domingo, 28 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 58


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 58

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DOMINGAS
POTIRA
JOÃO
CABO ELIAS
DELEGADO FALCÃO
RODRIGO
JERÔNIMO
GENTIL PALHARES
SOLDADOS

CENA 1  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  - DIA.

A carta de Eduardo deixara Ritinha excitada. Duda estava bem de saúde, apesar da dormência que ainda sentia na perna operada. Os médicos do clube o haviam examinado, superficialmente, aconselhando-lhe respouso e mais alguns dias de observação. Posteriormente, bateriam chapas radiográficas e, se necessário, retirariam o gêsso para um exame direto sobre o local. Duda morava, agora, na Ilha do Governador, numa casa de frente para o mar, para a Baía de Guanabara, arranjada por um dos diretores do Flamengo. Deixara a zona sul, preferindo o sossego da Ilha. Ritinha, dizia na carta, iria gostar do lugar, como se gosta da terra de nascença... A jovem esposa continuava a sorrir, lendo a carta do marido. Domingas aproximou-se. Tinha as feições amarradas.

RITINHA  -  Que é que você tem, Mingas?

Leu para a empregada alguns trechos da missiva. A criada não mudara para melhor. Permanecia séria, apreensiva.

RITINHA  -  (tornou a perguntar)  Tá me escondendo alguma coisa, Mingas?

DOMINGAS  -  Sei lá. Pergunta pro teu pai.

RITINHA  -  O que?

DOMINGAS  -  Pergunta prêle. Se o teu marido pode ficá tanto tempo... com aquela perna, assim.

RITINHA  -  (começou a inquietar-se)  Assim, como? Pois se papai fez um trabalho perfeito. Os médicos da cidade acharam bom o que ele fez.

DOMINGAS  -  (fez um muxôxo de ironia)  Trabalho perfeito, hem? Eu é que sei!

RITINHA  -  (segurou a senhora pelo braço, balançando-a rudemente) Mingas, o que há? Se você sabe de alguma coisa... diga, pelo amor de Deus!

DOMINGAS  -  (refletiu por alguns segundos e se decidiu)  O que eu digo... é que se o Eduardo ficar mais uma semana com a perna daquele jeito... o negócio pode encrencar.

RITINHA  -  Como?

Veio toda a verdade, numa enxurrada.


DOMINGAS  -  Ritinha, teu pai mentiu! Teu pai não extraiu a bala da perna dele! A bala ficô, tá me entendendo? Ficô lá, enterrada no osso e teu pai não tirô!

A moça perdera a fala. Queria dizer alguma coisa, mas a voz estreitava-se na garganta e não saía. Finalmente, conseguiu controlar as emoções e expressar o que desejava.


RITINHA  -  Não tirou? Não tirou a bala da perna do Duda?

DOMINGAS  -  Não, Ritinha!  Ele não conseguiu retirar. A operação era difícil, ele não tinha recurso.

RITINHA  -  Mas podia ter contado a verdade! A gente tinha tomado outra providência.

DOMINGAS  -  Pois é... o erro dele foi esse. Mentir que tinha tirado.

RITINHA  -  (descontrolada)  Por que mentiu? Por que?

DOMINGAS  -  Não sei te dizê a causa. Só te disse isso, pra que alguma coisa seja feita, logo, em favô do Duda.

RITINHA  -  Claro! É preciso avisar ele imediatamente. Eu tenho que fazer alguma coisa. Oh, meu Deus, mas o que, Mingas? O que é que eu faço?

CORTA PARA:

CENA 2  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT.  -  NOITE.


Era noite e Potira entrou apavorada, porta adentro. João parou a colher de sopa a meia distancia da boca.


POTIRA  -  Os soldado me seguiro. Eles vem aí!

JOÃO  -  (levantou-se calmamente)  Não precisa ninguém ficá assustado. Isso tinha que acontecê. Eu num vô passá  a minha vida toda fugino da polícia.

Foi á porta e escancarou-a. A figura mal-amanhada do cabo Elias encheu o quadrado da moldura.


CABO ELIAS  -  Noite, João!

