sábado, 24 de março de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 24

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 24

Participam deste capítulo:

RENATÃO     (Jardel Filho)  
                                      ZÉ GREGÓRIO (Adalberto SIlva)                                          
                                       JOANINHA  (Susana Moraes)                                             
                                        D. DIDI  (Gracinda Freire)                                              
                              KONSTANTÓPULUS  (Lajar Muzuris)                               
SAMUCA (Paulo José)
MISS JULY (Lídia Mattos)
OLIVEIRA RAMOS (Mario lago)
VÍTOR (Francisco Cuoco)
EMILIANO (Paulo Padilha)
MARIETA (Wanda Lacerda)
SUSI (Maria Claúdia)
MARIA LÚCIA (Aizita Nascimento)
ALBERTO
TIOS DE SAMUCA
  
CENA 1  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE

APÓS TROCAR ALGUMAS PALAVRAS COM RENATÃO, ZÉ GREGÓRIO E ALBERTO SEGURARAM AS ALÇAS DO CAIXÃO PARA LEVÁ-LO PARA A CAMIONETA. FOI NESSE MOMENTO QUE A ENTRADA NO RECINTO DE UM CASAL DE MEIA IDADE CHAMOU A ATENÇÃO DO PLAYBOY E DE TODOS OS PRESENTES NO VELÓRIO, TOMADOS DE SURPRESA. MARIA LÚCIA APROXIMOU-SE E, APÓS TROCAR ALGUMAS PALAVRAS COM OS RECÉM-CHEGADOS, DIRIGIU-SE A RENATÃO.

MARIA LÚCIA  -  Seu Renatão, eles são tios do Samuca. Souberam da morte do sobrinho e vieram providenciar o enterro.

O CASAL APROXIMOU-SE DO CAIXÃO. A MULHER, VESTIDA DE PRETO, COLOCOU UM BUQUÊ DE FLORES SOBRE O “DEFUNTO”, ENQUANTO ENXUGAVA UMA LÁGRIMA COM UM LENÇO.

RENATÃO  -  (aproximando-se)  Os senhores me desculpem, mas já estamos levando o corpo para ser enterrado em Itapetininga, no mausoléu da família, a pedido de uma tia que mora lá.

O HOMEM OLHOU À SUA VOLTA E BALANÇOU A CABEÇA, COMO SE JÁ CONHECESSE A HISTÓRIA.

TIO DE CECÉU  -  Mausoléu da família? Que família? A família dele somos nós, que somos seus tios. E não tem mausoléu nenhum! Tia de Itapetininga? Ah, é a Biloca. Tá caduca!

RENATÃO COMEÇOU A FICAR PREOCUPADO. APROXIMOU-SE DO CAIXÃO E FICOU NOVAMENTE SIMULANDO REZAR, A CABEÇA SOBRE AS MÃOS E ESTAS AGARRANDO NAS BORDAS DO CAIXÃO.

RENATÃO  -  Rapaz, fica firme aí dentro que o negócio engrossou! (falou por entre dentes) Seus parentes querem enterrar você aqui mesmo! Vou sair pra tomar umas providências. Mas volto. Não saia daí, ouviu?

CENA 2  -  PENSÃO PRIMAVERA   -  EXT.  -  NOITE.

DUAS HORAS MAIS TARDE, RENATÃO ESTACIONOU A CAMIONETA EM FRENTE À PENSÃO, SALTOU E  ENTROU NO PRÉDIO, APRESSADO. IA SUBINDO AS ESCADAS, MAS RETROCEDEU , SURPRESO. O CAIXÃO ESTAVA SENDO TRANSPORTADO PARA UM CARRO FUNERÁRIO.

RENATÃO  -  (estremecendo, correu até Zé Gregório, atônito) O que é isso, Zé... pra onde tão levando o caixão?

Zé GREGÓRIO  -  O doutor Oliveira Ramos, patrão do Samuca, foi muito caridoso, seu Renatão. Chamou a funerária e tomou todas as providencias para a remoção do corpo para a capela do São João Batista.

