domingo, 25 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 108


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 108
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DEOLINDA
PADRE BENTO
PEDRO BARROS
MARGARIDA
JUCA CIPÓ
SINHANA
JOÃO
DELEGADO FALCÃO

CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA  -  INT.  -  DIA.

Na cesta algumas frutas maduras, exalando um aroma apetitoso. Nas mãos flores colhidas no percurso. Ritinha chegou à casa dos Coragem, depois de uma longa caminhada pela estrada barrenta que ligava o rancho á cidade de Coroado.


RITINHA  -  Sinhana! Sinhana! Tou aqui. Mandou me chamar?

Silencio.

Uma porta rangeu, de repente, assustando a moça e a voz de alguém muito conhecido despertou-lhe a atenção.


DUDA  -  Fui eu que mandei te chamar.

A cesta foi ao chão, por causa do nervosismo da jovem.

RITINHA  -  Eduardo! O que você tá fazendo aqui?

DUDA  -  O quê? (perguntou, dando largos passos na direção da mulher)  O quê? Vim te buscar, sua trouxa!

Ritinha atirou-se nos braços do marido, com os olhos cheios de lágrimas. Não havia palavras. Só a linguagem dos beijos, dos carinhos, poderia expressar o que ia na alma dos dois. Separaram-se depois de longos minutos.


RITINHA  -  Por quê? Por quê tá me xingando, benzinho? Tá zangado comigo?

DUDA  -  Você não merece... não merece todo o meu sacrifício. Claro que tou zangado! Isso é coisa que se faça?

RITINHA  -  Mas... o quê? (aflita)  Que foi que eu fiz?

DUDA  -  Pensa que eu não sei? Quatro! Quatro admiradores!

RITINHA  -  Nossa Mãe! Quem te contou uma coisa dessas?

DUDA  -  Uma carta de amigos, avisando das coisas todas que tão acontecendo aqui com você!

Um leve sorriso abriu por segundos os lábios da mulher.


RITINHA  -  Virgem mãe! Eduardo, é mentira!

DUDA  -  (segurou-a firme, pelo pulso. Quase a machucando)  Vamos lá... uma carta de amor do tal de Alberto D’Ávila. Você pode negar?

RITINHA  -  (baixando a cabeça, encabulada)  Bem... essa eu não nego.

DUDA  -  Convite pra passear dum tal vereador Jacinto! Nega?

RITINHA  -  Também não...

DUDA  -  Uma paquerada de um tal de promotor novo. Um Doutor Luís! Você confirma?

Ela fez que sim com a cabeça e um muxôxo de confirmação.

RITINHA  -  Aham!

DUDA  -  E por último... o sem-vergonha do Hernani! Que montou um cinema aqui em Coroado, só pra ficar perto de você. Você pode negar isso?

RITINHA  -  Hum, hum...

DUDA  -  Pois então! (fuzilava de ciúme)  O que foi que você virou? Conquistadora?

Ritinha resolveu retrucar à altura, apesar de estar levando na brincadeira a reação amoroso do marido.


RITINHA  -  Meu querido, eu não tenho culpa. Tou separada de você, abandonada! Afinal de contas, não sou nenhuma bruxa... todo mundo diz que sou uma gracinha... que culpa eu tenho?

DUDA  -  Uma gracinha... uma gracinha! (com raiva) Mas não é pro bico de qualquer sujeito, não!

RITINHA  -  Claro, meu amorzinho. Eu não dei confiança pra ninguém. Como é que podia dar, se meu pensamento tava com você? O tempo todo.

DUDA  -  Sei não... essa gente toda dando em cima de você... não é só pelo seu palminho de cara, não!

RITINHA  -  Tá bom! Muito bom, mesmo! Você veio aqui, em vez de sê pra me proteger, veio pra brigar comigo! Pois não devia ter vindo, ora! Eu não te chamei, chamei?

DUDA  -  Não chamou, mas vou te levar!  Nem que seja amarrada. O médico não queria me deixar sair do hospital. Tive que ameaçar fugir de novo. Aí ele me deu um dia de licença.

RITINHA  -  Como tá tua perna?

DUDA  -  Vai indo... tou em tratamento rigoroso... já me sinto melhor. Tava era abandonado... (puxou a esposa para seu colo, abraçando-a apaixonadamente).

Ritinha encostou a cabeça no ombro do marido, alisando-lhe o rosto barbado.

RITINHA  -  Agora eu cuido de você, amorzinho. Nenhum de nós vai mais ficar abandonado.

DUDA  -  Vamos já... tenho uma coisa a te dizer... em particular.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CASA DE DEOLINDA  -  SALA    -  INT.  -  DIA.


DEOLINDA  -  (parecia uma fera, diante da realidade)  Ele não vem, padre!

PADRE BENTO  -  Vem, vem! Falcão foi buscá-lo à força!

DEOLINDA  -  (tremia de impaciencia e raiva)  Era só o que faltava! Justamente minha filha... ter que casar na polícia!

PADRE BENTO  -  Não será assim, Dona Deolinda.  Para não dar essa impressão sugiro que vamos todos para a igreja, onde será realizado o casamento...

DEOLINDA  -  Mesmo assim, é um casamento obrigado... e a culpada é ela!

Deolinda levantou, bruscamente, o rosto de Margarida, até àquele instante, cabisbaixa e inerte.

DEOLINDA  -  (recriminativa)  Não se envergonha de nos obrigar a passar por esta situação?

Padre Bento interveio, enérgico, como bom pastor de almas. Via na atitude da mãe um começo de infelicidade para a vida que se descortinava para a filha.

PADRE BENTO  -  Deixe a moça, Dona Deolinda! Não complique mais a situação!

DEOLINDA  -  Ver ninho de coruja... é no que dá! Essas moças de hoje! Ainda bem que meu Jorginho não está aqui. Ele morreria de novo, de vergonha!

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.


PEDRO BARROS  -  Juca!

A voz firme e grossa de Pedro Barros varreu a igrejinha de Coroado, como o dobre do sino. O moleque levantou-se, assustado, tentando escapulir pela porta aberta. O coronel agarrou-o pelo fundo das calças.


JUCA CIPÓ  -  (tentou correr)  Ai!

PEDRO BARROS  -  Vamos simbora, larga de manha, safado!

JUCA CIPÓ  -  Num vou! Num vou! Me larga!

PEDRO BARROS  -  Eu quero que case, ora! E vai casá...

JUCA CIPÓ  -  Num quero casá!  (esbravejava,  lunático)  Com Margarida, num quero! Num fui eu! Num fui eu! Tou jurando, num fui eu!

Pedro Barros fechou as mãos e aplicou alguns cascudos, com força, na cabeça do filho. Juca berrava como um garoto.

Margarida esperava-o, com um véu claro a cobrir-lhe o rosto meigo. O juiz conferiu a documentação, enquanto o sacerdote preparava tudo para o ato sagrado. Pedro Barros, sempre com o filho preso pelos fundilhos das calças, aproximou-se do altar.


PEDRO BARROS  -  Tá ele aqui, Padre! Filho meu não faz papel sujo com moça!

DEOLINDA  -  (pôs as mãos nos quadris, em atitude insolente)  Que papel, hem, Juca? Que papelão!

JUCA CIPÓ  -  Papel é o dela, não o meu!

PADRE BENTO  -  Psiu! Silencio! Respeitem a casa de Deus! (advertiu, já com as vestes sacramentais)  Meus filhos, é preciso viver em paz. Com tranquilidade, com Deus e com nossas próprias consciências.

Pedro Barros cortou a palavra do sacerdote, sem a mínima atenção.

PEDRO BARROS  Nada de sermão, padre! Casa logo, antes que o noivo fuja de novo!

O juiz pôs a mão sobre a boca, evitando rir das advertencias do coronel e da cara emburrada do jagunço.

PADRE BENTO  -  É preciso que os noivos se dêem as mãos, que se reconciliem. Deus quer assim!

O coronel deu um tapa com força no ombro do filho.

PEDRO BARROS  -  Dá a mão pra tua noiva, Juca!

JUCA CIPÓ  -  (batendo com o pé no chão, respondeu)  Num dou!

O coronel insistiu, já com outra atitude, os olhos pareciam jatos de fogo.

PEDRO BARROS  -  Dá, Juca. Acaba logo com isso! Tenho coisa mais importante a fazer. Pelo amor de Deus! (tornou a aplicar cascudos violentos na cabeça do filho)  Dá, desgraçado!

Juca estendeu a mão para Margarida, de olhos baixos e vermelha como crista de galo.

PEDRO BARROS  -  (ordenou, cofiando a barba grisalha)  Começa logo essa geringonça!

Padre Bento virou-se para a imagem no altar, abriu os braços e iniciou o casamento religioso.


PADRE BENTO  -  Senhor, meu Deus...

Ao fundo, observando com olhar irônico a solenidade, Hernani isolava-se de todos. Havia um quê de mistério no leve sorriso que lhe entreabria os lábios.

PADRE BENTO  -  (prosseguia)  Juca de Almeida Barros... é de sua livre e espontânea vontade que deseja se casar com Margarida Vieira?

Não houve resposta. Um arrepio percorreu a assistência. Barros cutucou com o cotovelo as costelas do jagunço.

JUCA CIPÓ  -  Que remédio, né?

PADRE BENTO  -  Margarida Vieira, é de sua livre e espontânea vontade que deseja se casar com Juca de Almeida Barros?

