domingo, 28 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 58


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 58

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DOMINGAS
POTIRA
JOÃO
CABO ELIAS
DELEGADO FALCÃO
RODRIGO
JERÔNIMO
GENTIL PALHARES
SOLDADOS

CENA 1  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  - DIA.

A carta de Eduardo deixara Ritinha excitada. Duda estava bem de saúde, apesar da dormência que ainda sentia na perna operada. Os médicos do clube o haviam examinado, superficialmente, aconselhando-lhe respouso e mais alguns dias de observação. Posteriormente, bateriam chapas radiográficas e, se necessário, retirariam o gêsso para um exame direto sobre o local. Duda morava, agora, na Ilha do Governador, numa casa de frente para o mar, para a Baía de Guanabara, arranjada por um dos diretores do Flamengo. Deixara a zona sul, preferindo o sossego da Ilha. Ritinha, dizia na carta, iria gostar do lugar, como se gosta da terra de nascença... A jovem esposa continuava a sorrir, lendo a carta do marido. Domingas aproximou-se. Tinha as feições amarradas.

RITINHA  -  Que é que você tem, Mingas?

Leu para a empregada alguns trechos da missiva. A criada não mudara para melhor. Permanecia séria, apreensiva.

RITINHA  -  (tornou a perguntar)  Tá me escondendo alguma coisa, Mingas?

DOMINGAS  -  Sei lá. Pergunta pro teu pai.

RITINHA  -  O que?

DOMINGAS  -  Pergunta prêle. Se o teu marido pode ficá tanto tempo... com aquela perna, assim.

RITINHA  -  (começou a inquietar-se)  Assim, como? Pois se papai fez um trabalho perfeito. Os médicos da cidade acharam bom o que ele fez.

DOMINGAS  -  (fez um muxôxo de ironia)  Trabalho perfeito, hem? Eu é que sei!

RITINHA  -  (segurou a senhora pelo braço, balançando-a rudemente) Mingas, o que há? Se você sabe de alguma coisa... diga, pelo amor de Deus!

DOMINGAS  -  (refletiu por alguns segundos e se decidiu)  O que eu digo... é que se o Eduardo ficar mais uma semana com a perna daquele jeito... o negócio pode encrencar.

RITINHA  -  Como?

Veio toda a verdade, numa enxurrada.


DOMINGAS  -  Ritinha, teu pai mentiu! Teu pai não extraiu a bala da perna dele! A bala ficô, tá me entendendo? Ficô lá, enterrada no osso e teu pai não tirô!

A moça perdera a fala. Queria dizer alguma coisa, mas a voz estreitava-se na garganta e não saía. Finalmente, conseguiu controlar as emoções e expressar o que desejava.


RITINHA  -  Não tirou? Não tirou a bala da perna do Duda?

DOMINGAS  -  Não, Ritinha!  Ele não conseguiu retirar. A operação era difícil, ele não tinha recurso.

RITINHA  -  Mas podia ter contado a verdade! A gente tinha tomado outra providência.

DOMINGAS  -  Pois é... o erro dele foi esse. Mentir que tinha tirado.

RITINHA  -  (descontrolada)  Por que mentiu? Por que?

DOMINGAS  -  Não sei te dizê a causa. Só te disse isso, pra que alguma coisa seja feita, logo, em favô do Duda.

RITINHA  -  Claro! É preciso avisar ele imediatamente. Eu tenho que fazer alguma coisa. Oh, meu Deus, mas o que, Mingas? O que é que eu faço?

CORTA PARA:

CENA 2  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT.  -  NOITE.


Era noite e Potira entrou apavorada, porta adentro. João parou a colher de sopa a meia distancia da boca.


POTIRA  -  Os soldado me seguiro. Eles vem aí!

JOÃO  -  (levantou-se calmamente)  Não precisa ninguém ficá assustado. Isso tinha que acontecê. Eu num vô passá  a minha vida toda fugino da polícia.

Foi á porta e escancarou-a. A figura mal-amanhada do cabo Elias encheu o quadrado da moldura.


CABO ELIAS  -  Noite, João!

JOÃO  -  Noite, cabo Elias! Alguma novidade?

CABO ELIAS  -  A gente tem orde de te levá preso, João.

