sábado, 24 de março de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 24

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 24

Participam deste capítulo:

RENATÃO     (Jardel Filho)  
                                      ZÉ GREGÓRIO (Adalberto SIlva)                                          
                                       JOANINHA  (Susana Moraes)                                             
                                        D. DIDI  (Gracinda Freire)                                              
                              KONSTANTÓPULUS  (Lajar Muzuris)                               
SAMUCA (Paulo José)
MISS JULY (Lídia Mattos)
OLIVEIRA RAMOS (Mario lago)
VÍTOR (Francisco Cuoco)
EMILIANO (Paulo Padilha)
MARIETA (Wanda Lacerda)
SUSI (Maria Claúdia)
MARIA LÚCIA (Aizita Nascimento)
ALBERTO
TIOS DE SAMUCA
  
CENA 1  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE

APÓS TROCAR ALGUMAS PALAVRAS COM RENATÃO, ZÉ GREGÓRIO E ALBERTO SEGURARAM AS ALÇAS DO CAIXÃO PARA LEVÁ-LO PARA A CAMIONETA. FOI NESSE MOMENTO QUE A ENTRADA NO RECINTO DE UM CASAL DE MEIA IDADE CHAMOU A ATENÇÃO DO PLAYBOY E DE TODOS OS PRESENTES NO VELÓRIO, TOMADOS DE SURPRESA. MARIA LÚCIA APROXIMOU-SE E, APÓS TROCAR ALGUMAS PALAVRAS COM OS RECÉM-CHEGADOS, DIRIGIU-SE A RENATÃO.

MARIA LÚCIA  -  Seu Renatão, eles são tios do Samuca. Souberam da morte do sobrinho e vieram providenciar o enterro.

O CASAL APROXIMOU-SE DO CAIXÃO. A MULHER, VESTIDA DE PRETO, COLOCOU UM BUQUÊ DE FLORES SOBRE O “DEFUNTO”, ENQUANTO ENXUGAVA UMA LÁGRIMA COM UM LENÇO.

RENATÃO  -  (aproximando-se)  Os senhores me desculpem, mas já estamos levando o corpo para ser enterrado em Itapetininga, no mausoléu da família, a pedido de uma tia que mora lá.

O HOMEM OLHOU À SUA VOLTA E BALANÇOU A CABEÇA, COMO SE JÁ CONHECESSE A HISTÓRIA.

TIO DE CECÉU  -  Mausoléu da família? Que família? A família dele somos nós, que somos seus tios. E não tem mausoléu nenhum! Tia de Itapetininga? Ah, é a Biloca. Tá caduca!

RENATÃO COMEÇOU A FICAR PREOCUPADO. APROXIMOU-SE DO CAIXÃO E FICOU NOVAMENTE SIMULANDO REZAR, A CABEÇA SOBRE AS MÃOS E ESTAS AGARRANDO NAS BORDAS DO CAIXÃO.

RENATÃO  -  Rapaz, fica firme aí dentro que o negócio engrossou! (falou por entre dentes) Seus parentes querem enterrar você aqui mesmo! Vou sair pra tomar umas providências. Mas volto. Não saia daí, ouviu?

CENA 2  -  PENSÃO PRIMAVERA   -  EXT.  -  NOITE.

DUAS HORAS MAIS TARDE, RENATÃO ESTACIONOU A CAMIONETA EM FRENTE À PENSÃO, SALTOU E  ENTROU NO PRÉDIO, APRESSADO. IA SUBINDO AS ESCADAS, MAS RETROCEDEU , SURPRESO. O CAIXÃO ESTAVA SENDO TRANSPORTADO PARA UM CARRO FUNERÁRIO.

RENATÃO  -  (estremecendo, correu até Zé Gregório, atônito) O que é isso, Zé... pra onde tão levando o caixão?

Zé GREGÓRIO  -  O doutor Oliveira Ramos, patrão do Samuca, foi muito caridoso, seu Renatão. Chamou a funerária e tomou todas as providencias para a remoção do corpo para a capela do São João Batista.

RENATÃO  -  (aflito) Mas que é isso, já vão levando assim!  (não se conteve e começou a gritar) Esperem! Esperem! Quero ver o rosto do meu amigo pela última vez! Por favor, abram o caixão! Alguns segundos, só...

OS HOMENS PARARAM. ARRIARAM O CAIXÃO NA CALÇADA E ABRIRAM A TAMPA. NESSE EXATO MOMENTO, SAMUCA EMPURROU A TAMPA PARA LONGE, LEVANTOU-SE E SAIU CORRENDO NO MEIO DA NOITE. FOI UM DESESPÊRO GERAL. DONA DIDI, MARIA LÚCIA E JOANINHA GRITARAM, APAVORADAS. OS CARREGADORES VOARAM PARA O RABECÃO.

JOANINHA  -  Meu Deus! Virgem Santíssima! Ressuscitou! (soltou um grito agudo e caiu desmaiada nos braços de Zé Gregório).

DONA DIDI  -  Mas o que aconteceu, meu Deus? Ele tava vivo... e iam enterrá-lo vivo!

MARIA LÚCIA  -  Que horror! Valha-me Deus!

ZÉ GREGÓRIO  -  Caramba! Nunca vi um morto correr tanto! Olha lá! Ele sumiu!

CORTA PARA:

CENA 3  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


INSTANTES MAIS TARDE, PASSADO O PÂNICO, OLIVEIRA RAMOS, SUSI, RENATÃO, DONA DIDI, ZÉ GREGÓRIO, MARIA LÚCIA E ALBERTO TENTAVAM ENCONTRAR UMA RESPOSTA PARA O ACONTECIDO.

OLIVEIRA RAMOS  -  É síncope cardíaca. É a única explicação. Ainda bem, Renatão, que você teve a feliz idéia de pedir pra abrirem o caixão.

SUSI OLHOU DESCONFIADA PARA RENATÃO.

SUSI  -  (aproximou-se, discreta e sussurrou no ouvido do playboy) Não sei, não... Isso não tá me cheirando bem... Aí tem coisa! 