MARGARIDA  -  É, sim, senhor!

Benzendo as alianças, Padre Bento ajudou os recém-casados a colocá-las nos dedos.

JUCA CIPÓ  -  (disse baixinho, ao ouvido da mulher)  Tu me paga!

Estava findo o casamento.

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Sinhana correra à delegacia para dar as novidades ao filho.


SINHANA  -  Não passa de hoje. Vim só te avisá!

Um riso de felicidade alegrou a face do garimpeiro.

JOÃO  -  Puxa vida! Meu filho tá pra nascê. Logo hoje... quando vai sê decidido meu destino!

SINHANA  -  Deus faz as coisa certa, meu filho!

JOÃO  -  Moleque levado! Tá é aflito pra sabê o destino do pai! E ela, como tá?

SINHANA  -  Sentida de num tá presente, hoje...

JOÃO  -  Bobage... (repentinamente entristecido. A lembraça da esposa, distante, afastada, necessitada de sua presença, deixava-o irritado)  Primeiro nosso filho, uai!

SINHANA  -  E tu... tá animado?

JOÃO  -  Sei lá, mãe. Tou é louco pra me ver livre daqui. Reza, mãe. Pede pra Deus, pras coisa terminá bem.

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  EXT.  -  DIA.

Falcão dava ordens rigorosas aos soldados que se agrupavam na porta da delegacia.


DELEGADO FALCÃO  -  Todo mundo de ôlho. Vigilância redobrada. O negócio hoje vai esquentar com o julgamento de João Coragem. Vocês me apertem o cêrco. Todo mundo conhece os homens dele. Não deixem nenhum daqueles cabras entrá. Eles estão doidos e são capazes de tudo...


FIM DO CAPÍTULO 108
Mingas (Ana Ariel), Pedro Barros (Gilberto Martinho), Falcão (Dollabela), Juca (Emiliano Queiroz) e Margarida (Leda Lucia), no divertido casamento de Juca Cipó
e no próximo capítulo... 

***  Tem início o julgamento de João Coragem, com todas as autoridades presentes ao Tribunal do Juri. Na tribuna, a população de Coroado aguarda, ansiosa, a sentença do juiz!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 109 DE 
 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 107


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 107
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

BRANCA
LAPORT
ALBERTO
JOÃO
LÁZARO


CENA 1  -  COROADO  -  HOTEL DO GENTIL PALHARES  -  QUARTO DE BRANCA  -  INT.  -  DIA.

Passadas as primeiras horas de surpresa, Branca retomara a tranquilidade emocional. A morte do marido era uma dessas coisas inexplicáveis e o aparecimento do corpo no túmulo onde fôra enterrado o desconhecido, parecia-lhe sobrenatural. Ela, agora, jantava sozinha no seu quarto de hotel. A presença de Laport, o homem com quem ela se casara, longe de perturbá-la, veio dar-lhe um pouco mais de força.


BRANCA  -  Você sumiu o dia inteiro!

LAPORT  -  Estou chegando agora... dei um pulo a Belo Horizonte. Fui tratar de negócios. E aqui, como foram as coisas?

BRANCA  -  Até agora... estou confusa. Eu não sei o que aconteceu!

LAPORT  -  Como?

BANCA  -  Era Lourenço! Ele mesmo! Morto e enterrado, sem a menor sombra de dúvida! Ele mesmo! Você entende?

LAPORT  -  (com sua pronúncia de estrangeiro, balançou a cabeça)  Non... sinceramente. Com certeza... houve engano.

BRANCA  -  Que engano, nada! Todo mundo viu logo! Era ele!

LAPORT  -  Estranho...

BRANCA  -  O rosto deformado... como da primeira vez. Mas muito fácil de ser identificado. E se restasse alguma dúvida, bastaria ver o laudo do dentista. A arcada dentária era dele!

LAPORT  -  Você me disse que há 3 meses atras esteve com Lourenço! Depois ele sumiu.

BRANCA  -  Exato. Há 3 meses. Foi a última vez que o vi. Depois desapareceu. Com certeza... o mataram... e o colocaram no lugar do outro!

LAPORT  -  Sim, mas quem... quem teria feito isso com tanta precisão de detalhes?

BRANCA  -  Gastão!

LAPORT  -  Gaston... non... non explica nada. Gaston viajou pro estrangeiro, fugido da polícia. Há mais de um mês.

BRANCA  -  Ele podia ter assassinado Lourenço, não podia?

LAPORT  -  E como... viria até aqui... para trocar o corpo? (concluiu, confiante)  Non, Gaston non deu fim a Lourenço. Esteve com ele, sim, e o ameaçou... para que ele revelasse onde estava o diamante. Mas Lourenço fugiu sozinho, ninguém o levou.

BRANCA  -  (rememorou os acontecimentos do dia fatídico)  Quando cheguei em casa naquele dia... eu não o encontrei... a enfermeira tinha estado lá.

LAPORT  -  (segurou com força as mãos da mulher)  Chegou o momento de lhe contar o que sei sobre o paradeiro de Lourenço!

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Não havia ninguém na sala de visitas da delegacia quando Branca D’Ávila tornou a procurar o fillho. Pela expressão fechada, podia-se perceber que algo de muito grave a perturbava.


ALBERTO  -  (com azedume) Vai viajar, amanhã, com... seu marido?

BRANCA  -  Vamos até Belo Horizonte.  Voltamos logo. Tenho de estar aqui... pro julgamento daquele bandido. Vou fazer questão de ouvir a sentença dele!

As palavras cruéis da própria mãe, dirigidas contra um homem que nada tinha com as tramas que o envolveram e roubaram sua liberdade, irritavam o jovem Alberto. A cada instante ele verificava a natureza pérfida e má da mulher, retratada nas atitudes desonestas e no ódio que dedicava a João Coragem.

ALBERTO  -  (incisivo)  Por que tanto ódio, mãe?

BRANCA  -  Você sabe. Não vamos repetir sempre a mesma coisa!

ALBERTO  -  Mãe... tudo o que está acontecendo não é justo. Nem essa acusação estúpida pra cima do João.

BRANCA  -  (tensa)  Ele matou teu pai!

ALBERTO  -  A gente tá sabendo que tudo isso é uma farsa!

BRANCA  -  Farsa? Mas você não viu? É seu pai mesmo quem está enterrado... E como é que você tem coragem de dizer que seu amigo não o matou?

O rapaz já não suportava as atitudes da mãe. Sentia o sangue sugir-lhe ao cérebro.


ALBERTO  -  Que trama do diabo está acontecendo? Quem trouxe o corpo do meu pai pra cá? Que foi que houve com ele? Quem fez essa maldade? Foi a senhora? Pra poder se casar com esse gringo miserável?

BRANCA  -  (reagiu ameaçadoramente)  Pare de dizer asneiras! Não sei o que está acontecendo. Fiquei perplexa... tanto ou mais que você.

Falavam em voz baixa, para evitar que o delegado ouvisse as palavras. Falcão fumava na sala contígua, lendo uma revista.


ALBERTO  -  Não acredito.

BRANCA  -  Se não acredita, não posso fazer nada. O fato é que eu estava procurando seu pai há muito tempo. Três meses.(diante da expressão de espanto do filho, falou)  Ele estava doente, na cama, ainda em consequencia do desastre. Um dia cheguei e ele havia desaparecido. Soube agora que ele foi pra São Paulo... onde procurou uma mulher... sua antiga...

ALBERTO  -  (cortou, indignado)  Como pode saber disso tudo?

BRANCA  -  Meu atual marido me contou.

ALBERTO  -  Mãe, vem cá. Conta essa história direito. A senhora me diz que estava procurando meu pai... mas veio pra cá casada com outro!

BRANCA  -  Claro! Ou você acha que eu tinha de me sacrificar por ele a vida toda?

ALBERTO  -  (concluiu, com lógica)  Se a senhora se casou... é porque sabia que ele já estava morto! Enterrado... aqui, no lugar do outro!

BRANCA  -  Eu não sabia! Me casei... porque Laport é um bom homem. E me quer bem. Me respeita. E para a sociedade, para todo mundo, eu já estava viúva!

ALBERTO  -  (levantou-se, sombrio, desolado)  Vai ver que foi esse homem... que matou meu pai! E no dia em que eu não aguentar mais tanta falsidade, eu... conto tudo pra Justiça!

Mais uma vez Branca buscou auxílio no apelo ao amor filial, ao sentimentalismo do filho.

BRANCA  -  Pois bem. No dia em que você disser alguma coisa... pra salvar seu grande amigo... o bandido que o transformou num assassino... você estará entregando sua própria mãe. (deixou escorrer uma lágrima forçada, limpando-a com o dorso da mão) Aí, então, tudo vai se voltar contra mim.

ALBERTO  -  Quem podia ter tirado a vida dele?

BRANCA  -  Ele estava envolvido com gente da pior espécie, Ou então... foi a própria mulher que ele procurou em São Paulo.

ALBERTO  -  Quem é?

BRANCA  -  Só pode ser uma pessoa. A sujeita por quem ele tinha verdadeira loucura. Estela Barros. A mulher de Pedro Barros!

Alberto arregalou os olhos de espanto.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Quando Branca se retirou, segundos depois Lázaro cruzava a porta de entrada da delegacia. Procurou Falcão e explicou-lhe a razão da visita. Queria falar com João Coragem. Novamente a porta da cela se descerrou e os dois homens encararam-se, frente a frente, na pequena sala de visitas.