JOÃO  -  Sinto muito, cabo, mas o senhô não vai cumpri a sua orde, porque eu num fiz nada pra merecê prisão.

CABO ELIAS  -  (visivelmente atrapalhado)  Pois é...  Mas a gente tem que lhe pedi pra nos acompanhá. É importante o que o delegado qué falá com ocê!

JOÃO  -  (tranquilizou o cabo)  Eu vou falá com o delegado. Diz isso prêle. Mas, vou por minha vontade, só pra vê o que ele qué. Vai, faz o que te mando, porque daqui eu num saio, em companhia de ninguém. (os soldados entreolharam-se, sem saber como agir. João aproveitou-se da indecisão para lançar sua derradeira investida)  Tu sabe que eu pago pra num entrá numa briga, cabo, mas, quando entro, pago pra num saí.

CABO ELIAS  -  (ordenou a um dos praças)  Vai tu avisá o delegado. Eu fico com João.

CORTA PARA:

CENA  3  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  NOITE.


Horas depois o delegado surpreendeu-se com a chegada do “prisioneiro”. João Coragem entrou, logo seguido do Cabo Elias. Falcão levantou-se, ágil, procurando o revólver que lançara sobre a cadeira. 


JOÃO  -  (perguntou, de imediato)  Eu sube... que o senhô queria falá comigo.

DELEGADO FALCÃO  -  Quero, sim. Muito, João. Muito, mesmo.

Levantou-se e apanhou, discretamente, um molho de chaves.


JOÃO  -  Antes de tudo, quero dizê que vim da própria vontade... e que não vou ficá aqui, mais do que uma hora. Portanto, se tivé de me dizê alguma coisa, seja breve...

Diogo Falcão estava num de seus dias de tranquilidade. Calmo, enérgico e intimorato.


DELEGADO FALCÃO  -  (sem levantar a voz)   É pena... mas o assunto que temos a tratar... é muito longo, João. (fez sinal para o cabo retirar-se).

JOÃO  -  (taxativo)  Então... eu num vô esperá, seu Falcão.

DELEGADO FALCÃO  -  Em todo o caso, vou fazer o possível para ser rápido.... mas, ainda assim, nós temos que conversar... com você atrás das grades...

JOÃO  -  Atrás das grades eu num vô ficá, Seu Falcão.  Volto noutra hora, então.

João  deu alguns passos para a porta. Os homens do delegado bloqueavam o corredor e a porta de saída, obstruindo todos os caminhos de retirada do garimpeiro. De armas a tiracolo, partiram para agarrar o moço. João deu um salto para trás, desferindo um murro no ar.


DELEGADO FALCÃO  -  Não adianta tentar resistir, João. Você está preso!

JOÃO  -  Há muito tempo, delegado, que eu ando com vontade de fazê isso!

Como um gato enfurecido, João atirou-se de encontro ao delegado, atingindo-lhe o queixo com um tremendo direto. Falcão vergou-se, sobre a mesa. Os soldados permaneciam estáticos. Falcão mal podia respirar e o garimpeiro voltava a despejar-lhe torrentes de sôcos, de direita e de esquerda. O rosto do delegado aos poucos, assumia o aspecto de um boxeador em vias de nocaute. Sangrava por todos os lados, e o olho esquerdo sumira, por entre as carnes entumescidas. João dava-lhe o castigo merecido, completamente fora de si. Finalmente, passada a surpresa, os guardas agiram com prontidão, subjugando o homem enfurecido. Falcão ergueu a cara amassada, limpando o sangue com a toalha suja que retirou do fundo de uma gaveta. Mal, muito mal, podia divisar vultos indefinidos por entre o pequeno espaço de visão do ôlho castigado. João mantinha-se calado, seguro pelas costas po três soldados do destacamento de Coroado.


DELEGADO FALCÃO  -  (com ironia; ofegante)  O santo... tem seu geniozinho, hem?  O povo de Coroado... precisava ver isso.

JOÃO  -  Ocê é um covarde, traidor, seu delegado. Merecia um castigo!

DELEGADO FALCÃO  -  Por que tanta revolta? Você não pode reagir, assim, a uma voz de prisão!

JOÃO  -  Mas eu não fiz nada... pra me prendê!