RENATÃO  -  (sussurrou, entredentes) Fica quieta, ou então o cheiro vai ficar muito pior!

CORTA PARA:

CENA 4  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

RENATÃO ENTROU EM SEU APARTAMENTO E DEIXOU-SE CAIR NO DIVÃ, EXAUSTO, SOB O OLHAR CURIOSO DE KONSTANTÓPULUS.

KONSTANTÓPULUS  -  E então, correu tudo bem? Conforme planejaram?

RENATÃO  -  Konstan, eu preciso de uma dose dupla de uísque, pra dar uma relaxada depois desse estresse todo...

PRONTAMENTE, O MORDOMO PREPAROU O UÍSQUE E SERVIU O PATRÃO.

RENATÃO  -  Sabe, Konstan, tenho medo que esse negócio dê bode. Os jornais, com certeza, vão noticiar amanhã, e devem querer saber qual foi o médico que deu o atestado de óbito. Aí, vão ver que não tem atestado nenhum. Como é que vamos sair dessa?

“ALELUIA!”  “”ALELUIA!” TOCARAM A CAMPAINHA. O MORDOMO FOI VER QUEM ERA.

KONSTANTÓPULUS  -  Caramba, seu Renatão, é o falecido...
 
SAMUCA ENTROU, AINDA ASSUSTADO.

SAMUCA  -  Que  confusão maluca você arrumou pra mim, meu velho! Por pouco fui enterrado vivo! Meu coração ainda tá disparado!

RENATÃO  -  Senta aí, Samuca! Tivemos muita sorte. Por pouco não fomos descobertos. Mas o importante é que você se livrou do Mãozinha de Veludo. Não era essa a nossa intenção? (e gozando o amigo, divertido) Velho, na carreira que você deu eu pensei que fôsse parar em São Paulo!

SAMUCA  -  (cara de pavor) Nem me lembra disso, cara! Ainda me vejo dentro daquele caixão, cercado de flores e louco de vontade de espirrar... e pior foi quando fecharam a tampa em cima de mim! Deu um desespêro, vontade de gritar e pular dali...

RENATÃO E KONSTANTÓPULUS NÃO SE AGUENTAVAM DIANTE DA SITUAÇÃO TRAGICÔMICA E SEGURAVAM-SE PARA NÃO GARGALHAR.

RENATÃO  -  (ficou sério, caindo em si)  Sabe, meu velho, vão descobrir a farsa. O jeito é sumirmos os dois. Eu e você sumiremos uns dias, tá?

SAMUCA  -  (assentiu, resignado) Fazer o que, né...

CORTA PARA:

CENA 5  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA DE JANTAR  -  INT.  -  NOITE.

MISS JULY  ACABARA DE SERVIR O JANTAR. OLIVEIRA RAMOS ESTRANHOU AO VER APENAS UM PRATO À MESA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Helô não vai jantar?

MISS JULY  -  (sacudindo a cabeça, ar de preocupação) Não. E também não almoçou.

OLIVEIRA RAMOS  -  Outra crise... isso me deixa arrasado... Miss July, ela lhe fez alguma confidência? Disse por que está tão deprimida?

MISS JULY  -  Doutor, ela se abriu comigo... (indecisa) eu não sei se devo...

OLIVEIRA RAMOS  -  Se sabe de alguma coisa, por favor, não me esconda nada, Miss July. Tanto quanto você, eu só quero ajudar minha filha.

MISS JULY  -  Eu receio... que ela esteja apaixonada, Dr. Oliveira. E está sofrendo por esse motivo.

OLIVEIRA RAMOS  -  Apaixonada? Ora essa! Tem certeza? Mas... por quem?

OLIVEIRA RAMOS  -  Por um padre! Aquele que ia casar com a pobre da Nívea...  O nome dele é padre Vítor.

OLIVEIRA RAMOS  -  (enrugou a testa, surprêso) Que loucura é essa... ! Tem certeza disso, Miss July?

MISS JULY  -  (confirmou com a cabeça) Só estou lhe contando porque ela precisa de ajuda, doutor! Já estou ficando preocupada. Ela pode até adoecer, se insistir em não comer nada! Tá trancada no quarto, desde ontem!

OLIVEIRA RAMOS LEVANTOU-SE E CAMINHOU EM CÍRCULOS, PREOCUPADO.

OLIVEIRA RAMOS  -  Meu Deus... eu tenho que fazer alguma coisa... mas o quê?

MISS JULY  -  (sugeriu)  Por que não conversa com esse rapaz? Quem sabe ele pode ajudar...

OLIVEIRA RAMOS  -  Isso! É isso mesmo que eu vou fazer! Boa idéia, Miss July!

CENA 6  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  TARDE.

OLIVEIRA RAMOS DOBROU CUIDADOSAMENTE O SEU JORNAL DA TARDE E O COLOCOU SOBRE A MESA.

MISS JULY  -  Com licença, doutor.  O padre Vítor acabou de chegar.

OLIVEIRA RAMOS  - Ótimo, Miss July. Mande-o entrar.

VÍTOR ENTROU. OLIVEIRA RAMOS SORRIU, CORDIAL.

VÍTOR  -  Boa tarde, Doutor Oliveira. Estou aqui atendendo seu chamado...

OLIVEIRA RAMOS  -  Agradeço por ter vindo. Eu precisava conversar com você, meu rapaz. É sobre seu futuro.

VITOR  -  Desculpe, mas eu não sei por que o senhor se preocupa com meu futuro.

OLIVEIRA RAMOS  -  (sorriu levemente) A razão é óbvia. Você e Helô...

A SITUAÇÃO ERA CONSTRANGEDORA PARA AMBOS.

VÍTOR  -  Óbvia... Doutor Oliveira Ramos, precisamos ser claros. Se o senhor imagina que eu e sua filha temos qualquer tipo de ligação amorosa, está inteiramente equivocado. Para mim, ela é apenas uma moça que foi amiga de minha noiva. E como fomos ambos duramente atingidos pela mesma tragédia, isso estabeleceu um elo entre nós.

OLIVEIRA RAMOS  -  Nada mais?

