domingo, 15 de julho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 73

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
CAPÍTULO 73
Personagens deste capítulo:

OLIVEIRA RAMOS
MISS JULY
DANUSA
RENATÃO
RODOLFO AUGUSTO
DELEGADO FONTOURA
VÍTOR
HELÔ
KONSTANTÓPULUS
RICARDINHO
MARIO MALUCO
JUREMA
EMILIANO
MARIETA
SUSI
DETETIVE JONAS
ADELAIDE
SAMUCA
JOANINHA
PORTEIRO

 
CENA 1  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  SALA  -  INT. -  DIA.

Continuação Imediata da última cena do capítulo anterior
 
RODOLFO AUGUSTO EMPALIDECEU. ABRIU A BOCA, SEM ACREDITAR NO QUE VIA. NA CAPA DA REVISTA MASCULINA, A FOTO DE MARIA REGINA NUA, EM POSE SENSUAL.

RODOLFO AUGUSTO  -  Mas... mas é Maria Regina! 

DANUSA  -  Exatamente. É ela. Sua ex-esposa, ou sei lá o quê! E tem mais: abra a revista e veja quem é o autor das fotos!

RODOLFO AUGUSTO FOLHEOU A REVISTA, NERVOSAMENTE, E PAROU AO VER AS FOTOS DE MARIA REGINA.

RODOLFO AUGUSTO  -  Tá aqui. Deixe ver... Fernando Trevisan! Mas, então...

DANUSA  -  Exatamente. Aquele fotógrafo. Eles estão juntos!

RODOLFO AUGUSTO  -  (deu de ombros) Melhor assim. Pelo menos, Maria Regina está realizando seu sonho de ser famosa. Não tenho mais nada a ver com a vida dela!

DANUSA  -  Assim é que se fala, meu amigo! Mas e a sua vida, como vai ficar?

RODOLFO AUGUSTO  -  Como assim... não entendi.

DANUSA  -  Falo da sua vida sentimental. Ah, Gugu, eu adoraria ver você apaixonado por alguém que o amasse sinceramente...

RODOLFO AUGUSTO  -  Bobagem. Já me acostumei a viver sozinho. Quero saber de você: como está o romance com o Gouveia Neto?

DANUSA  -  (sorriu, com ar de mistério) Estamos nos conhecendo. É um homem muito interessante... e inteligente.

RODOLFO AUGUSTO  -  Vejo que aquele brilho no olhar continua. Isso é um bom sinal! Estou torcendo por vocês!

DANUSA  -  Obrigada, Gugu! 

RODOLFO AUGUSTO  -  Bem, tenho que voltar correndo pro ateliê. Sabe, estou atarefadíssimo costurando um modelito especial para arrasar no noivado do Oliveira Ramos... Nos vemos lá, não é?

DANUSA  -  Eu adoraria, Gugu! Quase cortei os pulsos, mas como posso sair de casa com a cara toda inchada da plástica? Impossível!

RODOLFO AUGUSTO  -  Tem razão... pode deixar que depois te conto tudo! Tchau, nega!

CORTA PARA:

CENA  2  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.

DELEGADO FONTOURA  -  Muito bem, Dona Heloísa. A senhora já contou tudo. Só há um ponto no seu depoimento que falta elucidar. A senhora disse que deixou Nívea por volta de uma hora da madrugada, tomou seu carro e foi pra casa. Chegou em casa a que horas?

HELÔ  -  Não tenho certeza. Talvez às duas...

DELEGADO FONTOURA  -  Do Castelinho à sua casa, de carro, não se pode levar mais de cinco minutos. Por que a senhora demorou tanto?

HELÔ  -  (começou a ficar nervosa) Eu fiquei rodando... rodando...

FONTOURA OLHOU-A NOS OLHOS, INQUISITORIALMENTE.

DELEGADO FONTOURA  -  Fale a verdade, Dona Heloísa. Quero a verdade! A verdade!

HELÔ  -  (reagindo nervosamente) Pois já lhe disse! Se quiser acreditar, acredite! Se não quiser, dane-se!

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.

