domingo, 11 de março de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 19

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
 http://youtu.be/zIuryHGvAVc

CAPÍTULO 19
 Participam deste capítulo:

VÍTOR
EMILIANO
MARIETA
MISS JULY
OLIVEIRA RAMOS
JUREMA
DANUSA
LEOPOLDO
HELÔ

CENA 1  -  PRAIA DE IPANEMA  -  CALÇADÃO  -  EXT. – DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

VÍTOR, A PRINCÍPIO, FICOU CHOCADO COM A AGRESSIVIDADE DE HELÔ.

VÍTOR  -  (fitou-a, com tristeza no olhar)  Olhe aqui, moça: eu entendo como se sente.... Sei que Nívea era sua melhor amiga. Por isso não vou levar em conta as suas acusações. Seria injusto... assim como a senhorita está sendo cruel e injusta comigo.

HELÔ  -  (revidou,  sêca)  Esse papel de bonzinho, de compreensivo, é muito cômodo para o senhor, padre! Mas não convence! O senhor desgraçou a vida dela!

VÍTOR  -  (com sinceridade) Eu e Nívea nos amávamos. Estávamos muito felizes e íamos nos casar. A única motivação da minha vida, atualmente, é descobrir por que fizeram isso com ela. E não vou sossegar enquanto não achar resposta pra todas as minhas perguntas.

HELÔ  -  (revoltada)  Vá embora. Eu odeio você.

VÍTOR  -  (sem se abalar)  Vou orar por você. Assim como eu, você precisa de paz, moça. Fique com Deus.

DITO ISTO, VÍTOR SEGUIU CAMINHANDO, ENQUANTO HELÔ DEU-LHE AS COSTAS, E COM AS MÃOS TRÊMULAS, LIMPOU UMA LÁGRIMA QUE TEIMAVA EM ESCORRER DE SEUS OLHOS.

CORTA PARA:

CENA 2  -  TEATRO CASAGRANDE  -  INT.  -  TARDE.

JUREMA DE ALENCAR, TERMINADO MAIS UM TESTE PARA UMA PEÇA, DIRIGIA-SE DO INTERIOR DO TEATRO PARA O SAGUÃO DE ENTRADA, QUANDO A FIGURA DO HOMEM EM TORNO DE SEUS 55 ANOS, GASTO, DE GESTOS LENTOS, COMEDIDOS, CHAMOU SUA ATENÇÃO.

JUREMA  -  (aproximando-se) Desculpe... eu conheço o senhor!

O HOMEM VOLTOU-SE, SURPRESO E SORRIU, COM SIMPATIA.

LEOPOLDO  -  Depois de tantos anos, alguém ainda me reconhece?

JUREMA  -  (olhos arregalados)  O senhor é Leopoldo Reis, não é?

LEOPOLDO  -  Sou eu mesmo, moça. Vejo que tem boa memória.

JUREMA  -  Ora, não é preciso ter boa memória pra lembrar do senhor. Foi um ator famoso...

LEOPOLDO  -  É verdade, apesar de a vida ter sido meio madrasta comigo...

JUREMA  -  Desculpe a pergunta, mas o que o senhor faz aqui?

LEOPOLDO  -  Vim pedir emprego, mas tá difícil. Ninguém dá emprego a um ex-presidiário.

JUREMA  - O senhor... é pai do Ricardinho, não é?

LEOPOLDO  -  (fitou-a, surprêso)  A senhora conhece meu filho?

JUREMA  -  (sorriu, cordial)  Muito. Muito mesmo. Somos muito... amigos.

LEOPOLDO  -  (mal disfarçando a emoção)  Puxa... que coincidência. Quero muito saber notícias do meu filho... Como ele está?

JUREMA  -  Escute, o senhor não quer ir até minha casa? Assim faço um cafezinho e podemos conversar melhor. Moro aqui mesmo, em Ipanema, não fica longe daqui...

LEOPOLDO  -  Claro que eu aceito! Com prazer!

JUREMA  -  Então vamos!

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE JUREMA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

JUREMA E LEOPOLDO CONVERSAVAM AMIGÁVELMENTE, SENTADOS NUMA POLTRONA.

LEOPOLDO  -  ... então fui preso e condenado a 26 anos, mas tive minha pena reduzida e fui posto em liberdade condicional. Na época em que fui preso, havia jurado matar Danusa, a mãe do Ricardinho, na hora em que saísse da cadeia. Aliás, foi por causa dela que matei um homem. Nesse tempo, Ricardinho ainda era uma criança. Não podia entender o que estava acontecendo. Mas esse dia está próximo... quando ele vai entender... tenho certeza. Mas agora só me importa uma coisa: voltar ao trabalho. Isso ainda não foi possível... As coisas mudaram muito durante os quinze anos que eu estive preso. Os amigos não se lembram mais de mim,  e os empresários, nem se fala! Eu me sinto uma pessoa totalmente estranha no meu próprio meio...

