Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 56
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
JERÔNIMO
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
BRANCA
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
POTIRA
CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
Sinhana estava ansiosa, á espera de notícias do filho. Durante o dia, dezenas de vezes, correra á porta, ao ouvir o barulho de patas ou o ruído rouco do motor de automóvel. Jerônimo, que saíra cedo para Coroado, regressava, agora, á hora do almoço, trazendo Lara a seu lado. A expressão de ambos denotava, claramente, o desassossêgo e a preocupação. João não dava notícias... E os dias se passavam, molemente. O rapaz atravessou a sala, jogou o paletó surrado num gancho da parede e se sentou, arfando, estirando as pernas, abertas em arco, por sobre um tamborete de madeira.
SINHANA - Alguma notícia do teu irmão?
JERÔNIMO - Não, mãe. Nenhuma. E tá todo mundo querendo jogá a culpa nele.
SINHANA - Mas ele saiu daqui pra dar fim ao Lourenço. Não era isso que ocês tava quereno? Não era ocê que brigava com seu irmão pra ele fazê justiça?
JERÔNIMO - (descalçando as botas barrentas) Não desminto. Eu queria que ele fizesse alguma coisa... mas não disse pra ele matá.
MARIA DE LARA - O que você queria que ele fizesse?
JERÔNIMO - Queria... que ele conseguisse o diamante. Era tudo o que eu desejava.
SINHANA - (arrastou um banco e sentou-se) ... e que vingasse a morte do pai!
JERÔNIMO - Eu... eu nem sei o que queria. Talvez fosse isso... nem sei. Naquela hora eu queria tudo. Eu mesmo tinha que ter ido ao encontro dele... daquele bandido. Se a gente tem que fazê justiça... resta ainda muita gente.
SINHANA - Tou contigo. Resta, ainda, muita gente.
Lara voltou a falar, percebendo o rumo da conversa e as indiretas que a feriam.
MARIA DE LARA - Eu sei de quem vocês estão falando. Mas eu quero lhes dizer que não posso ser responsabilizada pelos atos do meu pai. E, se estou aqui, é porque não estou do lado dele. Reconheçam isso. E não me olhem com tanta acusação.
As palavras da nora ecoaram no coração de Sinhana. De fato, que culpa poderia ter Lara dos erros do pai? Jerônimo interrompeu-lhe os pensamentos.
JERÔNIMO - Afinal de contas... a gente foi vítima. Assaltaram nossa casa... roubaram... feriram nosso irmão Duda, e no final das contas... tá todo mundo, agora, contra João. E vão fazer do Lourenço uma vítima!
MARIA DE LARA - Afinal, vocês falam, falam, sem saber se foi João quem matou Lourenço. Pode ser que não tenha sido!
JERÔNIMO - É... e eu tou torceno por isso. Porque eu vi na cara daquela gente que viu o corpo do Lourenço... a revolta, a mudança... o esquecimento de tudo o que a gente passô... nos últimos tempos. O povo... esse mesmo povo que apoiava nós... que tava do nosso lado, se esqueceu que Lourenço foi um ladrão... um assassino. Agora ele é vítima. É herói. E João um criminoso infame... segundo essa gente.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.
Falcão descobriu o corpo, azulado pela morte. Juca Cipó benzeu-se, com gestos indiscretos. Pedro Barros estimulava a mulher.
PEDRO BARROS - Coragem, minha senhora!
BRANCA - (virou o rosto, horrorizada, empalidecendo) Meu Deus!
DELEGADO FALCÃO - Eram estas as roupas... que usava? Reconhece o anel?
BRANCA - É dele, sim! Os cabelos... não existe a menor dúvida. É meu marido! É ele! Foi assassinado! Assassinado, meu Deus!
A mulher sentiu o mundo rodar, como se estivesse num avião desgovernado. Falcão e Barros evitaram que ela caísse ao chão. Branca perdera os sentidos.
PEDRO BARROS - (ordenou a Juca Cipó) Veja alguma coisa aí, pra ela tomá.
O café estimulou um pouco a mulher de Lourenço. Aos poucos foi se refazendo da vertigem, amparada pelos braços do delegado.
BRANCA - (com ódio) Eu exijo puniçõo pra esse crime. Punição imediata.
DELEGADO FALCÃO - Mas... quem é o culpado?
