Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
http://youtu.be/zIuryHGvAVc
Personagens deste capítulo:
MARIETA Wanda Lacerda)
PADRE VÍTOR (Francisco Couco)
EMILIANO (Paulo Padilha)
RICARDINHO (Carlos Vereza)
DELEGADO FONTOURA (Urbano Lóes)
CABO JORGE
DETETIVE JONAS (Solon de Almeida)
CENA 1 - APARTAMENTO DE EMILIANO - SALA - INT. - NOITE
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
VIZINHOS E ALGUNS AMIGOS ESTAVAM NA RESIDENCIA DOS PAIS DE NÍVEA, PRESTANDO SOLIDARIEDADE. NINGUÉM FALOU. TODOS OLHARAM PARA O PADRE VÍTOR, ESPANTADOS E SEM SABER COMO LHE DIZER. EMILIANO E MARIETA TROCARAM UM OLHAR SIGNIFICATIVO.
MARIETA - (gritou, angustiada) Parem! Parem! Por que não lhe contam de uma vez?
VÍTOR SE ESPANTOU. PRESSENTIU O DESASTRE.
VÍTOR - Aconteceu alguma coisa com ela?
PROCUROU A RESPOSTA NO ROSTO DE MARIETA, DE EMILIANO, DE TODOS. A MULHER ATIROU-SE EM SEUS BRAÇOS, SOLUÇANDO.
VÍTOR - Senhor meu! Não pode ser! Não pode ser o que eu estou imaginando!... Deus não permitiria uma coisa dessas!... Ela está morta?
EMILIANO APENAS BALANÇOU A CABEÇA. VÍTOR PROCUROU A CONFIRMAÇÃO NOS OUTROS ROSTOS. ESTAVA ATORDOADO. O CHOQUE FÔRA VIOLENTO DEMAIS PARA ELE.
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE EMILIANO - SALA - INT. - NOITE
AS VISITAS SE RETIRARAM . EMILIANO, MARIETA E VÍTOR PERMANECIAM SENTADOS EM SILÊNCIO, POR LONGO TEMPO, DESOLADOS.
VÍTOR - Bem, já está um pouco tarde... vou procurar um hotel. Nívea me falou da Pensão Primavera, dos pais de uma amiga dela...
MARIETA - (cortou, a voz pausada) Não é necessário, Vítor. Por favor, fique.
EMILIANO - Marieta está certa, padre. Fique aqui como nosso hóspede. Nós precisamos do seu apoio neste momento... e sei que o senhor também precisa de nós.
MARIETA - Fique no quarto dela, Vítor. Tenho certeza... de que ela gostaria que fosse assim...
VÍTOR - Obrigado... Eu... eu vou aceitar porque... desculpem, mas não consigo raciocinar direito...
CORTA PARA:
CENA 3 - QUARTO DE NÍVEA - INT. - NOITE.
VÍTOR ERA UM HOMEM ARRASADO. SOZINHO, CORREU O OLHAR PELO QUARTO, ANGUSTIADO. PARECIA SENTIR A PRESENÇA DE NÍVEA. ESTAVA TUDO COMO ELA DEIXARA. OS OBJETOS, A ESCRIVANINHA, O ARLEQUIM.
VÍTOR - (para si) É tudo tão sem sentido... Será um castigo? Mas como? Deus não castiga os que amam, os que querem dar amor, porque é pelo amor que se chega a Êle.
CLOSE EM VÍTOR, ANIQUILADO.
INSERIR FLASHBACK DA CENA 4 DO CAPÍTULO 10.
VÍTOR E NÍVEA EM IBIÚNA, NA IGREJA
NÍVEA - Não esperava... nunca imaginei que você chegasse a tomar essa decisão... Preciso pensar (seu rosto exprimiu uma grande paz interior, mas os olhos brilharam de dissimulado júbilo) Gostaria de ficar sozinha. Para pensar... você entende?
A JOVEM AFASTOU-SE UM POUCO NA DIREÇÃO DO ALTAR. AS LÂMPADAS DE UMA LUZ AMARELADA E PÁLIDA BRUXULEAVAM SOBRE SUAS CABEÇAS. MANTEVE-SE CALADA POR ALGUM TEMPO.
