quinta-feira, 25 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 56


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 56
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
JERÔNIMO
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
BRANCA
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
POTIRA


CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Sinhana estava ansiosa, á espera de notícias do filho. Durante o dia, dezenas de vezes, correra á porta, ao ouvir o barulho de patas ou o ruído rouco do motor de automóvel. Jerônimo, que saíra cedo para Coroado, regressava, agora, á hora do almoço, trazendo Lara a seu lado. A expressão de ambos denotava, claramente, o desassossêgo e a preocupação. João não dava notícias... E os dias se passavam, molemente. O rapaz atravessou a sala, jogou o paletó surrado num gancho da parede e se sentou, arfando, estirando as pernas, abertas em arco, por sobre um tamborete de madeira.


SINHANA  -  Alguma notícia do teu irmão?

JERÔNIMO  -  Não, mãe. Nenhuma. E tá todo mundo querendo jogá a culpa nele.

SINHANA  -  Mas ele saiu daqui pra dar fim ao Lourenço.  Não era isso que ocês tava quereno? Não era ocê que brigava com seu irmão pra ele fazê justiça?
  
JERÔNIMO  -  (descalçando as botas barrentas)  Não desminto. Eu queria que ele fizesse alguma coisa... mas não disse pra ele matá.
   
MARIA DE LARA  -  O que você queria que ele fizesse?

JERÔNIMO  -  Queria... que ele conseguisse o diamante. Era tudo o que eu desejava.

SINHANA  -  (arrastou um banco e sentou-se)  ... e que vingasse a morte do pai!

JERÔNIMO  -  Eu... eu nem sei o que queria. Talvez fosse isso... nem sei. Naquela hora eu queria tudo. Eu mesmo tinha que ter ido ao encontro dele... daquele bandido.   Se a gente tem que fazê justiça... resta ainda muita gente.

SINHANA  -  Tou contigo.   Resta, ainda, muita gente.

Lara voltou a falar, percebendo o rumo da conversa e as indiretas que a feriam.


MARIA DE LARA  -  Eu sei de quem vocês estão falando. Mas eu quero lhes dizer que não posso ser responsabilizada pelos atos do meu pai. E, se estou aqui, é porque não estou do lado dele. Reconheçam isso. E não me olhem com tanta acusação.

As palavras da nora ecoaram no coração de Sinhana. De fato, que culpa poderia ter Lara dos erros do pai? Jerônimo interrompeu-lhe os pensamentos.

JERÔNIMO  -  Afinal de contas... a gente foi vítima. Assaltaram nossa casa... roubaram... feriram nosso irmão Duda, e no final das contas... tá todo mundo, agora, contra João. E vão fazer do Lourenço uma vítima!

MARIA DE LARA  -  Afinal, vocês falam, falam, sem saber se foi João quem matou Lourenço.  Pode ser que não tenha sido!

JERÔNIMO  -  É... e eu tou torceno por isso.  Porque eu vi na cara daquela gente que viu o corpo do Lourenço... a revolta, a mudança... o esquecimento de tudo o que a gente passô... nos últimos tempos.  O povo... esse mesmo povo que apoiava nós... que tava do nosso lado, se esqueceu que Lourenço foi um ladrão... um assassino. Agora ele é vítima. É herói. E João um criminoso infame... segundo essa gente.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Falcão descobriu o corpo, azulado pela morte. Juca Cipó benzeu-se, com gestos indiscretos. Pedro Barros estimulava a mulher.


PEDRO BARROS  -  Coragem, minha senhora!

BRANCA  -  (virou o rosto, horrorizada, empalidecendo)  Meu Deus!
  
DELEGADO FALCÃO  -  Eram estas as roupas... que usava? Reconhece o anel?

BRANCA  -  É dele, sim! Os cabelos... não existe a menor dúvida. É meu marido! É ele! Foi assassinado! Assassinado, meu Deus!

A mulher sentiu o mundo rodar, como se estivesse num avião desgovernado. Falcão e Barros evitaram que ela caísse ao chão. Branca perdera os sentidos.
  
PEDRO BARROS  -  (ordenou a Juca Cipó)  Veja alguma coisa aí, pra ela tomá.

O café estimulou um pouco a mulher de Lourenço. Aos poucos foi se refazendo da vertigem, amparada pelos braços do delegado.

BRANCA  -  (com ódio)  Eu exijo puniçõo pra esse crime. Punição imediata.

DELEGADO FALCÃO  -  Mas... quem é o culpado?

