quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 116


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 116
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
MARIA DE LARA
JOÃO
PEDRO BARROS
RODRIGO
FALCÃO
DELEGADO CASTRO
JUCA CIPÓ

CENA 1  -  RIO DE JANEIRO  -  CASA DE SAÚDE  -  QUARTO DE LARA  -  INT.  -  DIA.

João forçava as recordações, lembrando fatos da vida de Lara. A moça ouvia, pensava, buscava retirar do fundo da mente os registros do passado. João voltara com uma carta na mão.

JOÃO  -  Tenho uma surpresa procê. Chegou o correio de Coroado. Tem retrato do nosso filho, de tudo quanto é jeito! Veja se isso te ajuda a se lembrá das pessoa. Esta é Cema... com o nosso menino.

MARIA DE LARA  -  (pegou a foto, trêmula de ansiedade)  Cema... quem é Cema?

JOÃO  -  (mostrou outra foto)  Este é Braz, meu braço-direito... amigo do peito. Esta é minha mãe.

MARIA DE LARA  -  Sinhana... mãe Sinhana.

JOÃO  -  (alegrou-se mais)  Da mãe tu te lembrô. Olha, agora, meu irmão e a Potira... O Dr. Maciel... pai da Ritinha, te lembra?

Maria de Lara fez que sim com a cabeça, onde a gaze fazia as vezes do cabelo claro que antes lhe emoldurava o rosto belo e meigo.


MARIA DE LARA  -  Deste eu me lembro... eu tive o filho... e foi ele quem me ajudou.

JOÃO  -  Isso mesmo... o Dr. Maciel foi quem fez o teu parto.

MARIA DE LARA  -  Me lembro, sim... O menino tá  grande?

JOÃO  -  Um garotão!

MARIA DE LARA  -  Queria tanto vê-lo!

JOÃO  -  Quando você pudé voltá comigo... você vê.

MARIA DE LARA  -  Vá buscar nosso filho para eu vê-lo, João. Não agüento esperar tanto tempo. É uma necessidade que eu tenho de ter meu filho perto de mim. Sinto que isto vai me ajudar muito a me recuperar mais depressa.

JOÃO  -  (pensou um pouco, em silencio, pesando os prós e os contras)  Você qué mesmo, bem?

MARIA DE LARA  -  É tudo o que eu quero.

JOÃO  -  Tá bão. Eu vou buscá ele procê. Dona Dalva fica aí até eu voltá... com nosso filho.

Num movimento impulsivo, Lara acariciou o rosto, de barbas negras, do esposo.


MARIA DE LARA  -  Desculpe-me, se não me recordo de tudo que se relaciona com você... Mas mesmo que eu não me lembrasse nunca do passado... eu creio que não seria nada difícil amar você de novo.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  PENSÃO DO GENTIL PALHARES   -  QUARTO DE RODRIGO  -  INT.  -  DIA.


Pedro Barros penetrou na pensão do Gentil e se dirigiu para o quarto onde Rodrigo o aguardava há horas.


PEDRO BARROS  -  Você... seu patife... você tem o atrevimento de vir me fazer um desafio destes?

RODRIGO  -  Esperei muito tempo, coronel.  Guardei isto (mostrou uma corda gasta pelo tempo)  E tinha apenas 14 anos. Chegou o meu dia, coronel... e eu tenho a certeza de que, se o senhor aceitar a minha sugestão, vai chegar o dia também de muita gente!

PEDRO BARROS  -  Seu desavergonhado!

RODRIGO  -  Gente que, como meu pai, também foi vítima da sua maldade. Não foi só um, nem dois... foram muitos. Agora é que o senhor se faz de bonzinho, de sofredor. Mas eu lhe digo. O senhor está pagando, coronel!

PEDRO BARROS  -  (bradou, com ódio)  Miserável!

RODRIGO  -  Ah, eu é que sou miserável?

Barros agarrou na corda pardacenta, e tentou atirá-la de encontro ao rosto do rapaz.


PEDRO BARROS  -  Olha... se eu estou perdido financeiramente, você está moralmente! Eu não queria estar no seu lugar... levando nas costas a cruz que você tá levando. Eu tenho chance de recuperar minha fortuna... enquanto você nunca mais vai recuperar a sua mulher. Perdeu ela para sempre. E você sabe disso.

RODRIGO  -  Quer fazer uma aposta, coronel? (propôs, com o dedo a centímetros do nariz de Pedro Barros)  De como o senhor não vai recuperar sua fortuna... e de como eu vou ficar com a minha mulher?

PEDRO BARROS  -  Combinado, miserável! Aquele que perder faz uso disto (apontou para a corda, no chão).

RODRIGO  -  (arrematou, visìvelmente fora de si)  Combinado, coronel de araque!

CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS   -  QUARTO DE FALCÃO  -  INT.  -  DIA.


Deixando o quarto da pensão, Barros se encaminhou para a sua ex-casa. E durante o demorado percurso, pensava nas decisões do destino. No homem que fôra e no homem que era.

Entrou no quarto, assustando Falcão.


FALCÃO  -  Que é isto? Quem chamou o senhor aqui?

PEDRO BARROS  -  Reza pra Deus perdoar os teus pecados, porque agora eu vou te mandar pro inferno...

O coronel sacou da arma que trazia escondida na cintura e apontou-a para o inimigo.


FALCÃO  -  (levantou-se com cuidado)  Deixa de bobagem, coronel. O senhor não é doido de fazer uma coisa desta...

PEDRO BARROS  -  (friamente encarou o ex-aliado)  Quero de volta os meus direitos. O dinheiro das minhas pedras que você roubou! Quero meu garimpo! Quero a minha posição de antes, o respeito de antes, o domínio de antes... tudo o que você me tirou!

FALCÃO  -  Calma... (falou com ambas as mãos espalmadas e os braços esticados)  a gente conversa, coronel... a gente conversa, mas não faz nenhuma bobagem!

PEDRO BARROS  -  Quero tudo isso, agora, patife! Se você não pode me dar, eu te mando pro outro mundo!

FALCÃO  -  (agia com cuidado, movimentando-se na frente de Pedro Barros)  Coronel, escute... a gente se entende... eu ia mesmo mandar chamar o senhor... Escute, coronel... mas tenha calma.

Um movimento nas costas do coronel, e este virou-se repentinamente. O Delegado Castro e dois guardas estavam na sala.


FALCÃO  -  Coronel... isto é covardia... o senhor espera um pouco e eu lhe dou a sua parte... é só o senhor me dar o tempo de eu ir pegar os papéis...

PEDRO BARROS  -  Eu quero agora!

Falcão abaixou-se e Barros premiu o gatilho da arma. A voz do delegado intercalou-se ao diálogo dos dois inimigos.


DELEGADO CASTRO  -  O que é isso?

PEDRO BARROS  -  Vou matar esse miserável!

DELEGADO CASTRO  -  Parece que eu cheguei na hora H, Falcão (disse, desarmando o coronel).

FALCÃO  -  E eu lhe agradeço.

Dando alguns passos à frente, coberto pelos olhares vigilantes dos soldados, o delegado adiantou-se até Falcão.


DELEGADO CASTRO  -  Você não tem nada que agradecer. Quem tem que agradecer é a lei. Porque se o Coronel Pedro Barros tivesse acertado, eu não poderia cumprir esta ordem que chegou hoje.

FALCÃO  -  (aborrecido)  Que é isto?

DELEGADO CASTRO  -  Você... foi demitido da polícia... e esta... é uma ordem de prisão.

O delegado abriu um papel à frente da ex-autoridade.


FALCÃO  -  Pra mim? (perguntou, batendo no peito)  Pra mim? Mas...

DELEGADO CASTRO  -  Não adianta resistir, Falcão. Você está preso!

CORTA PARA:

CENA  4  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

 
O delegado foi o primeiro a ingressar na sede da polícia de Coroado, se assim pudesse ser chamado o pequeno e retangular edifício, com xadrezes infectos e instalações desconfortáveis. Logo após seguiam o ex-delegado Falcão e os guardas que integravam o grupo de soldados encarregados da missão. 


DELEGADO CASTRO  -  (ironizou a situação)  Pode matar as saudades, Falcão... Passe para a outra sala.

CENA 5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  CELA  -  INT.  -  DIA.