NÍVEA - (dirigindo-se ao padre) Eu já resolvi...
VÍTOR ENCAROU-A, APREENSIVO, TENTANDO LER EM SEUS OLHOS O QUE QUERIAM DIZER.
NÍVEA - Vítor... quero ser sua mulher!
VOLTA A CENA EM VÍTOR NO QUARTO DE NÍVEA.
LÁGRIMAS ESCORRIAM, TEIMOSAMENTE, DOS OLHOS DE VÍTOR. SENTOU-SE NA CAMA, COBRIU O ROSTO COM AS MÃOS E FOI SACUDIDO POR UMA ONDA DE SOLUÇOS DESESPERADOS, INCONTIDOS. APÓS ALGUM TEMPO, ANGUSTIADO, LEVANTOU-SE E CAMINHOU PELO QUARTO, OLHOU EM VOLTA E SENTIU A PRESENÇA DE NÍVEA EM CADA OBJETO À SUA VOLTA. NUM GESTO QUASE AUTOMÁTICO, ABRIU A GAVETA DA ESCRIVANINHA E ALGO CHAMOU SUA ATENÇAO: UM LIVRO PRETO DE CAPA DURA. TOMOU-O NAS MÃOS E FOLHEOU ALGUMAS PÁGINAS, COM GRANDE INTERÊSSE.
VÍTOR - Um diário... O Diário de Nívea...
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE EMILIANO - SALA - INT. - DIA.
NA MANHÃ SEGUINTE, MARIETA ENCONTROU VÍTOR DORMINDO NO SOFÁ DA SALA.
MARIETA - (chamou baixinho) Vítor! Vítor!
VÍTOR - (acordou e sentou-se, esfregando os olhos) Oh... D. Marieta...
MARIETA - Por quê dormiu aqui?
VÍTOR - Eu não pude... pelo menos esta noite... Aquele quarto está cheio de recordações. A cama ainda tem o calor dela...
CORTA PARA:
CENA 5 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO FONTOURA - INT. - DIA.
O CABO JORGE ENTREGOU UM ENVELOPE PARDO AO DELEGADO FONTOURA.
DELEGADO FONTOURA - Finalmente, o laudo pericial! Vamos ver...
FONTOURA AJEITOU OS ÓCULOS E PASSOU OS OLHOS NAS FOLHAS DE PAPEL, SOB O OLHAR DE CURIOSIDADE DO DETETIVE JONAS.
DETETIVE JONAS - E então, doutor... o que diz o laudo?
DELEGADO FONTOURA - (ar muito sério) A conclusão é que esta moça, Nívea, lutou muito com o criminoso... ou criminosos, antes de cair ou ser atirada do alto do paredão. Fratura do crânio foi a causa mortis. (parou alguns segundos, pensativo) Mas a perícia encontrou lesões no corpo que não foram produzidas pela queda. Havia marcas de unhas e escoriações em semicírculo. O vestido também estava rasgado em dois lugares. Não há a menor dúvida. Ela lutou desesperadamente, gritando por socorro, sem que ninguém se importasse.
DETETIVE JONAS - (pesaroso) Coitada... tão bonita...
DELEGADO FONTOURA - (quase para si) Minha única dúvida é se ela se atirou do paredão contra as pedras, para fugir do agressor, ou se foi atirada. De qualquer forma, já há pelo menos um suspeito. E depois, eu mesmo quero investigar esse caso.
AINDA ESTAVA ENVOLTO NESSES PENSAMENTOS QUANDO EMILIANO E MARIETA ENTRARAM NA SALA.
DELEGADO FONTOURA - (levantou-se e cumprimentou o casal) Por favor, sentem-se. Eu peço desculpas por tê-los chamado. Sei que é um momento muito difícil, mas, infelizmente, tenho que prosseguir com o inquérito.
OS PAIS DE NÍVEA SENTARAM-SE Á FRENTE DA MESA DO DELEGADO.
DELEGADO FONTOURA - Os senhores suspeitam de alguém?
MARIETA E EMILIANO SE ENTREOLHARAM.
EMILIANO - Bem, doutor... concretamente, não.