VÍTOR  -  Nada mais. Sinto ter que falar assim, mas é bom que as coisas fiquem claras.

OLIVEIRA RAMOS  -  (secamente)  Pois bem, já que estamos falando com essa franqueza, eu lhe pergunto: e quanto a ela, também não está presa a você por nenhum outro sentimento além desse?

VÍTOR  -  (embaraçado) Bem...  eu não sei o que dizer...

HOUVE UMA PAUSA. A SEGUIR, APROVEITANDO-SE DA INDECISÃO DO RAPAZ, O BANQUEIRO PUXOU-O PARA UM CANTO DA SALA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Eu tenho algumas revelações a lhe fazer... Helô é motivo de grande preocupação para mim. Minha filha já esteve internada num sanatório. A morte de Nívea foi um choque muito grande para ela. E agora, se sofresse mais outra desilusão... Isto é, se você lhe disser não, vai praticar uma crueldade maior do que aquela que foi praticada contra Nívea...

VÍTOR  -  (profundamente abalado)  O senhor tem mais alguma coisa a me dizer?

OLIVEIRA RAMOS  -  Não...já lhe disse tudo. Só lhe peço que reflita um pouco sobre as minhas palavras. Nada mais.

VÍTOR  -  Se era só isso, não tenho mais nada a fazer aqui. Com licença!

VÍTOR RETIROU-SE, DEIXANDO O BANQUEIRO IMERSO EM SEUS PENSAMENTOS.

CORTA PARA:

CENA  7  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

EMILIANO E MARIETA FITARAM, CURIOSOS, O RAPAZ QUE ACABARA DE ENTRAR.

MARIETA  -  Chegou na hora certa, Vítor. Acabei de servir o jantar.

EMILIANO  -  Foi tudo bem na casa do Dr. Oliveira?

VÍTOR  -  (ainda abalado, expressão sombria)  Eu não vou jantar. Desculpem-me. Se não se importam, eu vou para o quarto...

MARIETA  -  (insistiu) Vítor! Vai dormir sem comer nada? Olha, eu fiz estrogonofe de frango; sei que você gosta...

VÍTOR  -  (parou à porta do quarto e sorriu, com ar cansado) Fico muito grato pela gentileza, D. Marieta, mas agora, só preciso de um banho e descansar um pouco. Boa noite.

VÍTOR ENTROU NO QUARTO E FECHOU A PORTA ATRÁS DE SI. MARIETA FITOU O MARIDO, INDIGNADA.

MARIETA  -  Eu não lhe disse, Emiliano? Essa dona vai dar em cima dele até acabar com ele, como fez com Nívea!

EMILIANO  -  (recriminou) Para de falar assim da Helô, coitada! Ela é uma boa moça...

MARIETA  -  (cortou) Boa moça, pois sim! Vocês, homens, são uns bobos mesmo! Tão fáceis de ser enganados... (T) Mas, nada como um dia atrás do outro pra mostrar que eu tou com a razão! (e bateu com a mão espalmada na mesa) Vocês vão ver!


FIM DO CAPÍTULO  24

e no próximo capítulo...

*** Ricardinho agride Jurema com ciúmes de Vítor, e este dá um tremendo soco na cara do cafajeste, indignado com a covardia!

*** Em pleno calçadão de Ipanema, Ricardinho e Mario Maluco se atracam aos socos e pontapés e são surpreendidos pela polícia!

*** Dom Eliseu chega ao Rio de Janeiro trazendo ao padre Vítor um importante comunicado a Igreja Católica!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 25 DE












quarta-feira, 21 de março de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 23

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
 http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 23

Participam deste capítulo:

VÍTOR (Francisco Cuoco)
OLIVEIRA RAMOS (Mario Lago)
JOANINHA (Susana Moraes)
SUSI (Maria Claudia)
HELÔ (Dina Sfat)
RENATÃO (Jardel Filho)
SAMUCA (Paulo José)
MISS JULY (Lídia Mattos)
MARIO MALUCO (Osmar Prado)
RICARDINHO (Carlos Vereza)
VERINHA (Djenane Machado)
BABI (Sandra Brea)
DONA DIDI (Gracinda Freire)
MÃOZINHA DE VELUDO (Antero de Oliveira)
MARIA LÚCIA (Aizita Nascimento)
ZÉ GREGÓRIO (Adalberto Silva)


CENA 1  -  BOTAFOGO – MIRANTE DONA MARTA – EXT.  -  FIM DE TARDE.

O  SOL ESTAVA SE ESCONDENDO POR TRÁS DO CRISTO REDENTOR E LÁ EMBAIXO, NA ENSEADA DE BOTAFOGO, SURGIAM AS PRIMEIRAS SOMBRAS. VÍTOR E HELÔ ESTAVAM NO MIRANTE DONA MARTA, DE ONDE SE DESCORTINAVA QUASE A CIDADE TODA... LEBLON, IPANEMA, A LAGOA. A CONVERSA, COMO SEMPRE, GIRAVA EM TÔRNO DE NÍVEA.

VÍTOR  -  Perdoe-me, Helô, mas o seu procedimento para comigo até hoje... Ás vezes acho que compreendeu tudo o que aconteceu, mas outras vezes, penso que me odeia. Você me acha realmente culpado?

HELÔ  -  Eu tenho que te confessar uma coisa, Vítor.

VÍTOR  -  Fale.

HELÔ  -  (olhando-o firme nos olhos)  Não sei se a gente pode amar uma pessoa que deseja destruir. Essa palavra amor soa meio cafona hoje em dia. Mas eu amo você desse modo.

A SÚBITA DECLARAÇÃO DEIXOU VÍTOR MUITO PERTURBADO.

VÍTOR  -  Eu acho melhor nós irmos embora.

HELÔ  -  Pois se você for embora, eu me atiro daqui!

HELÔ CAMINHOU PARA A BEIRA DO PRECIPÍCIO.

VÍTOR  -  Não é honesto o que você está fazendo. Saia daí... você pode escorregar. Vamos... por favor!
 
HELÔ  -  Só se você me prometer uma coisa...

