Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 55
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
PEDRO BARROS
DR. MACIEL
JERÔNIMO
BRANCA
JUCA CIPÓ
CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - SALA - INT. - NOITE.
A noite caía quando o delegado chegou á fazenda de Pedro Barros. Saltou lépido para o chão e apressou-se a procurar o coronel.
DELEGADO FALCÃO - Temos novidades...
PEDRO BARROS - (cortou) Já andei sabendo. Essas coisas correm léguas. É mesmo verdade? Lourenço foi encontrado morto, no rio?
DELEGADO FALCÃO - Tudo indica que é ele. Eu vim só avisar. Agora, tenho que chamar a mulher dele, em Morrinhos, pra ela vir fazer o reconhecimento em definitivo.
PEDRO BARROS - Acharam documentos?
DELEGADO FALCÃO - Estão quase destruídos. Já mandei secar pra ver se a gente descobre alguma coisa.
PEDRO BARROS - E João? Já apareceu? Faz mais de dez dias que saiu daqui e até hoje não se sabe notícias dele.
DELEGADO FALCÃO - Não, seu coronel. O homem ainda está sumido. Quem está muito preocupado com a coisa é o Jerônimo.
Barros abriu os olhos e sorriu glacialmente. Deu um passo á frente, diminuindo a distancia que o separava do delegado. Havia malícia nos gestos e atitudes, quando se dirigiu ao protegido.
PEDRO BARROS - Chegou a nossa vez, Falcão. Não tem dúvida de que foi João quem matou Lourenço. O encontro do corpo... a ausencia do safado... já bastam como prova, não acha?
DELEGADO FALCÃO - Não, ainda não, meu coronel.
PEDRO BARROS - Você está do lado dele, Falcão?
DELEGADO FALCÃO - Não. Mas, eu quero fazer a coisa como se deve. Não quero que digam que estou agindo fora da lei.
PEDRO BARROS - Onde está o corpo?
DELEGADO FALCÃO - Numa sala da delegacia. O doutor Maciel está fazendo a autópsia para saber a causa da morte.
PEDRO BARROS - É verdade que a cara dele foi destruída?
DELEGADO FALCÃO - Completamente. Causa pavor só a gente olhar. Tá tudo esburacado...
PEDRO BARROS - (com voz doce e traiçoeira) Eu quero te ajudar. Tem que mandar alguém chamar a mulher de Lourenço, não tem?
DELEGADO FALCÃO - Tenho e vou fazer isso, imediatamente. É ela quem vai dar a palavra final.
PEDRO BARROS - (confidenciou) Pode deixar... eu faço isso pra você, meu amigo. Em menos de três horas eu chego até Morrinhos, no meu carro. E trago ela pra você.
O coronel abraçou amigavelmente o delegado, levando-o para um trago na sala de visitas.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - NOITE.
O viciado médico, com o rosto inchado e ligeiras linhas vermelhas traçando desenhos sinuosos sobre o nariz, lavava as mãos, depois do trabalho desagradável da autópsia.
DR. MACIEL - Cada uma que acontece! Eu tenho que fazer tudo nesta cidade. Me dêem um gole, senão quem vai precisar de autópsia, daqui a pouco, sou eu.
DELEGADO FALCÃO - (deu um passo à frente) Quais as suas conclusões?
Antes de responder, Maciel aceitou um trago que Jerônimo, presente á delegacia, lhe oferecia. Bebeu de uma talagada.
DR. MACIEL - Ele foi morto... a cêrca de uma semana atrás.
DELEGADO FALCÃO - (fez as contas nos dedos) João saiu pra procurar ele, há uma semana.
JERÔNIMO - O que mais, seu doutô?
DR. MACIEL - Foi baleado... no peito. Duas balas atingiram o coração e o fulminaram.
DELEGADO FALCÃO - João saiu armado, disposto a tudo...
A insistencia do delegado irritou o garimpeiro.
JERÔNIMO - Por que teima em dizer que foi meu irmão?
