segunda-feira, 5 de março de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 16

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

http://youtu.be/zIuryHGvAVc

Personagens deste capítulo:
 
MARIETA Wanda Lacerda)
PADRE VÍTOR (Francisco Couco)
EMILIANO (Paulo Padilha)
RICARDINHO (Carlos Vereza)
DELEGADO FONTOURA (Urbano Lóes)
CABO JORGE
DETETIVE JONAS (Solon de Almeida)
 
CENA  1  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.

VIZINHOS E ALGUNS AMIGOS ESTAVAM NA RESIDENCIA DOS PAIS DE NÍVEA, PRESTANDO SOLIDARIEDADE. NINGUÉM FALOU. TODOS OLHARAM PARA O PADRE VÍTOR, ESPANTADOS E SEM SABER COMO LHE DIZER. EMILIANO E MARIETA TROCARAM UM OLHAR SIGNIFICATIVO.

MARIETA  -  (gritou, angustiada)  Parem! Parem! Por que não lhe contam de uma vez?

VÍTOR SE ESPANTOU. PRESSENTIU O DESASTRE.

VÍTOR  -  Aconteceu alguma coisa com ela?

PROCUROU A RESPOSTA  NO ROSTO DE MARIETA, DE EMILIANO, DE TODOS. A MULHER ATIROU-SE EM SEUS BRAÇOS, SOLUÇANDO.

VÍTOR  -  Senhor meu! Não pode ser! Não pode ser o que eu estou imaginando!... Deus não permitiria uma coisa dessas!... Ela está morta?

EMILIANO APENAS BALANÇOU A CABEÇA. VÍTOR PROCUROU A CONFIRMAÇÃO NOS OUTROS ROSTOS. ESTAVA ATORDOADO. O CHOQUE FÔRA VIOLENTO DEMAIS PARA ELE.

CORTA PARA:

CENA  2  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE

AS VISITAS SE RETIRARAM . EMILIANO, MARIETA E VÍTOR PERMANECIAM SENTADOS EM SILÊNCIO, POR LONGO TEMPO, DESOLADOS.
 
VÍTOR  -  Bem, já está um pouco tarde... vou procurar um hotel. Nívea me falou da Pensão Primavera, dos pais de uma amiga dela...

MARIETA  -  (cortou, a voz pausada)  Não é necessário, Vítor. Por favor, fique.

EMILIANO  -  Marieta está certa, padre. Fique aqui como nosso hóspede. Nós precisamos do seu apoio neste momento... e sei que o senhor também precisa de nós.

MARIETA  -  Fique no quarto dela, Vítor. Tenho certeza... de que ela gostaria que fosse assim...

VÍTOR  -  Obrigado... Eu... eu vou aceitar porque... desculpem, mas não consigo raciocinar direito...

CORTA PARA:

CENA  3  -  QUARTO DE NÍVEA  -  INT.  -  NOITE.

VÍTOR ERA UM HOMEM ARRASADO. SOZINHO, CORREU O OLHAR PELO QUARTO, ANGUSTIADO. PARECIA SENTIR A PRESENÇA DE NÍVEA. ESTAVA TUDO COMO ELA DEIXARA. OS OBJETOS, A ESCRIVANINHA, O ARLEQUIM.

VÍTOR  -  (para si)  É tudo tão sem sentido... Será um castigo? Mas como? Deus não castiga os que amam, os que querem dar amor, porque é pelo amor que se chega a Êle.

CLOSE EM VÍTOR, ANIQUILADO.

INSERIR FLASHBACK DA CENA 4 DO CAPÍTULO 10.

VÍTOR E NÍVEA EM IBIÚNA, NA IGREJA

NÍVEA  -  Não esperava... nunca imaginei que você chegasse a tomar essa decisão... Preciso pensar (seu rosto exprimiu uma grande paz interior, mas os olhos brilharam de dissimulado júbilo)  Gostaria de ficar sozinha. Para pensar... você entende?

A JOVEM AFASTOU-SE UM POUCO NA DIREÇÃO DO ALTAR. AS LÂMPADAS    DE   UMA    LUZ    AMARELADA    E    PÁLIDA BRUXULEAVAM SOBRE SUAS CABEÇAS. MANTEVE-SE CALADA POR ALGUM TEMPO.

NÍVEA  -  (dirigindo-se ao padre)   Eu já resolvi...