DELEGADO FALCÃO  -  Há acusações seríssimas contra você. Você matou Lourenço D’Àvila!

JOÃO  -  (revoltado)  Que tipo de delegado é você?  Eu não matei Lourenço! Por um simples motivo: não encontrei ele no meu caminho!

DELEGADO FALCÃO  -  (cortou a palavra do prisioneiro, com grosseria)  Não estou te perguntando nada. Você só fala quando eu mandar! Seu... (ia dizer um palavrão, mas se conteve. Olhou para a toalha ensanguentada)  Tranquem ele no xadrez. Vai mofar aí até quando eu quiser!

CORTA PARA:

CENA  4  -  COROADO  -  PENSÃO DE GENTIL PALHARES  -  QUARTO DE RODRIGO  -  INT.  -  AMANHECER.

Era inacreditável aquilo que Rodrigo ouvia, deitado ainda, no quarto da pensão. Regressara pela madrugada a Coroado e já Jerônimo o procurara para relatar os acontecimentos, iniciando pelo roubo do diamante. Esfregando os olhos vermelhos – dormira pouco nas últimas horas, Rodrigo se inteirava, pouco a pouco, da verdade.


RODRIGO  -  Isto não devia... não podia ter acontecido! Como é que vocês deixaram... como permitiram?

JERÔNIMO  -  (forçando a mão direita, espalmada, contra o próprio peito)  Mas... nós, nós é que podia evitar, doutô? A gente foi roubado! Se nossa casa foi invadida por aquele jagunço maldito, como é que a gente podia evitar?

Rodrigo levantou-se, sentando-se á cama. A sunga branca contrastava com a pele morena e os cabelos negros que lhe cobriam o corpo.


RODRIGO  -  Vocês tem prova de que foi Lourenço o autor do roubo?

JERÔNIMO  -  Prova... a gente num tem. Eles agiram na calada da noite. Só Cema é que podia reconhecer eles...

RODRIGO  -  E ela reconheceu?

JERÔNIMO  -  Reconheceu e não reconheceu...  Juca Cipó, por exemplo, conseguiu prová que tava na festa do Divino, naquela noite.

RODRIGO  -  E Lourenço?

JERÔNIMO  -  Sumiu logo depois do roubo... e só apareceu morto... naquele estado que lhe disse.

RODRIGO  -  (com a frieza de um juri)  Mas, foi João quem matou?

JERÔNIMO  -  Não! João disse que não foi!

Os dois rapazes assustaram-se com as batidas fortes e nervosas. Alguém os procurava, prêsa de terrível nervosismo. Era Gentil, o dono da pensão.

GENTIL PALHARES  -  Desculpe, Dr. Rodrigo! Venho avisar Jerônimo... teu irmão acaba de ser trancafiado no xadrez, pelo Falcão. (contou os detalhes, ante a surpresa dos rapazes)  Foi um Deus-nos-acuda, ainda há pouco, na delegacia! Dizem que João perdeu as estribeiras e acabou atacando o delegado, amassando-lhe as fuças...

JERÔNIMO  -  (boquiaberto)  Deus do céu... eu acho que o mano tá perdendo a cabeça!

Rodrigo vestiu-se em segundos.


RODRIGO  -  Vamos lá, Jerônimo!

Saíram juntos, aflitos, em direção á cadeia.


FIM DO CAPÍTULO  58
João espanca Falcão e vai prêso!

e no próximo capítulo...

*** DUDA TELEFONA DO RIO PARA RITINHA E CONTA Á ESPOSA O QUE ELA JÁ SABIA - SEU PAI NÃO RETIROU A BALA DE SUA PERNA!

*** JERÔNIMO MAL CONSEGUE DISFARÇAR O CIÚME AO VER PITIRA E RODRIGO BEIJANDO-SE.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 59

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 57


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 57
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
ESTELA
PEDRO BARROS
JOÃO
MARIA DE LARA


CENA 1  - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - ESCRITÓRIO  -  INT.  -  DIA.
 
Estela procurou o marido no silêncio do escritório, onde Pedro Barros remexia documentos e calculava preços de diamantes para revendas aos intermediários nas capitais do sul.


