segunda-feira, 8 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 48


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 48
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
CEMA
BRAZ
DELEGADO FALCÃO
DR. MACIEL
DUDA
DOMINGAS
RITINHA
JERÔNIMO

CENA 1  - COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

João Coragem segurava os punhos da mulher de Braz, apertando-os até magoá-la.


JOÃO  -  Cema... você disse que ia contá tudo pro Falcão. Você disse que ia ajudá, Cema!

CEMA  -  Mas eu não quero dizê o nome dele! Não quero!
   
BRAZ  -  Qué ajudá ele, Cema?

A bela mulher fitou os olhos dos homens numa súplica muda.


CEMA  -  Não! É que Braz tá fora de si. Braz é vingativo. Vai querê tirá vingança dele!
  
BRAZ  -  Se você disse que num teve nada... que ele só te agarrô...

Falcão entrou no assunto, com energia policial.


DELEGADO FALCÃO  -  Estamos aqui perdendo tempo, assistindo a uma cena de ciúme.
  
CEMA  -  Pelo menos esse... eu tenho certeza quem era. Os outro eu não tenho não...

JOÃO  -  Muito bem... os outro a gente se incumbe de sabê. (estimulou, ávido pela revelação do nome).
  
DELEGADO FALCÃO  -  (enérgico)  Quem era? Diga de uma vez!

Os lábios de Cema abriram-se com extrema lentidão. Meditava ainda, se devia ou não revelar a verdade. 


CEMA  -  Juca Cipó!

BRAZ CANOEIRO  -  (gritou)  Desgraçado!

Diogo Falcão continuava escrevendo e o choque que a notícia lhe causou pôde ser camuflado numa falsa concentração no trabalho. Apenas para olhos mais perspicazes, o levíssimo tremor nas mãos poderia indicar abalo nos nervos controlados do policial. 


DELEGADO FALCÃO  -  Eu vou averiguar...
 
JOÃO  -  Quanto os outro... eu lhe digo. Um deles, eu tenho certeza, foi Lourenço D’Ávila. Ele foi o cabeça do assalto. Eu quero ele preso até amanhã. Se não prendê esse home, Falcão, eu acabo com ele. Eu mato ele.
   
DELEGADO FALCÃO  -  Você não pode acusar um homem por simples suposição. Tem de haver provas concretas...

JOÃO  -  Não é simples suposição.  O bandido maltratô minha mulhé, na ausência do pai dela. A índia empregada me contô... ele quis impedi Lara de ir me avisá de alguma coisa. Só pode ser isso! Ela queria me avisá que iam assaltá a minha casa!

Diogo Falcão continuava batendo na tecla da suposição. João enervava-se a cada segundo com a resistência da autoridade policial em cumprir o que ele achava muito simples: pelo menos dar início ás investigações, com brevidade, para impedir que os assaltantes riscassem do mapa quaisquer possíveis provas que os incriminassem. Foi com excessiva severidade que voltou a dirigir-se ao delegado.


JOÃO  -  Pois bem. O sinhô diga o que quiser. Eu continuo afirmando que se não prendê ele até amanhã a esta hora... eu pratico minha justiça. Dou cabo dele!

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  CONSULTÓRIO  -  INT.  -  DIA.

O forte cheiro de clorofórmio invadiu a casa do Dr. Maciel proveniente do pequeno consultório, anexo. O médico preparava-se para dar começo á operação. O paciente, deitado sobre a mesa metálica, deixara exposta a região da perna onde fôra atingido pela bala. 


DR. MACIEL  -  (feita a assepsia, ordenou)  Tranque a porta, Domingas. Tudo fervido?

A mulher fez que sim, sem abrir a boca.

DR. MACIEL  -  Agora, leve bem as mãos e as desinfete. Preciso que vá me dando os instrumentos.

Olhou para Duda, com algum desprezo no olhar.


DR. MACIEL  -  Você vai dormir. Vá contando até trinta... lentamente...

Colocou o funil da anestesia sobre o nariz do rapaz. Segurou firme, enquanto Duda iniciava a contagem.


DUDA  -  Um... dois... três... quatro... cinco... seis...

Aos poucos a voz diminuía de intensidade e cadência. Em segundos o rapaz dormia.


DOMINGAS  -  Isto vai dar certo?

DR. MACIEL  -  Não sei. Eu não sei o que fazer. É uma intervenção que deveria ser realizada num hospital bem aparelhado. É preciso extrair uma bala do osso e eu não tenho meios para isso.

DOMINGAS  -  (preocupada)  E como é que vai ser?

DR. MACIEL  -  Vai ser... vai ser... é que eu tenho que fazer uma tentativa se quiser viver... Não tenho outra opção. Os homens estão loucos, de arma na mão, prontos para tudo. Você viu, não viu?

DOMINGAS  -  Há... alguma chance... do senhor retirá a bala?

DR. MACIEL  -  Muito mínima.

Sentiu a pulsação de Eduardo, observou-lhe a respiração, lenta, mas firme. Abriu-lhe os olhos puxando a pálpebra  com o polegar e o indicador. Tudo bem, concluiu. Pegou do bisturi e fitou Domingas, como a rogar-lhe ajuda.


