domingo, 11 de setembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 63


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 63

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DOMINGAS
JOÃO
JUCA CIPÓ
DELEGADO FALCÃO
DR. MACIEL
SINHANA
RODRIGO
JERÔNIMO
POTIRA

CENA 1  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  EXT.  -  DIA.

A notícia correra célere pela cidade. A nova atitude violenta de João Coragem era tema de conversa nos bares, nas esquinas e nos lares de Coroado. A onda de falatórios alcançou o rancho dos Coragem e forçou a ida do garimpeiro á cidade. Desmontou o alazão á porta da residência do médico, sob os olhares reprovadores da população.


DOMINGAS  -  Por que falá com ele, João? Não é melhor dá esse assunto por encerrado?

JOÃO  -  Não posso. Tou sendo caluniado na cidade. Todo mundo anda fugino de mim como o diabo da cruz... me acusano de coisas que eu num fiz.

CENA 2  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  INT.  -  DIA.

Alguma coisa desmantelava as resistências de Domingas. A consciência lhe doía ao considerar as injustiças de uma cidade contra um homem só. Juca ouvia as ponderações do garimpeiro.


JUCA CIPÓ  -  (irônico)  -  Fez, sim. O doutô disse que ocê tentô matá ele!

A porta se abriu e o delegado tornou a se fazer presente. Maciel assomou á sala. João Coragem sentiu-se acuado entre as quatro paredes da casa do inimigo.

DELEGADO FALCÃO  -  Precisando de ajuda, doutor?

João impediu que o médico falasse e continuou, explicando a sua verdade. Justificava-se diante do quadro de ameaças e dos olhares perversos dos que o acusavam do crime que não cometera.

JOÃO  -  Onte á noite... eu não saí de casa! Por Deus Nosso Senhô Jesus Cristo! Eu não saí de casa. Quero que Deus me castigue mais do que vem me castigano, se eu tava na cidade, onte de noite... e se fui eu que fiz essa maldade com o seu doutô!

DELEGADO FALCÃO  -  É, João, você está saindo fora do sério.  Isto não se faz. Pode agravar a sua culpa, pois demonstra o seu verdadeiro temperamento. Mesquinho e vingativo, João!

João não sabia defender-se das ofensas que o atingiam. Faltavam-lhe as armas do conhecimento, os segredos da contra-argumentação e Diogo Falcão aproveitava-se sàbiamente das carências do garimpeiro. Maciel entrou no assunto.

DR. MACIEL  -  Eu posso provar que foi você. (virou-se para a mulher)  Domingas, onde está aquele pedaço de camisa que eu rasguei do agressor?

Num movimento rápido, Juca Cipó fixou o olhar nos lábios de Domingas.


DOMINGAS  -  Eu... eu num sei. Desde onte deixei com o senhô, seu doutô...

DELEGADO FALCÃO  -  Me acha o pedaço de pano, pra  gente comparar com a camisa do João.  Para que depois não digam que nesta terra não há justiça!

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.   -  DIA.

Sinhana foi abrir a porta, depois das batidas fortes que violentaram o silencio da casa. A manhã já ia longe. Rodrigo Cesar entrou, apreensivo.


SINHANA  -  Alguma novidade, doutô?

RODRIGO  -  Onde estão os rapazes?

SINHANA  -  Jerônimo veio faz pouco do garimpo. Tava tomano banho.

O filho assomou á sala com a toalha branca a envolver-lhe a cintura. Dos cabelos longos, escorriam grossos pingos d’água.

JERÔNIMO  -  Que é que há com João, Doutô Rodrigo?

RODRIGO  -  (mantinha-se sério, as feições anuviadas)   A situação está piorando para ele. Vim da cidade, onde as acusações são as mais absurdas possíveis.

JERÔNIMO  -  O senhô tá acreditano naquela história do doutô Maciel? Braz me disse.

Sinhana ajeitou o avental e abriu os braços num gesto largo.


SINHANA  -  O que, gente? Ocês tão me escondeno alguma coisa?

JERÔNIMO  -  Nada, não, mãe. É que deram uma surra no Doutô Maciel, onte á noite, e ele disse pra todo mundo que foi o João, pra tirá vingança.

RODRIGO  -  E... isso é verdade? Foi João?

JERÔNIMO  -  Que nada, seu doutô!  João teve a noite toda aqui em casa e num tinha intenção de fazer nada contra aquele sem-vergonha do doutô Maciel.

RODRIGO  -  E onde está ele agora? Eu preciso dar uns conselhos a ele.

SINHANA  -  Ninguém viu ele.  Por isso então é que ele sumiu. Num sei de João nem da mulhé dele. Imagino cumo tá desorientado, com tanta injustiça caindo nas suas costas. (voltou-se para o filho, que ajeitava o cabelo com as pontas dos dedos)  Vai procurá teu irmão, Jeromo. Vai dá apoio prêle. Num deixa ele desanimá.

Jerônimo ia deixando a sala. Rodrigo deteve-o, puxando-o pelo braço.

RODRIGO  -  Espere. Eu quero que você fique afastado dos acontecimentos.

JERÔNIMO  -  Mas, doutô... eu vou só procurar o mano!

