domingo, 18 de setembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 65


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 65

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JERONIMO
SINHANA
POTIRA
JOÃO
DELEGADO FALCÃO
RODRIGO
DR. RAFAEL
DIANA
CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

Jerônimo cerrou a cortina, acendeu o lampião e revelou á mãe:


JERÔNIMO  -  Olha, velha, tenho de avisá João. Vão pegá ele distraído!

SINHANA  -  Vamo pelo atalho que nós chega antes dessa cambada.

Jerônimo vestiu, apressadamente, o paletó de couro, auxiliado por Potira.


JERÔNIMO  -  Anda, índia. Num tenho tempo a perdê.

CORTA PARA:

CENA 2  -  GARIMPO DOS CORAGEM  -  GRUNA  -  EXT.  -  NOITE.


Galopando célere, com a velha Sinhana ao lado, Jerônimo alcançou as margens do rio. Ao longe divisou a luz embaçada do candeeiro. Um ponto claro na boca escura da caverna. João estava sentado, comendo um pedaço de carne-sêca. Ouviu a voz da mãe.


SINHANA  -  João!

JOÃO  -  Velha!

SINHANA  -  Vim te avisá. Os home do Falcão vem aí. Toma cuidado, filho!

O rapaz movimentou-se, hàbilmente, no interior da gruna. Alinhou as armas e preparou-se para o combate. Sinhana desapareceu por entre as árvores.

O delegado se aproximava com os homens atentos, armas engatilhadas. Chegou-se á boca da gruna.


DELEGADO FALCÃO  -  João! Tu tá me ouvindo? (não houve resposta)  Não adianta você tentar resistir. É ingenuidade sua, pensar que pode mofar aí dentro.

Como resposta um tiro sibilou de encontro á rocha. Os homens atiraram-se ao chão, como um todo.

O delegado deu rápidas ordens de comando e tornou a dirigir-se para o interior da gruna:


DELEGADO FALCÃO  -  Vou te dar quinze minutos pra sair daí!

Como da boca de um monstro pré-histórico, a voz enlouquecida do rapaz partiu da garganta escura da gruna:

JOÃO  -  Eu liquido o safado que tivé a corage de botá os pé aqui dentro! Liquido um por um. E tou torceno procê vir em primeiro lugá, Falcão. Se atreva... venha você primeiro... mostre que é home! Venha você primeiro, Falcão!

O delegado protegeu-se, ocultando-se por trás de uma rocha.


DELEGADO FALCÃO  -  (gritou, com as mãos em concha)  Está me ouvindo, João? O dia vai amanhecer. Você vai nos abrigar a ficar aqui até quando?

JOÃO  -  Até você se cansar, Falcão.

DELEGADO FALCÃO  -  É teimosia sua que não leva a coisa alguma! Sua munição vai acabar e eu estou disposto a esperar.

JOÃO  -  Até lá muita coisa pode acontecer. Eu tenho muita munição.

DELEGADO FALCÃO  -  Você está se obrigando a um sacrifício inútil, porque eu vou tirar você daí, á força. Estou começando a perder a paciencia!

JOÃO  -  Pois perde e entra aqui! (convidou, irônicamente)  Entra pra vê o que te acontece. Experimenta, capanga do coronel! Que entre o primeiro valentão, disposto a me tirá daqui, à força! Experimenta!

Houve um breve silencio, enquanto o delegado cochichou com os homens, traçando os planos de investida. Abria os braços traçando formas no espaço. Os homens escutavam, atentos, as orientações do chefe. Rodrigo e Jerônimo aproximaram-se do grupo. Falcão avistou-os.


DELEGADO FALCÃO  -  Dr. Rodrigo, ele está mesmo disposto a tudo. O pior é que é uma perda de tempo. Não pode dizer isso a ele?

RODRIGO  -  (perguntou, apontando com o polegar para a boca da gruna)  Está me pedindo para entrar?