JOÃO  -  Que é que tu qué falá comigo?

LÁZARO  -  Muita coisa... e nada ao mesmo tempo.  No fundo, foi vontade de batê um papo, como nos velho tempo.

JOÃO  -  Quem sabe tu tá esperando agradecimento por tê me poupado a minha vida?

LÁZARO  -  Tu também teve chance de me matá e não matô. Então, eu também te devo agradecimento.

JOÃO  -  Tu ainda continua trabalhando pro coronel?

LÁZARO  -  Forçado, mas continuo. Ele não me perdoa por eu tê te deixado vivê. A orde era pra matá.

JOÃO  -  Então... a orde era dele!

LÁZARO  -  Pensei que tu soubesse. Agora, somo assim como dois inimigo. Ele não me tolera. Já me despediu não sei quanta vez e eu continuo, de teimoso. Sabe... tenho que tê pra onde ir. Foi então que eu pensei que tu tivesse precisando de mim.

JOÃO  -  Pra quê? Pra me traí pela segunda vez?

LÁZARO  -  Um home tem direito de errá, até achá o seu caminho certo. Foi o que aconteceu comigo. Acho que achei o meu. Que é contigo. A gente custa a acertá, João.

O rapaz fitava desconfiado o homem que um dia chegara a ser seu amigo.


JOÃO  -  Não acha que depois de tudo tu tem que dá uma prova, mas prova verdadeira, desse arrependimento?

LÁZARO  -  Eu dou. Por exemplo, sei que o Castro comprou o garimpo do coronel e não foi pra ele...

JOÃO  -  Sabe?

LÁZARO  -  Sei do propósito dessa compra... e fiquei calado. Deixei realizá o negócio. Até forcei.

JOÃO  -  Isso num é muita coisa...

LÁZARO  -  Posso te dá outra prova. Te prevenindo que falta muito pra derrubá o coronel. Ele tá usando um jogo... deixando todo mundo pensá que tá quase na miséria... fingindo que tá muito preocupado com isso...

JOÃO  -  E não tá?

LÁZARO  -  João, ele tem uma fortuna, só em pedra preciosa... fortuna que tá deixando pra fazê uso numa hora certa. O sem-vergonha é macaco velho. Na hora que quisé, ele troca aquela pedraria toda por dinheiro... e tá rico de novo. Podre de rico, João! Sei até onde ele guarda a sua pedraria... num lugar muito escondido... onde ninguém nem sonha que seja esconderijo de tanta riqueza.

JOÃO  -  (moveu-se, interessado)  Conta...

LÁZARO  -  Um dia eu segui o velho e vi o esconderijo. É num túmulo da família. Se tu qué prova de lealdade... te dou essa. Jogo o velho na miséria.

Erguendo o corpo, João atirou fora o cigarro. Deu alguns passos no interior da pequena sala.


JOÃO  -  Não, eu não tou exigindo essa espécie de prova.

LÁZARO  -  Então... te tiro daqui.

JOÃO  -  A coisa agora é séria, Lázaro. Não é pra um home só.

LÁZARO  -  Me junto aos teus e oriento...

JOÃO  -  Vou dá um voto de confiança pra Justiça. Eu quero. Quanto ao perdão que tu qué de mim, eu num perdôo. Deus pode te perdoá. Eu num sou Deus. Tu maltratô minha mãe e isso eu nunca vou podê esquecê.

FIM DO CAPÍTULO  107
Indaiá (Jurema Penna) Hernani (Paulo Araújo) e João (Tarcísio Meira)
e no próximo capítulo...

*** Cena hilária do casamento de Juca Cipó e Margarida!
*** Curiosidade: em 1970, Claudio Marzo e Regina Duarte foram convocados para fazer o par romãntico da novela "Minha Doce Namorada", devido ao grande sucesso de Duda e Ritinha. Assim, tiveram de encerrar mais cedo sua participação na novela de Janete Clair. Com isso, na nossa versão, a 12 capítulos do final, teremos no próximo episódio a última cena de Duda e Ritinha.
*** Sinhana vai à delegacia avisar João que seu filho está prestes a nascer! 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 108 DE

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 106


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 106
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
MÁRCIA
DELEGADO FALCÃO
ALBERTO
BRANCA
PEDRO BARROS
PADRE BENTO
DR. MACIEL
JERÔNIMO
RODRIGO

CENA 1  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  CELA DE JOÃO  -  INT.  -  DIA.

Depois dos primeiros dias de vigilância cerrada, os homens do delegado já não encaravam João Coragem como um bicho-de-sete-cabeças. Um homem como qualquer outro. Com rompantes naturais e uma firmeza de caráter que, a cada dia, mais atraía a consideração e o bem-querer dos próprios guardas. Longe de Falcão eles procuravam dar um tratamento humano ao garimpeiro. Mas, perto ou longe do delegado, ele, como prisioneiro de excelente comportamento, podia receber visitas fora da cela e desalgemado.

A presença de Márcia enterneceu o corpulento garimpeiro. Márcia beijou-o com ternura e abraçaram-se demoradamente.


JOÃO  -  Cê tá bem, Márcia?

MÁRCIA  -  Estou...

JOÃO  -  O nenê?

MÁRCIA  -  Também.

JOÃO  -  Já tá de barriga?

Ela fez que sim e se levantou para que o marido a visse por inteiro. Num gesto instintivo, João Coragem mediu com a mão o ventre da esposa. Circundou-o com a mão pesada, correndo levemente por toda a sua extensão.

JOÃO  -  (risonho e franco)  Me dá até orgulho!

MÁRCIA  -  É mesmo?

JOÃO  -  É sim! Você num sente um troço aqui dentro? Só de pensá que vai tê um filho meu?

MÁRCIA  -  Sinto... é gozado, não?

JOÃO  -  Sabe que parecemo dois bôbo?

Riram felizes.

MÁRCIA  -  Dois bobos?

JOÃO  -  Uai... a gente é bobo, mesmo. Quem é que tem alguma coisa com isso? Essas noite toda... eu fiquei preocupado... (e ante a expressão de interrogação da esposa, completou) Com o nome dele, ora! Cê num se preocupa?

MÁRCIA  -  As preocupações são tantas, João, que eu confesso... não me lembrei de que o nosso filho precisa ter um nome.

JOÃO  -  Mas tem que pensá, uai! Pois fiz as conta. Ele vai nascê daqui a 4 mês. A gente num tem muito tempo, não!

MÁRCIA  -  (tentou desviar o assunto)  João... escute, não é justo...

JOÃO  -  Escuta  (interferiu, para quem o assunto do filho passara a ser o mais importante da face da terra)  Tá fazeno ropa pra ele?

MÁRCIA  -  Não, ainda não.

JOÃO  -  Coisa da melhor qualidade... já é tempo docê pensá em fazê ropa prêle.

MÁRCIA  -  Tem tempo...

JOÃO  -  Tempo, não senhora. O tempo voa. E no nome dele... a gente precisa pensá logo.

MÁRCIA  -  Se for homem, se chamará João, pronto!

JOÃO  -  Num quero. Já tem o filho do Braz, que é home e João. Fica João demais nessa terra. A gente arranja outro. Que tal Bastião?

A mulher não suportou a comicidade do nome e do modo do marido pronunciá-lo e riu.

MÁRCIA  -  Nossa Mãe!

JOÃO  -  Uai! O nome do meu pai. Sebastião Coragem!

MÁRCIA  -  Ah, Sebastião, sim! Bastião, não! (tornou a rir, afagando a mão e o pulso do marido).

JOÃO  -  Apelida ele logo de Tião!

MÁRCIA  -  Não! Nada de apelido!

JOÃO  -  Se for mulhé, a gente bota o nome da minha mãe ou da tua. Combinado?

MÁRCIA  -  Combinado.

O guarda bateu com a chave na barra de ferro, lembrando ao casal que o tempo de entrevista estava esgotado.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Falava-se em Coroado sobre muita coisa: os amores de Jerônimo e Potira; o casamento do prefeito; a prisão de João Coragem e Alberto D’Ávila; a separação de Pedro Barros e Estela; o roubo do diamante, etc., etc. Um assunto vinha polarizando as atenções da cidade nos últimos dias: a determinação judicial para a exumação do cadáver de Lourenço. A Justiça deseja comprovar a veracidade de certas acusações. Destruir ou confirmar a tese de que o corpo sepultado não era o do homem de confiança do Coronel Pedro Barros. Falcão, a propósito do caso, dava ordens a seu ajudante, na delegacia:


DELEGADO FALCÃO  -  ... dentista, sim. O Dr. Moreira, que tratou dos dentes do Lourenço, antes dele deixar o coronel. Já conversei com o doutor. Você fala com ele pra vir aqui. A palavra do dentista é muito importante. E se apresse. Olhe aí... já estamos quase em cima da hora.

O ajudante saiu correndo.

CENA  3  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Na sala de visitas da delegacia, onde os presos normalmente recebiam parentes e amigos, Alberto evitava o olhar da mulher de negro.


ALBERTO  -  Nem olha pra mim, mãe!

BRANCA  -  (de costas, falava com frieza)  Eu disse, sim... que preferia te ver morto, do que atrás das grades de uma prisão.

ALBERTO  -  Tá sendo cruel, mãe!

BRANCA  -  Sofri muito... fiz tudo pra você não chegar a esse ponto. Eu sabia que não ia aguentar.

O rapaz abaixou a voz; havia um brilho estranho nos seus olhos e nervosismo nos seus gestos.


