Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 54
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DOMINGAS
DR. MACIEL
BRAZ CANOEIRO
JERÔNIMO DELEGADO FALCÃO
GARIMPEIROS
CENA 1 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - QUARTO DE RITINHA - INT. - DIA.
Ritinha e Duda conversavam, deitados na larga cama de casal.
DUDA - Você tá bem certa de que esta é a solução?
RITINHA - Não é solução, Eduardo. É só um adiamento da solução que a gente precisa. Me deixa ficar um pouco mais aqui... pelo menos até nosso filho nascer. Nesse estado, eu tenho certeza de que não vou poder reagir contra as coisas que me esperam lá no Rio.
DUDA - Você me faz sentir um fracassado...
Ritinha debruçou-se sobre seu corpo, abraçando-o pelo peito.
RITINHA - Não tou te acusando, Eduardo. Acho até que não é você quem tem culpa. Sou eu mesma, que não me ambientei... sei lá... eu tinha que ter o gênio diferente... tinha que ser mais... mais avançada. Acho que sou quadrada, antiquada... boboca... não sei bem o que é isso, meu amor. (beijou o queixo do marido, subindo com os lábios colados á pele, até os lábios dele) Só sei que eu sofro demais com as coisas. Não tenho a frieza, aquela indiferença, aquela superioridade que a gente tem que ter pra viver na capital.
DUDA - Como assim?
RITINHA - Eu sou uma sentimental...
Girando sobre o corpo, o rapaz apertou-a amorosamente.
DUDA - Eu gosto de você, assim. Eu também sou um sentimental... Sou tudo isso que você disse, amor. E como é que eu vou viver sem você?
Algumas lágrimas molhavam o rosto aveludado da moça.
RITINHA - É só até nosso filho nascer. Depois, eu vou procurar me adaptar mais ás situações... vou procurar ser mais fria... tentar gostar menos de você, pra não te atormentar tanto. Mando te avisar logo que o nenê nascer. (beliscou de leve o peito do marido) Que nome você quer que ponha?
DUDA - (com tristeza) Se for homem... bota o nome do meu pai.
RITINHA - Sebastião... é tão comprido. Deixa eu pôr Eduardo, mesmo...
DUDA - Não. Ele tem que ter mais sorte do que eu. Se for mulher... bota o seu nome.
RITINHA - (sorriu, sem graça) Não. Ele tem que ser mais feliz do que eu sou...
Depois de sorver um longo trago de fumaça, Duda atirou fora a guimba e contornou com a mão o ventre da esposa. Ali estava a razão de todo o seu futuro. Dele e da mulher a quem dia a dia amava mais.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.
Domingas já preparara as malas de e escutava os resmungos de Maciel, aborrecido com o andamento da conversa. A mulher tentava forçar o médico a confessar a verdade aos emissários do Flamengo.
DOMINGAS - Já falou pra eles... da bala que ainda tá na perna do Duda?
DR. MACIEL - (com brusquidão) Não vou falar, nem agora, nem nunca! Não quero. Acho que não devo dizer.
DOMINGAS - (preocupada) Como é que vai ser... quando souberem?
DR. MACIEL - Operam ele, pronto! Não tem problema!
DOMINGAS - (insistiu) Pode passar do tempo!
DR. MACIEL - (esbravejando furiosamente) Nada disso! Nada disso! E não me amola!
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.
Duda deixou o quarto, já vestido. Calças vermelhas, justas, camisa-esporte preta, com desenho em branco á altura do peito. Ritinha acompanhava-o, chorosa.
DR. MACIEL - (avisou, sem se voltar para o casal) Estão te chamando, lá no carro. Vocês tem que tomar o avião, na próxima cidade. Está quase em cima da hora.
Ritinha e Duda conversavam, deitados na larga cama de casal.
DUDA - Você tá bem certa de que esta é a solução?
RITINHA - Não é solução, Eduardo. É só um adiamento da solução que a gente precisa. Me deixa ficar um pouco mais aqui... pelo menos até nosso filho nascer. Nesse estado, eu tenho certeza de que não vou poder reagir contra as coisas que me esperam lá no Rio.
DUDA - Você me faz sentir um fracassado...
Ritinha debruçou-se sobre seu corpo, abraçando-o pelo peito.
