quarta-feira, 7 de março de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 17

Novela de Toni Figueira
Inspirada da Obra de Dias Gomes

 http://youtu.be/zIuryHGvAVc
Participam deste capítulo
 
JUREMA (Arlete Salles)
KONSTANTÓPULUS (Lajar Muzuris)
PADRE VÍTOR (Francisco Cuoco)
DANUSA (Heloísa Helena)
RICARDINHO (Carlos Vereza)
DELEGADO FONTOURA (Urbano Lóes)
SAMUCA (Paulo José)
JOANINHA (Susana Moraes)
VESPERTINA (Léa Garcia)

CENA 1  -  DELEGACIA – SALA DE ZÉLIO FONTOURA – INT. – DIA.

Continuação imediata do capítulo anterior

RICARDINHO TOMOU UM SUSTO. FECHOU A CARA, CURVOU-SE E VOLVEU ATRÁS.

RICARDINHO  -  Quê que é isto?

DELEGADO FONTOURA  -  Isto quer dizer que o senhor vai ser indiciado.

RICARDINHO  -  Mas não fui eu! Não fui eu quem matou Nívea! O senhor não tem prova nenhuma. Não pode ter.

DELEGADO FONTOURA  -  Espero ter nos próximos dias...

CORTA PARA:

CENA 2  -  APARTAMENTO DE RICARDINHO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

RICARDINHO FOI DA DELEGACIA DIRETAMENTE PARA CASA. SUA MÃE, DANUSA, ABRIU A PORTA, APREENSIVA.

DANUSA  -  Ah, ainda bem que você chegou. Já estava ficando preocupada, imaginando o pior... (T) Foi tudo bem?

RICARDINHO  -  Tudo bem, nada! Aquele palhaço do Zélio Fontoura acha que fui eu que matei Nívea.

DANUSA  -  Ah, eu ia lhe dizer (cortou, e apontou para o centro da sala) aquele rapaz está á sua espera.

RICARDINHO  -  Olá! (disse, encaminhando-se para ele)  Que surpresa agradável. Não é o padreco?

VÍTOR SORRIU UM POUCO CONTRAFEITO. ESTAVA SEM A BATINA E, PELA SUA APARENCIA JOVEM, NADA INDICAVA QUE FÔSSE UM MINISTRO DE DEUS.

RICARDINHO  -  Ele é padre (emendou, dirigindo-se á mãe) Só que está á paisana.

DANUSA  -  Bem, eu... vou me retirar, para deixá-los conversar. Com licença...

DANUSA SAIU. RICARDINHO SENTOU-SE E FEZ UM SINAL PARA QUE VÍTOR FIZESSE O MESMO.

VÍTOR  -  Você... pode me dizer o que se passou na delegacia?

RICARDINHO  -  O idiota do delegado Fontoura mandou me indiciar como criminoso... simplesmente porque eu não tenho testemunha de onde estava entre uma e meia e duas da manhã do crime. É mole? O que você acha disso, padreco?

VÍTOR  -  Eu não acredito que você matou Nívea. No fundo, no fundo, eu acho que você é um bom rapaz. Aliás, o homem é fundamentalmente bom. A maldade é uma deformação da natureza humana.

RICARDINHO  -  (irônico)  Essa tua conversa não me convence, cara. Foi com essa demagogia que você fez ela gamar? Papo de sacristia, reverendo. Não é nada disso. Cê tá por fora. Todo homem é um assassino. É que uns ainda são virgens. Mas foi-se o tempo em que virgindade era virtude. Virgindade hoje é ofensa.

VÍTOR  -  (impaciente) Bem, eu não vou discutir esse assunto. Sei que você gostava dela tanto quanto eu. A diferença é que eu não entendo o que aconteceu, e você talvez possa me explicar.

RICARDINHO OLHOU VÍTOR COM DESCONFIANÇA.

RICARDINHO  -  Quem mandou você aqui? Foi o delegado?

VÍTOR  -  Não... não pense nisso. Eu não estou querendo saber quem matou Nívea. Mas sim entender porque isso aconteceu, percebe? Para mim, é estúpido, é irracional, é injusto. Com a minha formação religiosa, eu podia atribuir tudo á vontade de Deus e, com essa explicação, calar a minha consciência. Mas seria uma atitude covarde. E eu não sou um covarde.

RICARDINHO BALANÇOU A CABEÇA E RIU IRÔNICAMENTE. CHUPOU O CIGARRO MEIO APAGADO E JOGOU UMA BAFORADA DE FUMAÇA NA CARA DO PADRE.