ALBERTO  -  Não é caso disso, agora. Daqui a pouco... vão desenterrar... o homem que tá lá... no lugar do meu pai. E eu dou graças a Deus que as coisas se resolvam. Nem eu, nem a senhora, nenhum de nós, é delator. Os fatos aconteceram, normalmente.

BRANCA  -  Eu não queria que isso acontecesse.  Queria, sim, que João Coragem pagasse até o fim por esse crime...

Estava comprovada, mais uma vez, a falta de dignidade, de caráter, de bom senso, da esposa de Lourenço. Tão assassina quanto o marido, ou talvez pior, porque arrasava a vida e o destino de um homem que nada tinha a ver com seus problemas íntimos. Ela mesma não saberia explicar o porquê de sua raiva contra o garimpeiro.


ALBERTO  -  Agora não adianta a gente querer ou não.  Tudo vai se encaminhar para inocentar João. Porque aquele homem... eles vão ver direito... não é meu pai.

A porta da saleta se abriu e a figura antipática do delegado encheu o espaço vazio.


DELEGADO FALCÃO  -  Vim buscar os dois. O corpo de Lourenço já taí. Pra ser reconhecido. E eu garanto que, desta vez... com o depoimento até do dentista dele, não pode haver engano.

BRANCA  -  Já está aí?

DELEGADO FALCÃO  -  Meu modo de dizer. Aí, que eu me refiro, é fora da terra... lá na sepultura... só esperando a gente. Os homens já vieram avisar.

ALBERTO  -  Eu vou também?

DELEGADO FALCÃO  -  Você e João. Bem escoltados, é claro. Dessa vez eu não quero que haja a menor dúvida.

Fez sinal com a mão e um guarda apareceu, algemando o rapaz. João já os esperava na ante-sala da delegacia.

CORTA PARA:

CENA  4  -  COROADO  -  CEMITÉRIO  -  SEPULTURA DE LOURENÇO  -  EXT.  - DIA.

Corroído pelo tempo, madeira apodrecida, pedaços de pano, em meio a pregos enferrujados, o caixão descansava sobre a terra revolvida, ao lado da sepultura. Um mau cheiro repulsivo penetrava as narinas dos presentes, trazido pelo vento. O pequeno grupo ali estava, pronto para o trabalho macabro de identificação do morto. O Dr. Maciel, o Dr. Rodrigo, o juiz da Comarca, João, Alberto, Branca, Pedro Barros, que acabara de chegar em seu carro, dirigido por Oto e o novo promotor de Coroado. Falcão apresentava-o cerimoniosamente:


DELEGADO FALCÃO  -  Este é o nosso novo promotor, Dr. Luís. (olhou em volta)  Tá todo mundo aqui? Ah, falta o Dr, Moreira, o dentista. (o odontólogo acabava de surgir à entrada do campo santo. De negro, com óculos de aros de tartaruga e lentes grossas. Falcão avistou-o)  O homem tá chegando!  (o grupo rodeou o caixão, alguns levando lenços ao nariz)  Vamos lá, minha gente, quanto antes ficar livre disso, melhor! (ordenou aos coveiros)  Abram aí essa tampa! (um murmúrio percorreu o pequeno grupo. Falcão elevou a voz) Como é? Alguém tem ainda dúvida?

BRANCA  -  (explodiu, com as duas mãos apertando as faces)  Meu Deus! É ele mesmo!

ALBERTO  -  (bradou, surpreso)  Gente! Este é meu pai!

PEDRO BARROS  -  Não tem dúvida! Este é Lourenço!

A voz do Padre Bento, retardatário, destacou-se dentre as demais.

PADRE BENTO  -  Deus Nosso Senhor Jesus Cristo seja louvado!

Com interesse científico, Maciel se aproximou do caixão, esquecendo-se do cheiro repugnante.


DR. MACIEL  -  Impressionante! (todos os olhares voltaram-se para o médico)  Pelo tempo... devia estar em pior estado!

PEDRO BARROS  -  Apesar do rosto... a gente nota que é o Lourenço.

DELEGADO FALCÃO  -  (chamou o dentista)  Vem cá, seu Moreira. Quem vai dar a última palavra é o senhor.

Com a mão enluvada o dentista afastou os lábios do cadáver. Gengivas arroxeadas e em decomposição davam ao quadro um aspecto fantasmagórico. Moreira examinou a arcada dentária, forçou o desencaixe dos maxilares e constatou o trabalho executado. Balançou a cabeça, confirmando. Era Lourenço.

JERÔNIMO  -  (conversava baixinho com o irmão, algemado)  Sinto muito, mano... mas parece que não tem dúvida. Não desanima... A gente te livra disso!

ALBERTO  -  (desesperado ante a realidade daquilo que julgava mentira, indagava da mãe, também pálida e trêmula)  É meu pai mesmo... a senhora viu? É ele! Isso não quer dizer nada?

BRANCA  -  E você tinha alguma dúvida de que não fosse ele?

O razoável estado de conservação do corpo era motivo de especulações entre os homens de maior cultura.


DR. MACIEL  -  Repito que pelo tempo, ele está bem conservado...

RODRIGO  -  (com uma ponta de suspeita)  Isto quer dizer alguma coisa?

DR. MACIEL  -  Não... isto às vezes acontece... dependendo muito do terreno onde foi enterrado. O daqui é propício à conservação. É impressionante! O rosto está como no dia em que foi enterrado. A mesma deformação proposital...

FIM DO CAPÍTULO  106
Sinhana (Zilka Salaberry) e Falcão (Carlos E. Dollabela)

e no próximo capítulo...

*** Branca, transtornada, conta para Laport, seu atual marido, que o cadáver exumado era mesmo de Lourenço. Laport, por sua vez, diz a ela que chegou a hora de contar o que sabe sobre o paradeiro de Lourenço!

***  Lázaro procura João na delegacia para dizer-lhe que está arrependido e quer o seu perdão!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 107 DE





sábado, 17 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 105


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 105
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
BEATO VENANCIO
PEDRO BARROS
LÁZARO
FRANCISCO
RITINHA
HERNANI
JERÔNIMO

    
CENA 1  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.

O homem de camisolão branco, como um Cristo jagunço, adentrou o templo, sob os olhares curiosos das rezadeiras. Alguns homens e mulheres seguiam a estranha procissão do recém-chegado. O beato Venâncio ajoelhou-se diante do altar de Cristo. Contrito. Enlevado.


BEATO VENÂNCIO  -  Vamo rezá e pedi pra Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo livrá o nosso João daquela grade!  (falou dirigindo-se aos seus acompanhantes)  Foi a tentação que levô ele até lá. Do Nosso Pai tem que vir a salvação. Deus Nosso Sinhô não vai abandoná João Corage. Nóis salva ele! Com nossa força de ação e de pensamento. Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo seja louvado!

O beato beijou ostesivamente o chão da igreja.


SEGUIDORES  -  (num eco, repetiram)  Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo seja louvado!

CORTA PARA:

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  GALPÃO  -  INT.  -  NOITE.


À luz do lampião, Lázaro dormia, estendido sobre o capim sêco do galpão, na casa-grande. Acordou com o bico da botina nas costelas. Por entre a bruma da embriaguez e da sonolencia, o bandido divisou dois vultos.


LÁZARO  -  Ei! Que foi isso? Vai penteá macaco! Me deixa!

PEDRO BARROS  -  Levanta daí! Você tá diante do teu patrão!

LÁZARO  -  Que patrão?

FRANCISCO  -  (interveio, com firmeza)  Deixa de graça! O Coronel Pedro Barros tá aqui e qué falá contigo.

PEDRO BARROS  -  Vamos, levanta daí, que eu tenho mais o que fazer!

LÁZARO  -  (levantou-se, espreguiçando-se)  Oh... Coronel Pedro Barros! (irônico) O maioral da zona! Meus respeitos!

PEDRO BARROS  -  Eu tenho uma pergunta pra te fazer (anunciou, já irritado)  Uma pergunta que tá me azucrinando os miolos desde que João foi preso.

LÁZARO  -  Fala, coronel, eu tou ouvindo... se bem que já sei o que o senhô qué sabê.

PEDRO BARROS  -  Se já sabe, é porque tem certeza de que fez uma burrada deixando João escapar com vida!

LÁZARO  -  Olha... eu apontei o revólver... apontei, sim... na cara dele... ia estourá os miolo dele.

PEDRO BARROS  -  E... por que não fez?

LÁZARO  -  Porque... porque... porque num quis, pronto! Porque não me deu vontade de matar, naquela hora. Matar, matar, matar! Pensa que resolve tudo? Resolve nada!

PEDRO BARROS  -  (apelou para a irritação)  Com certeza ficou com remorso...

LÁZARO  -  Sei lá se fiquei. Só sei que não quis e tá acabado!

PEDRO BARROS  -  Mas eu tinha te dado uma ordem, não tinha? Tinha até te prometido um prêmio pela cabeça dele. Te dava um dos meus garimpos... você podia ser um homem independente...

LÁZARO  -  Pra vê como é que são as coisa... com tudo isso... eu num obedeci sua ordem, velho. Vai me enganá que vai me castigá por isso? Não vem, não, velho! Não vem, não! Porque eu sou de briga! Te passo uma rasteira, velho... (tentou derrubar o coronel com um golpe de perna. A interferencia de Francisco foi suficiente para lançá-lo ao chão. Lázaro não tinha condições sequer de permanecer de pé).