RODRIGO  -  Eu faço isso. Eu posso me envolver, você não. Tenho me empenhado em afastar você de todas as acusações. Ainda há pouco, os homens estavam reunidos na Associação dos Garimpeiros e eu afiancei que você não tem nada a ver com toda essa embrulhada em que João se meteu.

Sinhana optava por uma posição ostensiva de apoio, apesar das ponderações lógicas do jovem promotor. A participação direta do líder nos problemas que afetavam o irmão era prejudicial. João, naquela altura, era um homem desgastado na cidade diamantífera, e podia arrastar, na onda, o irmão que se propunha a alcançar altos postos na política de Coroado. Era isto que Rodrigo Cesar pretendia garantir, com uma atitude de precaução.

RODRIGO  -  Se Jerônimo quer ser o novo prefeito de Coroado, não pode tomar partido de João. Isto quer dizer o seguinte, preste bem atenção: não abandonar o João, é claro, mas não se envolver nas tramas que o estão levando á desgraça.

Havia lógica nas assertivas do promotor e Jerônimo ficou longo tempo a meditar, mesmo depois da saída silenciosa de Rodrigo.

CORTA PARA:


CENA  3  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  COZINHA  -  INT.  -  DIA.

 Havia dias que Jerônimo não avistava a mestiça, mesmo morando sob o mesmo teto. O rapaz forçava o desencontro para evitar o embaraço da troca de confidencias. Naquela manhã ele próprio sentira a necessidade de dialogar com a irmã de criação.

JERÔNIMO  -  Como é que ocê vai, índia?

POTIRA  -  Como Deus quer, Jeromo.

JERÔNIMO  -  A gente num se fala mais...

POTIRA  -  Não é melhor assim?

JERÔNIMO  -  É. Ocê não acha?

POTIRA  -  (quase alheia ao sentido da conversa)  Não acho mais nada...

JERÔNIMO  -  Tem estudado muito durante a noite?

POTIRA  -  Por que pergunta?

JERÔNIMO  -  Porque... eu escuto... ruído no seu quarto, durante a noite.

Qualquer coisa de muito íntimo registrou um imperceptível abalo na sensibilidade da mestiça. Ela empalideceu levemente. A cútis morena adquiriu, em décimos de segundo, uma coloração indefinível. Recuperou-se, a tempo de alinhavar uma resposta.

POTIRA  -  Eu não consigo dormir... e escuto, também, ocê... do outro lado... andando pra lá e pra cá, sem dormir. Ocê tá estudando?

JERÕNIMO  -  Tou, Potira.  Aqueles livros que o Doutô Rodrigo deu... e pensando nos meu problema. E ocê, índia, tá mais animada com o casamento?

Potira deixou que suas mãos fossem agasalhadas pelas mãos másculas do garimpeiro.


POTIRA  -  (com acidez)  Tenho que tá, não?

JERÔNIMO  -  Tem sim.  Ocê vai sê muito feliz. Tá marcado o dia do casamento?

POTIRA  -  Tá, sim. É 30 do mês que vem. Padre Bento tá ajeitano a papelada.

JERÔNIMO  -  (virou-se para ela, com uma expressão angustiada no olhar)  Então... até o dia 30, ocê quer me fazer um favor?

POTIRA  -  (sorriu)  Até dois, se pudé.

JERÔNIMO  -  Num fica mais na porteira, aos beijo e abraço , com seu noivo, de noite. Tá?

POTIRA  -  (com ingênua malícia)  Por quê? Te incomodo?

JERÔNIMO  -  Não  (procurou disfarçar)  Mas é feio pra uma moça direita, dá toda confiança pro noivo, antes de casá. Essas coisa tem que sê feita com respeito. Ninguém precisa vê.

Potira sabia o verdadeiro motivo, a razão secreta que impelira o rapaz a procurá-la e solicitar, hábilmente, a mudança nos seus hábitos amorosos. O ciúme minava o coração do homem a quem ela amava. Era tudo quanto desejava saber, naquela manhã.

POTIRA  -  Pra num ficá com inveja?

Jerônimo levantou-se, fitando-a, sério. Algumas rugas desenhavam curvas na testa franzida.


JERÔNIMO  -  Se eu consegui sê prefeito, tou pensando sériamente em arranjá uma moça direita pra me casá.

POTIRA  -  (ergueu-se, também, largando-lhe a mão)  Tu vai sê prefeito, sim. Eu sinto que vai. Doa a quem doer. Vai sê prefeito, ás minhas custa... e ás custa do João. O mundo pode se acabá... mas tu vai sê o prefeito de Coroado, Jeromo...

Sem esperar pela resposta, a índia saiu correndo. Antes que a emoção, duramente controlada, favorecesse reações não muito próprias para aquele instante. A índia preferiu fugir.

Jerônimo seguiu para a zona do garimpo, a pé, para gozar um pouco do esplendor do dia.


FIM DO CAPÍTULO  63
Dr. Maciel, amparado por Juca, acusa João de tê-lo agredido.

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** O JUIZ DE COROADO PEDE A PRISÃO PREVENTIVA DE JOÃO CORAGEM. PEDRO BARROS E O DELEGADO VIBRAM!

*** FALCÃO E SEUS HOMENS VÃO AO RANCHO CORAGEM PARA PRENDER JOÃO!

 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 64 DE

Nenhum comentário:

Postar um comentário