RICARDINHO  -  Olha, quer um conselho? Não te mete nisso. Volte para a sua paróquia e continue sua vida. Não se meta nessa turma que vai se dar mal!

A AMEAÇA FEZ VÍTOR FICAR MAIS ATENTO.

RICARDINHO  -  Eu não sei de nada. Só lhe posso garantir uma coisa: não matei Nívea, quem foi também não sei, e nem sei como aconteceu. Agora, quer mesmo uma confissão? Eu estava com tanta raiva dela, que poderia tê-la matado. Quer mais? Eu desejei que ela morresse!

VÍTOR FITOU-O COM HORROR.

RICARDINHO  -  Quer mais,  ainda? (persistiu)  Quando me disseram que ela estava morta, eu não sofri nada no princípio. Senti que foi um alívio. Alívio mesmo. Depois foi que caí na real e fiquei malzão. E você vem com esse papo que o homem é bom! O homem é muito enrolado, padre!

RICARDINHO DEITOU-SE DE BRUÇOS NO SOFÁ. O OLHAR DE VÍTOR FOI DO HORROR Á PIEDADE.

VÍTOR  -  Escute, eu li o diário dela. Nívea escreveu que precisava reaver umas fotos. Você sabe alguma coisa sobre isso?

RICARDINHO ERGUEU-SE E FITOU VÍTOR.

RICARDINHO  -  Ela escreveu isso, é? Pois pergunte ao Renatão. Ele é que sabe. Renato Itararé de Souza. O nome está no catálogo.

EM SEGUIDA, ESCONDEU O ROSTO ENTRE OS BRAÇOS E NÃO DEU MAIS ATENÇÃO AO PADRE.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PRÉDIO DO APARTAMENTO DE RICARDINHO  -  EXT.  -  DIA.

RICARDINHO SAIU DO PRÉDIO, APRESSADO, MONTOU NA MOTO, COLOCOU O CAPACETE E ARRANCOU, DEIXANDO UM RASTRO DE BARULHO E FUMAÇA BRANCA PELAS RUAS DE IPANEMA.

CORTA PARA:

CENA 4  -  APARTAMENTO DE JUREMA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

RICARDINHO ENTROU NO APARTAMENTO DE JUREMA E DEIXOU-SE CAIR NO SOFÁ. ESTAVA DESASSOSSEGADO.

RICARDINHO  -  Eu tô apavorado, Jurema! E sei que esse meu medo pode me levar pra prisão se eu não puder provar àquele muquirana do delegado Fontoura onde estava na hora do crime! E se souberem que meu pai, Leopoldo Reis, também está preso por assassinato? O filho de um assassino não teria mais chance de ter matado Nívea?

JUREMA  -  E agora, meu querido, como vai ser? Eles vão prendê-lo?

RICARDINHO  -  Não podem. Isto é, eles não podem provar nada contra mim. É só porque na hora do crime eu estava rodando por aí na moto... não posso provar onde estava.

JUREMA REFLETIU POR UM INSTANTE.

JUREMA  -  Por que você não disse que estava comigo?

RICARDINHO  -  Não sei. Aquele cara, o tal de Zélio Fontoura, me deixou tonto...

JUREMA  -  Quer, eu vou lá e digo.

RICARDINHO  -  Não, assim eu caio em contradição.

JUREMA  -  (insistiu) Eu digo que você não disse pra não me comprometer.

RICARDINHO FICOU INDECISO. TENTOU SORRIR.

RICARDINHO  -  Você acha que acreditarão?

JUREMA  -  Lógico. Eu direi ao delegado que você estava comigo, no meu apartamento.

RICARDINHO  -  (indeciso)  Mas você vai se meter nesse troço? Pode entrar numa fria!

JUREMA NÃO RESPONDEU. TOMOU O ROSTO DELE ENTRE AS MÃOS E BEIJOU-O. RICARDINHO CORRESPONDEU, OLHANDO-A FIRME, NOS OLHOS.

JUREMA  -  Por você eu faço qualquer coisa...

RICARDINHO TORNOU A BEIJÁ-LA. SEGUROU-A PELO PESCOÇO E FOI DERRUBANDO-A NO SOFÁ. 

RICARDINHO  -  Agora me diga uma coisa: onde é que você estava naquela hora?

JUREMA  -  Então você tá mesmo desconfiando de mim?

RICARDINHO  -  Não falei isso... só quero saber... Vamos ver se tem um bom álibi!

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASTELINHO  -  INT.  -  NOITE.

