quarta-feira, 14 de setembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 64


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 64
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
BRAZ CANOEIRO
JOÃO
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO
BRANCA
SINHANA
JERÔNIMO

 CENA 1  -  GARIMPO  DOS CORAGEM  -  EXT.  -  DIA.

Isolado de todos João Coragem jogava o cascalho ao ar e aparava as pedras num jogo hábil de mãos, onde os movimentos adquiriam características de balé clássico. Trabalhava, assim, desde os primeiros instantes da madrugada. O sol já o encontrara ás voltas com o garimpo. Cavava forte, quando a voz de Braz Canoeiro chegou-lhe aos ouvidos.


BRAZ CANOEIRO  -  João! Joããão!

Girou no calcanhar e divisou o negro que chegava.

JOÃO  -  Pode vir, home! Ou tu tá com medo de pegá doença?

BRAZ CANOEIRO  -  (pisou nas águas frias do rio)  Que bobage é essa que tu tá dizeno?

JOÃO  -  Não sabe que eu tou cum doença ruim?

BRAZ CANOEIRO  -  (espantado)  Num sei de nada!

JOÃO  -  Todo mundo foge de mim, na cidade, tu não sabe? Tua mulhé, mesmo, fugiu com medo de mim! Tava apavorada!

BRAZ CANOEIRO  -  Cema... Cema não anda boa.  Tá esperano criança.

JOÃO  -  Pois é. Tá esperano criança e pensô que eu fosse fazê mal pro filho dela!

BRAZ CANOEIRO  -  Tou pra descobri o que tá aconteceno com a minha mulhé, João...

JOÃO  -  (resmungou, aborrecido)  Ela me traiu, Braz. É tua mulhé, mas me traiu...  Não sei por que passô pro lado dos meus inimigo...

BRAZ CANOEIRO  -  Num diz isso dela, João. A gente não sabe. Pode sê que ela têja certa... eu não sei. Não posso dizê nada.

JOÃO  -  (falou, com azedume)  Ela deve tê sido comprada, Braz, pelo Pedro Barros.

BRAZ CANOEIRO  -  (se ofendeu com a dureza da palavra)  Veja como fala, amigo. Assim, também, não. Cema é mulhé direita. Num se vende!

João Coragem andou até a margem e se sentou numa larga rocha esverdeada. Durante as enchentes as águas do rio cobriam-na, totalmente. Atirou a peneira como um disco por sobre a grama e fixou o céu.

JOÃO  -  Se não se vendeu, então, a causa é outra! Tu procura que vai encontrá, Braz. Cema mudô.

BRAZ CANOEIRO  -  (no fundo, tinha medo de saber a verdade)  Que razão tu pensa que é?

JOÃO  -  Eu... eu... sei lá! Coisa boa não deve de sê!

BRAZ CANOEIRO  -  É tu que tá imaginando, João.

JOÃO  -  Não imagino nada. Num tenho direito de lançá veneno na vida de ninguém. Nem mesmo depois de todo mundo tê lançado veneno na minha vida. Mas, nem assim, eu quero te envenená...

BRAZ CANOEIRO  -  (descontrolou-se inteiramente)  Tu tá dizeno coisas... sem sabê! Fala por falá. Tá cheio de problema e quer jogá a culpa deles pra cima da minha mulhé.

JOÃO  -  Eu jogo... porque ela se passô pro lado do nosso inimigo!

Braz chegara ao fim da paciência. Explodiu como uma bomba de profundidade.


BRAZ CANOEIRO  -  Não seja bêsta, home! Olha pra tua frente! Num foi Cema, num foi ninguém que te lançô nesta situação. Veja bem! Foi tua própria mulhé! Ela é filha do Pedro Barros, não é? Por que tu te casô com ela? Por que te amarrô nela? Tu... está contra tu, mesmo. Não é Cema. Não sou eu. Tá me ouvino? Não somos nós dois, não. É tua mulhé! Entendeu?

O sol atingira uma posição quase perpendicular. Os raios queimavam a terra e brincavam  na copa das árvores. Braz deixou o garimpo com os grossos lábios apertados e uma expressão feroz na cara negra.


CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  - DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.


O delegado se recompunha. Vestia o paletó para atender o coronel e Dona Branca, mulher do falecido Lourenço D’Ávila.


PEDRO BARROS  -  (justificou a presença de ambos)  Dona Branca estava aflita para falar com o senhor.

DELEGADO FALCÃO  -  (esticou a mão, num gesto clássico, oferecendo-lhe o banco tôsco da delegacia)  Ah, pois não, tenha a bondade.

BRANCA  -  Eu quero saber o que está sendo feito para punir a morte do meu marido.

DELEGADO FALCÃO  -  (moveu o palito entre os dentes, com nervosismo)  Bem... como já devem saber, concluí o inquérito e o enviei ao promotor e ao senhor juiz.

PEDRO BARROS  -  (indagou, ávido)  Concluiu pela culpa de João Coragem?

DELEGADO FALCÃO  -  Exatamente, pela culpa dele.

BRANCA  -  E por que ele ainda continua solto pelas ruas desta cidade, como se nada tivesse acontecido?