RENATÃO ESTAVA DIANTE DO ESPELHO, AJUDADO POR KONSTANTÓPULUS, PREPARANDO-SE PARA A FESTA.

KONSTANTÓPULUS  -  ... quatro casamentos, indo para o quinto! Esse Oliveira Ramos não cansa? No lugar dele, eu já teria desistido!

RENATÃO  -  Bem, é claro que você, que é um pobre-diabo, que não tem onde cair morto, não teria tantas mulheres sempre dispostas a casar. Agora, se você tivesse quarenta o oito agencias bancárias... a coisa mudava de figura. Teria todas as mulheres a seus pés!

“ALELUIA!  ALELUIA!”

RENATÃO  -  Veja se não é algum chato, Konstan.

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

O MORDOMO FOI ATENDER. ABRIU A PORTA E HELÔ ENTROU.

HELÔ  -  Boa noite. Eu queria falar com Renatão... em particular.

KONSTANTÓPULUS  -  Um momento, por favor.

KONSTANTÓPULUS SAIU. EM POUCOS SEGUNDOS, RENATÃO ENTROU NA SALA.

RENATÃO  -  Estava me preparando para ir à recepção do Oliveira Ramos., você não vai?

HELÔ  -  Vou... depois. Vim antes porque... preciso esclarecer um assunto

HELÔ VOLTOU-SE PARA RENATÃO E OLHOU-O DE FRENTE, NOS OLHOS.

HELÔ  -  Quero que você me diga uma coisa. Na noite em que Nívea morreu... eu estive aqui?

O PLAYBOY NÃO RESPONDEU IMEDIATAMENTE. SORRIU, UM SORRISO UM TANTO CÍNICO.

RENATÃO  -  Você já esqueceu?...

HELÔ  -  Sim, esqueci. Tudo o que se passou comigo naquela noite eu havia esquecido. Aos poucos, fui lembrando. Há pouco tempo, Dr. Leivas me hipnotizou e eu consegui lembrar quase tudo... exceto o que fiz entre uma e duas horas da madrugada. Acho que porque ele não me perguntou. Hoje, na polícia, eu lembrei!

RENATÃO  -  Nunca pude falar nada a esse respeito... pra não lhe comprometer. Inclusive, isso nos teria livrado de qualquer suspeita. Foi na hora do crime. Seria um álibi perfeito. Mas, por cavalheirismo, eu estava e estou impedido de usar...

HELÔ ESTAVA ABALADA. ENVERGONHADA, MESMO.

HELÔ  -  Eu tinha esquecido... De qualquer maneira, eu lhe agradeço. Foi um “beau geste” de um cafajeste...

RENATÃO VOLTOU A SORRIR.

RENATÃO  -  Os cafajestes também tem o seu código de ética. E você não tem nada que agradecer. Você esqueceu aquela noite, mas eu não esqueci...

A MOÇA OLHOU-O DE FRENTE, AGORA.

HELÔ  -  Então, esqueça.

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

EMILIANO  -  Tem certeza de que não quer mesmo ir à festa do Oliveira Ramos? Ele fez questão de me entregar o convite pessoalmente...

MARIETA  -  (irredutível) Não. Apesar do convite, da deferencia do Oliveira Ramos, não me sinto bem entre grâ-finas. Além de outros motivos, esse é um deles.
    
EMILIANO  -  Marieta, não seja tão radical... Olha, a gente ia só pra dar uma satisfação: chegar lá, cumprimentar e sair.

MARIETA  -  Já disse que não. Não tenho vontade de olhar pra cara da Helô!

 EMILIANO  -  (balançou a cabeça, e sentou-se numa poltrona) Ô mulher teimosa!...

MARIETA DESVIOU OS OLHOS DA TV E ENCAROU O MARIDO.

MARIETA  -  Emiliano, se você quiser, vá sozinho. Não me importo.

EMILIANO  -  Não mesmo? Tem certeza?

MARIETA  -  (sorriu e falou com sinceridade) Honestamente? Não quero ser egoísta, mas eu adoraria se você ficasse aqui, comigo. Hoje vai passar um filme ótimo na TV!