RITINHA - Não tou te acusando, Eduardo. Acho até que não é você quem tem culpa. Sou eu mesma, que não me ambientei... sei lá... eu tinha que ter o gênio diferente... tinha que ser mais... mais avançada. Acho que sou quadrada, antiquada... boboca... não sei bem o que é isso, meu amor. (beijou o queixo do marido, subindo com os lábios colados á pele, até os lábios dele) Só sei que eu sofro demais com as coisas. Não tenho a frieza, aquela indiferença, aquela superioridade que a gente tem que ter pra viver na capital.
DUDA - Como assim?
RITINHA - Eu sou uma sentimental...
Girando sobre o corpo, o rapaz apertou-a amorosamente.
DUDA - Eu gosto de você, assim. Eu também sou um sentimental... Sou tudo isso que você disse, amor. E como é que eu vou viver sem você?
Algumas lágrimas molhavam o rosto aveludado da moça.
RITINHA - É só até nosso filho nascer. Depois, eu vou procurar me adaptar mais ás situações... vou procurar ser mais fria... tentar gostar menos de você, pra não te atormentar tanto. Mando te avisar logo que o nenê nascer. (beliscou de leve o peito do marido) Que nome você quer que ponha?
DUDA - (com tristeza) Se for homem... bota o nome do meu pai.
RITINHA - Sebastião... é tão comprido. Deixa eu pôr Eduardo, mesmo...
DUDA - Não. Ele tem que ter mais sorte do que eu. Se for mulher... bota o seu nome.
RITINHA - (sorriu, sem graça) Não. Ele tem que ser mais feliz do que eu sou...
Depois de sorver um longo trago de fumaça, Duda atirou fora a guimba e contornou com a mão o ventre da esposa. Ali estava a razão de todo o seu futuro. Dele e da mulher a quem dia a dia amava mais.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.
Domingas já preparara as malas de e escutava os resmungos de Maciel, aborrecido com o andamento da conversa. A mulher tentava forçar o médico a confessar a verdade aos emissários do Flamengo.
DOMINGAS - Já falou pra eles... da bala que ainda tá na perna do Duda?
DR. MACIEL - (com brusquidão) Não vou falar, nem agora, nem nunca! Não quero. Acho que não devo dizer.
DOMINGAS - (preocupada) Como é que vai ser... quando souberem?
DR. MACIEL - Operam ele, pronto! Não tem problema!
DOMINGAS - (insistiu) Pode passar do tempo!
DR. MACIEL - (esbravejando furiosamente) Nada disso! Nada disso! E não me amola!
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.
Duda deixou o quarto, já vestido. Calças vermelhas, justas, camisa-esporte preta, com desenho em branco á altura do peito. Ritinha acompanhava-o, chorosa.
DR. MACIEL - (avisou, sem se voltar para o casal) Estão te chamando, lá no carro. Vocês tem que tomar o avião, na próxima cidade. Está quase em cima da hora.
Duda atravessou a sala, em direção ao sogro.
DUDA - Peço pro senhor olhar bem por ela. Depois ela vai comigo. Depois que o nenê nascer...
DR. MACIEL - Não precisa recomendar. Aqui ela está melhor do que naquela vida que você deu a ela.
Duda segurou as malas, beijou longamente a mulher e saiu em direção ao automóvel que o aguardava do outro lado da rua. Ritinha chorava, abafadamente.
CORTA PARA:
CENA 4 - GARIMPO DOS CORAGEM - EXT. - DIA.
Braz orientava os garimpeiros.
BRAZ - Mais pra cá. Cuidado! Assim, não. Puxa, agora!
O corpo vinha boiando, trazido pela correnteza, emaranhado nos cipós e nos galhos de árvores caídos no rio. A princípio era um ponto vago, deslizando célere pelas águas, meio emborcado. Depois, á medida que se aproximara, começou a despertar as atenções do garimpo. Finalmente, ao se estreitar entre duas rochas luzidias erguido pelas águas, os homens não tiveram dúvidas: era um corpo. Os garimpeiros organizaram uma barragem humana e, com varas de bambus, introduzidas por entre as vestes rôtas, içavam-no para a margem. O cadáver chegara á terra; as leves vagas banhavam-lhe os pés, inchados e arroxeados.
BRAZ - (tapando a boca com as mãos) Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo! Tão reconhecendo?
Os homens se reuniram em torno do defunto. Os olhos eram duas pequenas crateras ôcas, e parte dos lábios e do nariz já não existiam, devorados pelos peixes.
ANTONIO - (recompôs-se ante a cena tétrica) Como é que se pode reconhecer? O rosto não é mais rosto...
BRAZ - (debruçou-se sobre o corpo) Credo em cruz! Tá desfigurado!