BRANCA - João Coragem! João Coragem jurou ele de morte. Foi atrás dele, em minha casa, e jurou matar ele. Prendam esse homem ou eu não acredito mais na justiça! (agarrou as mãos do delegado, nervosamente) O senhor tem que fazer alguma coisa e deve acreditar em mim! Era João Coragem o homem que esteve lá em casa. Em Morrinhos. Ele disse o seu nome. Me mandou rezar pra Lourenço não resistir, porque afirmava que meu marido tinha roubado o diamante dele. Mas ninguém podia provar isso. Meu marido não era um ladrão! Não era ladrão!
Branca mentia para salvar as aparências e vingar a morte de Lourenço. Vira o diamante e estivera presente, na noite em que Virgílio procurara o marido e lhe confessara que participara do roubo na casa dos Coragens. Mentia, agora, impelida pela desordem emocional e pela necessidade de se vingar do homem que ameaçara liquidar o assassino do pai (indiretamente a morte fôra provocada pelos acontecimentos da noite do assalto). Branca sorria, enlouquecida. Ao fundo, encoberto pela escuridão ambiente, o corpo de Lourenço destacava-se como um boneco de cêra num museu.
DELEGADO FALCÃO - Essa crueldade que fizeram com seu marido será castigada. (voltando-se para o coronel) Pode levar a moça pra descansar, seu Pedro. Vou tomar as minhas providências.
BRANCA - (olhando de esguelha para o corpo) Quando será o sepultamento?
DELEGADO FALCÃO - Vou liberar o corpo amanhã.
PEDRO BARROS - Lourenço D’Ávila vai ter um enterro digno do homem que era! Bom empregado, ótimo trabalhador, honesto e bom caráter. Todo o povo de Coroado tem que saber que ele foi vítima do homem que eles veneravam como um santo.
BRANCA - (espantou-se com a revelação) João Coragem... era tido como um santo?
DELEGADO FALCÃO - Era, dona. João Coragem era um exemplo de bondade, aqui na nossa terra...
BRANCA - E foi capaz de fazer aquilo? (apontou para o cadáver) Aquela crueldade com meu marido?
DELEGADO FALCÃO - (fez que sim, balançando a cabeça) Agora, o povo vai saber quem ele é. E eu, dona, Diogo Falcão, vou ter o prazer de tirar a máscara dele.
CORTA PARA:
CENA 3 - ESTRADA - EXT. - DIA.
O sol estava a pino, queimando os arredores do rancho, mas o cavaleiro, andando a trote lento, não dava conta dos seus efeitos. A barba de vários dias, negra, contrastava com a camisa branca, salpicada de pó. Jerônimo reconheceu-o de imediato e a trote largo encaminhou-se a seu encontro. Era João.
CORTA PARA:
CENA 4 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.
Os dois rapazes, abraçados, entraram no galpão de tantas recordações, boas e más, para o recém-chegado. Jerônimo abriu o diálogo.
JERÔNIMO - Tava aflito contigo, irmão.
JOÃO - Que foi que houve? Não me deixou ir pra casa. Que te aconteceu, home?
JERÔNIMO - Tou há um dia e uma noite te esperano, na estrada.
JOÃO - (franzindo a testa, admirado) Por que?
JERÔNIMO - Tu não sabe, ainda? Junto da nossa casa tem home da polícia, te esperano.
JOÃO - Uai! E que foi que eu fiz?
JERÔNIMO - (desconfiado) De onde tu vem, João?
JOÃO - De muito longe. Venho da cidade de Franca. Tou viajando há mais de quatro dias. Viaje dura. Num foi brincadeira, não.
JERÔNIMO - Que é que tu foi fazê na cidade de Franca, mano?
JOÃO - Tu sabe que lá é que tem bom comprador de diamante. Lá é que Lourenço tinha conhecimento. Pois eu fui atrás do sem-vergonha, naquela cidade, esperano encontrá ele.
JERÔNIMO - E... num encontrô?
JOÃO - Nada. Percorri a cidade inteira... perguntei pra Deus e o mundo... ninguém sabia dele. Ele num apareceu por lá. Desisti e resolvi vir tratá da minha vida, continuá procurando ele, por aqui.
JERÔNIMO - (sério e com fisionomia severa) Hoje... é o entêrro dele, João!
A notícia deixou o garimpeiro de boca aberta. Durante breves segundos não pôde dizer palavra. Até que se recompôs, apertando com força os braços do irmão.