EMILIANO  -  Pensando bem... acho que vou preferir ficar. Faz uma pipoca pra gente?

MARIETA  -  (levantou-se, com ar de satisfação) Metade doce e metade salgada, do jeito que você gosta! É pra já!

CORTA PARA:

CENA  6  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.     

ALGUNS CONVIDADOS JÁ SE ACHAVAM PRESENTES, QUANDO HELÔ E VÍTOR ENTRARAM NA SALA. OLIVEIRA FOI AO ENCONTRO DELES.

OLIVEIRA RAMOS  -  Minha filha!  Estava ansioso para que vocês chegassem. Como foi tudo?

HELÔ  -  Contei tudo o que sabia; o delegado ficou insistindo  em coisas que eu não lembrava e mandei ele se danar!  

OLIVEIRA RAMOS  -  (surpreso) O delegado?

HELÔ  -  Ele mesmo. Mas tá tudo bem, fique tranquilo (e passeou os olhos pela sala) A minha nova mamãe já chegou?

OLIVEIRA RAMOS  -  Ainda não. Mas não deve demorar. Você vai ter uma surpresa.

HELÔ  -  (com os olhos brilhando de curiosidade) Uma surpresa?

OLIVEIRA RAMOS  -  (riu) Eu acho que você vai gostar dela (virou-se para Rodolfo Augusto, que entrava, e foi recebê-lo) Seja bem-vindo, meu caro Rodolfo Augusto. E sua esposa, Maria Regina, não veio?

RODOLFO AUGUSTO  -  Vejo que ainda não soube. Nosso casamento foi anulado. Na verdade, aquela festa foi apenas um pretexto pra reunir os amigos.

OLIVEIRA RAMOS -  (sorriu, divertido) Adoro esse seu senso de humor, Rodolfo Augusto!

NESSE INSTANTE, ENTROU SUSI. OLIVEIRA SE PERTURBOU UM POUCO, MAS FOI AO ENCONTRO DELA.
OLIVEIRA RAMOS  -  Susi, mas que surpresa! Não pensei que viria...

SUSI   -  Não resisti ao desejo de ver a cara de minha substituta!

CORTA PARA:

CENA  7  -  DELEGACIA  -  SALA DO DETETIVE JONAS  -  INT.  -  NOITE.

NO DISTRITO, JONAS ACABAVA DE ATENDER O TELEFONE.

DETETIVE JONAS  -  É ele, sim. Quem está falando?

HOMEM  -  (do outro lado da linha) O porteiro do edifício de Jurema, lembra? O sinhô pediu pra avisá... O barbudo... Mariozinho Maluco, tá lá agora, no apartamento de Jurema... Mas escute... olhe o que o sinhô me prometeu...

DETETIVE JONAS  -  Pode ficar tranquilo. O seu tá garantido. Vamos já pra aí.

JONAS DESLIGOU. COMEÇOU A DISCAR NOVAMENTE.

DETETIVE JONAS  -  Alô? Dr. Fontoura? Negócio é o seguinte... Acabei de saber onde seu filho, Mariozinho está e... Onde?... No apartamento dela!... O senhor quer que a gente dê uma batida?

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DO DELEGADO FONTOURA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

FONTOURA FALAVA COM JONAS NO CELULAR, E ERA OBSERVADO, ATENTAMENTE, PELA MULHER, ADELAIDE.

FONTOURA  -  (ao celular) Se quero? Prepare uma viatura, imediatamente! Eu vou chefiando. Té já.

ADELAIDE  -  Quem era?

FONTOURA  -  Não é nada... Caso de rotina.

MAS ADELAIDE PERCEBEU, PELO NERVOSISMO DO MARIDO, DO QUE SE TRATAVA. FONTOURA PÔS O CINTURÃO COM O REVÓLVER. EM SEGUIDA, SAIU.

ADELAIDE FICOU SEM SABER O QUE FAZER. FOI AO TELEFONE E DISCOU.

ADELAIDE  -  Alô? Donde fala? Por favor, Mariozinho está aí? É a mãe dele!