Juca estava deitado na cela mais próxima da entrada, a menos escura e mais fria, segundo os que conheciam os rigores da prisão da cidade. O diabólico capanga ergueu-se do leito.


JUCA CIPÓ  -  Que foi? Que foi?

O delegado fez um sinal e o carcereiro abriu a cela contígua.


DELEGADO CASTRO  -  É provisório, Falcão. Brevemente você será removido para a capital.

JUCA CIPÓ  -  Falcão tá preso? (perguntou, com um risinho sarcástico. Os cabelos encaracolados e a roupa suja e amarfanhada).

DELEGADO CASTRO  -  Eu disse que nesta cadeia não havia lugar para tanta gente, não disse?

JUCA CIPÓ  -  (berrou, histérico, dando pulinhos simiescos dentro do xadrez)   Viva! Falcão tá preso! Falcão tá preso! Viva!

FALCÃO  -  (gritou, enervado, devido ao barulho provocado pela alegria do imbecil)  Quer fazer este desgraçado calar a boca?

JUCA CIPÓ  -  Viva! Viva!

FALCÃO  -  Cala a boca!

JUCA CIPÓ  -  Viva! Viva! Falcão tá preso!


FIM DO CAPÍTULO  116 

 e no próximo capítulo...

***  De volta a Coroado, João descobre que o novo delegado pediu reforço policial para capturar seu irmão, Jerônimo!
*** O Delegado diz a João que dará 24 horas para que Jerônimo se entregue, ou vai invadir a aldeia onde ele se encontra!
***  Jerônimo e Potira decidem fugir juntos!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 117 DE 
MOMENTOS DECISIVOS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS! 

e vem aí... 

 estréia dia 01 de fevereiro
 

sábado, 14 de janeiro de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - chamada SAMUCA

     EM FEVEREIRO

                VOCÊ VAI CONHECER...

SAMUCA  (Paulo José)
             Amigo de Renatão e noivo de Joaninha, Samuca mora na Pensão Primavera, de D. Didi e tem uma obsessão: ficar rico. Por isso envolve-se em várias confusões, ajudado pelo amigo Renatão, chegando a ponto de fingir-se de morto,  dentro de um caixão, e quase ser enterrado vivo!  
 Inspirada na novela de Dias Gomes
Roteiro de Toni Figueira

estréia dia 01 de fevereiro
                    

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 115


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 115
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DALVA
JOÃO
ENFERMEIRA
DR. BERNARDO
MARIA DE LARA

CENA 1  -  RIO DE JANEIRO  -  CASA DE SAÚDE  -  QUARTO DE LARA  -  INT.  -  DIA.

Finalmente, tudo ficara acertado. Maria de Lara tentaria viver, sobrepujar Diana ou se submeter à personalidade bondosa, é certo, mas diferente de Márcia. Rafael conseguiu, a custo, convencer os homens e, no quarto branco da casa de saúde, a moça começava a seguir para a vida ou para a morte...

Logo, pela manhã, os médicos se reuniram junto ao leito da paciente. Com a cabeça inteiramente raspada, Lara dormia, dopada pelas injeções e comprimidos ministrados no pré-operatório. Estava insconsciente, quando as enfermeiras a colocaram na maca e partiram molemente em direção à sala de operações.


João entrou impaciente. Viu Dalva, que enxugava os olhos. A face vermelha. Os lábios ressequidos.


DALVA  -  Entre.

JOÃO  -  Como é que ela tá?

DALVA  -  Dopada. Deram-lhe várias injeções.

JOÃO  -  Já vai se operá?

DALVA  -  Uma operação no cérebro, é coisa muito séria. O neurocirurgião vai, primeiramente, fazer uma intervenção exploratória. Se tudo der certo...

JOÃO  -  Olha... manda cuidá bem dela. É uma vida muito preciosa que tá aí. É a mãe do meu filho... é a mulhé da minha vida...

CORTA PARA:

CENA 2  -  RIO DE JANEIRO  -  CASA DE SAÚDE  -  QUARTO DE LARA  -  INT.  -  DIA.


JOÃO  -  Terminô, com a graça de Deus!

João Coragem olhou, automàticamente, para o relógio. Haviam transcorrido várias horas. O suor cobria o rosto do garimpeiro e suas mãos nervosas dilaceravam o resto do lenço que ainda se notava por entre os dedos. A enfermeira acabara de chegar.


DALVA  -  (correu pressurosa)  Como foi tudo?

ENFERMEIRA  -  Tudo bem, parece. Sem acidentes.

DALVA  -  Podemos rezar e agradecer a Deus  (disse, dirigindo-se a João)  Estamos livres desse pesadelo.

ENFERMEIRA  -  Olha, ainda não! Deixem para agradecer a Deus depois que tudo passar...

JOÃO  -   ... isso num foi tudo, moça?

ENFERMEIRA  -  Não foi, João. Acho que o pior está pra vir. Não pensem que sou do contra, mas já vi cada reação depois de uma operação, de meter medo...

JOÃO  -  Puxa, moça! Assim você não anima ninguém...

ENFERMEIRA  -  Só estou avisando. Fiquem preparados.

O médico, Dr. Bernardo, especialista em cirurgia do cérebro, acabava de entrar no quarto. Logo atrás a maca deslizava com o corpo de Maria de Lara.


JOÃO  -  (tornou a perguntar, ainda agitado)  Correu tudo bem, né, doutor?

DR. BERNARDO  -  Melhor não podia ser.

DALVA  -  É verdade que o pior está pra vir?

DR. BERNARDO  -  (meneou a cabeça, pensativo)  É uma operação muito delicada e levará tempo até que possamos ter um resultado positivo.

JOÃO  -  Mas dissero... que ela vai ficá curada!

DR. BERNARDO  -  E por acaso estou afirmando o contrário?

JOÃO  -  O senhô disse que leva tempo...

DR. BERNARDO  -  E confirmo. Não espero que, ao recuperar os sentidos, ela seja uma nova mulher. Não se levantará do leito no dia seguinte, como numa operação comum. Vamos agora para uma fase muito trabalhosa. Será a readaptação à vida normal. Um período de aprendizado. De reconhecimento da vida, das coisas habituais. Ela iniciará a vida como se tivesse nascido hoje. (colocou as mãos nos ombros do rapaz)  Volte amanhã, João. Não adianta você ficar aqui, agora. Ela não tomará conhecimento da presença de ninguém. Confie em mim. Tudo está correndo bem.

JOÃO  -  Mas... eu pensei que, quando ela acordasse, a gente ficasse sabeno quem ela é!

DR. BERNARDO  -  Não. Não será assim, João.

João deixava o quarto e já se preparava para entrar no elevador, ante os olhares curiosos das enfermeiras.


DALVA  -  (dirigiu-se ao Dr. Bernardo)  Coitado do João! Eu sei o que mais o apavora. Sei que ele está pensando que pode ser Diana a sua verdadeira personalidade ao reviver...

O médico não respondeu. Era de fato uma possibilidade. Restava esperar e ter fé em Deus.

CORTA PARA:

CENA  3  -  RIO DE JANEIRO  -  RUAS -  EXT.  -  DIA.

O garimpeiro vagou pela cidade grande, desalentado. Tudo tão diferente de sua pequena Coroado. De suas terras banhadas de sol. Do rio a correr suave. Da gruna escura e úmida. De sua vida. De sua gente. Viu a arquitetura majestosa do templo de Deus. Tão em desacôrdo com a simplicidade da igrejinha de Padre Bento. Automàticamente, as pernas o impeliram para a escadaria da igreja. Ao alto as figuras de Isaías e Daniel de um e outro lados.


CENA 4  -  RIO DE JANEIRO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.


João penetrou no templo, contrito. Pé ante pé aproximou-se do altar. Cristo abria-lhe os braços do alto da cruz. O rapaz ajoelhou-se ante a imagem do Salvador. E falou em voz grave, como se conversasse com o Filho de Deus.