MARIETA - Mas, poucos dias antes, Nívea andava muito angustiada. Uma noite, recebeu um telefonema e ficou muito nervosa. Ela não falava nada, pra me poupar... mas eu sei que era o antigo namorado... e eu sei que ele não aceitou o fim do relacionamento.
A MULHER TEVE UMA CRISE DE CHÔRO. RECOSTOU-SE NA CADEIRA, COM AR PROFUNDAMENTE MELANCÓLICO.
DELEGADO FONTOURA - Quem era esse namorado?
MARIETA - Um rapaz chamado Ricardo Miranda.
O DELEGADO ACENDEU UM CIGARRO EM SILENCIO E FICOU POR ALGUM TEMPO PERDIDO EM MEDITAÇÃO.
MARIETA - Coração de mãe não se engana, doutor. Ele não aceitou o rompimento do namoro, porque Nívea ia se casar com o padre.
DELEGADO FONTOURA - (surpreso) Com um padre?!
MARIETA - (sem jeito) Eles se apaixonaram... o padre Vítor ia largar a batina pra casar com ela.
DELEGADO FONTOURA - (para o Detetive Jonas) Jonas, mande chamar esse Ricardo Miranda! Precisamos ter uma conversa!
CORTA PARA:
CENA 6 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO FONTOURA - INT. - DIA.
RICARDINHO - (sentando-se á frente da mesa do delegado) Por que o senhor mandou me buscar? Será que é porque eu sou motoqueiro?
DELEGADO FONTOURA - Não, é porque o senhor matou uma moça: Nívea Louzada.
RICARDINHO NÃO ACHOU GRAÇA NENHUMA NA RESPOSTA.
RICARDINHO - (sorriu amarelo e ensaiou uma resposta) O senhor está brincando. E é uma brincadeira bêsta. Eu estava amarradão nela... não ia matar...
DELEGADO FONTOURA - Mas quando ela ia se afogando, o senhor assistiu ao guarda-vidas salvá-la, sem mover um dedo, não foi?
RICARDINHO - Isso é outra parada... a gente tinha brigado.
DELEGADO FONTOURA - (encarou o rapaz) Brigado por quê?
FONTOURA AGUARDOU A RESPOSTA, COM MAL DISFARÇADA HOSTILIDADE.
RICARDINHO - Ela sabia...
DELEGADO FONTOURA - Ela lhe disse que ia se casar com outro.
RICARDINHO - Foi. Ela se amarrou num padre.
DELEGADO FONTOURA - E por isso você a matou!
RICARDINHO - Não! Não! O senhor não pode ir me acusando assim!
DELEGADO FONTOURA - Então, responda: onde o senhor estava entre uma e meia e duas horas da madrugada de terça-feira?
RICARDINHO MUDOU DE POSIÇÃO NA CADEIRA. TENTOU DEMONSTRAR SEGURANÇA.
RICARDINHO - Bem, eu... deixe-me lembrar... Estive com a turma até meia-noite.
DELEGADO FONTOURA - (ríspido) Que turma?
RICARDINHO - A galera lá do postinho. Mario Maluco tava comigo.
DELEGADO FONTOURA - Quem é Mario Maluco?
RICARDINHO - Seu filho. Desculpe, a gente já se habituou a chamar ele assim.
DELEGADO FONTOURA - (disfarçando o constrangimento) Seja mais direto, seu Ricardo Miranda: onde o senhor estava entre uma e meia e duas horas da noite do crime?
RICARDINHO - Rodando... rodando. Fui lá pela Barra, voltei, passei pelo Joá mais ou menos a essa hora.
DELEGADO FONTOURA - Pode apresentar alguma testemunha?
RICARDINHO - Eu... não... não posso.
DELEGADO FONTOURA - (dirigiu-se ao cabo Jorge) Cabo, chame o detetive Jonas e convoque o escrivão. Quero que este jovem seja identificado criminalmente!
FIM DO CAPÍTULO 16
Renatão (Jardel Filho) e Susi (Maria Cláudia) |
e no próximo capítulo...
*** Ricardinho está muito preocupado! Após ser indiciado, vai à procura de Jurema para bolar nova estratégia de defesa.
*** Inconformado com a morte de Nívea, Vítor vai á procura de Ricardinho em busca de respostas. Como será recebido pelo malandro?
NÃO PERCA O CAPÍTULO 17 DE
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