VÍTOR  -  O que?

HELÔ  -  Um beijo. Ou você promete... ou eu pulo daqui!

OS DOIS SE OLHARAM. VÍTOR DEU UM PASSO NA SUA DIREÇÃO E PUXOU-A VIOLENTAMENTE PARA SI. HELÔ SE ABRAÇOU COM ELE, E NUM GESTO IMPULSIVO, BEIJOU-O ARDENTEMENTE. VÍTOR CONSEGUIU AFASTÁ-LA. ESTAVA TRANSTORNADO.

HELÔ  -  Oh, enfim!... Agora acredito que você seja humano!

VÍTOR  -  (desolado)  Você não devia... não devia ter feito isso!

HELÔ  -  Você nunca beijou Nívea?

VÍTOR  -  Não... nunca! Ela sempre compreendeu que eu não podia... até anular os votos. E você me fez pecar!

VÍTOR OLHOU-A COM HORROR. NUM IMPULSO, VOLTOU-SE E CORREU PARA O CARRO.

CORTA PARA:

CENA  2  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

RENATÃO ACABARA DE VOLTAR DA PRAIA, AINDA DE SUNGA VERMELHA E ÓCULOS ESCUROS, QUANDO DEPAROU COM UM SAMUCA ASSUSTADO AGUARDANDO-O NA SALA.

RENATÃO  -  Que cara é essa, velho?

SAMUCA  -  (levantou-se, foi até a janela e olhou para a rua, escondido atrás da cortina)  Seu amigo tá numa sinuca de bico, Renatão. Ou eu assalto um banco amanhã, ou depois de amanhã estou desmoralizado. Entro pelo cano.

RENATÃO  -  (dirigiu-se ao mordomo)  Konstan, prepara um uísque pra mim e pro Samuca! (e para o amigo)  Explica isso direito. Me dá detalhes. Talvez possa ajudar, quem sabe...
SAMUCA  -  Tá. Eu tava trabalhando, lá no Banco Oliveira Ramos... quando fui descoberto pelo “Mãozinha de Veludo”, um camarada que eu conheci... bem, no tempo em que ainda não era uma das “reservas morais da nação”... naquela época participei com ele de alguns golpes... coisa pequena, sem importância, entende?

RENATÃO  -  Entendi, continue...

SAMUCA  -  Bem... ele queria dar um golpe no banco e que eu participasse... Pra escapar, inventei que ia dar um golpe sozinho e que depois dividia com ele. Marquei o golpe pra amanhã.

RENATÃO  -  E agora?

SAMUCA  -  Agora, pergunto eu. Amanhã, sabendo que não dei golpe nenhum, ele pode me obrigar a ser cúmplice do golpe que ele e seu bando vão dar. Sabe, Renatão, tenho vontade de morrer!

RENATÃO PENSOU UM POUCO. SÚBITO, TEVE A IDÉIA.

RENATÃO  -  Taí, velho, você podia morrer mesmo! A gente fazia o seu enterro e depois de uns tempos você aparecia! (entusiasmou-se ainda mais com a idéia)  Claro que a gente dava um jeito de você sair antes do caixão! Mas o importante é que, amanhã, você vai estar dentro de um, cercado de rosas!

SAMUCA FEZ UMA CARA COMO SE A BEBIDA QUE ESTAVA TOMANDO CUSTASSE A PASSAR NA GARGANTA.

SAMUCA  -  Poxa... não tem uma idéia melhor, não? Não curto esse negócio de caixão, cadáver, enterro, cemitério...

RENATÃO  -  Essa idéia é ótima, velho! Esquece esse medo e vamos agir! É o único jeito de se livrar do Mãozinha de Veludo. Fica tranquilo, eu vou te ajudar.

SAMUCA  -  Não sei, não. Tou achando essa idéia muito maluca!...

CORTA PARA:

CENA 3  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  TARDE.

HELÔ NÃO SAIU DE CASA NO DIA SEGUINTE. TELEFONOU DIVERSAS VEZES PARA A CASA DE EMILIANO, PORÉM VÍTOR NUNCA ESTAVA. JÁ ERA BASTANTE TARDE QUANDO, FINALMENTE, CONSEGUIU O QUE DESEJAVA.

HELÔ  -  (ao celular)  Vítor? São três horas da tarde. Estou tentando falar com você desde cedo. Por que não atendeu o celular?

O RAPAZ NÃO RESPONDEU. ESTAVA EM CONFLITO. DO OUTRO LADO, A VOZ DA MOÇA PROCURAVA CONTROLAR-SE.
MAS SÚBITO, EXPLODIU:

HELÔ  -  Vítor, por que não responde? Tem medo? Medo de mim? Você não é um homem, você é um covarde! Covarde!

A MOÇA SENTIU QUE ELE HAVIA DESLIGADO. DESLIGOU TAMBÉM, CHOCADÍSSIMA. A NEUROSE COMO QUE AFLOROU-LHE À TONA. SEUS OLHOS ADQUIRIRAM UM BRILHO ESTRANHO. ELA SENTIU A NECESSIDADE PREMENTE DE LIBERTAR SUA AGRESSIVIDADE REPRIMIDA. OLHOU EM VOLTA, COMO SE PROCURASSE ALGUÉM A QUEM AGREDIR. LÁ ESTAVA SUSI, DEITADA NUM SOFÁ, LENDO UMA REVISTA. AVANÇOU EM SUA DIREÇÃO, O OLHAR DESVAIRADO.

HELÔ  -  Sabe, eu odeio você! Por que não vai embora, sua vigarista duma figa! Esta casa é da minha mãe, está ouvindo? Ela vai voltar um dia e você vai ter que sair!

MISS JULY ENTROU NA SALA E AINDA CHEGOU A OUVIR AS ÚLTIMAS PALAVRAS. SUSI CORREU PARA ELA, RILHANDO OS DENTES.

SUSI  -  Miss July! Obrigada por chegar... Você me salvou de ser assassinada por essa fera!

CORTA PARA:
 
CENA  4  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  TARDE.