JOÃO  -  Meu Deus do Céu, Nosso Senhô, Nosso Pai... tou eu aqui, de novo, na frente do Senhô, ajoelhado e fraco... e venho pedi perdão se ainda tenho algum pecado nas costa que tenho de pagá. Meu Pai, não me castiga mais! Acho que já fui castigado demais. Tou aqui e tou lhe pedindo mais humildade do que ainda tenho. Tou aqui e lhe prometo num pensá em mim. Na partilha do meu diamante. Se fui levado pela vaidade... se pensei mais em mim do que no sofrimento dos outro, me perdoa... mas o dinheiro do diamante vai sê pra beneficiá os outro, não a mim. Prometo, meu Pai, desde esse momento, usá a fortuna desse diamante pra uma causa justa e nobre. Prometo usá ele pra minorá sofrimento e dor. É tudo o que eu posso lhe prometê. Eu só quero, em troca, meu Pai, que o Senhô faz aquele diabo da Diana sumi da vida da minha mulhé. Eu quero que ela seja a mesma... mas não Diana. Se isso acontecê, eu juro, vou me sinti muito castigado. Acho que num mereço mais, meu Pai. Amém.

O rapaz baixou a cabeça e fez o sinal-da-cruz, com todo o respeito.

CORTA PARA:

CENA 5  -  RIO DE JANEIRO  -  CASA DE SAÚDE  -  QUARTO DE LARA  -   INT.  -  DIA.

O dia nascera belo. Sol azul no infinito, uma leve brisa a acariciar o verde das matas. O rebuliço da cidade ao começar da manhã indicava um dia de atividades para a gente que procurava ganhar a vida, em troca do sacrifício, do trabalho, do suor. João, cedinho, batera à porta do quarto 321. Lara ali estava. Ela. Ou?


JOÃO  -  Como tá ela?

DALVA  -  Já voltou... isto é... passou o efeito da anestesia.

O rapaz aproximou-se da esposa, amedrontado. Ela o fitou, inerte. Os olhos vidrados.


JOÃO  -  Oi...

DALVA  -  Você vai presenciar sua primeira reação após a operação.

JOÃO  -  Olá, bem (falou, baixinho).

A mulher fixou o olhar no rapaz e em seguida procurou o rosto da tia. Dalva aproximou-se, angustiada.


DALVA  -  Este... é João!

MARIA DE LARA  -  (a voz lhe surgiu, rouca)  João!

JOÃO  -  Ela não sabe quem eu sou?

DALVA  -  Espere, João (disse, segurando a mão forte que repousava na borda da cama)  Meu bem... olhe bem para ele... veja se o reconhece.

MARIA DE LARA  -  Não... não sei (respondeu, procurando reter a fisionomia que tinha à sua frente).

DALVA  -  E eu?  Você sabe quem eu sou?

MARIA DE LARA  -  Também não...

DALVA  -  E... sabe quem é?

MARIA DE LARA  -  (aflita)  Não sei... não sei quem sou.

JOÃO  -  (nervoso)  Mas... o que é isso?

DALVA  -  (conciliadora)  Calma, João! Também estou assustada e já mandei chamar o Dr. Bernardo.

MARIA DE LARA  -  (implorava, chorosa)  Me ajudem... me digam... falem alguma coisa de mim... eu não sei de nada. Quem sou eu?

DALVA  -  (sentou-se à beira da cama e segurou as mãos da moça)  Você é Lara, minha filha! Aquele é João, seu marido. Você é casada com ele... eu sou Dalva, sua tia.

MARIA DE LARA  -  (balbuciou, repetindo)  Eu sou Lara... Lara... Dalva... João.

A porta se abriu e o Dr. Bernardo entrou, apressado, com o estetoscópio a balouçar no pescoço. João o levou para um canto, agressivo.


JOÃO  -  Que foi que fizero com minha mulhé? (perguntou, tenso, em voz baixa)  Cês estragaro tudo! Pioraro tudo! Ela tá pió! Nem sabe quem é! Num me conhece!

DR. BERNARDO  -  (procurou acalmar o rapaz)  Eu disse que você tinha que ficar preparado... Tudo o que você disser, agora, será prejudicial a ela. (e convidou)  Vamos sair daqui. Eu me recuso a dar qualquer explicação a você, neste momento.

JOÃO  -  O senhô se recusa porque sua operação foi um fracasso. E o senhô sabe disso.

DR. BERNARDO  -  (usou de energia)  Saia deste quarto, João Coragem. Você vai piorar muito as coisas.

JOÃO  -  Eu num saio. E vou levá o caso dela pra justiça. Cês tem que operá minha mulhé de novo e botá nela a memória que cês tiraro!

DR. BERNARDO  -  (já impaciente)  Você está dizendo um amontoado de sandices...

JOÃO  -  (voltou para a mulher, deitada na cama de ferro)  Eu... eu vou te tirá daqui. Sou teu marido e vou te tirá daqui. Você espera. Eu num me demoro.

Com gestos grosseiros o rapaz voltou-lhe as costas, deixando o quarto. Imediatamente o médico dirigiu-se a Dalva.


DR. BERNARDO  -  Este João Coragem é bem atrasado!

DALVA  -  É um homem rústico...  Mas muito bom. Se o senhor conversar com ele, João entenderá.

DR. BERNARDO  -  Não creio que possa convencer um homem neste estado.

Com fisionomia grave, o médico afastou-se pelo corredor.

CORTA PARA:

CENA  6  -  RIO DE JANEIRO  -  CASA DE SAÚDE  -  QUARTO DE LARA -  INT.  -  DIA.

Um, dois, três... oito dias.


O quarto arejado, com vista para as montanhas, não dava impressão de recanto hospitalar. João permanecia horas ao lado da mulher. E nesse dia deu-lhe uma revista para ler. A porta girou e o operador entrou, para sua visita costumeira.


DR. BERNARDO  -  (segurou carinhosamente as mãos da paciente)  Boas... Então... como estão as reações?

JOÃO  -  A mesma coisa (replicou, com ar tristonho. Cabisbaixo)  Tamo aqui há uma semana, dizendo as coisas pra ela e ela num lembra de nada.

DR. BERNARDO  -  É assim mesmo, João.

Os dois se levantaram e andaram até o lado oposto à cama de Lara, próximo à janela que dava vista para os fundos da casa de saúde. Ao fundo as casas líricas de uma vila.


JOÃO  -  Faz 8 dias, doutor, e o senhô disse que em 3 dias ela ia se lembrá de alguma coisa. Confessa que tá tudo perdido, Doutor Bernardo!

Balançando a caneta entre o indicador e o médio, o cirurgião argumentou, procurando incutir na mente do jovem rústico as verdades da medicina.


DR. BERNARDO  -  Cada organismo reage de uma forma. A medicina não é matemática, meu caro... Entenda. Há leis rígidas nas ciências precisas. Na medicina tudo se passa de forma diferente.

JOÃO  -  Eu já entendi, doutor.  E já sei o que vou fazê.

DR. BERNARDO  -  Eu já decidi também  (falou, como advertência)  Quando você estiver neste quarto, eu evitarei entrar...

JOÃO  -  (ameaçou)  Isso não vai resolvê a sua situação!

Aborrecido com a irredutibilidade do rapaz, o Dr. Bernardo deixou o quarto, sem sequer cumprimentá-lo. João aproximou-se de Lara, que continuava folheando a revista, alheia a tudo. Ela parou e fitou-o demoradamente.


JOÃO  -  Que foi?

Ela apontou para uma foto na revista. Um bebê robusto, sorridente, na imagem em cores. João olhou apreensivo.

MARIA DE LARA  -  (ante o olhar atônito do marido)  Meu filho... meu filho... este é meu filho!

JOÃO  -  Fala, bem...!

MARIA DE LARA  -  Não é ele... não é Antonio? Antonio não é meu filho?

JOÃO  -  (dando um murro no ar, gritou, ferindo os ouvidos da moça)  Puxa... você se lembrô do nosso filho!

MARIA DE LARA  -  (insistiu)  Não é Antonio?

JOÃO  -  É. É Antonio! Só que num é esse da revista... mas a gente tem um menino... e se você tá se lembrando dele... é sinal de que tá ficando curada.

MARIA DE LARA  -  Eu lembro, sim!  Eu me lembro de quando tive meu filho... veja se não parece com esta criança... (mostrou, com o dedo sobre a foto, a figura do menino).

JOÃO  -  Parece, mas num é ele, bem!  (com as mãos unidas e os olhos cerrados, rezou)  Virge Mãe do Céu, graças! E eu que já tava duvidano. Dona Dalva tem de sabê disso, o doutô também. Fica aí... eu vou avisá... vou chamá todo mundo!