JUREMA  -  Mas eu me lembro de você... quero dizer... do senhor. Me lembro que foi a primeira peça de teatro a que assisti. Qual era mesmo? Ah, “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tenessee Williams. O senhor fazia o Stanley Kowalsky! Isso mesmo! Nunca me esqueci! O senhor não imagina a influencia que teve na minha vida. Foi naquela noite que eu decidi que seria atriz.

LEOPOLDO  -  (ar saudoso)  Lembro sim. Só que agora a realidade é outra. Eu passei da época. Felizmente, ainda há pessoas, como você, que se lembra de mim. 

JUREMA  -  Aceita mais um café?

LEOPOLDO  -  Não. Está delicioso, obrigado. (T) Sabe, eu simpatizei com você desde o início, e mais ainda quando descobri sua amizade com Ricardinho.

JUREMA  -  (fitou-o, curiosa) Eu também simpatizei muito com o senhor. Mas não entendo... o senhor é tão calmo, tão pacato... não parece o tipo de homem que matou alguém...

LEOPOLDO  -  (sério) Eu pratiquei o crime por causa de Danusa. Na época, ela era herdeira de considerável fortuna e se casou comigo seduzida pela minha fama no teatro... mas o casamento foi com separação de bens e o divórcio veio logo após a minha condenação. Ela sempre foi uma mulher fútil e vivia de frivolices. É verdade que nunca mais se casou, mas, em troca jogou meu filho contra mim.

JUREMA  -  Bem, pelo que eu sei, isso é verdade... Não tenho muito contato com D. Danusa.

LEOPOLDO  -  (ar sombrio) Mas chegará o dia em que Ricardinho saberá toda a verdade sobre o que aconteceu!

CORTA PARA:

CENA 4  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.
HELÔ VOLTARA PARA CASA, DEPRIMIDA. AO PASSAR PELA SALA DE ESTAR, ESTRANHOU AO OUVIR UM  SOM DE MÚSICA POP VINDA DA SALA DE VIDEO. CURIOSA, ABRIU A PORTA E DEPAROU COM SUSI DANÇANDO ANIMADA E SENSUALMENTE, ASSISTIDA POR OLIVEIRA RAMOS, QUE BATIA PALMAS, INCENTIVANDO-A A CONTINUAR.

HELÔ  -  (fuzilando Susi com o olhar)  Que palhaçada é essa? 

SUSI PAROU, ASSUSTADA. HELÔ AVANÇOU, ABRIU, FURIOSA, O COMPARTIMENTO DE CD DO MICRO SYSTEM E ATIROU O DISCO PELA JANELA.

SUSI  -  (olhou para o noivo, chorosa)  Você viu isso, amor? Viu o que ela fez?

OLIVEIRA RAMOS  -  Helô, minha filha, você foi longe demais!

HELÔ  -  (irônica) É mesmo, paizinho? Vai fazer o quê? Me internar num convento? (e para Susi)  Perua! Interesseira!

DITO ISTO, HELÔ CORREU PARA SEU QUARTO E TRANCOU A PORTA.

CORTA PARA:

CENA 5  -  QUARTO DE HELÔ  -  INT.  -  NOITE.

OLIVEIRA RAMOS  -  (off) Helô! Abra a porta, minha filha.

HELÔ  -  Me deixa, pai! Quero ficar sozinha!
 
APÓS ALGUNS SEGUNDOS DE SILENCIO, HELÔ OUVIU O BARULHO DA CHAVE GIRANDO NA FECHADURA. OLIVEIRA RAMOS ENTROU, PREOCUPADO, SEGUIDO DE MISS JULY.

OLIVEIRA RAMOS  -  Filha, o que aconteceu? Você estava tranquila. Foi dar um passeio na praia e voltou assim... Por quê fez aquela grosseria com a Susi? Ela quer ser sua amiga, mas você não deixa...

HELÔ  -  Eu nunca vou ser amiga dessa mulher! Nunca!

OLIVEIRA RAMOS  -  (desanimado) Não sei mais o que fazer... juro que não.

MISS JULY  -  Helô, o que aconteceu, minha querida? Você voltou tão nervosa...  

HELÔ  -  (com raiva)  Encontrei  aquele padre. Foi por causa dele que Nívea morreu. Quem foi que a atirou em cima das pedras, não importa! O que eu digo é que isso não teria acontecido se o padreco duma figa não tivesse virado a cabeça dela!

MISS JULY  -  Vou buscar o seu calmante. Você precisa relaxar, dormir um pouco.

HELÔ  -  Não quero nada, Miss July. Só quero ficar sozinha. Por favor, saiam do meu quarto.

OLIVEIRA RAMOS BALANÇOU A CABEÇA, RESIGNADO E SAIU, SEGUIDO DE MISS JULY.

CORTA PARA;

CENA  5  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

OLIVEIRA RAMOS  -  (pensativo)  Uma hora ela se culpa pela morte dessa moça, outra hora culpa o padre... Chego a ter medo... que ela esteja certa...

MISS JULY  -  (benzendo-se)  Não diga isso, doutor Oliveira... nem brincando...