RENATÃO  -  (aflito) Mas que é isso, já vão levando assim!  (não se conteve e começou a gritar) Esperem! Esperem! Quero ver o rosto do meu amigo pela última vez! Por favor, abram o caixão! Alguns segundos, só...

OS HOMENS PARARAM. ARRIARAM O CAIXÃO NA CALÇADA E ABRIRAM A TAMPA. NESSE EXATO MOMENTO, SAMUCA EMPURROU A TAMPA PARA LONGE, LEVANTOU-SE E SAIU CORRENDO NO MEIO DA NOITE. FOI UM DESESPÊRO GERAL. DONA DIDI, MARIA LÚCIA E JOANINHA GRITARAM, APAVORADAS. OS CARREGADORES VOARAM PARA O RABECÃO.

JOANINHA  -  Meu Deus! Virgem Santíssima! Ressuscitou! (soltou um grito agudo e caiu desmaiada nos braços de Zé Gregório).

DONA DIDI  -  Mas o que aconteceu, meu Deus? Ele tava vivo... e iam enterrá-lo vivo!

MARIA LÚCIA  -  Que horror! Valha-me Deus!

ZÉ GREGÓRIO  -  Caramba! Nunca vi um morto correr tanto! Olha lá! Ele sumiu!

CORTA PARA:

CENA 3  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


INSTANTES MAIS TARDE, PASSADO O PÂNICO, OLIVEIRA RAMOS, SUSI, RENATÃO, DONA DIDI, ZÉ GREGÓRIO, MARIA LÚCIA E ALBERTO TENTAVAM ENCONTRAR UMA RESPOSTA PARA O ACONTECIDO.

OLIVEIRA RAMOS  -  É síncope cardíaca. É a única explicação. Ainda bem, Renatão, que você teve a feliz idéia de pedir pra abrirem o caixão.

SUSI OLHOU DESCONFIADA PARA RENATÃO.

SUSI  -  (aproximou-se, discreta e sussurrou no ouvido do playboy) Não sei, não... Isso não tá me cheirando bem... Aí tem coisa! 


RENATÃO  -  (sussurrou, entredentes) Fica quieta, ou então o cheiro vai ficar muito pior!

CORTA PARA:

CENA 4  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

RENATÃO ENTROU EM SEU APARTAMENTO E DEIXOU-SE CAIR NO DIVÃ, EXAUSTO, SOB O OLHAR CURIOSO DE KONSTANTÓPULUS.

KONSTANTÓPULUS  -  E então, correu tudo bem? Conforme planejaram?

RENATÃO  -  Konstan, eu preciso de uma dose dupla de uísque, pra dar uma relaxada depois desse estresse todo...

PRONTAMENTE, O MORDOMO PREPAROU O UÍSQUE E SERVIU O PATRÃO.

RENATÃO  -  Sabe, Konstan, tenho medo que esse negócio dê bode. Os jornais, com certeza, vão noticiar amanhã, e devem querer saber qual foi o médico que deu o atestado de óbito. Aí, vão ver que não tem atestado nenhum. Como é que vamos sair dessa?

“ALELUIA!”  “”ALELUIA!” TOCARAM A CAMPAINHA. O MORDOMO FOI VER QUEM ERA.

KONSTANTÓPULUS  -  Caramba, seu Renatão, é o falecido...
 
SAMUCA ENTROU, AINDA ASSUSTADO.

SAMUCA  -  Que  confusão maluca você arrumou pra mim, meu velho! Por pouco fui enterrado vivo! Meu coração ainda tá disparado!

RENATÃO  -  Senta aí, Samuca! Tivemos muita sorte. Por pouco não fomos descobertos. Mas o importante é que você se livrou do Mãozinha de Veludo. Não era essa a nossa intenção? (e gozando o amigo, divertido) Velho, na carreira que você deu eu pensei que fôsse parar em São Paulo!