Saiu atordoado porta a fora. Lara ouvia-lhe a voz forte.


JOÃO  -  (off)  Enfermeira! Enfermeira! Chama o doutô!

Voltou correndo.

MARIA DE LARA  -  (sorriu e sugeriu-lhe)  Aperta a campainha...

Correspondendo à alegria da esposa, João premiu o pequeno botão branco.


JOÃO  -  (falou-lhe, feliz)   Agora, sim... já começo a tê fé de novo... a acreditá de novo.

MARIA DE LARA  -  (pediu)  Fale de Antonio.

JOÃO  -  Olha, é um meninão! É a minha cara, só tu vendo! Quando nasceu, parecia um pouco com ocê... mas cada vez que cresce, mais tá ficano a minha cara!

Um barulho na porta e Dalva entrou apressada, acompanhada pela enfermeira Beatriz.


DALVA  -  Você estava gritando no corredor!

JOÃO  -  Olha, gente (falou, levantando-se com um sorriso de felicidade a iluminar-lhe os olhos),  tou arrependido de tudo aquilo que falei dos médico e da operação dela. Ela... já começô a se lembrá das coisa...

ENFERMEIRA  -  Já não era sem tempo.

DALVA  -  Que ótimo! E do que foi que ela se recordou em primeiro lugar?

MARIA DE LARA  -  (mostrou, radiante, a revista)  Olhei para esta criança... e repentinamente me veio à memória a lembrança de meu filho!

ENFERMEIRA  -  O Dr. Bernardo precisa saber disso.

DALVA  -  Então, agora tudo vai correr bem (disse, abraçando a sobrinha).

MARIA DE LARA  -  (voltou a falar, como se assistisse a um filme em reprise)  Imagine o que foi que me veio à mente... veja se isto aconteceu... recordo você numa prisão... (olhou para o marido)  eu levei o menino para você ver. É a única cena que eu vejo bem clara... a sua emoção ao se encontrar com seu filho. Isto aconteceu?

JOÃO  -  Aconteceu... aconteceu (respondeu, com os olhos em lágrimas. Sorria, feliz).

MARIA DE LARA  -  (prosseguiu, cerrando fracamente os olhos)  Mais embaralhado ainda... no fundo da minha mente... eu vejo a cena em que ele nasceu.


FIM DO CAPÍTULO  115

e no próximo capítulo...

***  No hospital, Lara recorda-se do filho e pede a João que vá a Coroado e traga-o para ela.

***   Pedro Barros tenta matar Falcão.

*** Falcão  recebe voz de prisão do novo delegado de Coroado! 
 
NÃO PERCA O CAPÍTULO 116 DE
 EMOÇÕES FINAIS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS!


e vem aí...
estréia dia 01 de fevereiro

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 114


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 114
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
MANUEL
LÁZARO
JERÔNIMO
POTIRA
RODRIGO
SINHANA
DR. MACIEL
JOÃO
BRAZ
ALBERTO
PEDRO BARROS
DALVA

CENA 1  -  CHOUPANA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Manuel, o homem que fizera um depoimento falso, incriminando João Coragem quando do julgamento do garimpeiro, fôra procurar Jerônimo para lhe propor um negócio. Reconhecido pelo rapaz, surgira uma discussão entre eles e logo a briga se tornaria mais séria. Agora, Manuel gemia, ferido na virilha por uma bala. Era uma ferida feia, numa região perigosa. O sangue jorrava aos borbotões.


MANUEL  -  Não aguento... não aguento! Dói muito!

LÁZARO  -  (berrou)  Vê aí uma bebida forte, prêle aguentá...

JERÔNIMO  -  Leva ele daqui. Não quero vê a cara desse homem (advertiu, sem olhar para o outro, que se esvaía em sangue)  Eu trato da minha vida. Leva ele daqui.

MANUEL  -  (clamava, gemendo)  Me... bota... em riba de um... cavalo... eu sei aonde devo ir.

LÁZARO  -  (ameaçador)  Veja lá o que vai fazê, Maneco!

Os dois homens deixaram a sala. Manuel apoiado nos ombros fortes do jagunço.


POTIRA  -  Por minha causa tu tá passando tudo isso, Jeromo!

JERÔNIMO  -  Por tua causa, nada. Só que num quero ser salteador de estrada. Acho que ainda não cheguei nesse ponto.

POTIRA  -  Deus é grande! (exclamou, olhando para o céu)  A gente ainda vai vivê bem...

Os cascos do cavalo, deixando a galope o terreiro do esconderijo, estalaram na terra dura. Jerônimo olhou por entre duas ripas de madeira da parede. Manuel, encolhido como um jóquei, na reta final, deixava o casebre com um destino que só ele conhecia.


JERÔNIMO  -  Criminoso eu num sou.  Nunca matei ninguém. Nem a Lídia eu queria ferir. Graças a Deus ela não morreu...

Potira alisou-lhe a fronte e os cabelos empapados de suor.


POTIRA  -  Vamos sonhá, amô... ninguém pode roubá da gente esse direito.

JERÔNIMO  -  Num lugar onde a gente num é perseguido...

POTIRA  -  Será que existe?

JERÔNIMO  -  Existe... existe!

LÁZARO  -  Eu só quis ajudá... pros dois podê sumi pra longe... Por isso trouxe o cara sem reconhecê ele... (completou, tirando o chapéu da cabeça).

CORTA PARA:

CENA 2  -  CHOUPANA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Durante horas Rodrigo vasculhou a região, mas, graças à informação de um e de outro alcançou o casebre, à tardinha. O sol ainda estava aceso na cumeeira dos céus.

A surpresa da índia foi imensa.


POTIRA  -  Como me achou aqui?

RODRIGO  -  Não foi muito difícil... Vamos conversar.

O ex-promotor foi até a janela e fechou-a. Sentou-se num banco de madeira.


POTIRA  -  Que é que vai fazê?

RODRIGO  -  Só vim pra te buscar.

POTIRA  -  Me buscar? Como... me buscar?

RODRIGO  -  Estou te dando uma chance de você deixar aquele patife! (tinha os olhos marejados. Era todo bondade).

POTIRA  -  Se explica!

RODRIGO  -  Não digo que vou viver com você... que vou te perdoar... mas, se te levar daqui, vai ser pra cuidar de sua regeneração. Estou dusposto a tudo... até a pôr uma pedra em cima de tudo o que você passou e olhar pelo seu futuro. Pode ser que mais tarde... eu consiga esquecer... e, quem sabe?

POTIRA  -  Você fala como se fosse dono de minha vida!

RODRIGO  -  Estou te estendendo a mão, índia! Quero te salvar!

POTIRA  -  Mas eu não estou te pedindo! Não tou perdida pra necessitá de salvação!

RODRIGO  -  Está! Está, sim! (falou, com a voz alterada. Sentia a insensatez da esposa)  Você não tem futuro, não tem nada, junto com Jerônimo. Os dias dele estão contados. Está muito complicado com a justiça. E o que vai ser de você, sua idiota?

POTIRA  -  Não interessa.  Se a policia pegar ele, eu espero ele sair da cadeia...

RODRIGO  -  Vai esperar... 10... 15 anos!

POTIRA  -  Espero, espero até uma vida inteira!

RODRIGO  -  Eu te quero tanto... que até já perdi a minha dignidade!

CORTA PARA:

CENA 3  -  CHOUPANA  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.

Potira estava deitada, com o pensamento perdido nos acontecimentos de sua vida quando Jerônimo regressou. A noite ia alta e a chama da vela iluminava as paredes do barracão. Lázaro acompanhava o amigo.


POTIRA  -  Que foi?

JERÔNIMO  -  Vamos se mandá daqui! Anda, rápido!

Num salto a mestiça estava de pé.

LÁZARO  -  Não perde tempo. Pega o que pudé!

JERÔNIMO  -  Tão atrás de nós!

POTIRA  -  (com as mãos apertando o peito)  Mas o que foi que vocês fizero?

JERÔNIMO  -  A polícia desta cidade foi avisada!

Os três deixaram o casebre envolvidos pelo silencio e pelo negrume da noite sertaneja.
   
CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  CASA DE REUNIÃO  -  INT.  -  NOITE.

Sinhana, sempre Sinhana. A mãe valente. Decidida. A mãe Coragem, na acepção do termo. Naquela noite, com o filho a conversar com os seus homens de confiança, a velha, com o diamante guardado nas vestes interiores, sofreu o atentado. Gritou, como reação final, ainda tonta, quando as mãos do bandido procuravam, nervosamente, a pedra.


SINHANA  -  João! João!

O assaltante desapareceu por entre o matagal escuro.

O garimpeiro correu, acompanhado de Braz, Alberto e o médico Maciel.


JOÃO  -  Mãe!

SINHANA  -  Tou tonta... tonta!

DR. MACIEL  -  Que foi, Sinhana?

SINHANA  -  Me atacaro. Me sentaro um troço na cabeça!

DR. MACIEL  -  Virge! Um galo enorme!

SINHANA  -  Ah, mas eu sou dura, viu?

JOÃO  -  Tentaro tirá o diamante?

SINHANA  -  Tá aqui, filho! O disgramado num teve tempo!

A velha segurou a enorme pedra, protegida por um saco de couro marrom.

Braz e Alberto partiram na direção do matagal, para uma busca nas imediações. 


SINHANA  -  Num deu pra vê a cara... mas era um baita dum home.

CENA  5  -  COROADO  -  CASA DE REUNIÃO  -  INT.  -  NOITE.

Na sala da casa de reunião, João pediu ao médico:


JOÃO  -  Vê logo esse ferimento na cabeça dela, doutor!

Maciel começava a fazer o curativo.


DR. MACIEL  -  É coisa de nada... Acho que ela não deve ficar com essa responsabilidade... O melhor é você fazer logo negócio com essa pedra. Você se livra de uma preocupação muito grande. (Sinhana gemia, quando o médico apertava um pouco mais a região atingida)  É muito perigoso, João!

JOÃO  -  O senhor tem razão. Mas, antes disso, vou pegá o safado que tá aqui, junto da minha gente, trabalhando pros meus inimigo...

BRAZ  -  Não achamo ninguém.

ALBERTO  -  Nem vivalma!!

Sinhana zangou-se com a incredulidade que as palavras do negro provocaram nos presentes.


SINHANA  -  Oh, gente, então sou doida? Vejam o galo na minha cabeça! Isso daí é imaginação? (deu um tapa forte nas mãos do médico)  Pára com isso!

DR. MACIEL  -  Tenho que dar um ponto, Sinhana!

CORTA PARA:

CENA 6  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE-  SALA  -  INT.  -  DIA.

A admiração do Dr. Rafael não tinha limites. Parecia-lhe inadmissível que o ex-delegado estivesse dominando a vontade do velho “dono” de Coroado, influindo, inclusive, na vida de sua filha. O médico buscara o apoio de Pedro Barros, seu consentimento para internar e operar Lara, mas Falcão dera o contra. E justificara: “Nada de operação, eu prefiro Diana viva!” O coronel aceitara a decisão, pois para ele, tudo o que fosse contra João Coragem lhe servia, plenamente.

O telefone tilintou e o coronel atendeu.


PEDRO BARROS  -  Alô!

JOÃO  -  (reconheceu de imediato a voz arrogante)  Afinal, seu coronel, o que é que o senhô tá querendo que eu faça? Já não fiz tudo o que o senhô queria? Por que não diz onde tá minha mulhé? Como esperá? Esperá o quê? Olha, eu cansei. Sabe o que vou fazer, agora? (esperou alguns segundos pela resposta do velho)  Vou saí daqui, da pensão do Gentil, onde tou, e vou na delegacia, dá parte dessa tramóia.

PEDRO BARROS  -  (vociferou, do outro lado da linha)  Eu te aconselho a não meter a polícia nisso! Bem sabe que não sou só eu que tou metido na história. Falcão, também. Principalmente ele! E ele faz ameaça. A vida da minha filha corre perigo e se a gente avisar a polícia...

Barros desligou e virou-se para Dalva, que ouvia atentamente o diálogo.


DALVA  -  Que foi que você resolveu com João?

PEDRO BARROS  -  Custou... mas ele me deu o dia de hoje. Quer ir à polícia, mas eu o convenci. Se até amanhã não tiver notícia, eu dou o direito dele fazer o que quiser... Resta esperar que Falcão apareça aqui, hoje. Aí, eu vou chegar às vias de fato com ele. Ou ele me diz onde tá minha filha... ou morre, o desgraçado!

DALVA  -  Um homem que tem feito o que ele faz, só matando! (aprovou, com um gesto de ira)  Só matando!


FIM DO CAPÍTULO  114
Rodrigo (José Augusto Branco)
e no próximo capítulo... 
*** Lara é operada no Rio de Janeiro. João está aflito, aguardando o resultado, temendo que a personalidade de Diana reviva para sempre no corpo de sua mulher.

*** Lara acorda e todos aguardam, apreensivos,  para ver se quem está ali é Lara, Diana ou Márcia!  

 NÃO PERCA O CAPÍTULO 115 DE
 EMOÇÕES FINAIS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS!

E VEM AÍ...
ESCRITA A PARTIR DA IDÉIA ORIGINAL DA NOVELA DE DIAS GOMES
POR TONI FIGUEIRA

ESTRÉIA DIA 01 DE FEVEREIRO! 

sábado, 7 de janeiro de 2012

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 113


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 113
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
PEDRO BARROS
ADVOGADO
DELEGADO FALCÃO
DR. RAFAEL
JOÃO
POLICIAL
DELEGADO PIRES
HERNANI
IOLANDA

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Pedro Barros acordou, com os olhos inchados. Juca avisava-o de que um homem desejava falar-lhe. O estranho mostrou-lhe a carteirinha vermelha.


PEDRO BARROS  -  Pois não!

ADVOGADO  -  Com licença!

PEDRO BARROS  -  O que é?

ADVOGADO  -  O comprador para esta casa está aí.

A situação do coronel era vexatória. Com o desenrolar dos acontecimentos, aos poucos o antigo deus de Coroado fôra-se arruinando. E agora, para sobreviver, via-se obrigado a desfazer-se de suas propriedades. Suas terras. As coisas às quais amara mais que à própria vida. Que a própria família.


PEDRO BARROS  -  Faça ele entrar... (Juca tentou impedir. O coronel segurou-o com mão firme)  Num tem remédio, Juca. É o único sujeito que se interessou pela casa e me paga à vista, ali, na bucha, não é verdade, doutor?

ADVOGADO  -  É  (confirmou o profissional, um indivíduo esquálido com olhos mortos e cara de terra suja. Deu uns passos até a varanda e trouxe o interessado à presença de Pedro Barros)  Aqui está ele, coronel!

Barros estremeceu, piscou e empalideceu, como se tivesse visto um fantasma deixar o túmulo.


PEDRO BARROS  -  Você! Você, miserável!

DELEGADO FALCÃO  -  (ria, impassível. Despreocupado)  Olá, coronel... pensou que ficaria livre de mim, hem?

O coronel estava fora de si; tentou investir contra Falcão.


PEDRO BARROS  -  Este... este sujeito é um ladrão! Ele vai comprar minha casa... com o dinheiro das pedras preciosas que roubou de mim!

DELEGADO FALCÃO  -  Tá lembrando, coronel? Com o dinheiro das pedras preciosas que o senhor me deu...

PEDRO BARROS  -  (babava-se de ódio)  Você me roubou! Você me roubou! É um ladrão! Um bandido! E eu não vou entregar minha casa pra ele!

DELEGADO FALCÃO  -  Não entrega... e amanhã apontam seus títulos no protesto. Só eu é que posso salvar o senhor.

PEDRO BARROS  -  Vigarista! Ladrão! Bandido! Prefiro ficar na miséria! Prefiro ir parar na cadeia! (o coronel estava possesso, a qualquer instante poderia ser fulminado por um ataque de apoplexia)  Ponham este desgraçado daqui pra fora!

ADVOGADO  -  (interveio elucidativo)  Coronel... não há alternativa... se não faz o negócio hoje... tudo está perdido.

PEDRO BARROS  -  (empurrou grosseiramente o homem magro)  E você... seu advogadozinho de meia tigela!

