segunda-feira, 5 de setembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 61


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 61

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
PEDRO BARROS
ESTELA
SOUZA
OTO
JOÃO
MARIA DE LARA


CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  DIA.

Tudo ficara acertado entre Pedro Barros e o dono do clube. Com o cigarro entre os dentes amarelados, Souza aguardava a presença de Estela. Era uma figura estranha, de nariz adunco, longas mãos de unhas tratadas e eternamente vestido de branco. Sòmente os mais íntimos conheciam-lhe o caráter ganancioso e extremamente frio. A mulher empalideceu ao dar de cara com o homem a quem devia considerável soma, decorrentes de suas noitadas de vício. Souza deu um passo á frente e sem maiores rodeios entrou no assunto.


SOUZA  -  Terminou o prazo, não, Estela? (falou com a intimidade de velhos conhecidos)  Eu já esperei demais.

Barros assistia ao diálogo imperturbável.

PEDRO BARROS  -  Estive conversando com ele, sobre você.

ESTELA  -  (nervosa)  O que é isto? Uma cilada?

Souza não respondeu. Preferiu comunicar-lhe a decisão que tomara, minutos antes, com a aquiescência do coronel.

SOUZA  -  Está tudo acertado. O coronel está disposto a pagar o restante de sua dívida...

PEDRO BARROS  -  Que não é pequena!   São 10 milhões que eu pago imediatamente. (Estela esfregava as mãos em ritmo frenético)  O Souza quer te mandar pra cadeia. Você assinou títulos...

ESTELA  -  (Irônica, dirigiu-se ao esposo)  -  E você... quer me impedir de mofar no xadrez? Não é isso?

PEDRO BARROS  -  Eu posso impedir, Estela... mas vou impor uma condição. (fez uma pausa demorada, ante a impaciência da mulher)  A de que você deixe esta casa, imediatamente. (incontinenti, mostrou-lhe um papel em branco)  Tem que escrever uma carta pra sua filha... uma carta de despedida, dizendo que vai embora porque não suporta esta vida. Porque quer viver livre... como sempre desejou.

ESTELA  -  Eu sei. (disse,  com os lábios trêmulos)  Um atestado de que não presto, para você sair limpo de toda a história. Com auréola de santo...

PEDRO BARROS  -  (rodopiou em torno da mesa do escritório, sentando-se na cadeira giratória, como se negociasse com estranhos o preço do diamante)  Você não tem escolha. Ou sai da minha vida, como eu quero... ou te entrego nas mãos do Souza, e ele faz de você o que quiser.

Abriu uma gaveta e rebuscou-a, tranquilamente. Media os gestos como um ator diante da platéia.


PEDRO BARROS  -  Aqui tem papel e pena. Escreva.

Estela arriou-se na velha cadeira de palhinha e pegou da pena. As mãos tremiam-lhe incontroláveis. Barros observava com frieza.

ESTELA  -  Que digo?

PEDRO BARROS  -  Que tá cansada de mim. Que vai se arrumar por esse mundo. Não nasceu pra vida de interior, nem do lar.

ESTELA  -  (sombria)  Eu sei o que dizer.

PEDRO BARROS  -  Nada de desculpas.  Nem de bancar a mãe boazinha, vítima.

Os olhos de Souza encontraram-se com os da esposa do coronel.


ESTELA  -  (exigiu)  Estranhos não precisam participar disso. Manda este homem pra fora.

PEDRO BARROS  -  Ora, o Souza sabe muito bem quem é você. Ele te conhece a fundo. Não era no clube dele que você se encontrava com...

ESTELA  -  (cortou-lhe a palavra)  Basta, Pedro! Ou eu não escrevo nada!

SOUZA  -  (com cinismo, dirigindo-se ao coronel)  Desde que ela se decidiu, nada tenho a fazer aqui, a não ser receber a minha parte.

PEDRO BARROS  -  (tornou a abrir a gaveta, retirando um talão de cheques. Preencheu-o e assinou-o)  Pronto.  Tá feito o cheque, mas não te dou, agora.  Espera na outra sala. Ela tá cheia de vergonha... mas pode mudar de idéia. (havia desprezo e ódio nas palavras)  Te dou o cheque depois de ver ela pelas costas.

Estela começou a escrever. O papel dançava-lhe nas mãos e as lágrimas traçavam linhas sinuosas pela face, enegrecida pelas tintas da maquilagem.

PEDRO BARROS  -  Você nunca quis bem à sua filha. Não podia querer, pois é minha, também. Tem meu sangue. E você sempre me detestou.

ESTELA  -  (levantou a cabeça, submissa)  Você me obrigou a detestá-lo.

PEDRO BARROS  -  Eu te obriguei a ser o que você foi? Eu te tirei da lama, não foi? Foi bom. Te lembra onde eu te achei?  Você me odiava porque te obriguei a ter a filha que você não queria. Era uma leviana... uma doida, sem juízo. Largou a menina nas mãos de empregados. Nem ligava pra ela. Eu, o pai duro e severo, é que tinha carinho pela criança. Depois veio com aquela empáfia de grande educação. De mulher fina!

ESTELA  -  Eu era quase uma menina, Pedro! Inexperiente. Sem vivencia. E você não teve tolerância. Jogou-me, logo, no meio de suas sujeiras...

PEDRO BARROS  -  (com energia)  Você não merecia outra coisa...

ESTELA  -  Ou você acha que eu não sabia quem você era? Juca Cipó, um garoto ainda, que você criava. Fruto de uma das suas múltiplas aventuras. Ou você acha que eu ignorava tudo?

