domingo, 9 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 80


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 80
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
BRANCA
LOURENÇO
BRAZ CANOEIRO
JOÃO
DELEGADO FALCÃO

CENA 1  -  MORRINHOS  -  CASA DE BRANCA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

A sala cobria-se de escuridão, mas Branca percebeu que havia alguém dentro da casa.


BRANCA  -  Meu filho, já cheguei.

Apertou o botão e a luz alegrou o ambiente. Seus olhos fixaram-se num paletó de linho, branco, pendurado no encôsto de uma cadeira. Reconheceu-o de imediato. Aflita, trancou a porta da frente.

BRANCA  -  (chamou em voz baixa)  Lourenço, você está aí?

O marido apareceu, vindo dos fundos da casa. Branca atirou-se em seus braços, sequiosa.

BRANCA  -  Você veio, bandido! Você veio! Eu te esperei tanto! Tanto! (beijou ardentemente os lábios do esposo).

LOURENÇO  -  (convencido)  Sabia que você estava louquinha de saudade...

BRANCA  -  Você não merece... você não merece nem a saudade, nem a minha aflição!

LOURENÇO  -  Se não merecesse, você já tinha me delatado, como prometeu...

BRANCA  -  E aquela carta... e Estela?

LOURENÇO  -  Eu sei lá de Estela! (empurrou a mulher, com ambas as mãos, e virou-se de costas. A lembrança de Estela nunca lhe trazia calma).

BRANCA  -  Mas... você voltou ao clube para saber notícias dela. Confesse!

LOURENÇO  -  Não confesso nada. Se vai me atentar a paciencia, eu dou o fora de novo.

Branca o abraçou por trás, com meiguice.


BRANCA  -  Não (cochichou no ouvido do marido)  você não faz isso. Agora, você não me larga mais. Estamos muito comprometidos. Nós dois, num crime, num caso muito sério...

O verdadeiro caráter da mulher revelava-se claramente. Pouco lhe importavam os problemas morais e sociais do jovem garimpeiro, foragido por um crime que não cometera. O “cadáver” ali estava, vivinho da silva.

LOURENÇO  -  Você não deu com a língua nos dentes, não?

BRANCA  -  Acha que ia ter coragem? Depois de ter te esperado tanto... ia pôr tudo a perder... pelo meu ciúme?

Ela forçou o corpo do homem e virou-se de frente. Uma luz diferente brilhava no fundo dos seus olhos, enquanto as unhas se enterravam na carne macia do pescoço de Lourenço.

LOURENÇO  -  Fez tudo como eu mandei?

BRANCA  -  E não fiz, bem? Não denunciei João? Não fiz direitinho, tudo como você mandou?

LOURENÇO  -  (pegou do bule sobre a mesa e derramou café na xícara azul)  Eles foram na tua conversa?

BRANCA  -  Que papel você me obrigou a fazer!

LOURENÇO  -  Mas deu certo. Tudo que eu planejei, deu certo!

BRANCA  -  Mas você tem se arriscado. Aqui é que não devia ter vindo.

LOURENÇO  -  (lembrou-se do filho)  Alberto, onde está?

BRANCA  -  Está aqui! Veio me fazer companhia e se ele te encontra, o que é que a gente vai dizer?

LOURENÇO  -  (interrogou, apreensivo)  Você não contou a verdade pra ele, não?

BRANCA  -  Acha que um rapaz da idade dele vai entender essas coisas? E eu ia ter coragem de meter nosso filho nessa embrulhada que você arrumou?

O ex-capataz ergueu a mulher pela cintura, feliz da vida. Rodopiou com ela pela sala. Sorria.

LOURENÇO  -  Vale a pena, mulher! Tu vai ver só o tamanhão do diamante! Tu vai ficar rica, mulher!

CORTA PARA:

CENA 2  -  MORRINHOS  -  CASA DE BRANCA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

O par voltou a considerar a realidade. Como revelar ao filho a verdade sobre os acontecimentos? Alberto acreditava o pai morto e sepultado.