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE JUREMA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

JUREMA ESTAVA COM O FONE NA MÃO. MARIO E RICARDINHO SENTADOS NO CHÃO, FUMANDO.

JUREMA  -  É a sua mãe, você atende?

MARIO MALUCO FEZ QUE SIM COM A CABEÇA E LEVANTOU-SE.

RICARDINHO  -  (advertiu) Cuidado! Pode ser um truque!

MARIO HESITOU UM INSTANTE. ACABOU ATENDENDO.

MARIO MALUCO  -  Mãe... é você?

ADELAIDE  -  (do outro lado da linha) Olha, a polícia tá indo praí! Seu pai também!...

MARIO MALUCO  -  É? Caramba! Brigado, mãe! (desligou e virou-se para Ricardinho, os olhos arregalados de pavor) A polícia tá vindo pra cá! Vou cair fora!

RICARDINHO  -  (gritou, levantando-se do chão) Vou com você!

JUREMA  -  (tentou impedir, segurando-lhe o braço) Ricardinho! Não é melhor ele ir sozinho?

RICARDINHO  -  Que nada! Ele é meu amigo! Me solta!

O RAPAZ SOLTOU-SE COM UM SAFANÃO E SAIU ATRÁS DE MARIO.

JUREMA  -  (estendeu a mão, inùtilmente) Cuidado!...

CORTA PARA:

CENA  10  -  PRÉDIO DO APARTAMENTO DE JUREMA  -  FRENTE  -  EXT.  -  NOITE.

RICARDINHO E MARIO MALUCO CRUZARAM A PORTARIA CORRENDO, GANHARAM A RUA, MONTARAM  NAS MOTOS E PARTIRAM EM DISPARADA.

CORTA PARA:

CENA  11  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

SAMUCA E JOANA CHEGARAM À FESTA. ELA, UM POUCO ACANHADA, MAS ELEGANTÍSSIMA.

SAMUCA  -  Pô, você tá com uma cara de quem tá entrando numa jaula de leão. Vê se bota uma cara mais alegre.

JOANINHA  -  (fez um muxôxo) Nao gosto de festa de grâ-fino. Fica todo mundo reparando no vestido da gente...

SAMUCA  -  Pois deixe repararem. Você está elegantíssima! Modelo Rodolfo Augusto exclusivo.

OLIVEIRA CUMPRIMENTOU SAMUCA E JOANA SEM GRANDE ENTUSIASMO.

OLIVEIRA RAMOS  -  Como vai, Samuca? Boa noite, dona Joana.

SAMUCA ESTAVA EFUSIVO. JOANA, TÍMIDA.

SAMUCA  -  Olá, Oliveira!

OLIVEIRA RAMOS  -  Boa noite...

SAMUCA  -  A noiva?... Queremos conhecer a noiva!

OLIVEIRA RAMOS  -  (encarou-o friamente) Ainda não chegou.

OS DOIS SE AFASTARAM. O BANQUEIRO APROXIMOU-SE DE MISS JULY.

OLIVEIRA RAMOS  -  Eu não mandei convite pra ele... Como é que ele entrou?

CORTA PARA:

CENA  12  -  PREDIO DO APARTAMENTO DE JUREMA  -  FRENTE -   EXT.  -  NOITE.

O CARRO DA POLÍCIA ESTACIONOU EM FRENTE AO PRÉDIO DE JUREMA. JONAS E FONTOURA ESTAVAM DENTRO. O DETETIVE SALTOU E FOI CONVERSAR COM O PORTEIRO, QUE APONTOU NA DIREÇÃO EM QUE MARIO E RICARDINHO FUGIRAM NAS MOTOS. JONAS VOLTOU PARA O CARRO E ESTE PARTIU EM DISPARADA ATRÁS DELES. QUANDO JÁ DOBRAVA A ESQUINA, JUREMA SAIU CORRENDO DO PRÉDIO.

CORTA PARA:

CENA  13  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

A FESTA AGORA IA MAIS ANIMADA NA RESIDENCIA DE OLIVEIRA RAMOS.