BRANCA  -  João Coragem! João Coragem jurou ele de morte. Foi atrás dele, em minha casa, e jurou matar ele. Prendam esse homem ou eu não acredito mais na justiça! (agarrou as mãos do delegado, nervosamente)  O senhor tem que fazer alguma coisa e deve acreditar em mim! Era João Coragem o homem que esteve lá em casa. Em Morrinhos. Ele disse o seu nome. Me mandou rezar pra Lourenço não resistir, porque afirmava que meu marido tinha roubado o diamante dele. Mas ninguém podia provar isso. Meu marido não era um ladrão! Não era ladrão!

Branca mentia para salvar as aparências e vingar a morte de Lourenço. Vira o diamante e estivera presente, na noite em que Virgílio procurara o marido e lhe confessara que participara do roubo na casa dos Coragens. Mentia, agora, impelida pela desordem emocional e pela necessidade de se vingar do homem que ameaçara liquidar o assassino do pai (indiretamente a morte fôra provocada pelos acontecimentos da noite do assalto). Branca sorria, enlouquecida. Ao fundo, encoberto pela escuridão ambiente, o corpo de Lourenço destacava-se como um boneco de cêra num museu.

DELEGADO FALCÃO  -  Essa crueldade que fizeram com seu marido será castigada. (voltando-se para o coronel)  Pode levar a moça pra descansar, seu Pedro. Vou tomar as minhas providências.

BRANCA  -  (olhando de esguelha para o corpo)  Quando será o sepultamento?

DELEGADO FALCÃO  -  Vou liberar o corpo amanhã.

PEDRO BARROS  -  Lourenço D’Ávila vai ter um enterro digno do homem que era!  Bom empregado, ótimo trabalhador, honesto e bom caráter. Todo o povo de Coroado tem que saber que ele foi vítima do homem que eles veneravam como um santo.
  
BRANCA  -  (espantou-se com a revelação)  João Coragem... era tido como um santo?
 
DELEGADO FALCÃO  -  Era, dona. João Coragem era um exemplo de bondade, aqui na nossa terra...

BRANCA  -  E foi capaz de fazer aquilo? (apontou para o cadáver)  Aquela crueldade com meu marido?

DELEGADO FALCÃO  -  (fez que sim, balançando a cabeça)  Agora, o povo vai saber quem ele é. E eu, dona, Diogo Falcão, vou ter o prazer de tirar a máscara dele.

CORTA PARA:

CENA 3  -  ESTRADA  -  EXT.  -  DIA.

O sol estava a pino, queimando os arredores do rancho, mas o cavaleiro, andando a trote lento, não dava conta dos seus efeitos. A barba de vários dias, negra, contrastava com a camisa branca, salpicada de pó. Jerônimo reconheceu-o de imediato e a trote largo encaminhou-se a seu encontro. Era João.

CORTA PARA:


CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT. -  DIA.

Os dois rapazes, abraçados, entraram no galpão de tantas recordações, boas e más, para o recém-chegado. Jerônimo abriu o diálogo.


JERÔNIMO  -  Tava aflito contigo, irmão.

JOÃO  -  Que foi que houve? Não me deixou ir pra casa. Que te aconteceu, home?

JERÔNIMO  -  Tou há um dia e uma noite te esperano, na estrada.

JOÃO  -  (franzindo a testa, admirado)  Por que?

JERÔNIMO  -  Tu não sabe, ainda? Junto da nossa casa tem home da polícia, te esperano.

JOÃO  -  Uai! E que foi que eu fiz?

JERÔNIMO  -  (desconfiado)  De onde tu vem, João?

JOÃO  -  De muito longe. Venho da cidade de Franca. Tou viajando há mais de quatro dias. Viaje dura. Num foi brincadeira, não.

JERÔNIMO  -  Que é que tu foi fazê na cidade de Franca, mano?

JOÃO  -  Tu sabe que lá é que tem bom comprador de diamante. Lá é que Lourenço tinha conhecimento. Pois eu fui atrás do sem-vergonha, naquela cidade, esperano encontrá ele.
  
JERÔNIMO  -  E... num encontrô?

JOÃO  -  Nada. Percorri a cidade inteira... perguntei pra Deus e o mundo... ninguém sabia dele. Ele num apareceu por lá. Desisti e resolvi vir tratá da minha vida, continuá procurando ele, por aqui.
   
JERÔNIMO  -  (sério e com fisionomia severa)  Hoje...  é o entêrro dele, João!

A notícia deixou o garimpeiro de boca aberta. Durante breves segundos não pôde dizer palavra. Até que se recompôs, apertando com força os braços do irmão.

JOÃO  -  Morreu... o desgraçado?