DELEGADO FALCÃO - Pelas palavras dele, quando saiu daqui...
JERÔNIMO - O que mais achou, doutor?
DR. MACIEL - (limpando as unhas com a ponta de um bisturi) O rosto... foi desfigurado... propositalmente. Não me peçam pra dizer de que maneira... porque eu não saberia responder. O fato é que foi feito de propósito. Quanto a isto, não tenho a menor dúvida. Foi um trabalho de magarefe.
JERÔNIMO - Nas roupas... além dos documentos estragados... num foi encontrado mais nada?
DR. MACIEL - (curioso) Mais nada. Por que?
JERÔNIMO - Porque... ele tinha o diamante do meu irmão.
O médico percebeu a dúvida no olhar e nas palavras do Coragem.
DR. MACIEL - (aborrecido) Pode vir comigo... e revistar você mesmo... se não confia na minha palavra.
JERÔNIMO - (olhou significativamente para o delegado) Posso ir, Falcão?
DELEGADO FALCÃO - Pode.
CORTA PARA:
CENA 3 - MORRINHOS - CASA DE LOURENÇO D'ÁVILA - SALA - INT. - NOITE.
A mulher, atônita e incrédula, ouvia as revelações que lhe faziam. A madrugada ia em meio e um ventinho frio penetrava pelas frestas da porta e das janelas. A hora pedia cama e cobertor, mas Pedro Barros e Juca Cipó não pensavam assim. Enfrentaram léguas e léguas durante as horas da madrugada, para alcançar Morrinhos antes do sol nascer. Agora se encontravam diante da mulher do ex-capataz. Branca D’Ávila chorava.
BRANCA - ... mataram meu marido!
PEDRO BARROS - Um corpo foi encontrado. A gente precisa que a senhora vá ver ele pra dizer se é seu marido.
BRANCA - Mas... quem? Quem matou?
PEDRO BARROS - Não se sabe, ainda. Ou melhor: não podemos acusar sem provas...
JUCA CIPÓ - (histérico) Diz pra ela, diz, patrão. Diz que João Coragem jurou Lourenço de morte.
PEDRO BARROS - Isso é verdade.
A mulher ergueu-se, precipitada, ao ouvir o nome do rapaz.
BRANCA - João Coragem! Este homem esteve aqui, procurando por ele!
PEDRO BARROS - Pois é. Parece que João cumpriu a sua palavra. Não voltou a Coroado desde que saiu de lá... há mais de uma semana... e este é um forte indício.
JUCA CIPÓ - Só pode ter sido ele. Num foi outro, patrão. Ele jurou, jurou mesmo o... e dizia para todo mundo. Pra quem quisesse ouvi... “eu mato Lourenço, mato Lourenço; ele roubô meu diamante!”
Com a cabeça caída contra o peito e as duas mãos ocultando a face, Branca procurava abafar os soluços.
A noite caía quando o delegado chegou á fazenda de Pedro Barros. Saltou lépido para o chão e apressou-se a procurar o coronel.
DELEGADO FALCÃO - Temos novidades...
PEDRO BARROS - (cortou) Já andei sabendo. Essas coisas correm léguas. É mesmo verdade? Lourenço foi encontrado morto, no rio?
DELEGADO FALCÃO - Tudo indica que é ele. Eu vim só avisar. Agora, tenho que chamar a mulher dele, em Morrinhos, pra ela vir fazer o reconhecimento em definitivo.
PEDRO BARROS - Acharam documentos?
DELEGADO FALCÃO - Estão quase destruídos. Já mandei secar pra ver se a gente descobre alguma coisa.
PEDRO BARROS - E João? Já apareceu? Faz mais de dez dias que saiu daqui e até hoje não se sabe notícias dele.
DELEGADO FALCÃO - Não, seu coronel. O homem ainda está sumido. Quem está muito preocupado com a coisa é o Jerônimo.