OLIVEIRA RAMOS  -  Meu caro Embaixador... Senhora Embaixatriz... é um prazer recebê-los!

CORTA PARA:

CENA 14  -  RUAS DE IPANEMA/LEBLON  -  EXT.  -  NOITE.

RICARDINHO E MARIO MALUCO CONTINUAVAM EM DISPARADA. MUITAS RUAS ATRÁS, SEGUIA O CARRO DA POLÍCIA, NA PERSEGUIÇÃO.


FIM DO CAPÍTULO 73


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...


*** No penúltimo capítulo, prossegue animada a festa de noivado do banqueiro Oliveira Ramos, enquanto lá fora, nas ruas de Ipanema, Ricardinho e Mario Maluco tentam escapar da perseguição implacável do delegado Fontoura.


*** Oliveira Ramos apresenta, finalmente, sua futura quinta esposa!


EMOÇÕES FINAIS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS


NÃO PERCA O PENÚLTIMO CAPÍTULO DE


 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 72

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

CAPÍTULO 72
Personagens deste capítulo:

OLIVEIRA RAMOS
KONSTANTÓPULUS
SAMUCA
RENATÃO
DOM JOSÉ
JUREMA
VÍTOR
HELÔ
JOANINHA
DELEGADO FONTOURA
MARIO MALUCO
RODOLFO AUGUSTO
DANUSA

CENA 1  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

MARIO MALUCO ACABARA DE LIGAR PARA CASA.

RENATÃO  -  Que foi que houve? Tá ocupado?

MARIO MALUCO  -  Não, o velho atendeu... deu logo aquele show. Eu queria avisar à velha que eu tou bem. Telefono amanhã, na hora que ele estiver de serviço.

RENATÃO  -  (com azedume) Mas o Mãozinha, hem? Entregou você!

MARIO MALUCO  -  Eu acho que ele fez isso pensando que o velho ia tremer na base. Não sabe que seu Delega é carne de pescoço!

RENATÃO  -  Quer mais um uísque?

MARIO MALUCO  -  Eu acho que se tomar mais um uísque agora... desmaio. Não comi nada hoje... não almocei, nem jantei...

RENATÃO  -  Por que não disse logo?! Konstantópulus! Prepara qualquer coisa pro Mariozinho comer (e notando o mau aspecto do rapaz) Não quer tomar um banho antes? Banho é bom. A água lava tudo. (e virando-se para o mordomo) Konstan, toalha, sabonete, escova, desodorante...

CORTA PARA:

CENA  2  -  HOTEL  PRAIA IPANEMA  -  SAGUÃO  -  INT.  -  DIA.

SAMUCA CHEGOU AO HOTEL E, APÓS SE INFORMAR NA RECEPÇÃO, DIRIGIU-SE AO SAGUÃO, ONDE DOM JOSÉ O AGUARDAVA.

SAMUCA  -  (ao avistá-lo) Dom José! Recebi seu recado e vim o mais depressa que pude.

DOM JOSÉ  -  Como vai, Senhor Samuca? Dom Carvajal me mandou ao Brasil solamente para saldar las deudas de Doña Consuelo. Isto é, la transación con el Banco Oliveira Ramos.

SAMUCA  -  Dom Carvajal é um homem de palavra. Cumpriu o que prometeu.

DOM JOSÉ  -  Sí, sí. Pero, todo lo más  -  palacete, automóvel, todos los bens, terán que ser devolvidos.

SAMUCA  -  (queixou-se, amargurado) Tanto sacrifício pra no fim acabar na lona!

DOM JOSÉ  -  (falou, pausadamente) Pero, en liberdade!

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.
         
RENATÃO SUPREENDEU-SE AO VER SAMUCA SURGIR NA SALA, CARRAGANDO UMA PEQUENA MALA.

RENATÃO  -  Ué... o que aconteceu? Vai embora?

SAMUCA  -  Vou, meu velho. Eu tinha uma vaga esperança que Dom Carvajal deixasse ao menos o carro comigo... mas não me restou nada. Portanto, só me resta voltar pra Pensão Primavera. Ainda bem que paguei aquela pendura, não paguei? Paguei em dobro!