PEDRO BARROS  -  (sorriu desdenhosamente)  Posso ser o que for, menos um mau pai. Eu não desprezei meu filho.

ESTELA  -  E eu? Adoro minha filha, Pedro. Posso ter errado na vida, reconheço... mas adoro Lara.

PEDRO BARROS  -  Essa adoração veio tarde demais.  Porque você vai se despedir dela para sempre. (impiedoso)  Se eu souber que você procura por ela, eu te mato!

ESTELA  -  (acabou de escrever a carta, entregando-a ao marido)  Tome!

PEDRO BARROS  -  (apanhando o papel sem olhar para a mulher)  Pode dar o fora, Não tem mais nada o que fazer aqui!

Estela deixou o escritório cabisbaixa.

CORTA PARA:

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  EXT.  -  DIA.


A comédia chegara ao fim. No velho chevrolet negro Souza fumava tranquilamente soprando a fumaça esbranquiçada contra o teto sujo de graxa. Estela entrou, sorrindo cìnicamente. Atirou a maleta cinza no banco traseiro, cruzou as pernas e sorriu para o jogador. Aceitou o cigarro que o homem lhe ofereceu , acomodou-se e sintonizou o rádio numa das estações de Belo Horizonte. Não trocaram palavras , quando o jogador ligou a chave de ignição e o automóvel arrancou numa primeira barulhenta. Os olhares de ambos se encontraram num choque de entendimento. A trama surtira efeito. O dinheiro ali estava, com a rubrica do velho ricaço. Estela soltou os longos cabelos, olhou-se no retrovisor e, acompanhando o ritmo frenético de um iê-iê-iê, gargalhou alegremente. Souza abraçou-a pela cintura e aderiu á alegria que contagiava o ambiente musicado do velho carro. Oto, espantado, abriu a porteira e, paralisado, viu o automóvel desaparecer na estrada, com a esposa do patrão abraçada a um estranho.

CORTA PARA:

CENA 3  -  GARIMPO DOS CORAGEM  - EXT.  -  DIA.

Peitos nus, os garimpeiros trabalhavam silenciosos, manobrando àgilmente as peneiras, em ritmo cadenciado. Braz Canoeiro observava a atitude pensativa de João Coragem. Preocupado, chamou a atenção de Jerônimo. João permanecia inerte, como se possuído por uma rigidez doentia. A voz de Lara despertou-o da indolência. 


MARIA DE LARA  -  (nervosa)  João!

JOÃO  -  (intrigado)  Que é que você veio fazê aqui?

MARIA DE LARA  -  (mal podia falar. A voz como se lhe engasgava na garganta)  Estou desorientada, João. Minha mãe abandonou meu pai... me mandou esta carta. (mostrou ao marido um papel amarfanhado) É a despedida. Mas parece que ela foi forçada a isso. Não suportou o ambiente lá em casa. A viúva do Lourenço, minha tia e meu pai, parece que a pressionaram...

O garimpeiro acocorou-se á margem do rio e tentou ler o que dizia a carta. Acabou por desistir.


JOÃO  -  O que é que ela diz?

MARIA DE LARA  -  Que vai seguir a vida de liberdade com que sempre sonhou...

JOÃO  -  Então... o que você prefere fazer?

MARIA DE LARA  -  Acho que preciso fazer alguma coisa por ela.

João lamentava a partida da única pessoa com quem podia contar na família do sogro. “Ela nunca tava contra mim”, pensou. A esposa, desiludida diante dos acontecimentos desagradáveis que se sucediam, queria falar ao pai. Convencê-lo do êrro da atitude que havia tomado. Estela era sua mãe. Boa ou má, mas era a ela que devia a vida. João procurou modificar os propósitos da mulher. Odiava o coronel, suas terras, sua gente, suas ações criminosas. Dirigiu-se a Lara, súplice.

JOÃO  -  Fica aqui comigo. Tou hoje num tal estado que nem consigo trabalhá, de tanta coisa dentro da minha cabeça.

Lara entendia tudo. O receio do jovem de perder a liberdade; o conceito de homem bom e honesto; a riqueza que lhe escapara pelas mãos, como fios cristalinos de água, por entre os dedos. Justificava, ìntimamente, o sofrimento do marido. Antes de tornar a falar, pensou longamente em como abordar o assunto.

MARIA DE LARA  -  João... há alguém que pode ajudar você... que pode dizer o que se passou naquela noite.

JOÃO  -  (curioso)  Quem?

MARIA DE LARA  -  Você sabe. Me ajude a fazer Diana voltar... chame por ela, João. Faça tudo para ela vir.. e nós saberemos a verdade!

JOÃO  -  (com as mãos crispadas e a voz alterada pela emoção, o rapaz recriminou a sugestão da esposa)  Eu não quero que ela volte nunca mais, Lara.

MARIA DE LARA  -  Ela deve ter-se encontrado com Lourenço naquela noite...

JOÃO  -  Não diz bobage, vá! Não complica as coisa! Já chega! Deixa a alma daquela mulher em paz; deixa que ela desapareça para sempre!

FIM DO CAPÍTULO  61
Branca, Lara e Pedro Barros

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

DR. MACIEL É COVARDEMENTE ESPANCADO EM COROADO, NA ESCURIDÃO DA NOITE E NÃO CONSEGUE VER O AGRESSOR. ASSIM, AFIRMA PARA TODOS QUE FOI OBRA DE JOÃO CORAGEM, COMPLICANDO AINDA MAIS A SITUAÇÃO DO GARIMPEIRO COM A JUSTIÇA.

 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 62 DE

Nenhum comentário:

Postar um comentário