JOÃO - Morreu... o desgraçado?
JERÔNIMO - Morreu matado! E tão dizeno... que foi ocê, mano! Aí é que tá o diabo!
CORTA PARA:
CENA 5 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
Potira correra das margens do riacho até ao rancho de paredes brancas para dar a boa nova.
POTIRA - Mãe, Sinhana! Lara! João chegou!
MARIA DE LARA - Tem certeza?
POTIRA - Jerome esperô por ele, na estrada. Lá longe, perto do rio. Eu tava veno o garimpo e vi o encontro dos dois. Ele veio na estrada, de longe. Jerome foi ao encontro dele... e os dois fôro lá pro galpão.
SINHANA - Tão lá?
POTIRA - Tão. Conversano. João tá todo sujo e barbudo.
MARIA DE LARA - (ajeitou-se ao espelho e afivelou o cinto de couro) Eu vou até lá pra ver João!
SINHANA - Cuidado com o que vai fazê, moça. Tem home da polícia rodeano a casa.
Lara saiu correndo sem se importar com as precauções necessárias.
CORTA PARA:
CENA 5 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.
No galpão, sentados sobre montes de capim sêco, João e Jerônimo trocavam idéias.
JOÃO - Tou lhe afirmano, Jerônimo. Não fui eu que tirei a vida daquele miserável. E não tirei por uma razão: não encontrei com ele no meu caminho. Mas te digo, se tivesse encontrado, teria matado com as minhas mão. Bastava ele dizê que não me entregava o meu diamante... e eu acabava com ele.
JERÔNIMO - Pois é... mas alguém fez o serviço por ocê. E acho que o interêsse era, também, o diamante. A pedra num foi encontrada com o corpo, irmão.
JOÃO - (estremeceu) A minha pedra... num foi achada?
JERÔNIMO - Não. Acharo tudo com ele. Anel e documentos. Menos a pedra.
JOÃO - Diabo, Jerônimo! Então... num tem mais esperança da gente encontrá ela?
JERÔNIMO - Acho que não....
JOÃO - (profundamente aborrecido) Diacho! E eu que viajei tanto... pra vê se ao menos... recuperava a minha pedra.
JERÔNIMO - Tá tudo contra nós, irmão.
Batidas leves na porta, levaram ambos a procurar refúgio. Jerônimo apontou para um grampo de aço que se projetava do chão. Por baixo, um quadro de madeira ocultava um compartimento subterrâneo. João correu a esconder-se ali. Jerônimo abriu a porta.
Era Lara.
Potira vinha atrás e chegou a tempo de ver João deixar o esconderijo e beijar apaixonadamente a esposa.
A mestiça espicaçou o homem a quem amava.
POTIRA - Num tá com inveja? Ou tu num é home?
JERÔNIMO - Num enche! Que é que tu tá fazeno aqui? A gente tá falano de coisa séria.
POTIRA - Olha... os soldados tão rodeano a nossa casa, o tempo todo.
JERÔNIMO - Tá ouvino, mano? Tem soldado rodeano a nossa casa. Pra te agarrá. São os home do Falcão, a soldo do coronel...
MARIA DE LARA - Como é que vai ser, João? Vai se deixar agarrar?
JOÃO - Eu tava dizeno pro meu irmão... num tenho culpa, porque num matei o desgraçado do Lourenço. Mas, num matei porque num encontrei ele pelo caminho.
MARIA DE LARA - Se não matou, não há o que temer!
JERÔNIMO - Não há o que temer... mas é bão ele num se deixá agarrá. Acho melhor fugir.
JOÃO - Acho que não. Fugindo dou prova de culpa.
JERÔNIMO - Sim... mas da forma que a coisa foi tramada, vai sê muito difícil tu prová sua inocência.
JOÃO - (largando a mão da esposa) A coisa tá tão séria, assim?
JERÔNIMO - Muito mais do que tu pensa!
Jerônimo tornou a olhar para fora, através das frestas da janela. Os soldados passeavam atentos com as armas encostadas ao ombro. Por enquanto João não tinha saída.
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** PEDRO BARROS PREPAROU SUA VINGANÇA CONTRA A INFIDELIDADE DA ESPOSA, ESTELA.
