... Eduardo, tem mais gente...

Os dedos dela perderam-se por entre os cabelos do marido, enquanto so lábios colavam-se num beijo demorado, ao qual Ritinha se entregou apaixonadamente. Nos olhos de Duda havia qualquer coisa de diferente, uma espécie de raiva incontida, ao terminar o beijo.

DUDA  -  Onde foi que você aprendeu a beijar assim?

RITINHA  -  Assim, como, Eduardo?

DUDA  -  Você nunca beijou desse jeito, Ritinha!

RITINHA  -  Benzinho, tava com saudade!

DUDA  -  Alguém andou beijando você na minha ausencia?

RITINHA  -  Você me ofende, Eduardo!  Eu lá ia beijar alguém?

DUDA  -  Não vem com essa de querer bancar outra mulher pra cima de mim (falou, mais por brincadeira).

RITINHA  -  Outra mulher?

DUDA  -  Que nem a mulher do João. Ela era Lara, foi Diana, agora é Márcia. Diabo de tanta mulher numa só! Se uma já é difícil... e João aguenta tudo. Eu não aguento, não!

RITINHA  -  (com ingenuidade)  Mas eu sou só Ritinha...

DUDA  -  Aquele beijo, Ritinha, que você deu há pouco... parecia que era de outra mulher!

Ritinha principiava a se zangar com a teimosia do marido. Ou tudo não passava de brincadeira?


RITINHA  -  Isso é porque você é que tá com vontade de beijar outra mulher!

DUDA  -  Me beija de novo! Eu só quero ver uma coisa, tirar uma cisma! Anda! (tornou a puxar a mulher e mais uma vez beijou-a longamente, as mãos percorrendo-lhe as formas roliças).

RITINHA  -  (com um trejeito)  Então?

DR. MACIEL  -  Minha filha, eu quero que... (estacou na porta, boquiaberto com a visão, e exclamou, aborrecido)  Que... que... que pouca vergonha!

Rita saltou do colo do marido, pegou a criança e encaminhou-se para a saída, por onde Maciel desaparecera, zangado.

RITINHA  -  Ai, meu Deus, que a bola agora é comigo! Vou ter que amansar meu pai.

Deixou correndo a sala da secretaria.

Duda coçava a cabeça, desconsolado. Pela janela assistia à corrida da mulher em busca do pai, zangado. 


DUDA  -  Se precisar, eu falo com ele. Ah, falo! Peço permissão pra beijar minha mulher! (sorria ao sair puxando a perna).

CORTA PARA:

CENA 2  -  ALDEIA DE JOÃO  -  EXT.  -  DIA.
  
Por um instante, Alberto D’Ávila teve um pressentimento. Mau pressentimento. Entregou o jornal a Duda que estava a seu lado, tomando banho de sol.


ALBERTO  -  Olha pra isto.

DUDA  -  Que é?

ALBERTO  -  Olha. Aqui... esta notícia... desastre de carro na estrada de Belo Horizonte.

Eduardo pegou da folha e leu por alto.

DUDA  -  Caramba! Um desastre e tanto! Mas... isso é coisa comum nas grandes estradas. Só tem louco correndo por aí.

O dedo comprido do rapazola parou em cima do registro do acidente.

ALBERTO  -  Você não leu direito. Um desastre... com minha mãe... tá escrito aí, não tá? Branca D’Ávila... e leia o resto.

Interessado, repentinamente, Duda ergueu o corpo a meio e leu a notícia do acontecimento.

DUDA  -  Branca D’Ávila e... e Ernesto Bianchinni! (de um salto explodiu numa exclamação)  Eu não disse? Ernesto Bianchinni! O homem existe mesmo! E é ele... de nome trocado.

ALBERTO  -  (de olhos arregalados)  Como?

DUDA  -  É o sujeito que eu vi em São Paulo! O mesmo que reconheci como sendo teu pai!

ALBERTO  -  Tem certeza de que o nome é esse?

DUDA  -  Absoluta! É muita coincidencia, você não acha? Ser justamente esse o homem que foi acidentado com sua mãe. (bateu com a mão no jornal)  Taí. Não tem mais dúvida. Esse cara é teu pai. Os dois estão muito feridos. Diz aí. Foram removidos pro Pronto-Socorro de Belo Horizonte.

Movido pela necessidade de tirar tudo a limpo, Alberto tomara a decisão.

ALBERTO  -  (com a voz ligeiramente entrecortada)  Eu vou ao Hospital de Belo Horizonte... pra ver se é verdade que esse homem é meu pai.

DUDA  -  (sério)  Eu vou com você!

ALBERTO  -  Você não pode .  Fez esforço demais com essa perna operada.

DUDA  -  (careteou, apertado a perna)  É... tá me incomodando um pouco... mas eu tenho que ir. É um caso muito importante.

ALBERTO  -  Não tem confiança em mim? (colocou a mão no ombro do companheiro, em atitude de amizade).

DUDA  -  Não se trata disso. É que eu preciso agarrar esse homem pra salvar meu irmão da cadeia. E eu tou certo de que você não vai fazer isso. Você é filho dele.

ALBERTO  -  (apertou os lábios, era óbvio que lutava interiormente)  Se é verdade que Ernesto Bianchinni é meu pai, eu não vou perdoar ele.

DUDA  -  O fato de não querer que eu vá, já me diz que você não está do nosso lado.

ALBERTO  -  Não admito que duvide da minha lealdade ao João!

DUDA  -  Quer saber de uma coisa? (estava furioso)  Eu não confio em ninguém. Vou a Belo Horizonte... (gemeu penosamente ao deslocar a perna de um para outro ponto da cadeira) Essa maldita tá me incomodando pra cachorro. Posso não ir hoje... mas vou amanhã, quando estiver descansado. A viagem é longa e eu sei que hoje não aguento mais nada...

ALBERTO  -  Pois eu também deixo pra ir amanhã.  A gente pode ir junto... quando você estiver mais descansado.

DUDA  -  (parou na porta. Voltou-se para o rapaz)  E se eles deixarem o hospital?

ALBERTO  -  No estado em que estão? Estão muito feridos. Ernesto Bianchinni... muito mais do que minha mãe, segundo diz o jornal.

DUDA  -  Volto aqui amanhã a esta hora... se estiver melhor.

ALBERTO  -  Espere um pouco... uma hora mais ou menos. Se você não aparecer... vou sozinho.

Duda fitou demoradamente, com desconfiança, o interlocutor. Olhos claros e uma expressão tranquila, de bom caráter. Sorriu ao despedir-se de Alberto.


FIM DO CAPÍTULO  96
Ritinha e Duda se reencontram
e no próximo capítulo...
     
*** Alberto encontra os pais internados num hospital em Belo Horizonte e descobre toda a farsa!

*** Branca faz chantagem emocional para que o filho guarde segredo e não conte a João que Lourenço está vivo!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 97 DE

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