DELEGADO FALCÃO  -  É amigo dele, não é? Pode ser que ao senhor ele atenda.

Sinhana interveio na conversa, deixando o esconderijo entre as árvores.

SINHANA  -  Não. É melhor Jerônimo ir.

JERÔNIMO  -  Eu acho.  A mim ele tem que atender.

DELEGADO FALCÃO  -  Então, tente (autorizou,  com esperança nos olhos)  Faça ver a ele a inutilidade desta atitude.

Jerônimo distanciou-se e ameaçou entrar na gruna.

JERÔNIMO  -  João, sou eu. Vou entrar.

JOÃO  -  Não entre! Eu disse que não quero tu aqui. Vai embora! Vai embora ou eu atiro pra acertá!

JERÔNIMO  -  Tu tá ficano maluco, João. Assim, também, é demais!

JOÃO  -  É pra tu sabê de vez que não te quero nisso!

Rodrigo avizinhou-se da entrada do buraco.


RODRIGO  -  João! Aqui é o Rodrigo! Você deve se entregar! Você tem as garantias que a lei lhe dá. Você pode se defender, se está inocente!

JOÃO  -  Eu já disse que tou inocente e ninguém acreditô em mim, Doutô Rodrigo.

RODRIGO  -  Mas esta sua  atitude é  uma confissão de culpa!

JOÃO  -  (replicou, feroz)  Não senhor! É confissão de revolta! É isso que eu quero que entendam! Eu tou inocente, mas acabo com o mundo, se não me deixam em paz. Sai todo mundo daí. Sai porque eu tou com o diabo no corpo! Leva Jerônimo, mãe. Eu, sozinho, dou conta do miserável do Falcão! Vai todo mundo embora!

Ás margens do rio não havia quem não percebesse a decisão do garimpeiro. Ou tudo ou nada. Liberdade ou morte. Falcão pensava nisto e na melhor maneira de impor a lei.

CORTA PARA:

CENA 3  -  RIO DE JANEIRO  - CONSULTÓRIO DO DR. RAFAEL  - SALA DE ESPERA  -  INT.  -  DIA.

Lara finalmente chegara ao Rio, depois de uma viagem cansativa e demorada. Há dois dias se encontrava na cidade e pela terceira vez visitava o consultório do Dr. Rafael. Dalva permanecia na sala de espera, folheando uma revista colorida.

CENA 4  -  RIO DE JANEIRO  -  CONSULTÓRIO DO DR. RAFAEL  -  INT.  -  DIA.


No interior, deitada numa cama confortável, de pés altos e largo colchão de molas, a moça ouvia, longìnquamente, a voz do médico.

DR. RAFAEL  -  Diana Lemos!

Era como se as duas cabeças de uma rainha , num jogo de cartas, alternassem posições. Lara, Diana, Lara, Diana...

De repente a outra equilibrou-se no tôpo da carta. Diana sobrepujou Lara e surgiu, frenética, gargalhando com ironia.


DIANA  -  Oi!

DR. RAFAEL  -  Diana?

DIANA  -  Passei um susto danado nela, hem? (levantou-se, desembaraçada, descontraída, movimentando-se alegremente pelo quarto)  Isto que o senhor fez agora, facilitou minha saída. (olhou os quatro cantos do consultório, ante o olhar observador do médico)  Não gosto disso aqui, mas quis ver como era, de perto. Lara até se sentiu um pouco melhor, mas ainda está apavorada.

DR. RAFAEL  -  (com acento crítico na voz)  Você acha bonito, bem feito, tudo o que andou fazendo?