*** JOÃO E MARIA DE LARA PASSAM A NOITE NO GALPÃO.
Sinhana estava ansiosa, á espera de notícias do filho. Durante o dia, dezenas de vezes, correra á porta, ao ouvir o barulho de patas ou o ruído rouco do motor de automóvel. Jerônimo, que saíra cedo para Coroado, regressava, agora, á hora do almoço, trazendo Lara a seu lado. A expressão de ambos denotava, claramente, o desassossêgo e a preocupação. João não dava notícias... E os dias se passavam, molemente. O rapaz atravessou a sala, jogou o paletó surrado num gancho da parede e se sentou, arfando, estirando as pernas, abertas em arco, por sobre um tamborete de madeira.
SINHANA - Alguma notícia do teu irmão?
JERÔNIMO - Não, mãe. Nenhuma. E tá todo mundo querendo jogá a culpa nele.
SINHANA - Mas ele saiu daqui pra dar fim ao Lourenço. Não era isso que ocês tava quereno? Não era ocê que brigava com seu irmão pra ele fazê justiça?
JERÔNIMO - (descalçando as botas barrentas) Não desminto. Eu queria que ele fizesse alguma coisa... mas não disse pra ele matá.
MARIA DE LARA - O que você queria que ele fizesse?
JERÔNIMO - Queria... que ele conseguisse o diamante. Era tudo o que eu desejava.
SINHANA - (arrastou um banco e sentou-se) ... e que vingasse a morte do pai!
JERÔNIMO - Eu... eu nem sei o que queria. Talvez fosse isso... nem sei. Naquela hora eu queria tudo. Eu mesmo tinha que ter ido ao encontro dele... daquele bandido. Se a gente tem que fazê justiça... resta ainda muita gente.
SINHANA - Tou contigo. Resta, ainda, muita gente.
Lara voltou a falar, percebendo o rumo da conversa e as indiretas que a feriam.
MARIA DE LARA - Eu sei de quem vocês estão falando. Mas eu quero lhes dizer que não posso ser responsabilizada pelos atos do meu pai. E, se estou aqui, é porque não estou do lado dele. Reconheçam isso. E não me olhem com tanta acusação.
As palavras da nora ecoaram no coração de Sinhana. De fato, que culpa poderia ter Lara dos erros do pai? Jerônimo interrompeu-lhe os pensamentos.
JERÔNIMO - Afinal de contas... a gente foi vítima. Assaltaram nossa casa... roubaram... feriram nosso irmão Duda, e no final das contas... tá todo mundo, agora, contra João. E vão fazer do Lourenço uma vítima!
MARIA DE LARA - Afinal, vocês falam, falam, sem saber se foi João quem matou Lourenço. Pode ser que não tenha sido!
JERÔNIMO - É... e eu tou torceno por isso. Porque eu vi na cara daquela gente que viu o corpo do Lourenço... a revolta, a mudança... o esquecimento de tudo o que a gente passô... nos últimos tempos. O povo... esse mesmo povo que apoiava nós... que tava do nosso lado, se esqueceu que Lourenço foi um ladrão... um assassino. Agora ele é vítima. É herói. E João um criminoso infame... segundo essa gente.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.
Falcão descobriu o corpo, azulado pela morte. Juca Cipó benzeu-se, com gestos indiscretos. Pedro Barros estimulava a mulher.
PEDRO BARROS - Coragem, minha senhora!
BRANCA - (virou o rosto, horrorizada, empalidecendo) Meu Deus!
DELEGADO FALCÃO - Eram estas as roupas... que usava? Reconhece o anel?
BRANCA - É dele, sim! Os cabelos... não existe a menor dúvida. É meu marido! É ele! Foi assassinado! Assassinado, meu Deus!
A mulher sentiu o mundo rodar, como se estivesse num avião desgovernado. Falcão e Barros evitaram que ela caísse ao chão. Branca perdera os sentidos.
PEDRO BARROS - (ordenou a Juca Cipó) Veja alguma coisa aí, pra ela tomá.
O café estimulou um pouco a mulher de Lourenço. Aos poucos foi se refazendo da vertigem, amparada pelos braços do delegado.
BRANCA - (com ódio) Eu exijo puniçõo pra esse crime. Punição imediata.
DELEGADO FALCÃO - Mas... quem é o culpado?
