quinta-feira, 1 de setembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 59


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 59

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
JERÔNIMO
RODRIGO
JOÃO
DUDA
RITINHA
HERNANI
SINHANA
POTIRA


CENA 1  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Diante do espelho, Falcão premia um pano úmido contra os ferimentos. O sangue escorria lentamente de um ponto negro no meio da face. Olhos e lábios inchados. Levantou-se, numa reação involuntária quando os dois entraram em sua sala.


DELEGADO FALCÃO  -  Que é que vocês querem?

JERÔNIMO  -  (com firmeza)  Meu irmão... cadê meu irmão?

DELEGADO FALCÃO  -  Seu irmão está onde devia estar há muito tempo.
  
RODRIGO  -  (enérgico)  O senhor tem razões suficientes para prender, assim, João Coragem?

DELEGADO FALCÃO  -  O que é que há? O senhor acha que pode vir me ensinar leis?

Rodrigo desconheceu a irritação do homem.

RODRIGO  -  (com severidade)  Não quero ensinar nada. Quero que as coisas sejam feitas com justiça!

DELEGADO FALCÃO  -  Pois julgue o senhor promotor... que sempre desejou impor a ordem e o respeito... (ironizava)  Julgue o senhor um homem que é preso como suspeito de homicídio premeditado... e que resiste á prisão... e desacata minha autoridade.

RODRIGO  -  João não faria isso e você sabe, delegado!   Ele jamais se afasta do cumprimento da lei. Se reagiu é porque se sentiu esbulhado...

DELEGADO FALCÃO  -  E por que acha que estou ferido?  (mostrou a cara deformada)  Estão aí meus homens de prova!

RODRIGO  -  Se ele resistiu,  não será porque a acusação é injusta?

DELEGADO FALCÃO  -  A viúva de Lourenço D’Ávila acusou João de ter dado fim á vida do marido. Há mais provas contra ele. Há testemunhas de que ele ameaçou Lourenço de morte. E se não bastasse tudo isso pra justificar sua prisão, bastaria a agressão de que fui vítima. Um desacato á autoridade!

JERÔNIMO  -  (bufava de raiva)  Eu tenho certeza de que faria o mesmo... quebraria sua cara...

DELEGADO FALCÃO  -  Os irmãos Coragem... os pacatos irmãos Coragem... só agora é que estão pondo as manguinhas de fora.

JERÔNIMO  -  Contra uma justiça comprada a gente tem que reagir com violência. E quero ver meu irmão, agora!

DELEGADO FALCÃO  -  (pilheriou)  Quer ver, hem?

RODRIGO  -  Não há lei que impeça!

DELEGADO FALCÃO  -  (contrariado, não viu outra saída) Cabo Elias, deixe passar o Coragem. Que a conversa não seja demorada. Só através da porta. (enquanto Jerônimo adentrava ao xadrez a passos largos, Falcão, sempre com a toalha contra o rosto, comentava com o promotor)  Sei como o senhor se sente. Sua posição não permite tomar a defesa do João. E ele é seu amigo. De fato, a situação não é das mais agradáveis. Eu não queria estar no seu lugar.

RODRIGO  -  Preciso saber até que ponto o senhor está sendo justo.  Me dê dados do caso.

Diogo Falcão resumiu para o jovem acusador os detalhes da prisão e os elementos principais da história, levantados em Morrinhos e em sua cidade. Rodrigo ouviu sem falar e levantou-se, logo após, dirigindo-se á cela onde João estava.

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  CELA  -  INT.  -  DIA.


RODRIGO  -  Alô, João!  (deu-lhe a mão, por entre as grades)  Cuidado com o que diz; cuidado com o que faz, de agora em diante. Não posso ajudar nem interferir, meu amigo. Porque fico sendo parcial e a minha posição não permite isso.

JOÃO  -  (com tristeza)  Eu entendo...

RODRIGO  -   ... mas posso te aconselhar.  Se é inocente, não espalhe que ameaçou Lourenço... nem diga que sua intenção era matá-lo...