JERÔNIMO  -  Morreu matado!  E tão dizeno... que foi ocê, mano! Aí é que tá o diabo!

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.    -  DIA.


Potira correra das margens do riacho até ao rancho de paredes brancas para dar a boa nova.


POTIRA  -  Mãe, Sinhana! Lara! João chegou!

MARIA DE LARA  -  Tem certeza?

POTIRA  -  Jerome esperô por ele, na estrada. Lá longe, perto do rio. Eu tava veno o garimpo e vi o encontro dos dois. Ele veio na estrada, de longe. Jerome foi ao encontro dele... e os dois fôro lá pro galpão.

SINHANA  -  Tão lá?

POTIRA  -  Tão. Conversano. João tá todo sujo e barbudo.

MARIA DE LARA  -  (ajeitou-se ao espelho e afivelou o cinto de couro) Eu vou até lá pra ver João!

SINHANA  -  Cuidado com o que vai fazê, moça. Tem home da polícia rodeano a casa.

Lara saiu correndo sem se importar com as precauções necessárias.

CORTA PARA:

CENA  5  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT.  -  DIA.

No galpão, sentados sobre montes de capim sêco, João e Jerônimo trocavam idéias.


JOÃO  -  Tou lhe afirmano, Jerônimo. Não fui eu que tirei a vida daquele miserável. E não tirei por uma razão: não encontrei com ele no meu caminho. Mas te digo, se tivesse encontrado, teria matado com as minhas mão. Bastava ele dizê que não me entregava o meu diamante... e eu acabava com ele.

JERÔNIMO  -  Pois é... mas alguém fez o serviço por ocê. E acho que o interêsse era, também, o diamante. A pedra num foi encontrada com o corpo, irmão.
  
JOÃO  -  (estremeceu)  A minha pedra... num foi achada?

JERÔNIMO  -  Não. Acharo tudo com ele. Anel e documentos. Menos a pedra.

JOÃO  -  Diabo, Jerônimo! Então... num tem mais esperança da gente encontrá ela?

JERÔNIMO  -  Acho que não....

JOÃO  -  (profundamente aborrecido)  Diacho!  E eu que viajei tanto... pra vê se ao menos... recuperava a minha pedra.

JERÔNIMO  -  Tá tudo contra nós, irmão.

Batidas leves na porta, levaram ambos a procurar refúgio. Jerônimo apontou para um grampo de aço que se projetava do chão. Por baixo, um quadro de madeira ocultava um compartimento subterrâneo. João correu a esconder-se ali. Jerônimo abriu a porta.

Era Lara.


Potira vinha atrás e chegou a tempo de ver João deixar o esconderijo e beijar apaixonadamente a esposa.

A mestiça espicaçou o homem a quem amava.


POTIRA  -  Num tá com inveja? Ou tu num é home?

JERÔNIMO  -  Num enche!  Que é que tu tá fazeno aqui? A gente tá falano de coisa séria.

POTIRA  -  Olha...  os soldados tão rodeano a nossa casa, o tempo todo.
  
JERÔNIMO  -  Tá ouvino, mano? Tem soldado rodeano a nossa casa. Pra te agarrá. São os home do Falcão, a soldo do coronel...

MARIA DE LARA  -  Como é que vai ser, João? Vai se deixar agarrar?

JOÃO  -  Eu tava dizeno pro meu irmão... num tenho culpa, porque num matei o desgraçado do Lourenço. Mas, num matei porque num encontrei ele pelo caminho.

MARIA DE LARA  -  Se não matou, não há o que temer!

JERÔNIMO  -  Não há o que temer... mas é bão ele num se deixá agarrá.  Acho melhor fugir.

JOÃO  -  Acho que não.  Fugindo dou prova de culpa.

JERÔNIMO  -  Sim... mas da forma que a coisa foi tramada, vai sê muito difícil tu prová sua inocência.

JOÃO  -  (largando  a mão da esposa)  A coisa tá tão séria, assim?

JERÔNIMO  -  Muito mais do que tu pensa!

Jerônimo tornou a olhar para fora, através das frestas da janela. Os soldados passeavam atentos com as armas encostadas ao ombro. Por enquanto João não tinha saída.


FIM DO CAPÍTULO 56
João e Lara beijam-se, no galpão, sob os olhares de Jerônimo e Potira
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** PEDRO BARROS PREPAROU SUA VINGANÇA CONTRA A INFIDELIDADE DA ESPOSA, ESTELA.

*** JOÃO E MARIA DE LARA PASSAM A NOITE NO GALPÃO.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 57 DE



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