BRANCA - João Coragem! João Coragem jurou ele de morte. Foi atrás dele, em minha casa, e jurou matar ele. Prendam esse homem ou eu não acredito mais na justiça! (agarrou as mãos do delegado, nervosamente) O senhor tem que fazer alguma coisa e deve acreditar em mim! Era João Coragem o homem que esteve lá em casa. Em Morrinhos. Ele disse o seu nome. Me mandou rezar pra Lourenço não resistir, porque afirmava que meu marido tinha roubado o diamante dele. Mas ninguém podia provar isso. Meu marido não era um ladrão! Não era ladrão!
Branca mentia para salvar as aparências e vingar a morte de Lourenço. Vira o diamante e estivera presente, na noite em que Virgílio procurara o marido e lhe confessara que participara do roubo na casa dos Coragens. Mentia, agora, impelida pela desordem emocional e pela necessidade de se vingar do homem que ameaçara liquidar o assassino do pai (indiretamente a morte fôra provocada pelos acontecimentos da noite do assalto). Branca sorria, enlouquecida. Ao fundo, encoberto pela escuridão ambiente, o corpo de Lourenço destacava-se como um boneco de cêra num museu.
DELEGADO FALCÃO - Essa crueldade que fizeram com seu marido será castigada. (voltando-se para o coronel) Pode levar a moça pra descansar, seu Pedro. Vou tomar as minhas providências.
BRANCA - (olhando de esguelha para o corpo) Quando será o sepultamento?
DELEGADO FALCÃO - Vou liberar o corpo amanhã.
PEDRO BARROS - Lourenço D’Ávila vai ter um enterro digno do homem que era! Bom empregado, ótimo trabalhador, honesto e bom caráter. Todo o povo de Coroado tem que saber que ele foi vítima do homem que eles veneravam como um santo.
BRANCA - (espantou-se com a revelação) João Coragem... era tido como um santo?
DELEGADO FALCÃO - Era, dona. João Coragem era um exemplo de bondade, aqui na nossa terra...
BRANCA - E foi capaz de fazer aquilo? (apontou para o cadáver) Aquela crueldade com meu marido?
DELEGADO FALCÃO - (fez que sim, balançando a cabeça) Agora, o povo vai saber quem ele é. E eu, dona, Diogo Falcão, vou ter o prazer de tirar a máscara dele.
CORTA PARA:
CENA 3 - ESTRADA - EXT. - DIA.
O sol estava a pino, queimando os arredores do rancho, mas o cavaleiro, andando a trote lento, não dava conta dos seus efeitos. A barba de vários dias, negra, contrastava com a camisa branca, salpicada de pó. Jerônimo reconheceu-o de imediato e a trote largo encaminhou-se a seu encontro. Era João.
CORTA PARA:
CENA 4 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.
Os dois rapazes, abraçados, entraram no galpão de tantas recordações, boas e más, para o recém-chegado. Jerônimo abriu o diálogo.
JERÔNIMO - Tava aflito contigo, irmão.
JOÃO - Que foi que houve? Não me deixou ir pra casa. Que te aconteceu, home?
JERÔNIMO - Tou há um dia e uma noite te esperano, na estrada.
JOÃO - (franzindo a testa, admirado) Por que?
JERÔNIMO - Tu não sabe, ainda? Junto da nossa casa tem home da polícia, te esperano.
JOÃO - Uai! E que foi que eu fiz?
JERÔNIMO - (desconfiado) De onde tu vem, João?
JOÃO - De muito longe. Venho da cidade de Franca. Tou viajando há mais de quatro dias. Viaje dura. Num foi brincadeira, não.
JERÔNIMO - Que é que tu foi fazê na cidade de Franca, mano?
JOÃO - Tu sabe que lá é que tem bom comprador de diamante. Lá é que Lourenço tinha conhecimento. Pois eu fui atrás do sem-vergonha, naquela cidade, esperano encontrá ele.
JERÔNIMO - E... num encontrô?
JOÃO - Nada. Percorri a cidade inteira... perguntei pra Deus e o mundo... ninguém sabia dele. Ele num apareceu por lá. Desisti e resolvi vir tratá da minha vida, continuá procurando ele, por aqui.
JERÔNIMO - (sério e com fisionomia severa) Hoje... é o entêrro dele, João!
A notícia deixou o garimpeiro de boca aberta. Durante breves segundos não pôde dizer palavra. Até que se recompôs, apertando com força os braços do irmão.
JOÃO - Morreu... o desgraçado?