JOÃO  -  (com franqueza e naturalidade)  Mas eu ia matá ele, se não me entregasse a pedra, doutô.

RODRIGO  -  Não repita isso!  Não confesse nada... nem que para isso seja... forçado.

JERÔNIMO  -  Forçado?

RODRIGO  -  É, forçado. Não digo que vá acontecer. É só para prevenir.

Ao despedirem-se, Jerônimo esmurrou as grades, num ímpeto incontrolável.


JERÔNIMO  -  A gente te tirá, se for preciso, mano. Aqui é que tu não vai ficá. Eu juro, João... juro.

JOÃO  -  Vai, rapaz.  Tu é um home, reage. O futuro prefeito de Coroado... num pode se entregá... desse jeito, a uma emoção. Vai, em paz e tranqüilo.

CORTA PARA:

CENA  3  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT. - E RIO DE JANEIRO  -  APTO. DE DUDA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


O telefone tilintou na casa de Maciel. Era do Rio para Ritinha. A moça correu a atender. Do outro lado da linha, em sua residência da Ilha do Governador, com a perna já sem gesso, Duda descansava sobre o sofá.

DUDA  -  (com gravidade) Ritinha, tenho más notícias para você, meu benzinho. Seu pai... cometeu uma barbaridade na minha perna. Tá me ouvindo? Uma barbeiragem. É. Deixou a bala dentro!

RITINHA  -  (soluçava, agarrada ao bocal negro)  Eu... sabia... Eduardo. Soube ontem. Ontem mesmo tentei uma ligação pra você. Fiquei meio doida, Eduardo!

Mais comedido, o jogador diminuiu o tom da revolta.


DUDA  -  Como é que teu pai faz uma sujeira dessas, Ritinha? O que é que ele pretendia com isso? Quase me mata! Você sabe o que pode acontecer comigo, agora?  Posso ficar condenado, Ritinha... a não jogar mais futebol!

Hernani, que examinava as chapas radiográficas, pulou ao ouvir as palavras pessimistas do amigo.

HERNANI  -  Não diga bobagem, homem! As coisas não são assim, tão feias. Acaba assustando sua mulher... e ela não pode se assustar, se lembra?

Duda modificou o rumo da conversa, aceitando os conselhos do empresário.


DUDA  -  Rita... eu telefonei pra dizer uns desaforos pro seu velho. Olha aí... diga a ele que vou pedir contas disso. Eu sei que ele teve medo. Mas depois podia ter contado a verdade. Por que mentiu depois, Ritinha? Por que não contou tudo, pra que eu tivesse um tratamento? Pra que fosse operado?

Ritinha suspirava, trêmula, a cada palavra do marido. Sabia que o pai era o responsável por uma situação que poderia agravar-se e, inclusive, pôr fim à carreira espetacular do esposo.


RITINHA  -  Eu não sei o que te dizer. Estou muito chocada com tudo isso. Não sei o que fazer. Que é que vai acontecer, agora?

DUDA  -  Vou ser operado, amanhã de manhã. Não vai ser uma operação fácil e não sei o que me espera, quais as conseqüências de tudo isso. Depois te mando notícias.

CORTA PARA:

CENA  4  -  RANCHO CORAGEM  -  QUARTO DE JERÔNIMO  -  INT.  -  DIA.

Rodrigo trazia nas mãos uma penca de livros e deixou-os cair na cama de Jerônimo. Títulos os mais diversos.


RODRIGO  -  Isto aqui é para você, Jerônimo.

JERÔNIMO  -  (entusiasmado)  O que é?

RODRIGO  -  Livros, livros para você ler, se instruir. Um prefeito precisa ter conhecimento de tudo.

JERÔNIMO  -  Ando meio desanimado  (disse, abrindo as páginas dos livros, numa vista d’olhos antecipada).

RODRIGO  -  Não desanime tão depressa. João não poderá ficar detido por muito tempo, sem a ordem do juiz. (deu uma rodada e agarrou Sinhana pelo braço. A velha espantou-se ante a atitude do jovem promotor)  Desde que cheguei, ainda não vi minha noiva... Onde está ela?