RENATÃO  -  Tem certeza que pode se manter na pensão? Se quiser ficar aqui mais um tempo...

SAMUCA  -  Obrigado, meu amigo. É bom saber que posso contar com você. Tenho algum dinheiro, que Consuelo me deu logo que nos casamos. Vai dar pra pagar as contas por uns meses. E, morando na pensão, fica mais fácil me reaproximar de Joaninha. Ela e Maria Lúcia são amigas, estão sempre juntas, sabe como é...

RENATÃO  -  Eu sei, sei como é. (e abriu os braços) Vem cá, velho. Me dá um abraço!

ABRAÇARAM-SE.

SAMUCA  -  Ei, por que todo esse drama? Afinal, a pensão fica a três quadras daqui!

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

OLIVEIRA RAMOS FOI PESSOALMENTE À CASA DA FILHA. ESTAVA MUITO ANSIOSO. VÍTOR E HELÔ SENTARAM-SE DIANTE DO BANQUEIRO, CURIOSOS.

HELÔ  -  Estou curiosa, papai. Você nunca vem aqui...

OLIVEIRA RAMOS  -  Helô, você é minha única filha, e sabe o quanto sua opinião e aprovação são importantes para mim. Pois bem, eu... eu vou direto ao assunto: conheci uma moça e estamos namorando há um tempo...

HELÔ  -  Eu devia ter desconfiado... Você não tem jeito mesmo, papai. (refletiu) Mas espere... como podem namorar já a algum tempo, se eu nunca soube de nada?

OLIVEIRA RAMOS  -  I-isso não tem importancia agora. O que importa é que nos gostamos muito e resolvemos nos casar!

HELÔ  -  (fez um muxôxo) Vai começar tudo de novo! Quatro casamentos desfeitos e você não se cansa, meu pai?

VÍTOR  -  Amor, deixe seu pai falar...

OLIVEIRA RAMOS  -  Sábado vou dar uma festa em casa, para apresentar oficialmente à sociedade minha quinta esposa.

HELÔ  -  (balançou a cabeça, negativamente) Não acredito! Quem é a interesseira da vez?

OLIVEIRA RAMOS  -  Minha filha, falando assim você me ofende. Sou um coroa enxuto, ainda. Como pode achar que as mulheres se aproximam de mim apenas por interesse em meu dinheiro? Na sua opinião, não tenho nenhum atrativo?

HELÔ  -  Não é isso, papai. Você é que é muito precipitado. Deveria conhecer melhor as mulheres, antes de pensar em casamento. Com quatro casamentos nas costas, já devia ter aprendido!

OLIVEIRA RAMOS  -  Filha, não consigo viver só. Sinto falta de uma companhia, de uma mulher em casa.

HELÔ  -  Posso saber quem é ela? Eu conheço?

OLIVEIRA RAMOS  -  (hesitou) Não... você não conhece. Por isso vou dar essa festa. Quero apresentar minha noiva a você e  a todos. Posso contar com vocês?

HELÔ  -  (olhou para Vitor, indecisa) Não sei. Vamos pensar, papai.

OLIVEIRA RAMOS  -  Vou ficar muito feliz se vocês forem. Vítor, por favor, me ajude a convencer Helô.

VÍTOR  -  Vou tentar, Oliveira. Vou tentar.

OLIVEIRA RAMOS  -  (levantou-se) Bem, eu vou indo. Tenho algumas coisas pra resolver, ainda (beijou a filha) Até logo, querida. Chau, Vítor.

E SAIU,

HELÔ  -  (sozinha com Vítor, desabafou) Papai não tem jeito, não aprende mesmo! Preferia não ir a essa festa.

VÍTOR  -  Mas somos obrigados. Você sabe, detesto recepções.

HELÔ  -  (falou, decidida) Mas mudei de idéia. Nós vamos,  sim.  Vou  pra  me divertir. Vou me divertir muito. E também porque quero conhecer minha nova “mamãe” e dizer logo na cara o que penso dela!