FRANCISCO  -  Ponho ele no ôlho da rua, meu patrão?

PEDRO BARROS  -  Espera um pouco. Vamos ver como é que vai se portar. Se fizer besteira, a gente faz as conta dele...

LÁZARO  -  (voltou a investir com palavras)  Você tem é medo de eu soltá a língua, velho...

PEDRO BARROS  -  (chegara ao limite de sua paciência)  Já me livrei de coisa muito mais séria na vida. Não vai ser você que vai me meter medo com suas ameaças. De qualquer jeito, toma muito cuidado. Uma palavra em falso e eu te mando pro outro mundo. (virou as costas e se encaminhou para a porta. Advertiu, ainda)  As bobagens que disse, agora, deixo por conta de tua bebedeira.

LÁZARO  -  (ainda gritou com dificuldade)  Acontece... que eu é que não quero mais ficá a teu serviço, velho sujo! Tu tá me ouvindo? Me enchi! Vou dá o fora! Pode arranjá outro capanga! Vou mudá de vida! João é quem tem razão!

CORTA PARA:

CENA  2  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  RECEPÇÃO  -  INT.  -  DIA.


Duda tinha retornado a São Paulo. Jogava por lá, mas Hernani estava decidido a permanecer em Coroado. E fizera amizades, relações. Era visto, agora, como uma personalidade do Rio que desejava se estabelecer na cidade pequena. E tinha mais... era um amigo do Duda, o famoso jogador que Coroado dera de presente ao Brasil.


Quando a porta da ante-sala se abriu, Ritinha se assustou ao ver a figura esguia e maquiavélica do empresário do marido. Pensou que Duda talvez o enviasse para algum recado.

RITINHA  -  Ah... o que o senhor quer?

HERNANI  -  Falar com o prefeito, posso?

Dando de ombros, a moça comunicou ao cunhado a presença e as intenções do forasteiro.

CENA 3  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  SALA DE JERÔNIMO  -  INT.  -  DIA.

JERÔNIMO  -  Eu recebi o seu recado (disse, estendendo-lhe a mão, com um sorriso de cortesia)  Estou à sua disposição.

HERNANI  -  É o seguinte... (sentou-se na cadeira confortável, de plástico negro)  Eu me apaixonei por esta cidade. Parece que criei raízes aqui. E quero fazer alguma coisa... para ficar aqui... Enterrar meus ossos nessa terra.

JERÔNIMO  -  Muito bem. E o que o senhor acha que pode fazer pra ficar em Coroado?

HERNANI  -  Existe um cinema... que foi cinema. Na praça...

JERÔNIMO  -  (cortou-lhe a idéia)  É. Tá fechado há muito tempo. É da prefeitura.

HERNANI  -  Pois eu quero arrendá-lo. Quero reformá-lo e criar mais uma diversão para o povo desta cidade. Se o senhor me der a concessão para explorá-lo...

Jerônimo passeou pela sala, com as mãos naponeônicamente atrás das costas.

JERÔNIMO  -  Seu pedido é justo e me agrada. Só que não vai ficar barato.

HERNANI  -  Não se preocupe com o preço. Quero seu consentimento para explorá-lo, eis tudo. E, em dois meses, no máximo, o povo de Coroado assistirá aos melhores filmes que passam nas grandes capitais.

JERÔNIMO  -  Taí. Dessa eu gostei.

HERNANI  -  Queria colocar um nome no cinema. Se me permitir... ele se chamará Cine Rita de Cássia... É a santa de minha devoção!

Jerônimo olhou significativamente para a cunhada que se achava parada no umbral da porta, com o lápis a tamborilar nos dentes. Rita estremeceu com a surpresa.


RITINHA  -  Mas é também meu nome (completou, visivelmente aborrecida)  Ponha Santo Hernani, São Lázaro, São Pedro Barros, o que quiser. Menos eu! Vê lá! Só assim é que Eduardo nunca mais vai olhar pra minha cara!

Jerônimo sorriu com a reação da cunhada e, apertando a mão do jovem citadino, confiou-lhe o negócio.


JERÔNIMO  -  Eu lhe dou a concessão. Mas... põe outro nome no cinema.

HERNANI  -  (perguntou-lhe, contrariado)  Pode sugerir um nome, prefeito?

JERÔNIMO  -  (não pensou dois segundos)  Põe... Cine Potira. O nome é lindo!

RITINHA  -  (saltou de nervosismo)  Cê enlouqueceu, Jerônimo?

JERÔNIMO  -  Não. Eu quero lançar o meu desafio pro povo. E quero ver... se alguém vai ter coragem de deixar de ir ao cinema... só porque tem o nome da índia.

RITINHA  -  Você não vai lançar o desafio pro povo. Vai lançar pro marido dela... vai lançar pra todo mundo.

JERÔNIMO  -  Vale a pena. Pode mandar até registrar (disse, dirigindo-se ao rapaz)  Tem que ser Cine Potira. E manda fazer um letreiro bem bonito. Em plástico azul, que é a cor que eu mais adoro. E quero letra luminosa, desse gás que tem aí, como é mesmo o nome, leão...

HERNANI  -  (fazendo força para não rir)  ... néon.

Jerônimo voltou-se e isolou-se do resto do mundo. Gostara da idéia. Colossal. Cine Potira.

FIM DO CAPÍTULO  105


e no próximo capítulo... 
 *** O cadáver de Lourenço D'Ávila é exumado na presença de um dentista, Dr. Maciel, João, Alberto, Branca, Dr Rodrigo  e outros... e uma surpresa os aguarda quando o caixão é aberto!
 
NÃO PERCA O CAPÍTULO 106 DE

sábado, 10 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 104


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 104 

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

LÁZARO
DELEGADO FALCÃO
REPÓRTERES
JOÃO
PEDRO BARROS

CENA 1  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

Toda a cidade concentrava a atenção na luta entre João Coragem e os homens do delegado. Há horas o foragido se mantinha em atitude defensiva, pronto para o que desse e viesse, no interior da igrejinha. Dali não podia arredar pé, envolvido por uma manobra esquematizada pelo policial. De todos os ângulos convergiam bocas de rifles para o templo, à espera da fuga do garimpeiro. Falcão comandava a operação e orientava o plano de ataque inicial.


LÁZARO  -  Que plano é esse?

DELEGADO FALCÃO  -  A gente vai atacar ele de uma vez. Obrigar ele a acabar com toda a munição. Enquanto isso, um sujeito mais arrojado, pode ser você, sobe pelo telhado da igreja... e tenta desarmar o homem. A intenção dele é dar um tiro nos miolos, pra não ser agarrado.

LÁZARO  -  Deixa comigo.  Eu mesmo atiro nele. Quero tê esse gôsto.

DELEGADO FALCÃO  -  Aí é que está.  Eu quero ele vivo. Se você vai com essa intenção, é melhor que não vá. Eu escolho outro homem.

LÁZARO  -  (olhou para a torre e do templo)  Não! Pode deixá! Se o meu delegado quer ele vivo... eu trago ele vivo. Mas me deixe eu mesmo ir buscá ele, lá em cima. É um prazer que quero tê.

DELEGADO FALCÃO  -  (comandou, enérgico)  Vamos lá. Tenho que retirar todo mundo da praça. Surgiu repórter de tudo quanto é lado. A cidade tá um pandemônio.

Os jornalistas apareceram em massa, provenientes das cidades maiores e até mesmo de Belo Horizonte. Reuniam-se, agora, nos degraus da escada de acesso à torre do templo. Elevando a voz endereçavam perguntas ao homem acuado, enquanto os fotógrafos batiam chapas sucessivas.


REPÓRTER 1  -  João Coragem... até quando acha que pode aguentar esta situação?

REPÓRTER 2  -  Quais seus planos para o futuro?

REPÓRTER 3  -  O que o senhor acha da guerra no Oriente Médio?

REPÓRTER 4  -  É verdade que pensa em se transformar num segundo Antonio Conselheiro?

Dezenas de perguntas e propostas subiam à pequena torre, endoidecendo o jovem que apenas desejava uma riqueza: Liberdade! Liberdade!


JOÃO  -  (perdeu a paciencia e gritou, devolvendo todas as perguntas)  Vai todo mundo pro inferno! Me deixa em paz! Eu quero sossego! Pro diabo todo mundo!

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

Diogo Falcão afastou os curiosos dos limites da praça.


DELEGADO FALCÃO  -  Vai haver tiroteio! (gritou, empurrando os recalcitrantes e ameaçando prendê-los. A praça estava limpa. Juntando as mãos em concha, o delegado berrou para o garimpeiro acuado)  João! Isto assim não pode continuar. Eu vou te dar 10 minutos pra você entregar os pontos. Caso você não se decida, a gente vai tentar chegar até aí!

A voz do garimpeiro chegou clara e audível ao centro da praça:

JOÃO  -  Pois venha! Eu acabo com o primeiro que tentá subi!

DELEGADO FALCÃO  -  (voltou-se para os atacantes)  Marcado de relógio, minha gente! Dez minutos!

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.

Movimentando-se com rapidez o rapaz deslocou alguns móveis, colocando-os à porta de acesso à escada da torre. Era visível sua extenuação – barba molhada de suor, olheiras, expressão de total cansaço. Tornou a subir ao posto de observação e renovou a ameaça ao delegado.


JOÃO  -  Pode vim, Falcão! Tou esperando, patife!

CENA 4  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  - DIA.