QUEM PRIMEIRO SOUBE DA TRÁGICA NOTÍCIA FOI JOANINHA, NAMORADA DE SAMUCA.

JOANINHA  -  Acidente? Mas como?

RENATÃO  -  (ao telefone)  É preciso calma, Joaninha. Você sabe, Samuca era meu melhor amigo...

JOANINHA  -  Era? (soltou um grito como se tivesse sido ferida e caiu desmaiada).

RENATÃO DESLIGOU. SAMUCA FITAVA-O, APREENSIVO, TENSO.

SAMUCA  -  Ela tá bem? Qual foi a reação dela?

RENATÃO  -  Desmaiou. Agora é a vez do Oliveira Ramos. Ligando.

CONCENTRADO NO PAPEL DE AMIGO INCONSOLÁVEL DO MORTO, RENATÃO DISCOU OS NÚMEROS DO BANQUEIRO.

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  NOITE.

OLIVEIRA RAMOS  -  (sem acreditar no que ouvia)  Incrível, meu Deus, um rapaz tão forte e tão moço!... Foi colapso? Nossa Senhora, isso me deixa bastante preocupado com Helô! Vai seu um choque pra ela...

RENATÃO  -  Pois é. O velório vai ser no salão da Pensão Primavera, da D. Didi. Se quiserem aparecer lá, pra dar um último adeus... Coitado do Samuca. Pra morrer, basta estar vivo...

CORTA PARA:

CENA 6  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  SALÃO  -  INT.  -  DIA. 

A SALA DA PENSÃO DE DONA DIDI FOI TRANSFORMADA EM CÂMARA MORTUÁRIA. JOANINHA ESTAVA SENTADA NO SOFÁ, SENDO CONSOLADA POR MARIA LÚCIA. ALBERTO, COMPANHEIRO DE QUARTO DO MORTO E ZÉ GREGÓRIO ESTAVAM DE PÉ, EM ATITUDE APROPRIADA À SITUAÇÃO, QUANDO O TELEFONE TOCOU.

MARIA LÚCIA  -  Alô? Sim. Pensão Primavera. Quem quer falar com ele? Mãozinha de Veludo?

RENATÃO OUVIU E CORREU PARA JUNTO DO TELEFONE.

RENATÃO  -  Pode deixar, minha filha, eu atendo! (e com voz fúnebre)  Alô, o senhor deseja falar com o Samuca? Olha, infelizmente, ele não vai poder atender, meu amigo. O nosso Samuca faleceu hoje. O corpo está sendo velado aqui mesmo, na pensão da Dona Didi. Aliás, o corpo vai ser levado, ainda hoje, para ser enterrado em Itapetininga, a pedido de uma tia dele, que mora lá.

RENATÃO DESLIGOU E APROXIMOU-SE DO CAIXÃO. SAMUCA ABRIU UM ÔLHO.

RENATÃO  -  (num sussurro) Como vai a coisa? Muito mal? As flores dão vontade de espirrar? Aguenta firme, que o Mãozinha de Veludo deve vir. É bom que ele veja você.

RENATÃO PERCEBEU QUE JOANINHA ESTAVA OLHANDO PARA ELE E FINGIU REZAR, SUSSURRANDO PALAVRAS INCOMPREENSÍVEIS. FOI SALVO PELA ENTRADA PROVIDENCIAL DE MARIO MALUCO, VERINHA, RICARDINHO, BABI E OUTROS COLEGAS DA TURMA.

MARIO MALUCO  -  (achegou-se ao caixão)  Coisa besta, hem? Ele nem parece que está morto! Coitado, era gente boa, apesar de ter roubado minha moto uma vez...
DONA DIDI APARECEU NO ALTO DA ESCADA.

DONA DIDI  -  (dirigiu-se a Zé Gregório, o marido)  De onde veio essa turma de gente esquisita? Que Deus me perdoe, mas seu Samuca tinha umas amizades...

DAÍ A INSTANTES CHEGARAM OLIVEIRA RAMOS E SUSI. O BANQUEIRO CUMPRIMENTOU RENATÃO, COM AR DE PESAR.
        
OLIVEIRA RAMOS  -  Não consigo acreditar que este rapaz tenha morrido. Quem diria, hem, Renatão! Um rapaz tão bom, tão ajuizado!

O HOMEM MAL ENCARADO, FISIONOMIA DURA E DESCONFIADA, BARBA POR FAZER, ENTROU, ATRAINDO A ATENÇÃO DE RENATÃO.

RENATÃO  -  (aproximando-se) Boa tarde... era amigo do Samuca?

SEM RESPONDER, O HOMEM ACERCOU-SE DO CAIXÃO, HESITANTE. OLHOU DEMORADAMENTE O CORPO IMÓVEL, CERCADO DE FLORES.

RENATÃO  -  (quase sussurrando ao ouvido do sujeito)  Coitado do Samuca... Parece que tinha uma doença contagiosa, e nem sabia... morreu de repente...

MÃOZINHA DE VELUDO ARREGALOU OS OLHOS, ASSUSTADO.

MÃOZINHA DE VELUDO  -  Con... con.. tagiosa?

RENATÃO  -  Fale baixo, porque muita gente que está aqui não sabe. Se soubessem, nem teriam vindo. Esta sala estaria vazia....  Ia ser um velório muito triste...

INCONTINENTI, O HOMEM DEU DOIS PASSOS PARA TRÁS, COM A MÃO COBRINDO O NARIZ.

MÃOZINHA DE VELUDO  -  Eu... só queria dar um último adeus pro Samuca. Vou indo... até!

MÃOZINHA DE VELUDO DIRIGIU-SE PARA A PORTA, A PASSOS RÁPIDOS. RENATÃO SEGUIU-O.

RENATÃO  -  Espera, meu amigo... qual seu nome?... O senhor, quem é?

MÃOZINHA  -  Mãozinha de Veludo... é assim que o pessoal me conhece...