ESTELA - (entrou sem bater) Pedro... qual é o seu jogo?

PEDRO BARROS  - (ajeitando os óculos de aro de tartaruga) É duro viver debaixo do mesmo teto da mulher do seu ex...
   
ESTELA  -  (cortou) Isto é uma sujeira! É uma infâmia de sua parte!

PEDRO BARROS  -  Você vai penar! (vermelho de raiva)  Vai penar mais do que se estivesse nas chamas do inferno!

ESTELA  -  Eu tenho uma arma contra você (ameaçou, sem medo do descontrôle do marido) Não brinque comigo, Eu posso dizer a todo mundo que foi você quem mandou Lourenço roubar o diamante de João Coragem. Eu digo e arraso com você, Pedro. Tenha muito cuidado comigo! Eu acabo com você, Pedro! Você sabe disso!
      
PEDRO BARROS  -  (em tom baixo, com toda a fúria retida dentro de si) Experimente... diz a alguém uma palavra e vai ver o que te acontece.

ESTELA -  Podia dizer ao João Coragem... e ele teria uma forte razão para se defender das acusações que lhe fazem agora. Podia contar a verdade à nossa filha. Dizer que o golpe que você praparou para João foi o roubo do diamante, com auxílio do Lourenço.

PEDRO BARROS - E como é que você pode ter certeza disso?
   
ESTELA  -  (franca e ousada)  Lourenço me disse!

PEDRO BARROS  -  Se ele disse, é porque você estava de combinação com ele. Tinham já o plano de me trair, não tinham?

A mulher engasgou, ante a maquiavélica rede de idéias construída pelo marido.


ESTELA  -  Não... não é isso.

PEDRO BARROS  -  Portanto... você também está envolvida nisso. Diga alguma coisa e quem vai ficar desmoralizada é você. Diante de todo o povo... diante da mulher dele. E tem mais... Eu sei que você deu suas jóias como metade do pagamento das suas dívidas de jogo. A outra metade... tem que pagar já, porque passou o tempo que o tal de Souza te deu.(Estela estava lívida, com os lábios trêmulos. Vencida) Ele vem aí pra cobrar. Ou você paga... ou ele pode te meter na cadeia. (enquanto acendia um charuto, olhou o rosto branco da esposa. Estela estava a ponto de sofrer uma crise de histeria. Continuou, sádico) O Souza telefonou. Está me intimando a pagar, e eu não pago. A dívida é sua. Você que se arranje. Mas... estou lhe dando uma ótima oportunidade pra você sumir da minha vida. A dívida é boa desculpa. Você sai quase limpa. Não espere que eu te enxote desta casa, como você merece...

A mulher chegara ao cume do desespero e desceu ao chão da humildade.


ESTELA  -  Pedro... Pedro, você não quer me ajudar?

O coronel olhou-a, com desprezo, amassando com força, entre as mãos poderosas, um punhado de papel rabiscado. Estela observou a cena. Talvez fosse ela um pedaço desvalorizado daquele papel amassado... 


PEDRO BARROS  -  (dono da situação) Você tem três dias pra sumir. Não posso nem olhar pra sua cara.

Deixou o escritório, sem olhar para trás. Estela perambulou pelo compartimento e abandonou-se aos pensamentos, evitando as lágrimas que forçavam saída. Pedro teria a resposta. Mais tempo, menos tempo, pensava ela, daria ao brutamontes o troco que  merecia. Ou achava ele que era o dono do mundo?

CORTA PARA:

CENA 2  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT.  -  DIA.


O dia clareava, os galos cantavam em sucessivas repetições e o gado mugia, dando conta de que a vida retornava com os primeiros raios de sol. A vida no rancho entrara na rotina diária. O sol alcançava o ponto central de seu passeio pela terra, quando João acordou. Dormira numa esteira forrada com lençol alvo e perfumado. Lara não arredara pé do seu lado.


JOÃO  -  Eu dormi?

MARIA DE LARA  -  Desde ontem, amor. Foi um sono só!

JOÃO  -  Puxa vida! Como tava cansado!

A mulher encheu uma xícara com o café que Potira lhe entregara, minutos antes. O bolo de milho estava fresco e saboroso. E o queijo desmanchava na boca.