VÍTOR ENCAROU-A, APREENSIVO, TENTANDO LER EM SEUS OLHOS O QUE QUERIAM DIZER.

NÍVEA  -  Vítor... quero ser sua mulher!

VOLTA A CENA EM VÍTOR NO QUARTO DE NÍVEA.
   
LÁGRIMAS ESCORRIAM, TEIMOSAMENTE, DOS OLHOS DE VÍTOR. SENTOU-SE NA CAMA, COBRIU O ROSTO COM AS MÃOS E FOI SACUDIDO POR UMA ONDA DE SOLUÇOS DESESPERADOS, INCONTIDOS. APÓS ALGUM TEMPO, ANGUSTIADO,  LEVANTOU-SE E CAMINHOU PELO QUARTO,  OLHOU EM VOLTA E SENTIU A PRESENÇA DE NÍVEA EM CADA OBJETO À SUA VOLTA.  NUM GESTO QUASE AUTOMÁTICO, ABRIU A GAVETA DA ESCRIVANINHA E ALGO CHAMOU SUA ATENÇAO: UM LIVRO PRETO DE CAPA DURA.  TOMOU-O NAS MÃOS E FOLHEOU ALGUMAS PÁGINAS, COM GRANDE INTERÊSSE.

VÍTOR  -  Um diário... O Diário de Nívea...

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA. 

NA MANHÃ SEGUINTE, MARIETA ENCONTROU VÍTOR DORMINDO NO SOFÁ DA SALA.

MARIETA  -  (chamou baixinho)  Vítor! Vítor!

VÍTOR  -  (acordou e sentou-se, esfregando os olhos)  Oh... D. Marieta... 
 
MARIETA  -  Por quê dormiu aqui?

VÍTOR  -  Eu não pude... pelo menos esta noite...  Aquele quarto está cheio de recordações. A cama ainda tem o calor dela...

CORTA PARA:

CENA  5  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.

O CABO JORGE ENTREGOU UM ENVELOPE PARDO AO DELEGADO FONTOURA.

DELEGADO FONTOURA -  Finalmente, o laudo pericial!  Vamos ver...

FONTOURA AJEITOU OS ÓCULOS E PASSOU OS OLHOS NAS FOLHAS DE PAPEL, SOB O OLHAR DE CURIOSIDADE DO DETETIVE JONAS.

DETETIVE JONAS -  E então, doutor... o que diz o laudo?

DELEGADO FONTOURA  -  (ar muito sério)  A conclusão é que esta moça, Nívea, lutou muito com o criminoso... ou criminosos, antes de cair ou ser atirada do alto do paredão. Fratura do crânio foi a causa mortis. (parou alguns segundos, pensativo) Mas a perícia encontrou lesões no corpo que não foram produzidas pela queda. Havia marcas  de  unhas  e  escoriações  em semicírculo. O vestido também estava rasgado em dois lugares. Não há a menor dúvida. Ela lutou desesperadamente, gritando por socorro, sem que ninguém se importasse.

DETETIVE JONAS  -  (pesaroso)  Coitada... tão bonita...
         
DELEGADO FONTOURA  -  (quase para si)  Minha única dúvida é se ela se atirou do paredão contra as pedras, para fugir do agressor, ou se foi atirada. De qualquer forma, já há pelo menos um suspeito. E depois, eu mesmo quero investigar esse caso.

AINDA ESTAVA ENVOLTO NESSES PENSAMENTOS QUANDO EMILIANO E MARIETA ENTRARAM NA SALA.

DELEGADO FONTOURA  -  (levantou-se e cumprimentou o casal)  Por favor, sentem-se. Eu peço desculpas por tê-los chamado. Sei que é um momento muito difícil, mas, infelizmente, tenho que prosseguir com o inquérito.

OS PAIS DE NÍVEA SENTARAM-SE Á FRENTE DA MESA DO DELEGADO.

DELEGADO FONTOURA  -  Os senhores suspeitam de alguém?

MARIETA E EMILIANO SE ENTREOLHARAM.

EMILIANO  -  Bem, doutor... concretamente, não.

MARIETA  -  Mas, poucos dias antes, Nívea andava muito angustiada. Uma noite, recebeu um telefonema e ficou muito nervosa. Ela não falava nada, pra me poupar... mas eu sei que era o antigo namorado... e eu sei que ele não aceitou o fim do relacionamento.