RENATÃO  -  Sabe o que é,seu Mãozinha... é que tá faltando uma pessoa pra segurar uma alça do caixão. O pessoal que tá aqui tá com medo de pegar a doença. Tenho certeza de que o senhor, como amigo dele, não vai se negar. Aposto que nem vai pensar em  doença num momento triste como esse!... Afinal, o mais importante  é a amizade... O espírito cristão, a solidariedade...

MÃOZINHA DE VELUDO  -  (cortou) Fui!

... E PRECIPITOU-SE PARA A RUA, SEM OLHAR PARA TRÁS.   

                  
FIM DO CAPÍTULO  23
Renatão (Jardel Filho)
     e no próximo capítulo...

*** A farsa de Renatão e Samuca forjando seu enterro começa a se complicar, com a chegada de uns tios de Samuca e a intervenção de Oliveira Ramos, que, por sua vez, fez questão de tomar todas as providencias, inclusive com a remoção do caixão para a capela do Cemitério São João Batista. E agora, Renatão e Samuca, como vão sair dessa?

NÃO PERCA O CAPÍTULO 24 DE  
   









terça-feira, 20 de março de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 22

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
 http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 22

Participam deste capítulo:

HELÔ (Dina Sfat)
MISS JULY (Lidia Mattos)
RENATÃO (Jardel Filho)
VÍTOR (Francisco Cuoco)
DELEGADO FONTOURA (Urbano Lóes)
SAMUCA (Paulo José)
OLIVEIRA RAMOS (Mario Lago)
ROSE
KONSTANTÓPULUS (Lajar Muzuris)
DETETIVE JONAS (Solon de Almeida)
TIA COLÓ (Henriqueta Brieba)
CARLINHA (Carla Cavalcanti)

CENA 1  -  APARTAMENTO DE RENATÃO – SALA  -  INT.  – DIA

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

RENATÃO NÃO SE ALTEROU COM A TERCEIRA VISITA DO PADRE. RESOLVEU ENFRENTÁ-LO.

RENATÃO  -  Sim, fui eu quem tirou as fotos! E o senhor vem aqui para quê? Para me acusar de pecado mortal? De quem será o pecado? Meu ou dela?

VÍTOR  -  Eu não sabia a que tipo de fotos ela se referia no diário. Agora tudo começa a ficar claro! Ela diz no diário que estava desesperada para recuperar essas fotos... e tudo indica que ela esteve com o senhor antes de morrer. Esse fato o coloca numa situação muito delicada, sabe disso, não é?

MARCELÃO EMPALIDECEU.

RENATÃO  -  Tudo bem, eu fiz as fotos... mas ela não foi obrigada! Veio aqui porque quis e porque precisava muito do dinheiro! Ninguém pode me acusar de nada!

VÍTOR  -  Sabe, no seu lugar eu não ficaria tão seguro assim... porquê isso torna o senhor um dos principais suspeitos do assassinato de Nívea. Bem, isso é tudo. Tenha um bom dia, seu Renatão!

COM A CERTEZA DE TER ABALADO AS ESTRUTURAS DO PLAYBOY, VÍTOR DEU-LHE AS COSTAS E RETIROU-SE DO APARTAMENTO.

RENATÃO  -  (trincou os dentes) Droga!

CORTA PARA:

CENA 2  -  DELEGACIA  -  SALA DE ZÉLIO FONTOURA  -  INT.  – DIA.

O CENÁRIO ERA O MESMO. ALIÁS, SEMPRE VOLTAVA AO MESMO.   OS    PERSONAGENS   É   QUE,   VEZ   POR   OUTRA, MUDAVAM. DESTA VEZ QUEM ESTAVA NA  FRENTE DE ZÉLIO FONTOURA ERA O SAMUCA.

DELEGADO FONTOURA  -  Não adianta negar nada, porque o correspondente da revista estrangeira já esclareceu tudo isso. Nívea estava querendo desfazer o negócio quando foi assassinada.

SAMUCA  -  Mas isso não era motivo para ninguém matá-la.

DELEGADO FONTOURA - Quem sabe? Ela podia ter-se tornado inconveniente, incômoda...

SAMUCA  -  Mas por quê?

DELEGADO FONTOURA  -  É o que eu quero saber. E hei de saber, seu Samuca. Pode ir embora.

SAMUCA  -  (levantou-se) Então eu vou indo... Até logo, seu delegado.

SAMUCA RETIROU-SE. FONTOURA PASSOU A MÃO PELA CABEÇA, PREOCUPADO.

DELEGADO FONTOURA  -  (para o detetive)  É, Jonas, a coisa tá ficando muito complicada.

JONAS  -  Eu lhe disse no início: manda esse “rolo” para a Delegacia de Homicídios. Eles lá que desenrolem.

DELEGADO FONTOURA  -  Como é que eu podia? Havia um suspeito...

JONAS  -  E agora tem três ou quatro. Agora é esse tal de Renatão. Ele é o dono do cavalo que ganhou o Hunter, o Andaluz!

DELEGADO FONTOURA  -  Esse Renatão leva uma vida muito misteriosa. Ninguém sabe do que ele vive. Diz-se produtor de cinema, mas nunca fez um filme. Tou no calcanhar dele desde domingo. A única profissão que eu sei que ele tem até agora é a de bicão. Jonas, quero que você fique na cola desse cara. Vou mandar seguir também a atriz, Jurema de Alencar.

CORTA PARA:

CENA 3  -  BANCO OLIVEIRA RAMOS -  RECEPÇÃO  -  INT.  -  DIA.

ERA QUASE MEIO DIA QUANDO O BANQUEIRO OLIVEIRA RAMOS RETORNARA  Á AGENCIA DEPOIS DE UMA CANSATIVA REUNIÃO NO BANCO CENTRAL.

OLIVEIRA RAMOS  -  (parou em frente à mesa vazia de Samuca e chamou Rose, a nova recepcionista)  Dona Rose, por favor...

ROSE  -  Pois não, doutor Oliveira...

O BANQUEIRO APONTOU PARA A MESA VAZIA, ONDE VIA-SE A PLACA COM O NOME “SAMUEL PEREIRA – SUB-GERENTE””.

OLIVEIRA RAMOS  -  Onde está o seu Samuel Pereira?