DELEGADO FALCÃO  -  (falou com calma)  Olha aqui... aceito o preço... tudo direitinho, como o senhor quer. A gente vai no cartório e lavra a escritura. Dou um sinal, por conta... a gente termina de negociar na cidade... daqui a umas duas horas. Até já avisei o escrivão. (retirou do bolso um maço de notas novas. Teatralmente, como exigia a ocasião)  Tenho aqui dois milhões... um pequeno sinal. Tem aí um recibo, doutor?

ADVOGADO  -  (mostrando um papel dobrado em quatro)  Só falta o coronel assinar.

PEDRO BARROS  -  (desarvorado)  Não assino, coisa nenhuma! Já disse!

Mas acabou assinando.

CORTA PARA:

CENA 2  -  SÃO PAULO  -  PARQUE DE DIVERSÕES  -  EXT.  -  NOITE.

O homem fumava. O pequeno ponto vermelho, da brasa do cigarro, dançava no ar, agitado pelos dedos do desconhecido. Àquela altura o parque de diversões estava vazio e garoava na capital paulista. Um friozinho agradável convidava ao sono.


João avançou cuidadosamente. Sem fazer ruído.

No último instante, o leve arrastar dos sapatos chamou a atenção do solitário. E com um salto felino, ele disparou por entre as máquinas, esbarrando nos aeroplanos, nos carrinhos de corrida. Nos bancos balouçantes da roda-gigante. Jão não o perdia de vista, seguindo-o como um cão de caça. Pulavam de banco em banco. Rafael acompanhava-o na empreitada. E num momento de distração do desconhecido, o garimpeiro, com um jogo de pernas, derrubou-o de encontro ao guichê de pagamentos na entrada da montanha-russa. João Coragem, envolvido pelas sombras, subjugava o homem, de encontro à madeira do pequeno barracão.


DR. RAFAEL  -  João conseguiu, finalmente.

JOÃO  -  Agora... a gente vai ver a cara dele! A cara desse desalmado!

O rapaz respirava mal, mas mostrava-se eufórico, com o êxito da caçada. Segurou firme e puxou o indivíduo para a luz. Três policiais chegavam, avisados momentos antes pelo médico de Lara. As feições de João transformaram-se ao ver o rosto do prisioneiro.


JOÃO  -  Você?! Você... Hernani?

DR. RAFAEL  -  Santo Deus, é espantoso!

POLICIAL  -  É o homem do diamante? (perguntou, algemando o ex-empresário de Duda).

JOÃO  -  É, seu guarda. O home que roubô meu diamante do ladrão do Lourenço... o mesmo que matô ele... e matou Dona Estela.

POLICIAL  -  O senhor está preso! (anunciou, erguendo brutalmente o homem sentado no chão. As argolas das algemas quase cortaram-lhe os pulsos magros).

JOÃO  -  Disgramado! Eu podia pensá em todo mundo, menos nesse sujeito!

Os dois ficaram a olhar o carro da polícia, com o farol vermelho a girar, na capota, afastar-se apressadamente. Mais um capítulo havia acabado na história do diamante.

CORTA PARA:

CENA 3  -  SÃO PAULO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  NOITE.

O foco de luz descia do abajur, iluminando a cara pálida do bandido. O resto da sala estava imerso na escuridão. Cinco policiais postavam-se ao redor de Hernani. À sua frente, protegido pela escurudão, o Delegado Pires. Mais ao longe, o escrivão preparava-se para trabalhar.


DELEGADO PIRES  -  Estamos ouvindo. Pode começar a sua confissão!

HERNANI  -  Conheci Dona Estela... em São Paulo. Foi por uma coincidência. Certo dia, numa roda de amigos... nos encontramos e vimos que já nos conhecíamos de vista. De fato... já nos havíamos visto em Coroado. Isto serviu como elo para a amizade que... logo se tornou mais íntima. Íntima demais. Eu lhe trazia constantes notícias das coisas que aconteciam com sua filha. Um dia ela me confessou que estava muito aflita. Tinha sido procurada por um homem. Pensou que ele estivesse morto. Era Lourenço D’Ávila. Eu já conhecia toda a história.

Mexeu-se um pouco, procurando posição mais confortável.

HERNANI  -  Disse então que agora o cara se chamava Ernesto Bianchinni. Queria fugir com ela. Bolei o meu plano. Mandei que enganasse Lourenço e descobrisse onde estava a pedra. E ele, diante das conversas da mulher, acabou por dizer. Tinha deixado o diamante com uma enfermeira, em Belo Horizonte. Quando ele desconfiou da minha existencia, era tarde. Tentou me pegar e... se matei Lourenço foi pra me defender... e a ela. Depois foi aquele problema. A gente não sabia o que fazer com o corpo. Ela estava de viagem marcada para Coroado, audiência marcada com o juiz para acertar o desquite... aí... veio aquela idéia... levar o corpo no carro... (depois de uma pequena pausa, prosseguiu)  Partimos... como dois desesperados... numa velocidade incrível, sem quase fazer paradas, até chegar a Coroado. Dois dias depois estávamos lá... e fomos diretamente no cemitério.

DELEGADO PIRES  -  E trocaram os corpos?

HERNANI  -  A idéia foi dela! Não minha!

DELEGADO PIRES  -  Como conseguiu?

HERNANI  -  O dinheiro faz tudo, você não sabia? Pagamos muito... mas muito mesmo... ao coveiro. Não foi difícil. Não preciso lembrar a cena, foi horrível! Me deixem em paz! (parecia acometido de um ataque de histeria)  Me deixem em paz! Já disse tudo!

Um dos policiais voltou à sala com um copo d’água e um comprimido amarelo. Deu-o ao rapaz. 


DELEGADO PIRES  -  (tornou a ordenar)  Continue.

HERNANI  -  O corpo do cara que tava lá, o coveiro se incumbiu de fazer desaparecer. Deu sumiço. Depois Estela foi a Belo Horizonte e não conseguiu nada da enfermeira...

A vez agora era de Iolanda. Hernani estremeceu ao ver a cara da mulher. A mesma luz incidiu sobre o rosto da enfermeira. Branco. Com olheiras arroxeadas.


IOLANDA  -  Todo mundo ia procurar o diamante comigo. Seu Bianchinni... ou melhor, seu Lourenço, disse a mais pessoas que a pedra estava comigo. Mas, conforme tinha ficado combinado... eu só entregaria a ele, ou com ordem dele. Cheguei a ficar doente com aquela situação. Até que surgiu... Hernani  (olhou o rosto do prisioneiro)  ele me cantou direitinho... me apaixonei por ele... e lhe entreguei a pedra, depois de saber que seu Lourenço estava morto. A gente possuía uma fortuna nas mãos, e o único empecilho era Dona Estela.

DELEGADO PIRES  -  E onde está o diamante?

HERNANI  -  Tirem aqui do bolso uma chave (disse, dirigindo-se ao policial)  É do cofre... no escritório do Parque Atlântico... onde eu era gerente. O diamante está lá.

O delegado mandou chamar João Coragem que, do lado de fora, aguardava a solução do caso. O depoimento representava muito para o seu futuro, pensava. João chegou à sala.


DELEGADO PIRES  -  Tenho uma boa notícia, João.  O seu diamante lhe será devolvido.

JOÃO  -  Graças a Deus!


FIM DO CAPÍTULO  113
Estela (Glauce Rocha)

 e no próximo capítulo...
*** Jerônimo, agora fugitivo da justiça, sonha ir com sua índia Potira para um lugar bem distante, onde ninguém os conheça.

***   Rodrigo consegue localizar o esconderijo de Jerônimo e Potira e vai até lá, oferecendo à índia a última oportunidade de se salvar!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 114 DE 
 ÚLTIMOS CAPÍTULOS! EMOÇÕES FINAIS!

E VEM AÍ...

 LIVREMENTE INSPIRADA NA OBRA DE DIAS GOMES,ESCRITA POR TONI FIGUEIRA
 
ESTRÉIA DIA 01 DE FEVEREIRO!


   

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - chamada RENATÃO

          EM FEVEREIRO


             VOCÊ VAI CONHECER...