Lázaro contornou a igreja, entrou num edifício vizinho e pulou do telhado para o templo. Aproximou-se sorrateiramente da torre onde, encastelado, João Coragem opunha resistência aos soldados. Embaixo, os homens forçavam a porta, procurando deslocar a barricada. Lázaro, agora, aguardava apenas a oportunidade de saltar para o interior da torre. Conseguira o mais difícil, alcançar o reduto sem ser visto pelo garimpeiro desesperado.


CENA 5  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.

João Coragem tateou os bolsos. A munição acabara. Apenas no tambor uma única bala!

Lázaro pulou para o interior da torre.

LÁZARO  -  Você tá perdido, João!

Incontinenti o rapaz virou-se e desfechou o tiro. O inimigo agachou-se e a bala passou. Desesperado, João Coragem arremessou a arma contra o adversário.


JOÃO  -  Me mata, é melhor!

LÁZARO  -  E o que é que você acha que vim fazê aqui? (retrucou, rindo com sadismo. Apontou a arma na direção do peito do ex-chefe, rindo sempre)  Então eu ia perdê essa chance que Deus me deu? De acabá com a tua raça?

JOÃO  -  Quem é o dono da minha vida é Deus. Se Ele me armô esse golpe... e achô que eu devia morrê pelas mão de um bandido, como você... é porque eu mereço isso. Pra falá a verdade, não tou entendendo bem Deus. Dessa vez eu me desnorteei. Sempre entendi as coisas que Ele tentô me dizê, por meio de ação e de sofrimento. Sempre aceitei as coisa que Ele achava que eu devia de fazê. Até quando colocô tu no meu caminho. Eu entendi e pensei: Deus qué que eu mostre a esse home o caminho do bem. E era o que eu queria fazê contigo. Te regenerá, mostrá pra tu que o bem vence em riba do mal. Queria te ensiná a não feri, não matá, não roubá. Que a gente pode e deve vivê pelo bem. Mas nem isso me deixaro fazê. (Lázaro ouvia estático, sem mover um músculo)  Deus me botô nessa situação e eu fui obrigado a reagi e matava até o primeiro que aparecesse na minha frente. Acho que por ter perdido a cabeça é que tou mereceno esse castigo. Morrê pelas mão do home que eu tentei regenerá e não consegui. É pelo meu fracasso também contigo que tou sendo castigado. Tá certo. Eu aceito isso. Tu pode atirá que eu tou preparado. (o revólver tremia na mão do assassino. João abriu a camisa e os braços, em cruz)  Atira... que é um favô que tu me faz.

LÁZARO  -   Nem sei, viu? Nem sei. Tou aqui e tou pensando. Tenho um garimpo à minha espera. Um prêmio pela tua cabeça. Tudo de bom. A vida que eu pedi a Deus. (sua voz  atingiu intensidade acima do normal, e gritava, como se tentasse amedrontar o mundo e ganhar coragem) Por que diabo não mato esse desgraçado? Por que diabo num acabo com ele? Por quê? Me diga? (dialogava com o ar, sem se dirigir a ninguém, especificamente)  Tou ficando frôxo? Miséria de vida! Será que eu num sô mais home? (num ímpeto incontrolável, jogou o revólver para o adversário)  Toma! Faz o que tu qué! Dá satisfação pro teu Deus! Me manda pro inferno, se é isso que Ele tá quereno! Diz pra Ele que ficá bonzinho, regenerado, eu num fico! Pode tirá o cavalinho da chuva! Anda! Acaba comigo! Tu recebe o prêmio de Deus e acaba logo com essa agonia!

Com passadas lentas, João Coragem depositou a arma na amurada da torre.

JOÃO  -  Abre a porta... e diz pro Falcão que ele venceu. Isso tudo que acaba de se passá aqui... é mensage de Deus. (tinha o olhar e os gestos de um místico, inteiramente absorvido pela religiosidade. Banhado de ternura e amor)  Pra alguma coisa deve de tê valido a pena o meu sacrifício. Quando uma alma perdida se salva... é um prêmio que a gente recebe. Eu acho que eu tenho de continuá vivendo mais um pouco. Foi Deus quem quis. Anda. Abre a porta!

Grossas lágrimas corriam pelo rosto do assassino, emocionado. João ofereceu-lhe os pulsos e, com uma corda fina, Lázaro amarrou-os, sem fitar os olhos do prisioneiro. Falcão entrou com os homens.


DELEGADO FALCÃO  -  Cuidado com ele! Cuidado, gente! Amarrem ele bem amarrado! (bateu com satisfação nas costas do bandido) Bom trabalho, Lázaro. Meus parabéns! Depressa! Avisa todo mundo na praça que a gente agarrou João Coragem!

CORTA PARA:

CENA 6  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

A multidão aglomerou-se à entrada da igreja para assistir à saída de João, conduzido como um assassino, entre os guardas do delegado.

Os repórteres acorreram como bando de urubus. Pedro Barros, que acabara de abraçar o delegado, felicitando-o, insinuou-se junto aos jornalistas.


REPÓRTER 1  -  O senhor quem é?

PEDRO BARROS  -  Sou o Coronel Pedro Barros, fundador de Coroado. Responsável por tudo de bom que existe aqui.

Retirando lápis e papel do bolso, o repórter começou a entrevistá-lo, antevendo um filão de reportagem na história do homem que criara a cidade diamantífera.


REPÓRTER 2  -  Tem alguma declaração a fazer?

PEDRO BARROS  -  Tenho, sim. Bota aí no seu jornal. (assumiu ares de político à cata de votos)  Hoje, com a prisão de João Coragem, a gente conseguiu uma vitória. Decidimos exterminar com o banditismo por estas bandas. Demos o primeiro passo. O segundo... pode escrever aí, também vai ser derrubar o prefeito desta cidade, que é irmão do bandido João.


FIM DO CAPÍTULO  104
Lourenço (Hemílcio Fróes), Branca (Neusa Amaral) e Jerônimo (Claudio Cavalcanti)
 ...e no próximo capítulo

*** Pedro Barros discute com Lázaro, por não ter atirado em João na torre da igreja. Lázaro enfrenta o coronel e pede as contas, decidido a mudar de vida.

***  Hernani pede ao prefeito permissão para pôr o nome "Cine Rita de Cássia" no cinema que arrendou em Coroado. Ritinha não gosta da idéia e Jerônimo sugere "Cine Potira", que é aceito por Hernani.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 105 DE 
 

domingo, 4 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 103


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 103

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

PEDRO BARROS
ESTELA
BRANCA
LOURENÇO
ENFERMEIRA
GASTÃO

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  DIA.

Para o Coronel Pedro Barros a presença de Estela tinha o caráter de mau negócio. Inoportuna, desagradável, sem sentido. Lembrou-se de que no dia seguinte teria de comparecer ao juiz para os arremates no processo de desquite amigável, proposto por ele e aceito, sob coação, pela esposa. O vestido leve, de organdi, e a sandália barata davam a perceber a má situação em que se encontrava a mulher do dono de Coroado. O coronel sorriu de zombaria ao ver a decadencia.


PEDRO BARROS  -  O que é que você quer?

ESTELA  -  Vou direto ao assunto. Pensei muito esta noite. Nem consegui dormir de tanto pensar e cheguei a uma conclusão. Depois que vi Juca de noivado com a filha do falecido prefeito Jorginho... veio à minha mente uma idéia luminosa.

Como um cão de caça, Pedro Barros pareceu erguer as orelhas para captar o que Estela teria a dizer.


PEDRO BARROS  -  Que idéia?

ESTELA  -  Imagine o que aconteceria... (modulou a voz, alcançando a intensidade do sussurro)  se eu revelasse à polícia tudo o que sei sobre o tiro que atingiu o prefeito e matou ele! (Barros estremeceu)  Pois é! Eu conheço toda aquela história. Ingênua que eu era... nunca pensei que isto pudesse forçar você a me ceder metade dos seus milhões...

Pedro Barros parecia explodir, com as veias grossas a latejar e a cara avermelhando-se à medida que a mulher relatava as suas decisões.


PEDRO BARROS  -  Isso é chantagem!

ESTELA  -  Uso as suas armas, meu querido... Imagine... por incrível coincidencia, há pouco fiquei sabendo que você está querendo derrubar o atual prefeito... e que para isso usou seu próprio filho.

PEDRO BARROS  -  (gritou, fora de si)  Cale a boca!

ESTELA  -  Está bem. Eu só queria avisar que convém você aceitar as minhas condições, amanhã, na presença do juiz... porque, do contrário... seu filhinho querido... vai parar na cadeia.

As últimas palavras foram ditas com clareza e suficientemente altas para serem ouvidas em toda a casa-grande. Felizmente, para o coronel, não havia ninguém por perto do escritório.

Com um valente murro na mesa ele deu por finda a entrevista com a mulher.

CORTA PARA:

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  - SALA  -  INT.  -  DIA.


E de fato Pedro Barros portou-se como um filântropo diante do juiz, acolhendo todas as exigencias formuladas pela mulher.Estela retornou à fazenda, saltitante, gritando pela nova dona da casa.


ESTELA  -  Mingas! Mingas! (enxugando a mão no avental, a mãe de Juca Cipó chegou à sala, onde Estela se achava atirada sobre o sofá, cantarolando uma musiquinha de carnaval)   Estou felicíssima, radiante, Mingas! Pedro teve que ceder em todos os pontos.