BRANCA  -  Pois é. Ele largou os estudos pra vir cá, me ajudar.

LOURENÇO  -  Manda ele de volta.  Tem que se formar pra doutor. Logo, logo, eu vendo o diamante e a gente fica rico. Sustento estudo dele até na Europa, se quiser.

BRANCA  -  Você se esquece de uma coisa: ele pensa que o pai morreu assassinado. E não sei como lhe dizer que o pai está vivo e que teve que passar por morto, por causa do diamante que roubou...

LOURENÇO  -  Aos poucos a gente faz ele conhecer essa verdade.

BRANCA  -  Conheço nosso filho. Ele não vai aceitar essa verdade. Tem outra idéia, outro pensamento.

LOURENÇO  -  Que é que você quer que eu faça?

BRANCA  -  Nada. Mas ele vai ser o nosso maior problema, nosso maior obstáculo.

LOURENÇO  -  Maior obstáculo, uma pinóia (explodiu)  Se ele não aceita, paciencia, eu cuido da minha vida, ele da vida dele, ora!

Branca tornou a abraçar e beijar o marido, envolvendo-o num clima de desejo. Passou as mãos de leve por sobre a cabeça dele.


BRANCA  -  Agora, você tem que desaparecer daqui, depressa. Padre Bento e Lara estão em Morrinhos. Vieram para a procissão de Nossa Senhora do Rosário. Por incrível coincidência, Alberto os conheceu e os convidou para virem se hospedar em nossa casa.

LOURENÇO  -  (fez uma careta de raiva)  Diacho! Alberto é do contra!

BRANCA  -  (insistiu, alisando o rosto do marido)  Vai... tem cuidado... não apareça. Fica em Belo Horizonte. Me deixa tua direção. Eu te procuro. Não venda já o diamante.

CORTA PARA:

CENA 3  -  CASA ABANDONADA  -  SALA  -  INT.  - DIA.

João acabara de almoçar, quando Braz entrou, intempestivamente.


BRAZ CANOEIRO  -  Tem novidade procê!

JOÃO  -  Então desembucha, home!

BRAZ CANOEIRO  -  Fiquei sabeno que vai tê a festa de Nossa Senhora do Rosário, em Morrinhos. Vai saí uma procissão de Coroado. Tem um monte de gente acompanhando.

JOÃO  -  E daí?

BRAZ CANOEIRO  - E dai que... sabe quem vai acompanhá a procissão, com Padre Bento? Dona Lara!

JOÃO  -  (sério)  A gente tá brigado, Braz.

BRAZ CANOEIRO  -  Eu sei. Tou te contano porque... quem sabe ocê pode querê ir a Morrinhos pra vê tua mulhé...

JOÃO  -  Melhor não mexê nisso agora.

BRAZ CANOEIRO  -  Eu acho que tu devia ir, Jão. Dona Lara merecia outro tratamento. Um amor como o de ocês num pode acabá assim... Ocês tem de conversá...

JOÃO  -  (animou-se)  Tá bom. Tá decidido! Vou a Morrinhos, arriscando meu pescoço, mas vou!

BRAZ  -  Assim que se fala! Só toma cuidado. Me dissero que o Falcão vai também!

JOÃO  -  Melhor ainda! Tenho umas contas a ajustar com esse canalha. Não vou perdê essa oportunidade!

CORTA PARA:

CENA  2  -  MORRINHOS  -  HOTEL CENTRAL  -  INT.  -  NOITE.

A festa de Nossa Senhora do Rosário levou a Morrinhos grande parte da população católica de Coroado e da extensa região que se alargava entre as montanhas e o planalto goiano. Região rica, banhada pelos rios e muito procurada pela fartura de caça e pesca.


João hospedou-se no Hotel Central. Acabara de chegar ao quarto, quando ouviu um barulho no corredor e entreabriu a porta. Para sua surprêsa, reconheceu Falcão, que acabara de entrar no quarto ao lado do seu. Fechou a porta, sem fazer ruído, e encostou-se à parede.