ANTONIO - (agachando-se e apontando a cara corroída do morto) E num foi só as águas do rio que desfiguraro...
BRAZ - Mas... as roupa... num tão vendo?
Ante a insistencia os demais tentavam identificar as vestes do cadáver.
ANTONIO - (excitado) Tá me parecendo... ou muito me engano... ou é o Lourenço D'Ávila!
Braz recuou assustado, vendo confirmarem-se suas suspeitas. Era o corpo de Lourenço, deformado, mas era. E o achado levantaria toda uma série de hipóteses, com a figura de João Coragem centralizando tudo. Braz pensava rápido.
BRAZ - Gente! Ninguém mexe no corpo! Vão chamá o delegado.
CORTA PARA:
CENA 5 - COROADO - DELEGACIA - EXT. - DIA.
A delegacia fervilhava. Era o assunto do dia em Coroado. Lourenço fôra encontrado morto, boiando no rio! Diogo Falcão dava ordens aos seus homens – “ninguém pode entrar; só Braz Canoeiro e Antonio”. Fechou a porta com grosseria, ameaçando Deus e o mundo... Jerônimo, ao saber da novidade, fôra para a cidade, e conversava com os garimpeiros que presenciaram a retirada do corpo.
JERÔNIMO - Ocês tem certeza? O home morto é, mesmo, Lourenço D'Ávila?
GARIMPEIRO - Certeza a gente num tem. A gente só reconheceu as roupa.E juro como já vi Lourenço com aquelas!
Falcão apareceu na porta, agitado, ajeitando o revólver na cintura. Braz e Antonio acompanhavam-no, parecendo temerosos com o andamento do caso.
JERÕNIMO - Vamos segui pra lá, seu Falcão.
DELEGADO FALCÃO - É o jeito!
BRAZ - Não deixemo ninguém mexê em nada, seu Falcão! Pra esperá pela sua autoridade!
DELEGADO FALCÃO - (ordenou, montando no alazão e saindo em disparada) Vamos embora!
CORTA PARA:
CENA 6 - GARIMPO DOS CORAGEM - EXT. - DIA.
O sol, inclemente, tostava a face arroxeada do cadáver por sobre quem as môscas pousavam, inquietas. Alguns homens cobriram o corpo com palmas de coqueiro, mas o cheiro infecto já se desprendia forte e nauseabundo.
O grupo de cavaleiros estacou a alguma distancia da margem do rio, devido á ribanceira que impedia o trote livre das montarias. Saltaram e dirigiram-se para o local.
Diogo Falcão, com um lenço sobre o nariz, ajoelhou-se diante do corpo, franzindo a testa, horrorizado.
JERÔNIMO - Desfigurado!
DELEGADO FALCÃO - Está! E não foram só os peixes que roeram. Isto foi feito... de propósito... por maldade...
JERÔNIMO - É Lourenço?
O delegado apontou para um anel de prata, com as letras em relêvo, num dos dedos do cadáver.
DELELGADO FALCÃO - Olha pra isto... o anel de Lourenço...
Jerônimo examinou a peça, mal acabada.
JERÔNIMO - Então, num tem dúvida, é ele mesmo!
DELEGADO FALCÃO - Vamos ver se restou algum documento.
O delegado, com repulsa, abriu o paletó do defunto e rebustou os bolsos internos. Havia papéis, destruídos pela umidade. Ilegíveis.
JERÔNIMO - (ajudando a recompôr as folhas arrancadas) Sempre servem para alguma coisa...
DELEGADO FALCÃO - (reuniu os documentos com cuidado e conclamou os garimpeiros) Preciso da ajuda de vocês. Vamos levar o corpo pra cidade! Com muito cuidado, gente! Quem é que vai ajudar?
CORTA PARA:
CENA 7 - COROADO - RUA - EXT. DIA.
Envolto num lençol branco, o corpo do capataz, dobrado sobre os costados do cavalo, cruzou as ruas de Coroado, apinhadas de gente.
FIM DO CAPÍTULO 54
Lara, Potira e Sinhana |
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** PEDRO BARROS DIZ A FALCÃO QUE NÃO HÁ DÚVIDAS QUE JOÃO MATOU LOURENÇO.
*** BRANCA, MULHER DE LOURENÇO, AFIRMA A FALCÃO E A PEDRO BARROS QUE JOÃO É O ASSASSINO DO MARIDO!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 55 DE
Nenhum comentário:
Postar um comentário