A CAMPAINHA TOCOU. VÍTOR E HELÔ FITARAM-SE.

HELÔ  -  Meu pai voltou?

VÍTOR ABRIU A PORTA. NÃO ERA OLIVEIRA RAMOS. UM HOMEM DE MEIA IDADE APRESENTOU-SE, COM UMA FOLHA DE PAPEL NAS MÃOS.

HOMEM  -  Bom dia. Sou oficial de justiça. Trago uma intimação para Dona Heloísa Oliveira Ramos. Ela está em casa?

HELÔ APROXIMOU-SE.

HELÔ  -  Sou eu.

HOMEM  -  Assine aqui, por favor.

HELÔ ASSINOU O PAPEL E DEVOLVEU-O AO OFICIAL, QUE RETIROU-SE.

HELÔ  -  (lendo o documento) É.... uma intimação pra depor!

VÍTOR  -  (sério) Então é verdade mesmo... Eles vão começar tudo... E é depois de amanhã... Vamos estragar a festa do Oliveira... Temos que avisá-lo.

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE JUREMA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

JUREMA ABRIU A PORTA E MARIO MALUCO ENTROU. JUREMA ABRIU OS BRAÇOS PARA ELE.

JUREMA  -  Tava louca pra te ver...

MARIO MALUCO  -  É que... eu ando meio enfurnado... Dei um azar... e o velho anda atrás de mim.

JUREMA  -  Ricardinho me disse.

MARIO MALUCO  -  Ele não tá aqui? Pensei de encontrá-lo aqui...

MARIO FICOU MEIO CONSTRANGIDO.

JUREMA  -  Mas você pode ficar... se a barra tá pesada.

MARIO MALUCO  -  Tá... pesadíssima. O velho botou uma pá de tiras atrás de mim... Não tá mole... Posso mesmo ficar aqui?

JUREMA  -  Pode. Não tem problema. Se os tiras voltarem, eu escondo você!

MARIO OLHOU PARA ELA FIXAMENTE. JUREMA SORRIU.

MARIO MALUCO  -  Sabe que tu é uma garota muito bacana? Palavra! Como você não existe. Mas não existe mesmo. Ás vezes, quando eu imaginava você lá na cadeia... me dava vontade de chorar. Uma vez eu chorei. Quando li aquela carta...

JUREMA  -  (ficou preocupada) Você leu?...

MARIO MALUCO  -  Ricardinho não tem segredo pra mim. Ele é meu irmão. Você também... é minha irmã. O que você me pedir pra fazer, eu faço. Faço mesmo.

JUREMA  -  (emocionada) Muito obrigada, Mariozinho. É muito bom a gente saber que tem alguém que gosta da gente... assim, desse jeito.

SORRIRAM, UM PARA O OUTRO. NA MAIOR PUREZA.

CORTA PARA:

CENA  6  -  BANCO OLIVEIRA RAMOS  -  SALA DE OLIVEIRA  -  INT.  -  DIA.

O BANQUEIRO FICOU SURPRESO COM A CHEGADA REPENTINA DE VÍTOR.

OLIVEIRA RAMOS  -  (surpreso) Vítor! Aconteceu alguma coisa?

VÍTOR  -  (falou com gravidade) Aconteceu, Oliveira. Achei melhor vir pessoalmente. Aconteceu o que mais temíamos: Helô recebeu uma intimação  pra depor. E no dia da sua festa. Acho melhor suspender a recepção.

OLIVEIRA RAMOS  -  (minimizou) Mas não é só um depoimento? Então não há nada de mais. A recepção será mantida.

VÍTOR OLHOU-O, DESCONFIADO.

VÍTOR  -  Eu gostaria de ter a sua segurança... mas confesso que estou muito preocupado...

OLIVEIRA RAMOS  -  Vai dar tudo certo, você vai ver.

CORTA PARA:

CENA  7  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  QUARTO DE SAMUCA  -  INT.  -  DIA.   

SAMUCA ESTAVA DEITADO NA CAMA, PENSATIVO, QUANDO BATERAM NA PORTA.