OLIVEIRA RAMOS  -  Miss July, por favor, escolha um presente bem bonito e mande entregar na casa de seu Emiliano Louzada, pai dessa pobre moça, com os meus cumprimentos.

MISS JULY  -  Pois não, doutor! Mas... e D. Susi?

OLIVEIRA RAMOS  -  Foi embora aborrecida, ameaçando mais uma vez não pôr mais os pés aqui. Mais um problema para resolver, logo agora que o nosso casamento está marcado para depois de amanhã.

MISS JULY  -  Doutor... desculpe a intromissão, mas não seria melhor... adiar seu casamento?

OLIVEIRA RAMOS  -  Já tentei fazer isso, Miss July. Tive que desistir, porque quando toquei nesse assunto, Susi virou uma fera! Melhor casar de uma vez, numa cerimônia simples, sem o conhecimento da imprensa.

MISS JULY  -  E a lua-de-mel? Vão viajar?

OLIVEIRA RAMOS  -  Bem, ao menos isso eu pude contornar. Lua-de-mel, só no fim do ano. Por enquanto, não posso me ausentar do banco. Ainda bem que ela compreendeu e aceitou.

CORTA PARA:

CENA 6  -  APARTAMENTO DE EMILIANO -  SALA  -  INT.  -  DIA.

NO DIA SEGUINTE, EMILIANO, MARIETA E O PADRE VÍTOR FORAM SURPREENDIDOS COM A CHEGADA DE UMA BELA CESTA DE CAFÉ DA MANHÃ, COM OS CUMPRIMENTOS DO BANQUEIRO OLIVEIRA RAMOS.

VÍTOR  -  A que a senhora, D. Marieta, atribui isso?

MARIETA  -  Sei lá. Prefiro não pensar nada.

EMILIANO  -  O doutor Oliveira está cheio de gentilezas conosco nos últimos dias...

VÍTOR  -  Vocês sabiam que Ricardinho estava na casa daquela dona, a tal Jurema, na hora do crime?

EMILIANO  -  Ele apresentou esse álibi pro delegado?

VÍTOR  -  Exatamente. E com a confirmação da própria Jurema de Alencar!

EMILIANO  -  Será mesmo verdade?

VÍTOR  -  Isso é o que eu vou descobrir, seu Emiliano.

CORTA PARA:

CENA 7  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  SALA  - INT.  DIA.

A CAMPAINHA SOOU. DANUSA ABRIU A PORTA E EMPALIDECEU.

DANUSA  -  Você?!

LEOPOLDO  -  (entrando) Só queria saber: o que há com Ricardinho?

LEOPOLDO AVANÇOU PARA DANUSA. TRAZIA UM JORNAL NA MÃO, QUE ACABARA DE LER.

DANUSA  -  Ele era namorado de uma moça que foi assassinada.

LEOPOLDO  -  (os lábios contraídos)  Ele a matou?

DANUSA  -  Não! Por que você diz isso?!

LEOPOLDO  -  (mostrando o jornal) Bem, não sou eu, e sim, o jornal. Parece que desconfiam de Ricardinho.

DANUSA  -  Mas não é verdade, Leopoldo. Meu filho não seria capaz de matar ninguém. Muito menos uma moça tão bonita, com aqueles cabelos tão louros... Se bem que...

LEOPOLDO  -  (arregalou os olhos)  Se bem o que?

DANUSA DEU DE OMBROS. LEOPOLDO BAIXOU A CABEÇA E OLHOU PARA O OUTRO LADO.

LEOPOLDO  -  Eu não sei. Ás vezes a gente perde a cabeça e faz coisas que, depois, nem acredita...

DANUSA  -  Sim, ele é seu filho.

LEOPOLDO  -  E nós somos assim. Por isso, tenho medo. Ele está em casa?

DANUSA  -  Não. E acho melhor você se afastar dele!

LEOPOLDO  -  Você tem feito tudo para isso, eu sei.

DANUSA  -  Mas é que pode ser pior. Você acabou de sair da cadeia. Isso é ruim para ele...

LEOPOLDO  -  (nervoso)  Eu não quero prejudicá-lo. Quero ajudá-lo, no que for possível.

DANUSA  -  Ajudar em quê? Que é que você pode fazer? Nada. Você é um ex-sentenciado. E ele se envergonha de você. O melhor que você pode fazer a ele é sumir daqui! Para sempre.

LEOPOLDO FITOU DANUSA COM RANCOR. AS PALAVRAS DA MULHER O FERIAM PROFUNDAMENTE.

LEOPOLDO  -  Sua... sua desgraçada! Vou fazer o que eu devia ter feito há muitos anos atrás: vou  matar você, agora!
 
FIM DO CAPÍTULO 19
Susi (Maria Cláudia) e Renatão (Jardel Filho)

e no próximo capítulo...

*** Num gesto desesperado, Leopoldo apresenta-se à polícia como o assassino de Nívea!

*** Verinha fica desconfiada com a antipatia de Helô ao Padre Vítor. 

*** Oliveira Ramos e Susi casam-se!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 20 DE
 

 

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