DOMINGAS  -  Ele cedeu?

ESTELA  -  Contra a vontade, é claro. Parecia querer me esganar, na frente do juiz! (riu com vontade, ao mesmo tempo em que preparava um drinque forte, gim com vermute, meio a meio).

DOMINGAS  -  (incrédula)  A senhora obrigô ele a cedê?

ESTELA  -  Ele não merece outra coisa, Mingas. Vou receber uma boa grana. Milhões, minha cara! Milhões! (deu uma volta em torno de si, como um pião humano)  Vou montar uma casa de modas em São Paulo, fazer miséria! Ai, que felicidade a gente se desquitar de um marido rico!

A pergunta se mantinha encravada na garganta da mulher. E ela a fez com a naturalidade de quem nada teme.

DOMINGAS  -  E o que a senhora fez... para conseguir isso?

ESTELA  -  Bem... isso não interessa!  Como está passando seu filhinho Juquinha?

DOMINGAS  -  Um pouco nervoso, ainda...

ESTELA  -  (Irônica, murmurou, ao pé do ouvido da velha)  Ah... coitadinho. Pois olhe. Dê um beijo nele. Nunca pensei que fosse adorar o Juquinha!

DOMINGAS  -  Adorar! (julgava que fosse brincadeira o que a outra dizia. Ou um engano de palavras).

ESTELA  -  É! Eu devo a ele a fortuna que acabo de receber do Pedro!

CORTA PARA:

CENA 3  -  BELO HORIZONTE  -  CASA DE LOURENÇO  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


Branca acendeu a luz de poucas velas ao lado da cabeceira da cama e avisou, em voz baixa, ao marido.


BRANCA  -  Dona Iolanda veio fazer os curativos...

LOURENÇO  -  Ainda bem... vê se me levanta dessa cama, moça, e juro que num se arrepende...

De costas para cima, o bandido suportou com leves gemidos o trabalho da enfermeira. À medida que limpava os ferimentos, a mulher se admirava da resistência do paciente e não entendia como ele não procurava um hospital ou casa de saúde, dotados de recursos que lhe permitissem recuperação mais rápida e menos perigo de uma recaída perigosa.


ENFERMEIRA  -  (arriscou uma sugestão, através de uma pergunta)  Sabe que tinha de estar em tratamento mais enérgico?

LOURENÇO  -  Que nada! Tou me dando muito bem com o tratamento caseiro. Daqui a pouco posso até me levantá dessa maldita cama.

ENFERMEIRA  -  (com absoluta franqueza, anunciou)  Eu não garanto nada. O caso é muito sério.

CORTA PARA:

CENA 4  -  BELO HORIZONTE  -  CASA DE LOURENÇO  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


Três dias depois, Lourenço já se sentava na cama, denotando melhor aspecto e impressionando a enfermeira com a surpreendente recuperação que demonstrava. O homem era mais forte do que aparentava. De uma resistência animalesca, havia pensado a mulher. Um ruído na sala chamou-lhe a atenção, provocando-lhe um arrepio na nuca.


LOURENÇO  -  (gritou)  Branca, é você?

Com os olhos na porta, Lourenço estremeceu ao ver surgir Gastão, acompanhado da enfermeira Iolanda.


LOURENÇO  -  (procurou controlar o espanto)  Oi, velho! Te julgava longe!

GASTÃO  -  Dona Iolanda me contou umas coisas que não me agradaram.

ENFERMEIRA  -  (interferiu para explicar a verdade)  Eu só disse a ele que aquela moça foi ao hospital fazer perguntas, Uma repórter...

GASTÃO  -  O caso tá complicando muito, não acha?

LOURENÇO  -  Tou melhorando. Quando puder me levantar, tudo muda de figura.

GASTÃO  -  Se confiasse em mim, tudo se resolvia fácil. Bastava você dizer onde tá o diamante. Pego ele e levo pro estrangeiro. Faço negócio e não vou te tapear...

Argumento frágil para indivíduos acostumados à traição e à deslealdade.

LOURENÇO  -  (gargalhou)  Você é besta! E acha que eu caio nessa?

A um sinal, a enfermeira se aproximou. Gastão deu a volta em torno da cama e se afastou para o canto do quarto semi-apagado.

ENFERMEIRA  -  (a Gastão)  Que vai fazer?

GASTÃO  -  Só massagens...

ENFERMEIRA  -  Tome cuidado.  Há um ponto delicado.

GASTÃO  -  Que é que acontece?

LOURENÇO  -  Você tá querendo me matar?

Gastão segurava-o pelas costas, com os dedos pressionando um determinado ponto à altura da região lombar.


GASTÃO  -  Só quero que me diga onde tá o diamante.

LOURENÇO  -  Eu não vou dizer... e se você me mata é pior. Nunca ninguém há de saber onde encontrá ele!

A admoestação não impediu que o outro continuasse a tortura. O marginal duplicava a força da pressão dos dedos. Lourenço torcia o rosto numa careta de dor.


GASTÃO  -  Aguenta, seu...

LOURENÇO  -  Pare ai!, com isso! Miserável! Pense bem, se eu morro é pior. E eu não vou dizer... não, ai! Patife! Não faça isso... eu não digo... não adianta... morro... mas não digo. Pode me matar, seu filho...

CORTA PARA:

CENA  5  -  BELO HORIZONTE  -  CASA DE LOURENÇO  -  COZINHA  -  INT.  -  NOITE.

Branca retornava da rua. Mergulhou a chave no buraco da fechadura, rodou-a e abriu a porta. Enquanto colocava as compras na pia da cozinha, gritou para o interior do quarto:


BRANCA  -  Lourenço! Já cheguei! Recebi um dinheiro dos doces que fiz e aproveitei para comprar alguma coisa de que necessitamos... Comprei uma porção de coisas... Já vou aí.

O silencio não fôra quebrado.

CENA  6  -  CASA DE LOURENÇO  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


BRANCA  -  Deve ter caído no sono... (e acendeu a luz, para certificar-se) Mas... o que é isso? (surpresa)  Lourenço... será possível... você pôde se levantar? Lourenço! Lourenço! Onde está você?

CENA  7  -  CASA DE LOURENÇO  -  SALA  -    INT.  -  NOITE.

Branca começava a desesperar-se ante a ausencia do marido. Correu a casa de ponta a ponta. O marido não se encontrava em lugar nenhum. Desaparecera.


FIM DO CAPÍTULO  103
Ritinha (Regina Duarte) e Gabriela (Gabriela Duarte)
e no próximo capítulo... 
 *** João Coragem é encurralado na torre da igrejinha de Coroado, que é cercada por Falcão e seus homens. 
*** Lázaro se oferece para subir á torre, dizendo ao delegado que faz questão de atirar em João!
 
 NÃO PERCA O CAPÍTULO 104 DE
  

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 102


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO  102


PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
BRAZ
ZÉ BAIANO MÁRCIA
MÉDICO
LOURENÇO
BRANCA


CENA 1  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.

Braz alcançou a cabana quase no mesmo instante em que João chegava, esbaforido. Abriram a porta do quarto.


JOÃO  -  Num tá aqui, mesmo...

BRAZ  -  É, João... parece que o negócio aconteceu mesmo...

JOÃO  -  (jogou-se contra o colchão duro)  Que é que eu faço, Braz? Pensei que tava livre desse problema!

BRAZ  -  Tu tem que aceitá, João. É a tua cruz, home. (abraçou o companheiro, comovido)  Agora é que tu tem que mostrá tua força, tua bondade. Num abandona ela, João.

JOÃO  -  Eu num tenho força pra vê ela daquele jeito de novo. Eu disse que no dia que Diana voltasse, eu acabava tudo.

BRAZ  -  Acabá com tudo, num é ato de home como tu. Home que já guentou coisa pior da vida.

JOÃO  -  Pior do que isso... só a morte, Braz! (disse, torturado pela vergonha) Vou vê se acho ela.

CORTA PARA:

CENA 2  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.


Dois dias depois, João voltara ao acampamento e, com a barba amarelada pelo pó da longa caminhada, dormia sob a vigília dos companheiros de empreitada. Acordou sob a emoção da notícia que lhe traziam Braz Canoeiro e Zé Baiano, um novo e leal membro da comunidade dos foragidos. Braz esperou que o amigo despertasse, de todo.


BRAZ  -  Já é dia, home! Desperta, logo!

JOÃO  -  Que foi, gente?

BRAZ  -  Nós tem notícia boa! Acharo tua mulhé, gorica mesmo!

JOÃO  -  (sentou-se na borda da cama)  Quem achou?

BRAZ  -  Os home, quando ia pro garimpo. Ela tá lá, João... junto do rio... com o carro!

JOÃO  -  O que foi que houve? Desastre?

BRAZ  -  É melhor que tu veja.  Ninguém qué mexê nela, até tu chegá...

A notícia, da forma como Braz a estava dando, sugeria coisa pior. João Coragem empalideceu a ponto de preocupar os dois amigos.


JOÃO  -  Num... qué... mexê nela... mas, então... ela tá ferida? Ou... tá... morta?

CORTA PARA:

CENA 3  -  MARGEM DO RIO  -  EXT.  -  DIA.


De longe a cena descompassou o coração do rapaz. Os rudes garimpeiros, uns de cócoras, outros de pé, rodeavam o corpo da mulher. João atirou-se da sela ao chão, como um trapezista. Abriu caminho entre o grupo de amigos e suspendeu o corpo inanimado.