ROSE  -  Ele... ainda não chegou, doutor.

OLIVEIRA RAMOS  -  (entredentes) Segunda vez esta semana... Quando seu Samuca.... quer dizer, seu Samuel chegar, diga que quero falar com ele.

CORTA PARA:

CENA 4  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  - INT.  – DIA.

RENATÃO ESTAVA SE PREPARANDO PARA VIAJAR E DAVA AS ÚLTIMAS INSTRUÇÕES A KONSTANTÓPULUS.

RENATÃO  -  Talvez volte ainda hoje... não sei... Se alguém perguntar, já sabe: viajei a negócios. E se Madame X aparecer, você diz que só volto daqui a um mês.

KONSTANTÓPULUS  -  Pode deixar, seu Renatão, vá em paz.

RENATÃO  -  (baixando a voz, quase num suspiro)  Aquele tira ainda continua rondando por aí?

KONSTANTÓPULUS ESGUEIROU-SE POR TRÁS DA CORTINA E OLHOU PARA O CALÇADÃO LÁ EMBAIXO.

KONSTANTÓPULUS  -  Aproveite pra sair agora, patrão.Ele não está na frente do prédio. Deve ter ido tomar um café...

CORTA PARA:

CENA  5  -  BANCO  -  SALA DE OLIVEIRA RAMOS  -  INT.  -  TARDE.

VIRGÍNIA, A SECRETÁRIA DE OLIVEIRA RAMOS, ANUNCIOU PELO INTERFONE A PRESENÇA DE SAMUCA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Mande entrar, Dona Virgínia.

SAMUCA ENTROU. APESAR DA ELEGÂNCIA DO TERNO BEM CORTADO, PARECIA POUCO À VONTADE DENTRO DAQUELAS VESTES.

SAMUCA  -  Com licença, Dr. Oliveira.

COMO DE COSTUME, OLIVEIRA FALOU DURO E SEM MEIAS PALAVRAS.

OLIVEIRA RAMOS  -  Seu Samuel Pereira, é a segunda vez que o senhor chega atrasado esta semana.

SAMUCA  -  Desculpe, doutor Oliveira. Eu tive um assunto sério pra resolver e...

OLIVEIRA RAMOS  -  (cortou)  Aprenda uma coisa, seu Samuel: nada é mais sério, mais importante que o seu trabalho, o seu ganha - pão.  O que  estou vendo    é    que    o    senhor    está  desperdiçando  a  excelente oportunidade  que  eu  lhe  dei. O senhor imagina quantas pessoas, aqui dentro, matariam pra estar no seu lugar?

SAMUCA  -  (sem graça, sorriso amarelo)  Eu... eu imagino, doutor...

OLIVEIRA RAMOS  -  Pois então, abra o ôlho, seu Samuca. Abra o ôlho, antes que o seu emprêgo desça ladeira abaixo. (T) Isso é tudo o que eu tenho a dizer. Pode voltar à agencia.

OLIVEIRA RAMOS VOLTOU A EXAMINAR UMA PILHA DE PAPÉIS EM SUA MESA, IGNORANDO A PRESENÇA DE SAMUCA, QUE RETIROU-SE, ENVERGONHADO.

SAMUCA  -  Com licença, doutor Oliveira...

CORTA PARA:

CENA 6  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS – QUARTO DE HELÔ  -  INT. – DIA.

HELÔ ESTAVA DEITADA NA CAMA, OUVINDO UM CD DE BALADAS ROMÂNTICAS, O PENSAMENTO VOLTADO PARA VÍTOR. LEMBRAVA-SE DO ENCONTRO NA PRAIA, QUANDO O SALVOU DA AGRESSÃO E SORRIU, AR SONHADOR.

BATIDAS LEVES NA PORTA A TROUXERAM DE VOLTA Á REALIDADE.

HELÔ  -  Entre!

MISS JULY ENTROU, COM UM ENVELOPE NAS MÃOS.

MISS JULY  -  Helô, chegou uma carta pra você. É de sua mãe.

HELÔ LEVANTOU-SE DE UM SALTO E ARRANCOU A CARTA DAS MÃOS DA GOVERNANTA.

HELÔ  -  Minha mãe!

RASGOU O ENVELOPE, ANSIOSA, E LEU RÁPIDAMENTE.

MISS JULY  -  Ela... está bem?

HELÔ  -  (ar triste)  Sim, está... Ela mora em Nova Iorque. Diz que sente saudades, que queria me ver, mas não pode, quem sabe ano que vem...

MISS JULY  -  O importante é que ela está bem, querida.

HELÔ  -  É, o importante é que ela está bem... (T) Miss July... você conheceu minha mãe?

MISS JULY  -  (embaraçada) Pouco... muito pouco. Infelizmente,  logo eles se separaram e ela viajou. Desde então, não soube mais notícias dela...

HELÔ  -  Meu pai e ela viviam bem? Eles se amaram algum dia?

MISS JULY  -  (desconversou) Querida...eu não posso responder essas perguntas. Acho até que já falei demais, porque não sei de nada. Bem... eu vou pra cozinha: tou cheia de coisa pra fazer. Se precisar, me chama, tá?

MISS JULY RETIROU-SE. HELÔ DEITOU-SE NA CAMA E LEU A CARTA MAIS UMA VEZ.

CORTA PARA:

CENA  7  -  NITERÓI  -  ESTAÇÃO DAS BARCAS  -  EXT.  -  DIA.

O CATAMARÃ ATRACOU NA PLATAFORMA E A MULTIDÃO ENCAMINHOU-SE, APRESSADA PARA A SAÍDA. RENATÃO AFASTOU-SE DO BURBURINHO, DIRIGIU-SE PARA A PISTA E FEZ SINAL PARA UM TAXI. LOGO ATRÁS, O DETETIVE JONAS, SEM SER VISTO, FEZ SINAL A OUTRO TAXI, QUE PARTIU EM SEGUIDA.

CORTA PARA:

CENA 8  -  NITERÓI  -  CASA DE TIA COLÓ   -  EXT.  -  DIA.