RENATÃO (Jardel Filho)

  Renatão é o típico malandro, quarentão simpático e bon vivant  de Ipanema, capaz das maiores artimanhas para conquistar uma mulher. Tudo isso com a cumplicidade do mordomo grego Konstantópulus, que o ajuda em suas  armações! Amante de Susi, noiva do banqueiro Oliveira Ramos, incentiva-a a casar com o milionário, a fim de tirar "uma casquinha" da fortuna do banqueiro!
       
roteiro de Toni Figueira
inspirada na obra de Dias Gomes
estréia dia 01 de fevereiro! 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - chamada HELÔ

          EM FEVEREIRO...

          VOCÊ VAI CONHECER...

HELÔ  (Dina Sfat)

Heloísa Oliveira Ramos, a filha mimada e temperamental do banqueiro Oliveira Ramos, levava uma vida irresponsável e inconsequente, aprontando mil confusões com os amigos Ricardinho, Mario Maluco, Verinha e Nívea. Isso até uma terrível tragédia se abater sobre sua turma, o que mudaria suas vidas para sempre!   

Inspirada na Obra de Dias Gomes
                     estréia dia 01 de  fevereiro                              

domingo, 1 de janeiro de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - chamada NÍVEA

EM FEVEREIRO

VOCÊ VAI CONHECER...

NÍVEA LOUZADA (Renata Sorrah)
Jovem de 20 anos, típica moradora do bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, se apaixona pelo Padre Vítor, o que provocará uma enorme tragédia, que cairá como uma bomba entre seus amigos.

Filha do bancário Emiliano  e da cabelereira Marieta, é a melhor amiga de Helô, no início da trama namora Ricardinho , de quem se  separa ao conhecer o Padre Vítor.



Dia 01 de fevereiro

a estréia

Inspirada na obra de Dias Gomes,

escrita por Toni Figueira

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 111


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 111
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
DALVA
ALBERTO
BRANCA
RODRIGO
JERÔNIMO
JACINTO EULÁLIO
GENTIL PALHARES
HERNANI
PEDRO BARROS
LAPORT
SINHANA
PADRE BENTO

CENA 1  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Falcão entrou esbaforido na sala de espera da delegacia, como se tivesse acabado de assistir  ao pouso de um disco voador. Os soldados voltaram-se, apreensivos, ante a explosão de comntentamento do delegado:


DELEGADO FALCÃO  -  Gente! João foi condenado!

Minutos depois o condenado, com as mãos algemadas, escoltado por quatro guardas armados, dava entrada na delegacia. Parou, por alguns segundos, e encarou o inimigo.


JOÃO  -  Satisfeito, hem?

DELEGADO FALCÃO  -  Eu... eu sinto muito... mas você vai ser meu hóspede... durante 20 anos. É claro que eu não duro no pôsto até lá... Mas, em compensação, prometo que vou fazer as melhorias necessárias no xadrez... pra não dizerem que sou um delegado vingativo. (sem fitar diretamente o rosto do rapaz, Falcão desejou-lhe felicidades)  E... que Deus te ajude, João.

Os soldados conduziram-no para o interior da cela.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

E horas mais tarde tiveram de abrir caminho para dar passagem à cunhada de Pedro Barros. Dalva aproximou-se da cela, fria, sem um sorriso sequer para os homens de Falcão. O delegado mexeu-se.


DELEGADO FALCÃO  -  Hoje eu faço uma excessão. A senhora pode falar com ele daqui mesmo.

João levantou-se da cama dura e mal forrada.


JOÃO  -  Dona Dalva! O que foi?

DALVA  -  (falou quase sem fitar os olhos do garimpeiro)  Vim trazer a notícia do nascimento do seu filho.

Os olhos do rapaz encheram-se repentinamente de lágrimas e a emoção quase não o deixou falar. Estava engasgado.


JOÃO  -  Virge mãe! Meu filho... nasceu?

DALVA  -  Hoje, às 5 horas.

JOÃO  -  Deus do céu, que coisa mais boa, gente! É um menino?

DALVA  -  É. Um belo menino. Parabéns.

JOÃO  -  (agarrando as grades, emocionado, dirigiu-se aos guardas)  Brigado! Ei, gente! Eu já sou pai! Tá me ouvindo, ô Falcão do inferno! Pode se mordê de inveja! Eu sou pai! (abriu os braços num gesto largo)  Cês vão lá na venda e toma todo mundo um trago, por minha conta! Esqueço que ocês é tudo soldado e faço de ocês amigo! Eu quero, pelo menos por um momento, fazê as paz com todo mundo! Porque meu filho nasceu!

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Vestida de negro e com um lenço branco a enxugar o rosto, de instante em instante, Branca D’Ávila aguardava que os guardas trouxessem Alberto até a sala de visitas da delegacia. Viera a pedido do próprio filho.


ALBERTO  -  (após alguns minutos de conversa, indagou)  A senhora não se decide?

BRANCA  -  Minha resposta você já sabe. Não movo uma palha para salvar João.

ALBERTO  -  (espalmou a mão num gesto significativo)  Tá bem... pode deixá, mãe. A senhora vai me obrigar a dizer tudo. Confessa que matou meu pai?

Branca estremeceu ao lembrar-se do cadáver do marido, arroxeado, entumescido, em deterioração.


BRANCA  -  Não, eu não o matei, mas estou muito implicada neste caso. Terei que responder a processo como  cúmplice.

ALBERTO  -  Eu quero saber o que foi que aconteceu na verdade com meu pai. Como foi que ele apareceu morto, enterrado, aqui, em Coroado.

BRANCA  -  (apertou as mãos, com nervosismo)  Eu lhe dou um conselho. É melhor você não mexer nisso. Deixe as coisas como estão. Se disser uma palavra sobre isso, eu nunca mais quero olhar para você, como mãe.

Alberto revoltou-se. Era demais. Como se estivesse discutindo com uma pessoa estranha.


ALBERTO  -  A senhora nunca foi mãe! (virou-se para o guarda que permanecia vigilante, do lado externo da sala)  Quero voltar pra cela.

Enquanto se afastava, ouvia as recomendações da mãe, inteiramente fora de si.


BRANCA  -  Escute, Alberto! Não vá fazer nenhuma loucura! Ninguém acreditará em você! Ninguém, ouviu?

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  DELEGACIA -  CELA DE JOÃO E ALBERTO  -  INT.  -  DIA.

Nem mesmo as ameaças da mãe impediram Alberto de tomar a decisão. Ele desejava revelar a verdade. Doía-lhe ver a situação do amigo, preso, condenado a 20 anos, por um crime que não cometera. Por um crime que apenas a mãe poderia esclarecer e se negava a fazê-lo. Agora se achava frente a frente com o promotor. João Coragem ao seu lado.


ALBERTO  -  Doutor Rodrigo, João... eu tenho uma confissão a fazer.

JOÃO  -  (interveio, segurando o braço do amigo)  Desde onte ele tá com isso na cabeça.

ALBERTO  -  Tudo isso... não tem razão de ser. A condenação do João e tudo o mais... (um breve silencio cortou a conversa)  Porque... meu pai... morreu duas vezes.

Era como se uma bomba tivesse caído no meio da sala. Rodrigo levantou-se. João empalideceu.


JOÃO  -  Tá variando, Alberto?

RODRIGO  -  (apertando os ombros do adolescente)  O que você quer dizer com isso?

ALBERTO  -  O corpo que vimos há pouco... era do meu pai.. mas não era o mesmo que foi enterrado há mais de um ano atrás. Meu pai morreu... duas vezes, repito... e em nenhuma delas, foi João quem matou.

RODRIGO  -  (ainda incrédulo)  Por que você está afirmando tudo isso?

ALBERTO  -  Porque eu vi meu pai vivo, estão me entendendo? Eu vi ele vivo, como seu irmão, Duda, viu!

JOÃO  -  (contrariado)  Se tu viu... por que não me contou?

ALBERTO  -  Ponha-se no meu lugar.  (emocionado)  Você teria contado? Teria coragem de delatar seu próprio pai? Mesmo sabendo que ele era um bandido, um ladrão? E sua mãe... metida na história... você faria isso?

RODRIGO  -  (interveio, solene)  Espera lá! Isso que está me dizendo é muito grave... e não faz sentido. Se você viu seu pai... como é que ele apareceu enterrado... há pouco tempo, quando exumamos o corpo?