JOÃO  -  Noite, cabo Elias! Alguma novidade?

CABO ELIAS  -  A gente tem orde de te levá preso, João.

JOÃO  -  Sinto muito, cabo, mas o senhô não vai cumpri a sua orde, porque eu num fiz nada pra merecê prisão.

CABO ELIAS  -  (visivelmente atrapalhado)  Pois é...  Mas a gente tem que lhe pedi pra nos acompanhá. É importante o que o delegado qué falá com ocê!

JOÃO  -  (tranquilizou o cabo)  Eu vou falá com o delegado. Diz isso prêle. Mas, vou por minha vontade, só pra vê o que ele qué. Vai, faz o que te mando, porque daqui eu num saio, em companhia de ninguém. (os soldados entreolharam-se, sem saber como agir. João aproveitou-se da indecisão para lançar sua derradeira investida)  Tu sabe que eu pago pra num entrá numa briga, cabo, mas, quando entro, pago pra num saí.

CABO ELIAS  -  (ordenou a um dos praças)  Vai tu avisá o delegado. Eu fico com João.

CORTA PARA:

CENA  3  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  NOITE.


Horas depois o delegado surpreendeu-se com a chegada do “prisioneiro”. João Coragem entrou, logo seguido do Cabo Elias. Falcão levantou-se, ágil, procurando o revólver que lançara sobre a cadeira. 


JOÃO  -  (perguntou, de imediato)  Eu sube... que o senhô queria falá comigo.

DELEGADO FALCÃO  -  Quero, sim. Muito, João. Muito, mesmo.

Levantou-se e apanhou, discretamente, um molho de chaves.


JOÃO  -  Antes de tudo, quero dizê que vim da própria vontade... e que não vou ficá aqui, mais do que uma hora. Portanto, se tivé de me dizê alguma coisa, seja breve...

Diogo Falcão estava num de seus dias de tranquilidade. Calmo, enérgico e intimorato.


DELEGADO FALCÃO  -  (sem levantar a voz)   É pena... mas o assunto que temos a tratar... é muito longo, João. (fez sinal para o cabo retirar-se).

JOÃO  -  (taxativo)  Então... eu num vô esperá, seu Falcão.

DELEGADO FALCÃO  -  Em todo o caso, vou fazer o possível para ser rápido.... mas, ainda assim, nós temos que conversar... com você atrás das grades...

JOÃO  -  Atrás das grades eu num vô ficá, Seu Falcão.  Volto noutra hora, então.

João  deu alguns passos para a porta. Os homens do delegado bloqueavam o corredor e a porta de saída, obstruindo todos os caminhos de retirada do garimpeiro. De armas a tiracolo, partiram para agarrar o moço. João deu um salto para trás, desferindo um murro no ar.


DELEGADO FALCÃO  -  Não adianta tentar resistir, João. Você está preso!

JOÃO  -  Há muito tempo, delegado, que eu ando com vontade de fazê isso!

Como um gato enfurecido, João atirou-se de encontro ao delegado, atingindo-lhe o queixo com um tremendo direto. Falcão vergou-se, sobre a mesa. Os soldados permaneciam estáticos. Falcão mal podia respirar e o garimpeiro voltava a despejar-lhe torrentes de sôcos, de direita e de esquerda. O rosto do delegado aos poucos, assumia o aspecto de um boxeador em vias de nocaute. Sangrava por todos os lados, e o olho esquerdo sumira, por entre as carnes entumescidas. João dava-lhe o castigo merecido, completamente fora de si. Finalmente, passada a surpresa, os guardas agiram com prontidão, subjugando o homem enfurecido. Falcão ergueu a cara amassada, limpando o sangue com a toalha suja que retirou do fundo de uma gaveta. Mal, muito mal, podia divisar vultos indefinidos por entre o pequeno espaço de visão do ôlho castigado. João mantinha-se calado, seguro pelas costas po três soldados do destacamento de Coroado.


DELEGADO FALCÃO  -  (com ironia; ofegante)  O santo... tem seu geniozinho, hem?  O povo de Coroado... precisava ver isso.