SAMUCA  -  (cara de pavor) Nem me lembra disso, cara! Ainda me vejo dentro daquele caixão, cercado de flores e louco de vontade de espirrar... e pior foi quando fecharam a tampa em cima de mim! Deu um desespêro, vontade de gritar e pular dali...

RENATÃO E KONSTANTÓPULUS NÃO SE AGUENTAVAM DIANTE DA SITUAÇÃO TRAGICÔMICA E SEGURAVAM-SE PARA NÃO GARGALHAR.

RENATÃO  -  (ficou sério, caindo em si)  Sabe, meu velho, vão descobrir a farsa. O jeito é sumirmos os dois. Eu e você sumiremos uns dias, tá?

SAMUCA  -  (assentiu, resignado) Fazer o que, né...

CORTA PARA:

CENA 5  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA DE JANTAR  -  INT.  -  NOITE.

MISS JULY  ACABARA DE SERVIR O JANTAR. OLIVEIRA RAMOS ESTRANHOU AO VER APENAS UM PRATO À MESA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Helô não vai jantar?

MISS JULY  -  (sacudindo a cabeça, ar de preocupação) Não. E também não almoçou.

OLIVEIRA RAMOS  -  Outra crise... isso me deixa arrasado... Miss July, ela lhe fez alguma confidência? Disse por que está tão deprimida?

MISS JULY  -  Doutor, ela se abriu comigo... (indecisa) eu não sei se devo...

OLIVEIRA RAMOS  -  Se sabe de alguma coisa, por favor, não me esconda nada, Miss July. Tanto quanto você, eu só quero ajudar minha filha.

MISS JULY  -  Eu receio... que ela esteja apaixonada, Dr. Oliveira. E está sofrendo por esse motivo.

OLIVEIRA RAMOS  -  Apaixonada? Ora essa! Tem certeza? Mas... por quem?

OLIVEIRA RAMOS  -  Por um padre! Aquele que ia casar com a pobre da Nívea...  O nome dele é padre Vítor.

OLIVEIRA RAMOS  -  (enrugou a testa, surprêso) Que loucura é essa... ! Tem certeza disso, Miss July?

MISS JULY  -  (confirmou com a cabeça) Só estou lhe contando porque ela precisa de ajuda, doutor! Já estou ficando preocupada. Ela pode até adoecer, se insistir em não comer nada! Tá trancada no quarto, desde ontem!

OLIVEIRA RAMOS LEVANTOU-SE E CAMINHOU EM CÍRCULOS, PREOCUPADO.

OLIVEIRA RAMOS  -  Meu Deus... eu tenho que fazer alguma coisa... mas o quê?

MISS JULY  -  (sugeriu)  Por que não conversa com esse rapaz? Quem sabe ele pode ajudar...

OLIVEIRA RAMOS  -  Isso! É isso mesmo que eu vou fazer! Boa idéia, Miss July!

CENA 6  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  TARDE.

OLIVEIRA RAMOS DOBROU CUIDADOSAMENTE O SEU JORNAL DA TARDE E O COLOCOU SOBRE A MESA.

MISS JULY  -  Com licença, doutor.  O padre Vítor acabou de chegar.

OLIVEIRA RAMOS  - Ótimo, Miss July. Mande-o entrar.

VÍTOR ENTROU. OLIVEIRA RAMOS SORRIU, CORDIAL.

VÍTOR  -  Boa tarde, Doutor Oliveira. Estou aqui atendendo seu chamado...

OLIVEIRA RAMOS  -  Agradeço por ter vindo. Eu precisava conversar com você, meu rapaz. É sobre seu futuro.

VITOR  -  Desculpe, mas eu não sei por que o senhor se preocupa com meu futuro.

OLIVEIRA RAMOS  -  (sorriu levemente) A razão é óbvia. Você e Helô...

A SITUAÇÃO ERA CONSTRANGEDORA PARA AMBOS.