JERÔNIMO - Morreu matado! E tão dizeno... que foi ocê, mano! Aí é que tá o diabo!
CORTA PARA:
CENA 5 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
Potira correra das margens do riacho até ao rancho de paredes brancas para dar a boa nova.
POTIRA - Mãe, Sinhana! Lara! João chegou!
MARIA DE LARA - Tem certeza?
POTIRA - Jerome esperô por ele, na estrada. Lá longe, perto do rio. Eu tava veno o garimpo e vi o encontro dos dois. Ele veio na estrada, de longe. Jerome foi ao encontro dele... e os dois fôro lá pro galpão.
SINHANA - Tão lá?
POTIRA - Tão. Conversano. João tá todo sujo e barbudo.
MARIA DE LARA - (ajeitou-se ao espelho e afivelou o cinto de couro) Eu vou até lá pra ver João!
SINHANA - Cuidado com o que vai fazê, moça. Tem home da polícia rodeano a casa.
Lara saiu correndo sem se importar com as precauções necessárias.
CORTA PARA:
CENA 5 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.
No galpão, sentados sobre montes de capim sêco, João e Jerônimo trocavam idéias.
JOÃO - Tou lhe afirmano, Jerônimo. Não fui eu que tirei a vida daquele miserável. E não tirei por uma razão: não encontrei com ele no meu caminho. Mas te digo, se tivesse encontrado, teria matado com as minhas mão. Bastava ele dizê que não me entregava o meu diamante... e eu acabava com ele.
JERÔNIMO - Pois é... mas alguém fez o serviço por ocê. E acho que o interêsse era, também, o diamante. A pedra num foi encontrada com o corpo, irmão.
JOÃO - (estremeceu) A minha pedra... num foi achada?
JERÔNIMO - Não. Acharo tudo com ele. Anel e documentos. Menos a pedra.
JOÃO - Diabo, Jerônimo! Então... num tem mais esperança da gente encontrá ela?
JERÔNIMO - Acho que não....
JOÃO - (profundamente aborrecido) Diacho! E eu que viajei tanto... pra vê se ao menos... recuperava a minha pedra.
JERÔNIMO - Tá tudo contra nós, irmão.
Batidas leves na porta, levaram ambos a procurar refúgio. Jerônimo apontou para um grampo de aço que se projetava do chão. Por baixo, um quadro de madeira ocultava um compartimento subterrâneo. João correu a esconder-se ali. Jerônimo abriu a porta.
Era Lara.
Potira vinha atrás e chegou a tempo de ver João deixar o esconderijo e beijar apaixonadamente a esposa.
A mestiça espicaçou o homem a quem amava.
POTIRA - Num tá com inveja? Ou tu num é home?
JERÔNIMO - Num enche! Que é que tu tá fazeno aqui? A gente tá falano de coisa séria.
POTIRA - Olha... os soldados tão rodeano a nossa casa, o tempo todo.
JERÔNIMO - Tá ouvino, mano? Tem soldado rodeano a nossa casa. Pra te agarrá. São os home do Falcão, a soldo do coronel...
MARIA DE LARA - Como é que vai ser, João? Vai se deixar agarrar?
JOÃO - Eu tava dizeno pro meu irmão... num tenho culpa, porque num matei o desgraçado do Lourenço. Mas, num matei porque num encontrei ele pelo caminho.
MARIA DE LARA - Se não matou, não há o que temer!
JERÔNIMO - Não há o que temer... mas é bão ele num se deixá agarrá. Acho melhor fugir.
JOÃO - Acho que não. Fugindo dou prova de culpa.
JERÔNIMO - Sim... mas da forma que a coisa foi tramada, vai sê muito difícil tu prová sua inocência.
JOÃO - (largando a mão da esposa) A coisa tá tão séria, assim?
JERÔNIMO - Muito mais do que tu pensa!
Jerônimo tornou a olhar para fora, através das frestas da janela. Os soldados passeavam atentos com as armas encostadas ao ombro. Por enquanto João não tinha saída.
FIM DO CAPÍTULO 56
João e Lara beijam-se, no galpão, sob os olhares de Jerônimo e Potira |
*** PEDRO BARROS PREPAROU SUA VINGANÇA CONTRA A INFIDELIDADE DA ESPOSA, ESTELA.
*** JOÃO E MARIA DE LARA PASSAM A NOITE NO GALPÃO.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 57 DE
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