ALBERTO  -  (explicou, com franqueza)  Houve dois crimes... Da segunda vez era meu pai! Da primeira, não sei quem era! Minha mãe pode confirmar a história... ela e o sujeito que está casado com ela. Mas vai se negar, eu sei. Dr. Rodrigo... se quer fazer alguma coisa pelo João, chame aqui o delegado, eu repito tudo o que disse.

CORTA PARA:

CENA  5  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  INT.  -  DIA.

Nenhum dos homens deu atenção ao prefeito. Jerônimo ficara parado à porta da sala de reuniões, à espera de que lhe dissessem alguma coisa a respeito... Fôra ou não confirmado no cargo?


JERÔNIMO  -  Seu Anacleto...

O cidadão gordo, de olhos claros e cabelos crespos mal se deu ao trabalho de olhar furtivamente para o rapaz. O outro, Jacinto Eulálio, de barba negra e vestes amarrotadas, cedeu à pressão das mãos do ex-garimpeiro. Olhou-o com olhos de desafio.

JACINTO EULÁLIO  -  Sinto muito, meu caro...

Era tudo. Jerônimo baixou a cabeça, em atitude resignada. Lera bem claro nos gestos dos homens a decisão sobre o seu futuro.


CORTA PARA:

CENA 6  -  COROADO  -  PENSÃO DO GENTIL PALHARES  -   INT.  -  DIA.


A notícia correra célere pela cidade e na pensão do Gentil, o dono transmitia a novidade em altos brados:


GENTIL PALHARES  -  Consumou-se o ato! Está tudo acabado! (todos os presentes voltaram-se para o dono da casa)  Jerônimo foi afastado! Agora mesmo! Decidiram!

HERNANI  -  (fingindo tristeza)  Pobre rapaz! Até que não merecia isso... Bem , eu também vou dar o fora daqui, mas volto... Ah, ia me esquecendo! (dirigiu-se ao taberneiro)  Não deixaram uma encomenda pra mim, a mando do coronel?

GENTIL PALHARES  -  Ah, sim! (confirmou Gentil, abaixando-se para retirar da gaveta um pequeno envelope)  Um dos capangas dele, veio entregar...

Hernani abriu o envelope e viu o cheque azulado, com a assinatura de Pedro Barros. Abriu e leu o conteúdo do bilhete. Era como se Pedro Barros estivesse falando:


PEDRO BARROS  -  (off)  “Taí, seu sujeito à toa, o cheque com a quantia que me exigiu. Fica sabendo que é a primeira e última vez que faço isso. É pra você desaparecer da cidade. Dá o sumiço, antes que eu resolva te mandá pro inferno. É o que vai acontecê se voltá aqui, de novo”.

Hernani gargalhou, rasgou em pedacinhos o bilhete e beijou alucinadamente o pequeno papel retangular azul. Gentil e os hóspedes olharam assustados a estranha atitude do homem da cidade.

CORTA PARA:

CENA  7  -  ARREDORES DE COROADO  -  CHOUPANA  -  INT.  -  NOITE.


A luz difusa do lampião jogava sombras trêmulas sobre a parede de barro da choupana. Na porta, Braz Canoeiro vigiava a escuridão da mata, silenciosa, sinistra. Sentada diante da mesa, rodeada pelo filho e pelos amigos de João Coragem, Branca procurava fugir às perguntas de Rodrigo.


BRANCA  -  Eu não sei o que vocês querem que eu diga! Não entendo a história que acabam de me contar, juro!

ALBERTO  -  (interveio, insistente)  Mãe... mãe... diga a verdade... por mim.

BRANCA  -  Meu filho está louco!  (gritou, buscando proteção nos olhos de Laport)  Ninguém deve dar atenção às coisas que ele diz!

RODRIGO  -  Se a senhora acobertou a farsa do Lourenço D’Ávila... se for verdade o que Alberto afirma... a senhora é cúmplice...

BRANCA  -  Eu não tive culpa! (explodiu, deixando-se vencer pelo medo)  Ele me obrigou a fazer tudo aquilo! Eu não queria, mas ele me forçou!

Como se obedecendo a um comando único, os homens se entreolharam, significativamente.

LAPORT  -  (correu em defesa da mulher)  Branca... Branca, veja bem o que está fazendo!

A mulher deixou pender a cabeça, cansada.


RODRIGO  -  (a voz firme e impiedosa)  A senhora confessa, então... que as afirmações de seu filho são verdadeiras...

BRANCA  -  Até certo ponto...

ALBERTO  -  Mãe... fala tudo... conta o que sabe e a senhora tá me ajudando, também.

BRANCA  -  (ergueu a cabeça, por onde escorriam grossas gôtas de suor)  Não sei se estou te ajudando. Só sei que não aguento mais carregar o peso desta maldita farsa. Eu estou arrasada. Aconteça o que acontecer... eu quero me livrar disso. (estendeu as mãos para Laport, penalizado com a situação da mulher)  Não me leve a mal... nós nada devemos... e agimos como se tivéssemos assassinado meu marido.

LAPORT  -  Faça o que quiser.  Eu confio em você.

BRANCA  -  (voltando-se e encarando com ar de desafio o promotor)  Estou pronta a responder ao que o senhor quiser!

Sinhana e o Padre Bento acabavam de chegar. A voz de Branca quebrava o silencio do ambiente e da própria natureza.


BRANCA  -   ... é verdade... Lourenço armou toda aquela trama. Ele mesmo matou o amigo... era um tal de Virgílio... que tomou parte no roubo do diamante. (à medida que a mulher revelava os acontecimentos, João Coragem rememorava sua atitude firme, antes e depois, no júri, acusando-o de assassino, de responsável pela morte do marido. Era fria e cruel, pensava. Branca continuava, mais relaxada)  Ele sozinho preparou tudo... o cadáver no rio... trocou as roupas do homem... desfigurou o rosto... tinham a mesma compleição física, não foi difícil o engano... Ele mandou que eu confirmasse tudo... a acusação contra João... tudo. Eu fiz as coisas que ele mandou.

ALBERTO  -  Por que a senhora fez isso, mamãe?

BRANCA  -  Ele tinha me abandonado por outra mulher. Eu era doida por ele. Quando voltou... fez muitas promessas e eu acreditei em tudo o que ele dizia. Fiquei cega... surda... e louca. Só sei que obedecia às ordens dele.  Ele passou a ser Ernesto Bianchinni... a situação começou a se complicar... eu queria por um paradeiro naquilo... não conseguia. Foi quando tentei acabar com ele... aconteceu o desastre. Depois a ajuda daquela enfermeira... e do Gastão... tiraram ele do hospital... a enfermeira continuou cuidando dele. Uma tarde, quando cheguei no quarto, já numa casa que tínhamos alugado, num subúrbio de Belo Horizonte, ele não estava lá. Só encontrei o rôlo de gaze. Laport é quem sabe o resto...

Os rostos voltarem-se para o estrangeiro, que enrubesceu mais do que de costume.


LAPORT  -  Encontrei Lourenço em São Paulo... estava acompanhado de uma mulher bonita. Parecia apaixonado. Quando eu e Gastão lhe perguntamos sobre o diamante, ele disse que havia deixado com uma enfermeira, Iolanda, em Belo Horizonte.

BRANCA  -  A enfermeira foi procurada por eles e negou que tivesse ficado com a pedra.

RODRIGO  -  E esse Gastão, por onde anda?

LAPORT  -  Viajou.  Depois, tornei a ver Bianchinni... ou Lourenço, com a mesma mulher... certa noite.

RODRIGO  -  E essa mulher, quem é?

Branca fez uma pausa, como se se concentrasse para revelar um segredo mortal. Fazia suspense.


BRANCA  -  Era a mãe... de Lara... A amante de Lourenço... Dona Estela!


FIM DO CAPÍTULO 111
e no próximo capítulo...

*** Rodrigo leva Branca á presença do Delegado Falcão, para contar-lhe toda a verdade sobre a morte de Lourenço.

***  Lídia, cega de ciúmes, aponta uma arma para Jerônimo. Os dois lutam e ouve-se um tiro: Lídia é atingida, deixando o ex-prefeito desesperado!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 112 DE 
ÚLTIMOS CAPÍTULOS! EMOÇÕES FINAIS! 

e vem aí... 
estréia dia 01 de fevereiro