JOÃO  -  (para si)  É hoje, Falcão, que vamos acertá nossas conta!

CORTA PARA:

CENA 3  -  MORRINHOS  -  HOTEL CENTRAL  -  QUARTO DE FALCÃO  -  INT.  -  NOITE.

João fumava tranquilamente no quarto do delegado de Coroado, quando a porta se abriu e uma mão procurou o comutador. A luz não se fez.


DELEGADO FALCÃO  -  (irritado)  Ora, essa...

JOÃO  -  Fique onde está e levante as mãos... Não se mova. Não dê um passo. Jogue sua arma. Tenho a mira certinha no seu coração.

Falcão descarregou o revólver contra o quarto escuro, desesperado, sem atinar contra quem ou contra o quê.


DELEGADO FALCÃO  -  É você, João Coragem? Não adianta se esconder. Eu sei que você está aqui e vou acabar com tua raça. Apareça, covarde. Apareça, se é homem!

JOÃO  -  Estou aqui, Falcão!

O garimpeiro apareceu por detrás do guarda-roupa de jacarandá. As balas haviam perfurado móveis e paredes, mas João permanecia incólume. E com a arma cheia de balas. Falcão premiu o gatilho. Duas, tres vezes. O estalido anunciou que a arma estava descarregada.

A voz do garimpeiro encheu o ambiente.

JOÃO  -  Não adianta, Falcão. Você gastou todas as balas, atirando nos fantasmas. Que tipo de delegado é você? Sem habilidade. Medroso.

João avançou de arma em punho. Puxou o inimigo para dentro do quarto.


DELEGADO FALCÃO  -  Que é que você veio fazer aqui?

JOÃO  -  Vim só lhe dar uma lição. Fazer você engolir tudo quanto é infâmia que anda espalhando da minha mulher...

DELEGADO FALCÃO  -  Não sou eu que espalho (negou, acovardado)  Você devia fazer o mesmo com o sujeito com quem ela se divertiu uma noite. O tal que tirou a arma dela, lembra-se? Foi daí que começou a fama de sua mulher.

JOÃO  -  Vou te calar a boca de uma vez! (deu uma volta em torno do corpo trêmulo do delegado). Nunca mais tu vai inventá coisa... nunca mais vai caluniá mulhé nenhuma!

DELEGADO FALCÃO  -  Isso é uma covardia. Meu revólver está sem balas!

JOÃO  -  Pra você eu não preciso de revólver, Falcão. (guardou a arma no coldre e desferiu violento soco no queixo do delegado. Falcão caiu ao solo, tonto. Tentou levantar-se e o garimpeiro tornou a apanhá-lo com um gancho de esquerda. Puxou um punhal e espetou-o sob o queixo do adversário) Nunca matei ninguém, apesar de ser acusado de um crime. Nunca matei. Mas vou acabar com a tua vida porque tu não presta e num merece continuá vivendo.

DELEGADO FALCÃO  -  (estrebuchou, implorando, quase em lágrimas)  Não... João... espera!

JOÃO  -  Se sabe rezá, reza, porque tu vai morrê.

O delegado gritou, a voz saindo-lhe fina como a de um soprano. O punhal arrancava as primeiras gotas de sangue do fantoche de Pedro Barros...


FIM DO CAPÍTULO  80
Branca (Neuza Amaral) reencontra Lourenço (Hemílcio Fróes)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** CHOVE TORRENCIALMENTE EM COROADO. POTIRA DESAPARECEU E RODRIGO PEDE AJUDA AO DELEGADO PARA ENCONTRAR SUA MULHER.

*** JERÔNIMO ENCONTRA A ÍNDIA NA GRUNA, QUE CORRE RISCO DE DESABAMENTO. POTIRA DIZ AO AMADO QUE QUER MORRER COM ELE.

*** JUCA CIPÓ CONTA A PEDRO BARROS QUE VIU POTIRA E JERÔNIMO NA GRUNA, E QUE OS DOIS VÃO MORRER SOTERRADOS!

 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 81 DE

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