DR. MACIEL  -  Vamos lá... e que Deus me ajude.

Pouco abaixo do joelho do jogador, a mancha arroxeada estendia-se de lado a lado. No centro um furo de razoáveis proporções, sem bordas. A perna inchara. Maciel riscou um trajeto sanguíneo com a ponta do bisturi. As carnes se abriram e o sangue vermelho empapou o lençol.

DR. MACIEL  -  (fez um sinal) Algodão e éter.

Sobre o armário do material cirúrgico o tique-taque do relógio marcava, compassadamente, o correr do tempo. Diferença entre a vida e a morte.

CORTA PARA:

CENA  3  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


João reuniu-se á família no interior da casa de Maciel, após concluir o depoimento. Agradeceu a Braz e Cema a colaboração e, com o pensamento dividido entre a esposa e o irmão, adentrou a residência do médico. Ritinha o recebeu, abraçando-o. 


RITINHA  -  Eles estão lá dentro há meia hora.

JOÃO  -  Como é que vai indo?

RITINHA  -  Não sabemos.

João conversava para matar o tempo e descontrair os nervos.

JOÃO  -  Se Duda deixá de jogá ainda resta dois braço e dos bom. Ele não vai morrê por causa disso.

JERÔNIMO  -  É que você não sabe.  Mas o nosso irmão prefere morrê do que deixá de jogá.

JOÃO  -  (apreensivo)  Ele disse isso?

JERÔNIMO  -  Nem precisa dizê. Tá na cara.

Uma longa pausa pôs um hiato na conversa. Jerônimo aproximou-se do irmão. Pôs-lhe a mão sobre o ombro em sinal de amizade.

JERÔNIMO  -  Que foi que cê fez, mano? Foi atrás de Lourenço?
   
JOÃO  -  Tenho medo de mim. Do que eu possa fazê...

JERÔNIMO  -  Eu sabia. Sabia que ocê ia recuá  (retirou a mão do ombro do rapaz e virou-lhe as costas, bruscamente).

JOÃO  -  Mas, eu não recuei. Eu dei um prazo pro Falcão. Eu fiz a queixa. Só porque não quero matá ninguém. Eu confio na lei.

JERÔNIMO  -  (gesticulando com nervosismo)  E você acredita na lei desta cidade?

JOÃO  -  Eu vou confiá até amanhã.  Só até amanhã. Porque eu num quero sê um assassino...

CORTA PARA:

CENA  4  -  CASA DO DR. MACIEL  -  CONSULTÓRIO  -  INT.  -  DIA.

O médico porejava suor e as fundas olheiras denotavam extremo cansaço.


DR. MACEIL  -  (extenuado)  Eu... eu não agüento mais. Me veja um gole aí, que qualquer coisa.

A criada retirou uma garrafa do armário e entregou-a ao profissional.


DOMINGAS  -  O que houve?

DR. MACIEL  -  Estou cansado... de lutar contra a realidade. Eu não alcanço a bala. É um trabalho muito difícil. Não atinjo o osso... ou por incompetência... ou por falta de material adequado... mas, não alcanço. Precisaria... uma equipe especializada neste tipo de operação. Eu avisei a eles...

DOMINGAS  -  Como é que vai sê? Se o senhô não retira a bala... eles vão lhe matá!

DR. MACIEL  -  Eu sei. Eu sei. Não posso fazer mais nada. Vou fechar o ferimento.

DOMINGAS  -  Com a bala aí dentro?

DR. MACIEL  -  Hem? Ah... sim! Exato. Com a bala aí dentro.

DOMINGAS  -  Seu doutô... e o Duda?

DR. MACIEL  -  Ele agüenta ainda um pouco... alguns dias mais... até eu... ter coragem de dizer a verdade... para que a operação seja realizada como se deve.

DOMINGAS  -  (aterrorizada)  Mas... eles vão querê vê a bala... agora!

DR. MACIEL  -  Eu lhes mostrarei uma bala... não a que deveria ser, evidentemente.  (pediu, suplicante)  Me dê mais um gole...

Domingas colocou, ela mesma, o gargalo da garrafa na boca do médico. Ele sorveu uma dose considerável de aguardente. Deu um estalido com a língua, cerrando os olhos com a ardência da bebida. 


DR. MACIEL  -  Agora veja... ali, na gaveta... da escrivaninha... há uma bala solta... velha... que eu retirei do braço de um homem ferido há algum tempo. Me traga aqui.

A criada prontamente obedeceu.


DR. MACIEL  -  Que isto fique entre nós dois... que ninguém saiba. Eu tenho que salvar a minha vida, ou não tenho?

A mulher atirou a bala de encontro aos algodões sujos de sangue, misturando-a aos restos da operação. Maciel, com as mãos em concha, encaminhou-se para a sala. A passos medidos.


FIM DO CAPÍTULO 48
João e Sinhana


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** OS CAPANGAS COMUNICAM A PEDRO BARROS QUE LOURENÇO FUGIU.

*** DR. MACIEL ENTREGA UMA BALA FALSA AOS IRMÃOS CORAGEM

*** PEDRO BARROS ORDENA AO DELEGADO FALCÃO QUE PRENDA LOURENÇO DE QUALQUER MANEIRA!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 49 DE

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