SAMUCA ENTROU NO CASTELINHO, ORGULHOSO, DE BRAÇOS DADOS COM JOANINHA. O GARÇOM MOSTROU A MESA E, RÁPIDO, ADIANTOU-SE E PUXOU A CADEIRA PARA A JOVEM SENTAR.

JOANINHA  -  (sentou-se e arregalou os olhos, confusa) Samuca, quer me explicar o que tá acontecendo? Você tá sempre duro, e, de repente, me convida pra jantar no Castelinho? Pelo amor de Deus, eu não quero passar vergonha, nem lavar pratos no final... Você tem dinheiro pra pagar a conta?

SAMUCA  -  (sorriu, tranquilizando-a) Claro que eu tenho, Joaninha. Trouxe você aqui pra comemorar!

JOANINHA  -  Comemorar? O quê? Não vá me dizer que ganhou na loteria!...

SAMUCA  -  Não, não é isso! Joaninha, você está diante do mais novo subgerente do Banco Oliveira Ramos, agencia Ipanema!

JOANINHA  -  (incrédula) Você... tá falando sério?

SAMUCA  -  Seríssimo, meu amor. E fui convidado pelo dono do banco, o doutor Oliveira Ramos!

JOANINHA  -  (extasiada) Então... quer dizer que...

SAMUCA  -  (cortou) Quer dizer que seu noivo não vai mais ser um duro! Agora, tudo vai mudar, Joana!

JOANINHA  -  Você falou... noivo?

SAMUCA  -  (segurando-lhe as mãos) Falei. Agora podemos ficar noivos, gata (e dirigiu-se ao garçom) Garçom! Traga uma champanha! Estamos comemorando o nosso noivado!

JOANINHA  -  (sorriu, entre divertida e emocionada) Você é louco, Samuca!

SAMUCA  -  Louco por você, amor. Eu falei que você ainda ia se orgulhar de mim, não falei?

CORTA PARA:

CENA 6   -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  COPA  -  INT.  -  NOITE.

VESPERTINA, A EMPREGADA DE RENATÃO, ESTAVA MUITO ATAREFADA PREPARANDO OS CANAPÉS QUE SERIAM SERVIDOS NA FESTA QUE O PLAYBOY PROMOVIA NAQUELE MOMENTO EM SEU APARTAMENTO. KONSTANTÓPULUS ENTROU NA COZINHA, ALVOROÇADO.

KONSTANTÓPULUS  -  Vamos, Vespertina! Mais depressa com esses canapés!

VESPERTINA  -  (com forte sotaque) Vixe, seu Costão, eu sô só uma! Não venha me aperreá assim, que eu num consigo fazê nada! Vá, vá saindo da minha cunzinha! Seu Renatão inventa essas festa maluca e eu que pago o pato! Eu, hem! Que gente mais avexada!

KONSTANTÓPULUS  -  (erguendo as mãos em sinal de protesto) Pára de resmungar, mulher, e vamos agir! Tem muitos convidados pra servir ainda! E pela milésima vez: é Konstan, e não Costão!

VESPERTINA VOLTOU PARA SUAS PANELAS, RESMUNGANDO.

VESPERTINA  -  Agora vê se pode! Os pai coloca um nome danado de feio no filho, e eu tenho que sabê falá! Costão... Costão... devia de sê Barrigão... ia ficá mais mió de falá! (e riu da própria piada).

CORTA PARA:

CENA 7  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE. 

 NA SALA DO APARTAMENTO DE RENATÃO, DEZENAS DE PESSOAS DANÇAVAM, BEBIAM, RIAM E CONVERSAVAM. O PLAYBOY DAVA UMA DE SUAS FESTAS EXCÊNTRICAS, QUANDO A CAMPAINHA SOOU “ALELUIA” DIVERSAS VEZES. KONSTANTÓPULUS ABRIU A PORTA E DEPAROU COM VÍTOR.

VÍTOR  -  Boa noite! Eu gostaria de falar com o senhor Renato Itararé de Souza.

KONSTANTÓPULUS  -  A quem devo anunciar?         

VÍTOR  -  Meu nome é Vítor Mariano. Diga que... que é a respeito de Nívea Louzada.


FIM DO CAPÍTULO  17
Nívea (Renata Sorrah), Vítor (Francisco Cuoco) e Marieta (Wanda Lacerda)

e no próximo capítulo...

***Jurema de Alencar, a amante de Ricardinho, vai à delegacia e informa um falso álibi, tentando livrá-lo da cadeia! O Delegado Fontoura acreditará no depoimento da atriz?

*** Vítor encontra Helô no calçadão da praia e ela trata-o friamente e lhe faz duras acusações!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 18 DE




















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