Barros abriu os olhos e sorriu glacialmente. Deu um passo á frente, diminuindo a distancia que o separava do delegado. Havia malícia nos gestos e atitudes, quando se dirigiu ao protegido.
PEDRO BARROS - Chegou a nossa vez, Falcão. Não tem dúvida de que foi João quem matou Lourenço. O encontro do corpo... a ausencia do safado... já bastam como prova, não acha?
DELEGADO FALCÃO - Não, ainda não, meu coronel.
PEDRO BARROS - Você está do lado dele, Falcão?
DELEGADO FALCÃO - Não. Mas, eu quero fazer a coisa como se deve. Não quero que digam que estou agindo fora da lei.
PEDRO BARROS - Onde está o corpo?
DELEGADO FALCÃO - Numa sala da delegacia. O doutor Maciel está fazendo a autópsia para saber a causa da morte.
PEDRO BARROS - É verdade que a cara dele foi destruída?
DELEGADO FALCÃO - Completamente. Causa pavor só a gente olhar. Tá tudo esburacado...
PEDRO BARROS - (com voz doce e traiçoeira) Eu quero te ajudar. Tem que mandar alguém chamar a mulher de Lourenço, não tem?
DELEGADO FALCÃO - Tenho e vou fazer isso, imediatamente. É ela quem vai dar a palavra final.
PEDRO BARROS - (confidenciou) Pode deixar... eu faço isso pra você, meu amigo. Em menos de três horas eu chego até Morrinhos, no meu carro. E trago ela pra você.
O coronel abraçou amigavelmente o delegado, levando-o para um trago na sala de visitas.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - NOITE.
O viciado médico, com o rosto inchado e ligeiras linhas vermelhas traçando desenhos sinuosos sobre o nariz, lavava as mãos, depois do trabalho desagradável da autópsia.
DR. MACIEL - Cada uma que acontece! Eu tenho que fazer tudo nesta cidade. Me dêem um gole, senão quem vai precisar de autópsia, daqui a pouco, sou eu.
DELEGADO FALCÃO - (deu um passo à frente) Quais as suas conclusões?
Antes de responder, Maciel aceitou um trago que Jerônimo, presente á delegacia, lhe oferecia. Bebeu de uma talagada.
DR. MACIEL - Ele foi morto... a cêrca de uma semana atrás.
DELEGADO FALCÃO - (fez as contas nos dedos) João saiu pra procurar ele, há uma semana.
JERÔNIMO - O que mais, seu doutô?
DR. MACIEL - Foi baleado... no peito. Duas balas atingiram o coração e o fulminaram.
DELEGADO FALCÃO - João saiu armado, disposto a tudo...
A insistencia do delegado irritou o garimpeiro.
JERÔNIMO - Por que teima em dizer que foi meu irmão?
DELEGADO FALCÃO - Pelas palavras dele, quando saiu daqui...
JERÔNIMO - O que mais achou, doutor?
DR. MACIEL - (limpando as unhas com a ponta de um bisturi) O rosto... foi desfigurado... propositalmente. Não me peçam pra dizer de que maneira... porque eu não saberia responder. O fato é que foi feito de propósito. Quanto a isto, não tenho a menor dúvida. Foi um trabalho de magarefe.
JERÔNIMO - Nas roupas... além dos documentos estragados... num foi encontrado mais nada?
DR. MACIEL - (curioso) Mais nada. Por que?
JERÔNIMO - Porque... ele tinha o diamante do meu irmão.
O médico percebeu a dúvida no olhar e nas palavras do Coragem.
DR. MACIEL - (aborrecido) Pode vir comigo... e revistar você mesmo... se não confia na minha palavra.
JERÔNIMO - (olhou significativamente para o delegado) Posso ir, Falcão?
DELEGADO FALCÃO - Pode.
CORTA PARA:
CENA 3 - MORRINHOS - CASA DE LOURENÇO D'ÁVILA - SALA - INT. - NOITE.