SAMUCA  -  (gritou) Entre! A porta tá aberta.

JOANINHA SURGIU NA PORTA. SAMUCA LEVANTOU-SE, DE UM SALTO.

JOANINHA  -  Oi, Samuca.

SAMUCA  -  (surpreso) Joaninha! Que bom ver você...

JOANINHA  -  Maria Lúcia me disse que você voltou pra pensão. Não acreditei. Vim ver se é verdade.

SAMUCA  -  (constrangido) Como você vê, estou de volta... do mesmo jeito que saí...

JOANINHA  -  Quer dizer, então... que a falecida não deixou nada pra você?

SAMUCA  -  (confirmou) Nada. Tenho apenas um dinheirinho pra me manter por uns meses, e nada mais. Mas, Joaninha, quer saber de uma coisa? Eu tou feliz. Por incrível que pareça, eu tou feliz. Fui recebido por todos de braços abertos, tou me sentindo em casa... e tem coisas que... (emocionou-se) tem coisas que não tem preço. Uma dessas coisas... é ver você bater na porta do meu quarto e entrar... como nos velhos tempos!

JOANINHA  -  Ai, Samuca, pára senão vou chorar...

SAMUCA TOMOU-LHE AS MÃOS E BEIJOU-AS.

SAMUCA  -  (falou com sinceridade) Eu te amo, Joaninha.

JOANINHA  -  Você é um tonto, mas eu também te amo. Muito!

CORTA PARA:

CENA  8  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.

DOIS DIAS SE PASSARAM. HELÔ, AGORA, ESTAVA DIANTE DO DELEGADO FONTOURA, COM UM ESCRIVÃO PRESENTE.

DELEGADO FONTOURA  -  Como a senhora está vendo, voltamos a nos encontrar. E em situação bem pior, para a senhora.

HELÔ  -  Eu acho tudo isso uma palhaçada!

DELEGADO FONTOURA  -  (advertiu-a) Modere seu linguajar, Dona Heloísa. Estamos aqui para um depoimento, coisa séria!

HELÔ  -  Eu digo que isto é uma palhaçada porque o senhor está farto de saber que eu não tive nada a ver com esse crime. Tanto, que nem tomou meu depoimento da primeira vez. Mas agora, como deram a mancada de condenar Jurema e o processo acabou sendo anulado, querem  achar outro pato!

DELEGADO FONTOURA  -  (conteve-se a custo) Dona Heloísa, eu estou aqui cumprindo um dever. Por solicitação do Dr. Promotor Público, recebi do juiz a incumbência de ouvir determinadas pessoas. E é o que estou fazendo.

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.  

RODOLFO AUGUSTO FOI AO APARTAMENTO DE DANUSA, QUE QUERIA VÊ-LO COM URGÊNCIA.

RODOLFO AUGUSTO  -  (entrou, esbaforido) Danusa, estava ocupadérrimo examinando uns croquis e tive de largar tudo pra atender o seu chamado!

DANUSA  -  Gugu, te chamei aqui porque sou sua amiga. Acabei de fazer uma plástica e não posso sair de casa, senão iria correndo te mostrar isso!

SENTADA A UMA POLTRONA, COM O ROSTO COBERTO POR UMA MÁSCARA AMARELA, DANUSA ATIROU-LHE UMA REVISTA.

RODOLFO AUGUSTO  -  (pegou a revista e olhou a capa, confuso) Mas... o que é isso...

DANUSA  -  Uma bomba! Olhe! Não reconhece?

RODOLFO AUGUSTO EMPALIDECEU. ABRIU A BOCA, SEM ACREDITAR NO QUE VIA. NA CAPA DA REVISTA MASCULINA, A FOTO DE MARIA REGINA NUA, EM POSE SENSUAL.

RODOLFO AUGUSTO  -  Mas... mas é Maria Regina! 

FIM DO CAPÍTULO 72


e no próximo capítulo...


*** Começa a festa de noivado de Oliveira Ramos, com muitas surpresas e revelações, e de onde nossos personagens , ao sair, não serão mais os mesmos!


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