DIANA  -  Só porque não queria voltar? Não voltei de propósito, meu chapa. Não gosto de ser dominada. Ela quis que eu voltasse, eu me recusei. Eu mando na minha vontade. Quero que diga a ela. Isto tem que ficar muito claro. Não é ela quem me domina. Sou eu quem domina ela.  (rodopiou pela sala, mexendo nos aparelhos e nos livros de altos estudos psiquiátricos e psicológicos)  Só quis castigar a cretina, pra que ela entenda isso. (Rafael observava, silencioso, analisando as reações da paciente)  Olha, se eu cismar a domino completamente. E aproveito, já que estou aqui, pra ficar pra sempre...

DR. RAFAEL  -  Está satisfeita com as coisas que andou fazendo contra ela?

DIANA  -  Não fiz nada. Ela é que inventou coisas a meu respeito.

O médico atravessou o quarto e se sentou diante da escrivaninha de madeira-de-lei.

DR. RAFAEL  -  Nós sabemos que Lara não inventa coisas. Quem faz as coisas erradas é você. Mas eu tenho que alertá-la: está saindo fora do sério. Meteu-se numa embrulhada e isto pode ser muito ruim para as duas. Qualquer que seja a confusão em que você se meter, Lara  será considerada uma psicopata e tanto você quanto ela serão trancadas num lugar adequado, com barras de ferro nas janelas e camisa-de-força. Será que fui claro?

DIANA  -  Sai daí! Por que a bronca? Que foi que eu fiz de tão errado?

RAFAEL  -  (pensou um pouco, antes de acusá-la)  Você matou Lourenço D’Ávila, Diana.

Durante alguns segundos, a mulher fitou o rosto do especialista. Logo após, explodiu numa gargalhada satânica.

DIANA  -  (ria, ainda, quando falou ao médico)  Ora, doutor! Nem vem! Nem vem, tá?

DR. RAFAEL  -  (insistia na acusação, convicto)  Foi você, não foi, Diana? Diga a verdade. Foi você quem matou o capataz do seu pai.

Retirando um cigarro da caixa de madeira, sobre a escrivaninha, Diana riscou um fósforo e soltou uma baforada em linha reta, para o rosto do médico. Sentou-se, á vontade, sobre o tampo da mesa, erguendo a saia em atitude lasciva.

DIANA  -  Por quê acha que eu matei aquele patife?

DR. RAFAEL  -  Você o havia ameaçado várias vezes. Eu estou lembrado disso. E na noite em que ele morreu, você roubou a arma de seu pai e saiu para ver se o encontrava pela cidade. Eu acho que encontrou...

DIANA  -  Saí mesmo!  Saí disposta a tudo e tinha dado cabo daquele sem-vergonha se tivesse achado ele. Mas... não achei.

DR. RAFAEL  -  Não acredito.

DIANA  -  (furiosa)  Por que não acredita?

DR. RAFAEL  -  Porque você mente. Você não tem juízo. Não tem moral, não tem nada. Você fez tudo para prejudicar Lara e levá-la ao estado a que ela chegou. Você seria capaz de matar Lourenço, como seria capaz de mentir que não o matou.

Diana esmurrou a mesa, com os dentes crispados.

DIANA  -  Mas não matei, ô cara! Não matei e não tenho razão para mentir. Se tivesse acabado com ele, sou muito mulher para aguentar as consequências.

DR. RAFAEL  -  Se não matou... por que deu fim ao revólver?

DIANA  -  Ué! De médico virou detetive?

DR. RAFAEL  -  Responda, Diana, com franqueza. Que fim deu á arma de seu pai?


FIM DO CAPÍTULO  65
João, acuado na gruna, desafia Falcão a entrar!

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** TODOS TENTAM CONVENCER JOÃO A SAIR DA GRUNA E SE ENTREGAR Á POLÍCIA. SINHANA É A ÚLTIMA ESPERANÇA, ANTES QUE O DELEGADO E SEUS HOMENS ENTREM  NO LOCAL, ATIRANDO. CONSEGUIRÁ SINHANA CONVENCER O FILHO A SE ENTREGAR?

*** DIANA FOGE DA CLÍNICA!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 66 DE

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