A mulher, atônita e incrédula, ouvia as revelações que lhe faziam. A madrugada ia em meio e um ventinho frio penetrava pelas frestas da porta e das janelas. A hora pedia cama e cobertor, mas Pedro Barros e Juca Cipó não pensavam assim. Enfrentaram léguas e léguas durante as horas da madrugada, para alcançar Morrinhos antes do sol nascer. Agora se encontravam diante da mulher do ex-capataz. Branca D’Ávila chorava.
BRANCA - ... mataram meu marido!
PEDRO BARROS - Um corpo foi encontrado. A gente precisa que a senhora vá ver ele pra dizer se é seu marido.
BRANCA - Mas... quem? Quem matou?
PEDRO BARROS - Não se sabe, ainda. Ou melhor: não podemos acusar sem provas...
JUCA CIPÓ - (histérico) Diz pra ela, diz, patrão. Diz que João Coragem jurou Lourenço de morte.
PEDRO BARROS - Isso é verdade.
A mulher ergueu-se, precipitada, ao ouvir o nome do rapaz.
BRANCA - João Coragem! Este homem esteve aqui, procurando por ele!
PEDRO BARROS - Pois é. Parece que João cumpriu a sua palavra. Não voltou a Coroado desde que saiu de lá... há mais de uma semana... e este é um forte indício.
JUCA CIPÓ - Só pode ter sido ele. Num foi outro, patrão. Ele jurou, jurou mesmo o... e dizia para todo mundo. Pra quem quisesse ouvi... “eu mato Lourenço, mato Lourenço; ele roubô meu diamante!”
Com a cabeça caída contra o peito e as duas mãos ocultando a face, Branca procurava abafar os soluços.
PEDRO BARROS - Eu vim buscá-la. Para fazer o reconhecimento. É possível... que não seja ele. Tudo vai depender da sua palavra...
BRANCA - (descontrolada) Foi João Coragem... foi ele, sim! Me disse, aqui, que eu devia rezar para Lourenço não opor resistência... ao lhe entregar o diamante.
Juca e o coronel entreolharam-se, num movimento instantâneo. Havia ironia nos olhos de ambos.
BRANCA - (insistia) Só pode ter sido ele!
PEDRO BARROS - (ajeitava as coisas a seu modo) Lourenço... não tinha inimigos.
JUCA CIPÓ - (com trejeitos esquisitos) Só João Coragem... que era inimigo dele, de morte.
PEDRO BARROS - Sinto ter que pedir á senhora pra acompanhar a gente. Tenho o carro, aí fora, pra lhe levar até Coroado.
Ela ergueu a cabeça, olhando fixamente para o velho de cabelos compridos e longa barba grisalha. Parecia-lhe sincero e digno de confiança. E era marido da mulher que modificara o comportamento de Lourenço, levando-o, quem sabe, ao crime. Ao roubo e ao assassínio.
BRANCA - (quase suplicante) Há alguma esperança... de que não seja Lourenço?
PEDRO BARROS - Eu não posso saber, minha senhora. Tudo é possível. Tudo é possível.
A mulher levantou-se e entrou no quarto. Voltou minutos após, já pronta e com uma pequena mala na mão.
BRANCA - O senhor disse que João Coragem sumiu?
PEDRO BARROS - É... parece que fugiu, o sem-vergonha.
BRANCA - Então... não há dúvida, foi ele mesmo. Foi ele mesmo... que matou o meu Lourenço!
FIM DO CAPÍTULO 55
Lourenço D'Ávila (Hemílcio Fróes) |
*** BRANCA D'ÁVILA RECONHECE O CORPO E O ANEL DE LOURENÇO.
*** JERÔNIMO DIZ A LARA QUE O MESMO POVO QUE, ANTES APOIAVA E CONSIDERAVA JOÃO UM HERÓI, AGORA O CONSIDERA UM ASSASSINO.
*** JOÃO VOLTA DA VIAGEM E FICA SABENDO QUE TORNOU-SE UM FORAGIDO PROCURADO PELA JUSTIÇA!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 56 DE
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