JOÃO  -  Ocê é um covarde, traidor, seu delegado. Merecia um castigo!

DELEGADO FALCÃO  -  Por que tanta revolta? Você não pode reagir, assim, a uma voz de prisão!

JOÃO  -  Mas eu não fiz nada... pra me prendê!

DELEGADO FALCÃO  -  Há acusações seríssimas contra você. Você matou Lourenço D’Àvila!

JOÃO  -  (revoltado)  Que tipo de delegado é você?  Eu não matei Lourenço! Por um simples motivo: não encontrei ele no meu caminho!

DELEGADO FALCÃO  -  (cortou a palavra do prisioneiro, com grosseria)  Não estou te perguntando nada. Você só fala quando eu mandar! Seu... (ia dizer um palavrão, mas se conteve. Olhou para a toalha ensanguentada)  Tranquem ele no xadrez. Vai mofar aí até quando eu quiser!

CORTA PARA:

CENA  4  -  COROADO  -  PENSÃO DE GENTIL PALHARES  -  QUARTO DE RODRIGO  -  INT.  -  AMANHECER.

Era inacreditável aquilo que Rodrigo ouvia, deitado ainda, no quarto da pensão. Regressara pela madrugada a Coroado e já Jerônimo o procurara para relatar os acontecimentos, iniciando pelo roubo do diamante. Esfregando os olhos vermelhos – dormira pouco nas últimas horas, Rodrigo se inteirava, pouco a pouco, da verdade.


RODRIGO  -  Isto não devia... não podia ter acontecido! Como é que vocês deixaram... como permitiram?

JERÔNIMO  -  (forçando a mão direita, espalmada, contra o próprio peito)  Mas... nós, nós é que podia evitar, doutô? A gente foi roubado! Se nossa casa foi invadida por aquele jagunço maldito, como é que a gente podia evitar?

Rodrigo levantou-se, sentando-se á cama. A sunga branca contrastava com a pele morena e os cabelos negros que lhe cobriam o corpo.


RODRIGO  -  Vocês tem prova de que foi Lourenço o autor do roubo?

JERÔNIMO  -  Prova... a gente num tem. Eles agiram na calada da noite. Só Cema é que podia reconhecer eles...

RODRIGO  -  E ela reconheceu?

JERÔNIMO  -  Reconheceu e não reconheceu...  Juca Cipó, por exemplo, conseguiu prová que tava na festa do Divino, naquela noite.

RODRIGO  -  E Lourenço?

JERÔNIMO  -  Sumiu logo depois do roubo... e só apareceu morto... naquele estado que lhe disse.

RODRIGO  -  (com a frieza de um juri)  Mas, foi João quem matou?

JERÔNIMO  -  Não! João disse que não foi!

Os dois rapazes assustaram-se com as batidas fortes e nervosas. Alguém os procurava, prêsa de terrível nervosismo. Era Gentil, o dono da pensão.

GENTIL PALHARES  -  Desculpe, Dr. Rodrigo! Venho avisar Jerônimo... teu irmão acaba de ser trancafiado no xadrez, pelo Falcão. (contou os detalhes, ante a surpresa dos rapazes)  Foi um Deus-nos-acuda, ainda há pouco, na delegacia! Dizem que João perdeu as estribeiras e acabou atacando o delegado, amassando-lhe as fuças...

JERÔNIMO  -  (boquiaberto)  Deus do céu... eu acho que o mano tá perdendo a cabeça!

Rodrigo vestiu-se em segundos.


RODRIGO  -  Vamos lá, Jerônimo!

Saíram juntos, aflitos, em direção á cadeia.


FIM DO CAPÍTULO  58
João espanca Falcão e vai prêso!

e no próximo capítulo...

*** DUDA TELEFONA DO RIO PARA RITINHA E CONTA Á ESPOSA O QUE ELA JÁ SABIA - SEU PAI NÃO RETIROU A BALA DE SUA PERNA!

*** JERÔNIMO MAL CONSEGUE DISFARÇAR O CIÚME AO VER PITIRA E RODRIGO BEIJANDO-SE.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 59

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