VÍTOR  -  Óbvia... Doutor Oliveira Ramos, precisamos ser claros. Se o senhor imagina que eu e sua filha temos qualquer tipo de ligação amorosa, está inteiramente equivocado. Para mim, ela é apenas uma moça que foi amiga de minha noiva. E como fomos ambos duramente atingidos pela mesma tragédia, isso estabeleceu um elo entre nós.

OLIVEIRA RAMOS  -  Nada mais?

VÍTOR  -  Nada mais. Sinto ter que falar assim, mas é bom que as coisas fiquem claras.

OLIVEIRA RAMOS  -  (secamente)  Pois bem, já que estamos falando com essa franqueza, eu lhe pergunto: e quanto a ela, também não está presa a você por nenhum outro sentimento além desse?

VÍTOR  -  (embaraçado) Bem...  eu não sei o que dizer...

HOUVE UMA PAUSA. A SEGUIR, APROVEITANDO-SE DA INDECISÃO DO RAPAZ, O BANQUEIRO PUXOU-O PARA UM CANTO DA SALA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Eu tenho algumas revelações a lhe fazer... Helô é motivo de grande preocupação para mim. Minha filha já esteve internada num sanatório. A morte de Nívea foi um choque muito grande para ela. E agora, se sofresse mais outra desilusão... Isto é, se você lhe disser não, vai praticar uma crueldade maior do que aquela que foi praticada contra Nívea...

VÍTOR  -  (profundamente abalado)  O senhor tem mais alguma coisa a me dizer?

OLIVEIRA RAMOS  -  Não...já lhe disse tudo. Só lhe peço que reflita um pouco sobre as minhas palavras. Nada mais.

VÍTOR  -  Se era só isso, não tenho mais nada a fazer aqui. Com licença!

VÍTOR RETIROU-SE, DEIXANDO O BANQUEIRO IMERSO EM SEUS PENSAMENTOS.

CORTA PARA:

CENA  7  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

EMILIANO E MARIETA FITARAM, CURIOSOS, O RAPAZ QUE ACABARA DE ENTRAR.

MARIETA  -  Chegou na hora certa, Vítor. Acabei de servir o jantar.

EMILIANO  -  Foi tudo bem na casa do Dr. Oliveira?

VÍTOR  -  (ainda abalado, expressão sombria)  Eu não vou jantar. Desculpem-me. Se não se importam, eu vou para o quarto...

MARIETA  -  (insistiu) Vítor! Vai dormir sem comer nada? Olha, eu fiz estrogonofe de frango; sei que você gosta...

VÍTOR  -  (parou à porta do quarto e sorriu, com ar cansado) Fico muito grato pela gentileza, D. Marieta, mas agora, só preciso de um banho e descansar um pouco. Boa noite.

VÍTOR ENTROU NO QUARTO E FECHOU A PORTA ATRÁS DE SI. MARIETA FITOU O MARIDO, INDIGNADA.

MARIETA  -  Eu não lhe disse, Emiliano? Essa dona vai dar em cima dele até acabar com ele, como fez com Nívea!

EMILIANO  -  (recriminou) Para de falar assim da Helô, coitada! Ela é uma boa moça...

MARIETA  -  (cortou) Boa moça, pois sim! Vocês, homens, são uns bobos mesmo! Tão fáceis de ser enganados... (T) Mas, nada como um dia atrás do outro pra mostrar que eu tou com a razão! (e bateu com a mão espalmada na mesa) Vocês vão ver!


FIM DO CAPÍTULO  24

e no próximo capítulo...

*** Ricardinho agride Jurema com ciúmes de Vítor, e este dá um tremendo soco na cara do cafajeste, indignado com a covardia!

*** Em pleno calçadão de Ipanema, Ricardinho e Mario Maluco se atracam aos socos e pontapés e são surpreendidos pela polícia!

*** Dom Eliseu chega ao Rio de Janeiro trazendo ao padre Vítor um importante comunicado a Igreja Católica!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 25 DE












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