BRAZ  -  (gritou, vendo o busto subir e descer, num arfar doloroso)  Tá viva!

JOÃO  -  Tá! Vai vê se acha o doutô!

ZÉ BAIANO  -  Pelo jeito que atirô o carro pensei que num escapasse!

Em três tempos, João tinha o corpo de Márcia nos braços e, logo após, fez o cavalo trotar em direção à aldeia.

CORTA PARA:

CENA 4  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.


A moça gemia deitada na cama de lençóis claros. Recobrava os sentidos, pouco a pouco.

MÁRCIA  -  Meu remédio...

Olhou em tôrno do quarto, à procura do vidrinho de comprimidos. Era como se tudo tivesse sido interrompido no momento em que Nita lhe oferecera o chá com terra. Desde então o tempo parara para a mulher do garimpeiro.

JOÃO  -  O quê?

MÁRCIA  -  Eu ia tomar um comprimido...

JOÃO  -  ( segurando com carinho as mãos que ela lhe oferecia)  O que foi que aconteceu, Márcia?

MÁRCIA  -  Não terminamos o jantar? Vim para o quarto e ia tomar o meu remédio... Nita me trouxe o chá. Mas colocou terra dentro dele. Não me zanguei com isso. Ela é uma selvagem. Eu compreendo essa pobre moça. Ela gosta muito de você, João...

JOÃO  -  (levantou-se, nervoso, com a testa franzida e os músculos rígidos)  A causa de tudo foi ela, então?

MÁRCIA  -  Causa de quê? Será que eu dormi e não me lembro? Que horas são?

JOÃO  -  Já se passô duas noite, bem!

MÁRCIA  -  Como? Duas noites? Não entendo!

JOÃO  -  Pra ocê o tempo num passô?

MÁRCIA  -  Não. Será que eu dormi esse tempo todo?

JOÃO  -  Não tá se lembrando de nada, tá?

MÁRCIA  -  Não. Por quê? Aconteceu alguma coisa?

João voltou a sentar-se na cama e acariciou a testa da esposa. Compreensivo. Lembrando-se das recomendações de Braz Canoeiro.

JOÃO  -  Fica deitada. Já mandei chamá o doutô pra vê se tudo tá bem com o nosso filho. Vou vê se tá chegano...

Enquanto o rapaz se ausentava do quarto, Márcia pensava lá consigo, sem compreender o que se passava.

MÁRCIA -  Por que... nosso filho? Que foi que houve comigo?

CORTA PARA:

CENA  5  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


MÉDICO  -  Que coisa lamentável! Como é que ela está?

O médico viera sem demora, trazido por Braz, depois de uma caminhada cansativa.

JOÃO  -  Acordou agora. Parece que acordou de um sono. Não se lembra de nada que aconteceu.

MÉDICO  -  É esquisito. O rapaz aqui (bateu nas costas de Zé Baiano)  me contou que ela jogou o carro, de propósito...

JOÃO  -  Não foi de propósito.  Deixa de tá dizeno besteira, Zé Baiano...

ZÉ BAIANO  -  Mas João... quando eu chamei ela... ela riu e jogô o carro, parece de gôsto, no barranco!

O garimpeiro desviou o rumo da conversa, propositalmente. Certas coisas não interessavam ser reveladas.

CORTA PARA:

CENA 6  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

João  convidou o médico a entrar no quarto, fracamente ventilado e com insuficiente iluminação.


MÁRCIA  -  Estou envergonhada de me apresentar ao senhor tão mal arrumada...

MÉDICO  -  Por favor... não se preocupe com isso. O importante é que desta vez a senhora escapou ilesa. E foi o seu anjo da guarda quem a protegeu.

MÁRCIA  -  (apreensiva) Escapei... de quê?

MÉDICO  -  Ah, é verdade. A senhora não se recorda... eu não entendo bem isso, mas...

MÁRCIA  -  Diga a verdade, doutor. Estou preparada.

MÉDICO  -  Dona Márcia, diga-me uma coisa. A senhora deseja muito ter esse filho?

MÁRCIA  -  Ardentemente, doutor, por quê?

MÉDICO  -  Não se recorda do que aconteceu?

MÁRCIA  -  Não.

MÉDICO  -  Isto... de não saber o que faz... aconteceu, sempre?

MÁRCIA  -  Comigo... foi a primeira vez.

MÉDICO  -  Como... consigo?

MÁRCIA  -  (fechou os olhos)  Doutor, é uma longa história. E estou tão curiosa para saber o que ocorreu, que não tenho tempo de lhe explicar.

MÉDICO  -  Pelo que ouvi... do rapaz que a encontrou... tive a impressão de que a senhora não queria que seu filho nascesse.

MÁRCIA  -  (magoada)  É uma acusação que me ofende profundamente.

MÉDICO  -  Não... não estou acusando.  Mas o seu procedimento... atirando o carro daquele jeito no barranco... não me fez pensar em outra coisa.

MÁRCIA  -  (gritou, exasperada, perdendo o contrôle) Eu não atirei carro nenhum!

MÉDICO  -  Bem... seu marido lhe dará explicações. Recomendo repouso absoluto durante 24 horas. Se quer proteger seu filho, é lógico. Vou lhe receitar alguns remédios...

Com expressão de poucos amigos o clínico levantou-se para deixar o quarto. Márcia segurou-o pela mão.


MÁRCIA  -  O senhor... não está acreditando em mim?

MÉDICO  -  Não... é que... bem, eu acho que uma senhora no seu estado não deve abusar de bebidas alcoólicas.

CORTA PARA:

CENA  7  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

 
Os três amigos aguardavam sem falar a saída do médico, ansiosos por conhecerem o resultado da consulta. João correu ao pressentir a retirada.


JOÃO  -  Doutor...

O médico colocou a mão ossuda no ombro forte do garimpeiro.

MÉDICO  -  Fique tranquilo. Ela e a criança estão muito bem. É preciso não deixar que ela se levante, nem hoje, nem amanhã.

JOÃO  -  O senhor falou... do acidente?

MÉDICO  -  Falei. Ela ignora... pelo menos diz ignorar. (o bloco foi retirado da bolsa de couro negro. E sentando-se, o médico começou a escrever)  Mande ver estes remédios em Morrinhos.  É para a segurança da criança.

CORTA PARA:

CENA 8  -  ALDEIA  -  CHOUPANA DE JOÃO  -  QUARTO    -  INT.    - DIA.

Estavam sós, os dois. Naquele instante Márcia e João, apenas. O rapaz lutava por controlar o estado de ânimo da mulher.


JOÃO  -  Olhe para mim...

MÁRCIA  -  Estou morrendo de medo.

JOÃO  -  Acho que tou começando a entender  (abraçando-a fortemente)  Espero que não seja tarde.

MÁRCIA  -  Ela voltou! Ela voltou e quer matar o meu filho. Foi ela quem tomou conta de mim... você entende, agora, João? (exclamou frenética)  Era dela que eu queria fugir! Era ela quem queria me dominar! Mas ela voltou, João! Ela voltou!

CORTA PARA:

CENA 9  -  BELO HORIZONTE  -  CASA EM BAIRRO AFASTADO  -  INT.  -  DIA.


BRANCA  -  Já cheguei, Lourenço!

A voz da mulher ecoou como a queda de um sino no interior de uma igreja.

LOURENÇO  -  (imóvel na cama, gritou)  Idiota...

Branca entrou, trazendo um grande embrulho, com as compras do dia.

LOURENÇO  -  Precisa gritar... pelo meu nome?

BRANCA  -  Nesse fim de mundo quem é que vai saber quem é você?

De fato o casal procurara um lugar isolado do mundo, para fugir às possibilidades de um encontro com gente conhecida. Um bairro afastado do centro da capital.


LOURENÇO  -  Fim do mundo, uma droga! Estamos em Belo Horizonte!

BRANCA  -  Num bairro onde Judas perdeu as botas...

Ajeitou com carinho as cobertas do marido, afagando-lhe a testa suada.

LOURENÇO  -  Tou sentindo uma dor forte como o diabo, na espinha...

BRANCA  -  Você devia era estar num sanatório, Lourenço, não aqui, sem tratamento...

LOURENÇO  -  Num sanatório todo mundo vai me procurar. Aquele cretino do jogador deu o serviço pra todo mundo...

BRANCA  -  Ninguém acreditou nele, amor!

LOURENÇO  -  Acho que vou ficar entrevado pro resto da minha vida. Mas, uma vingança eu tenho. Se eu morro, ninguém vai saber onde está o diamante. Nem Gastão, nem você, nem o idiota do João Coragem... Muito menos ele!

BRANCA  -  Eu não estou interessada no diamante.  Aquele teu amigo sujo é que está. E se ele não dá cabo de você, é de medo de não descobrir nunca mais onde você guardou a pedra.

LOURENÇO  -  Nem que me mate, eu não digo. Só digo no dia em que puder me levantar daqui. Pra poder vender ela... e usufruir os bem que ela pode me dá.

FIM DO CAPÍTULO 102
João (Tarcísio Meira) e Pedro Barros (Gilberto Martinho)

e no próximo capítulo...

*** Estela volta à fazenda de Pedro Barros e o chantageia: ou divide com ela metade de seus milhões, ou conta á polícia que o coronel é o responsável pela morte do prefeito Jorginho!

*** Em Belo Horizonte, Lourenço recebe a visita de Gastão, que o tortura, para que confesse onde está o diamante.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 103 DE