A MULHER TEVE UMA CRISE DE CHÔRO. RECOSTOU-SE NA CADEIRA, COM AR PROFUNDAMENTE MELANCÓLICO.

DELEGADO FONTOURA  -  Quem era esse namorado?

MARIETA  -  Um rapaz chamado Ricardo Miranda.

O DELEGADO ACENDEU UM CIGARRO EM SILENCIO E FICOU POR ALGUM TEMPO PERDIDO EM MEDITAÇÃO.

MARIETA  -  Coração de mãe não se engana, doutor. Ele não aceitou o rompimento do namoro, porque Nívea ia se casar com o padre.

DELEGADO FONTOURA  -  (surpreso)  Com um padre?!

MARIETA  -  (sem jeito)  Eles se apaixonaram... o padre Vítor ia largar a batina pra casar com ela.

DELEGADO FONTOURA  -  (para o Detetive Jonas)  Jonas, mande chamar esse Ricardo Miranda! Precisamos ter uma conversa!

CORTA PARA:

CENA  6  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO  FONTOURA         -  INT.  -  DIA.

RICARDINHO  -  (sentando-se á frente da mesa do delegado)  Por que o senhor mandou me buscar? Será que é porque eu sou motoqueiro?

DELEGADO FONTOURA  -  Não, é porque o senhor matou uma moça: Nívea Louzada.

RICARDINHO NÃO ACHOU GRAÇA NENHUMA NA RESPOSTA.

RICARDINHO  -  (sorriu amarelo e ensaiou uma resposta)  O senhor está brincando. E é uma brincadeira bêsta. Eu estava amarradão nela... não ia matar...

DELEGADO FONTOURA  -  Mas quando ela ia se afogando, o senhor assistiu ao guarda-vidas salvá-la, sem mover um dedo, não foi?

RICARDINHO  -  Isso é outra parada... a gente tinha brigado.
  
DELEGADO FONTOURA  -  (encarou o rapaz)  Brigado por quê?

FONTOURA AGUARDOU A RESPOSTA, COM MAL DISFARÇADA HOSTILIDADE.

RICARDINHO  -  Ela sabia...

DELEGADO FONTOURA  -  Ela lhe disse que ia se casar com outro.

RICARDINHO  -  Foi. Ela se amarrou num padre.

DELEGADO FONTOURA  -  E por isso você a matou!

RICARDINHO  -  Não! Não! O senhor não pode ir me acusando assim!

DELEGADO FONTOURA  -  Então, responda: onde o senhor estava entre uma e meia e duas horas da madrugada de terça-feira?

RICARDINHO MUDOU DE POSIÇÃO NA CADEIRA. TENTOU DEMONSTRAR SEGURANÇA.

RICARDINHO  -  Bem, eu... deixe-me lembrar... Estive com a turma até meia-noite.

DELEGADO FONTOURA  -  (ríspido)  Que turma?

RICARDINHO  -  A galera lá do postinho. Mario Maluco tava comigo.

DELEGADO FONTOURA  -  Quem é Mario Maluco?

RICARDINHO  -  Seu filho. Desculpe, a gente já se habituou a chamar ele assim.

DELEGADO FONTOURA  -  (disfarçando o constrangimento) Seja mais direto, seu Ricardo Miranda: onde o senhor estava entre uma e meia e duas horas da noite do crime?

RICARDINHO  -  Rodando... rodando. Fui lá pela Barra, voltei, passei pelo Joá mais ou menos a essa hora.

DELEGADO FONTOURA  -  Pode apresentar alguma testemunha?

RICARDINHO  -  Eu... não... não posso.

DELEGADO FONTOURA  -  (dirigiu-se ao cabo Jorge)  Cabo, chame o detetive Jonas e convoque o escrivão. Quero que este jovem seja identificado criminalmente!

FIM DO CAPÍTULO 16

Renatão (Jardel Filho) e Susi (Maria Cláudia)

e no próximo capítulo...

*** Ricardinho está muito preocupado! Após ser indiciado, vai à procura de Jurema para bolar nova estratégia de defesa.

*** Inconformado com a morte de Nívea, Vítor vai á procura de Ricardinho em busca de respostas. Como será recebido pelo malandro?


NÃO PERCA O CAPÍTULO 17 DE









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