PEDRO BARROS  -  (aproveitou-se para jogar mais lenha na fogueira)  E o que é pior... Cometendo outros atos que não deve. O infeliz Doutor Maciel ainda está de cama, da sova que levou dele.

DELEGADO FALCÃO  -  É, isso até que pegou muito mal.  Acontece que o promotor, que é amigo dele, está botando seus obstáculos para retardar a prisão dele.

PEDRO BARROS  -  Como assim?

DELEGADO FALCÃO  -  Declarou que as provas eram insuficientes.

BRANCA  -  Mas... isto é um absurdo!  (reagiu, enfurecida)  Como, insuficiente, se ele era a única pessoa que ameaçou meu marido e que foi atrás dele, para matá-lo!

DELEGADO FALCÃO  -  O juiz pode não ser da opinião do promotor. E, se o juiz estiver de acôrdo comigo, ele pede a prisão de João, ainda hoje.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Barros esperou hora e meia, conversando com a mulher de Lourenço. De repente o delegado entrou, movimentando um papel á guisa de bandeira.


DELEGADO FALCÃO  -  Aqui está, meu coronel! Aqui está! A justiça tarde, mas não falha!

A cara cínica de Pedro Barros transfigurou-se na do cidadão honesto, defensor da justiça e da liberdade.


PEDRO BARROS  -  O juiz assinou?

DELEGADO FALCÃO  -  Assinou! Desta vez, vencemos o promotor!

PEDRO BARROS  -  Ainda bem. Isso é que tinha de acontecer, Falcão.

BRANCA  -  Quando vai prender o assassino?

DELEGADO FALCÃO  -  Com isso... posso prendê-lo imediatamente, Dona Branca.

BRANCA  -  Então, o que está esperando?

DELEGADO FALCÃO  -  Nada, Dona Branca. Vou só providenciar alguns homens. João anda espalhando valentia por aí. E se tornou perigoso. Tenho que me precaver. Mas vou agir imediatamente!

Pedro Barros, com expressão feliz, sorveu um longo trago do charuto e levantou-se.

CORTA PARA:

CENA 4  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  EXT.  -  NOITE.

Falcão não perdera tempo. Reuniu alguns de seus auxiliares e tomou rumo da casa dos Coragem. Era noite e as primeiras rãs coaxavam no riacho. As estrelas piscavam nas alturas. Sinhana foi á porta, atraída pelo tropel que se aproximava.


SINHANA  -  Jerônimo!  É o delegado com os home dele! Vem cá, depressa!

O rapaz correu a atender a mãe. Olhou pelo quadro da janela.


JERÔNIMO  -  Não abre, mãe. A gente vai recebê eles á bala! Cadê minha arma?

SINHANA  -  João levô.  Levô tudo quanto era arma desta casa para a gruna!

A voz  do delegado feriu o silencio do rancho.

DELEGADO FALCÃO  -  João Coragem! Você está aí?

Sinhana apareceu á janela, protegida pela escuridão.

SINHANA  -  É melhor falá com ele que João num tá aqui.

JERÔNIMO  -  E eu vou perdê a oportunidade de mandá esse cara pras quintas dos inferno?

A velha decidiu abrir a porta.

Falcão avançou, com dois soldados de escolta.


JERÔNIMO  -  (destemido)  Pode ir dando o fora!  Meu irmão num tá aqui e ninguém vai aguentá de novo a sua cara. Trata de ir se mandano!

DELEGADO FALCÃO  -  (conteve a ira e falou, pausadamente)  É pena, mas vocês vão ter de aguentar a minha cara e a dos meus homens, até João decidir a se entregar.

JERÔNIMO  -  João num tá aqui!  Acho que é besteira procurá ele.

SINHANA  -  Meu filho num tá mentino. João foi trabalhá na gruna. E lhe deixô um recado.

DELEGADO FALCÃO  -  (sorriu com a notícia)  Ah, está na gruna, hem! Na gruna...

JERÔNIMO  -  É. Na gruna, sim, e não adianta ninguém ir lá pra pegá ele. Mandô avisá que tá armado e vai lhe recebê á bala... Coisa que eu devia fazê... se ele não tivesse levado todas as armas que existiam nesta casa.  (apontou o dedo para a entrada)  Agora, vai dando o fora!

DELEGADO FALCÃO  -  Vá devagar, Jerônimo.  Vá devagar...

SINHANA  -  É isso mesmo, filho. Bota esse cara no ôlho da rua. Ninguém aqui tá disposto a aguentá a cara dele.

Com ar desconfiado, Falcão afastou-se. Fez sinal aos homens para que o seguissem. Os cavalos partiram em trote ligeiro.

FIM DO CAPÍTULO  64
Sinhana recebe Falcão, que veio à procura de João

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** NA GRUNA, JOÃO, ACUADO, DESAFIA FALCÃO E SEUS HOMENS A ENTRAREM, SE QUISEREM LEVAR CHUMBO!

*** LARA CHEGA AO RIO DE JANEIRO PARA SE TRATAR COM O DR. RAFAEL.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 65 DE

Nenhum comentário:

Postar um comentário