Jerônimo tremeu, imperceptìvelmente. Sinhana estava triste e aludiu á morte do velho Sebastião e aos acontecimentos que tinham transtornado a vida simples da família.


RODRIGO  -  Eu nem sei o que dizer.  Foi lamentável. Mas vamos tratar de corrigir, de alguma forma, tantos desgostos. Eu acho que meu casamento com Potira será um acontecimento feliz para todos nós.

Sinhana procurou os olhos do filho, na outra extremidade do quarto. Jerônimo olhava para o lado de fora da casa, através da janela.


SINHANA  -  Será mesmo?

RODRIGO  -  Acho que sim. Podíamos esperar algum tempo, mas, diante de tudo isso... acho que devemos nos casar quase que imediatamente. Eu, pelo menos, penso assim. Os preparativos para a cerimônia podem distrair Dona Sinhana e Potira.  Até mesmo você, Jerônimo...

Jerônimo não respondeu. Virava mecânicamente as folhas dos livros dados pelo amigo. O promotor emudeceu, sentindo o silencio repentino, quase palpável.

RODRIGO  -  Não estão de acordo?
  
JERÔNIMO  -  (desalentado)  Da minha parte não tenho dúvida... mas é que meu irmão está na cadeia e parece até... uma falta de sentimento.
 
RODRIGO  -  Teu irmão não pode permanecer preso, sem ter culpa formada. Bem instruído, ele pode livrar-se dessa acusação. Aliás, é muito importante que ele consiga se livrar disso, porque, você sabe... a sua candidatura pode correr risco. (voltou a insistir)  Mas... onde está minha noiva?

SINHANA  -  No quarto... arrumando.

JERÔNIMO  -  Vou chamá ela  (encaminhou-se para o interior da residência).

CORTA PARA:

CENA 5  -  RANCHO CORAGEM  -  QUARTO DE SINHANA  -  INT.  -  DIA.

Potira estava sentada á beira da cama, de cabeça baixa, pensativa. Ouvira a voz do noivo e caíra na triste realidade. Jerônimo entrou, meio sem jeito.


JERÔNIMO  -  Você... não vem? Seu noivo... ta aí... e quer te vê.

POTIRA  -  Manda ele penteá macaco... Ninguém me obriga a falá com ele. A casá com ele.

JERÔNIMO  -  Ninguém obriga... mas é pra sua felicidade, índia.

POTIRA  -  Pra minha... ou pra sua?  Por que você pensa que as coisa depende de mim? Pode ficá descansado, Jerome. Teu lugá tá garantido... eu vou me casá com o promotô pra ele continuá te ajudando. Só que... não quero nunca mais... olhá pra tua cara!

CORTA PARA:

CENA 6  -  RANCHO CORAGEM -  QUARTO DE JERÔNIMO  -  INT.  -  DIA.

Potira entrou no instante em que Rodrigo mostrava a Sinhana os livros trazidos para o futuro prefeito de Coroado. 


POTIRA  -  (friamente)  Olá, Rodrigo!

O jovem promotor enrubesceu ao deparar com a mulher a quem amava. Fitou-a apaixonadamente durante alguns segundos e, segurando-lhe as mãos, beijou-as como se estivesse beijando-lhe os lábios, carnudos e vermelhos. 

RODRIGO  -  (emocionado)  Estava doido de saudade de você, Potira!

Na sala vazia, apenas o respirar arfante do casal. A mestiça retribuía as efusões do noivo, beijando-o ardentemente. Jerônimo saiu apressado. A cabeça latejava-lhe como se milhares de tacapes lhe caíssem sobre o crânio. O ciúme devorava-o.

FIM DO CAPÍTULO 59
João, atrás das grades, conversa com Jerônimo e Rodrigo


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** RITINHA VIAJA PARA O RIO, DEIXANDO UMA CARTA PARA O PAI, DIZENDO QUE NÃO O PERDOA PELO QUE FEZ A DUDA.

*** NO RIO, DUDA É OPERADO E A BALA É RETIRADA DE SUA PERNA.


NÃO PERCA O CAPÍTULO  60 DE
     


    

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