O TAXI PAROU EM FRENTE A UMA CASA ANTIGA, PINTADA DE BRANCO, DE JANELAS GRANDES. RENATÃO SALTOU, DIRIGIU-SE PARA A PORTA,  GIROU A CHAVE NA FECHADURA E ENTROU.

CENA  9  -  NITERÓI  -  CASA DE TIA COLÓ  -  INT.  -  DIA.

RENATÃO TRAZIA ALGUMAS CAIXAS AMARRADAS COM BARBANTE, QUE COLOCOU SOBRE A MESA. DEPOIS, TORNOU A ABRIR A PORTA E OLHOU PARA  FORA, COMO A CERTIFICAR-SE   DE   NÃO    DE  ESTAR   SENDO SEGUIDO. FECHOU A  PORTA E OLHOU EM VOLTA, PROCURANDO ALGUÉM.   AS   PAREDES   ERAM   DECORADAS  COM  PAPEL PINTADO DE DESENHOS INFANTIS. HAVIA ALGUNS BRINQUEDOS.

CENA 10  -  NITERÓI  -  CASA DE TIA COLÓ  -  EXT.  -  DIA.

O TAXI PAROU E O DETETIVE JONAS SALTOU. OLHOU PARA A CASA COM CURIOSIDADE E PAROU ALGUNS MINUTOS, INDECISO. EM SEGUIDA, EMPURROU A PORTA, QUE SE ABRIU.

CENA  11  -  CASA DE TIA COLÓ  -  INT.  -  DIA.

JONAS SURGIU NA ENTRADA E FICOU SURPRESO COM O QUE VIU. RENATÃO ESTAVA SENTADO NO CHÃO, BRINCANDO COM UMA MENINA. AS CAIXAS ESTAVAM AO SEU LADO. ELE SE LEVANTOU.

DETETIVE JONAS  -  Desculpe...eu pensei...

RENATÃO  -  Passeando por Niterói?

TIA COLÓ ENTROU.

TIA COLÓ  -  Ei moço, como é que o senhor vai entrando assim, pela casa da gente?

RENATÃO  -  Não se preocupe, tia. Jonas é um velho amigo. Quer conversar comigo? Não precisava atravessar o Atlântico, né?

CARLINHA  -  Papai, descarrilhou...

RENATÃO ABAIXOU-SE E RECOLOCOU O TRENZINHO SOBRE OS TRILHOS. O TREM SE MOVIMENTOU.

RENATÃO  -  Pronto, Carlinha, tá tudo bem...

DETETIVE JONAS  -  É sua filha?

RENATÃO  -  É.

DETETIVE JONAS  -  (sorriu, sem graça)  Engraçado... eu não podia imaginar... (e sério)  Bem, o doutor Fontoura está à sua espera lá no Distrito. Eu... eu vou indo. Com licença.

JONAS RETIROU-SE. RENATÃO SENTOU-SE NO CHÃO E VOLTOU A BRINCAR COM A FILHA, SOB O OLHAR BONDOSO DE TIA COLÓ.

TIA COLÓ  -  Filho, que vida sacrificada você leva. Virgem Santíssima! Também, quem pode calcular a existência de um agente secreto internacional!

RENATÃO  -  É uma vida difícil mesmo, tia. Hoje estou em Niterói, mas amanhã posso estar na Jamaica, depois em Berlim. No mês passado, quase caí prisioneiro de um grupo de guerrilheiros, gente da Al-Qaeda. Uma vida de perigos.

TIA COLÓ  -  (sussurrou) Esse moço que apareceu aqui, de repente, tava seguindo você?

RENATÃO  -  (sussurrou de volta) Não quero assustar a senhora, tia… mas a senhora tá certa: esse sujeito tava me seguindo!

TIA COLÓ  -  Santo Deus, que perigo! Se eu soubesse disso, ia buscar o meu pau de macarrão e botava ele pra correr! Você não podia escolher um meio de vida menos perigoso, Renatinho?

RENATÃO -  Agora é tarde pra mudar. Tenho que carregar essa cruz...

TIA COLÓ  -  Carlinha sempre pergunta: por que papai não mora com a gente, vovó?

RENATÃO  -  Nem preciso responder, né, tia? Tenho que proteger vocês! Como vou deixá-las sozinhas quando tiver que viajar?

TIA COLÓ  -  Eu compreendo. Você é um sobrinho de ouro, meu filho!  E um pai maravilhoso. Nunca deixou faltar nada pra gente!

RENATÃO  -  Nem poderia, né, tia? A senhora sabe que, pelo menos duas vezes por mês, venho aqui ver vocês (abraçou e beijou a velha senhora) É o mínimo que posso fazer pelos meus dois amores!
                        
UMA HORA DEPOIS, RENATÃO DESPEDIA-SE DE TIA COLÓ E DA FILHA. BEIJOU AS DUAS.

TIA COLÓ FEZ O SINAL DA CRUZ NA FRENTE DO SOBRINHO.

TIA COLÓ  -  Vai com Deus, meu filho. Vai com São Sebastião também. E com São Judas Tadeu!

RENATÃO SAIU. TIA COLÓ AJOELHOU-SE DIANTE DE UM NICHO COM DIVERSAS FIGURAS DE SANTOS.

TIA COLÓ  -  Meus santinhos queridos, vou acender uma vela pra cada um de vocês, mas não deixem de olhar pelo Renatinho nem um minuto… Ele precisa muito de vocês! Al-Qaeda… esse nome me dá arrepios só de imaginar!... Coitado do Natinho!...


FIM DO CAPÍTULO 22
Tia Coló (Henriqueta Brieba)
e no próximo capítulo...

*** Vítor e Helô vão ao Mirante Dona Marta, e, diante da bela vista da cidade, Helô se declara para o padre, que tem uma reação inesperada!

*** Samuca procura o amigo Renatão, com um "pepino daqueles" pra resolver: Mãozinha de Veludo, ex-parceiro de pequenos golpes, quer envolvê-lo num assalto e não sabe como sair dessa! É aí que o playboy tem uma idéia muito louca - saiba tudo no capítulo 23!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 23 DE