JOÃO  -  Ocê ficô aqui, comigo?

Ela fez que sim, movendo a cabeça, encabulada. O rapaz afagou as mãos da moça. Puxou-a para si e beijou-a nos lábios, acariciando de leve os bicos dos seus seios, por sobre a camisola fina.

JOÃO  -  Como tão as coisas?

MARIA DE LARA  -  Parece que os soldados estão rondando a casa. Jerônimo pediu pra você ficar aqui, por enquanto.

JOÃO  -  Bobage do Jerônimo. Tenho que tratá da minha vida. Não vô passá a vida toda fugino, como se tivesse culpa.

MARIA DE LARA  -  Acho que ele está esperando a vinda do Dr. Rodrigo, pra saber o que vocês devem fazer.

JOÃO  -  Que nada... Resolvo sozinho os meus problema. Preciso lá do conselho dos outro? Eu fiquei aqui, mas foi de cansaço...

Tornou a brincar com os seios da esposa.
   
MARIA DE LARA  -  (protestou, fracamente) Pára com isso, João...

JOÃO  -  Tá meio envergonhada... Que é isso? Já se esqueceu que a gente é marido e mulhé?

MARIA DE LARA  -  Não, João. É a única coisa da qual me recordo a todo momento e sempre com muita emoção. Porque você é o único bem da minha vida.

Os dois se olharam apaixonadamente, mas num movimento repentino, a moça desviou os olhos do marido e fixou-os num ponto qualquer do galpão.


JOÃO  -  Que foi?

MARIA DE LARA  -  Havia um outro bem... que eu perdi, amor.

   
JOÃO  -  (levantou-se, de estalo)  Já sabe? (a esposa confirmou, num gesto triste) Diacho... quem te contô?

MARIA DE LARA  -  Eu já andava desconfiada. Tinha de saber.

JOÃO  -  Ficou muito triste?

MARIA DE LARA  -  Você não imagina quanto. Fiquei tão chocada que perdi a noção das coisas, mais uma vez.

À lembrança de Diana, uma ruga de preocupação traçou um risco largo na testa do rapaz.


JOÃO  -  Perdeu?

MARIA DE LARA  -  É... aquela coisa horrível, eu acho que voltou. Porque não me lembro de ter pegado meu carro. Nem sei como fui aparecer no dia seguinte, dentro do carro, sozinha e sem sentidos.

João vestia a camisa, ainda transtornado com a notícia. 


MARIA DE LARA  -  O que houve? Ficou preocupado...

JOÃO  -  Pensei... que você tava curada daquelas coisa. O Dr. Rafael disse que o casamento ia te curá.

MARIA DE LARA  - (agasalhando-se entre os braços robustos do esposo) Que acha você que eu fiz, João?

JOÃO  -  Não posso sabê. Nem me interessa. Num precisa lembrá disso. Nem fale mais nisso. A gente tem uma vida inteira pela frente. A gente pode fazê uma outra vida... de paz... daqui pro futuro. Se ocê tá disposta a viver a minha vida, simples... a gente vive bem. Vou voltá a garimpar de novo... vou voltá firme ao trabalho, sem grande ambição. (fêz o sinal da cruz, com a cabeça erguida) Acho que foi castigo porque sonhei alto demais. Deus Nosso Senhô me deu uma lição... a gente tem que se conformá com o que tem. E eu tenho ocê, que é tudo pra mim. Ganhando pro gasto... eu vou continuando meu garimpo. E a gente faz a nossa casinha simples... e vamo tê uma dúzia de filho... uma dúzia só, não. Minha vó teve vinte filho. A gente vai tê vinte e dois. Vinte e dois garimpeirinho... tudo home.

Lara sorria ante a ingenuidade do marido e mais ainda, ao reconhecer a natureza do seu caráter, firme, leal, bondoso. Um homem para ser amado apaixonadamente.


FIM DO CAPÍTULO 57
Estela e Pedro Barros tem uma conversa tensa e decisiva.

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** DOMINGAS REVELA A RITINHA QUE O DR. MACIEL NÃO RETIROU A BALA DA PERNA DE DUDA, DEIXANDO-A DESESPERADA.

*** JOÃO VAI, POR VONTADE PRÓPRIA Á DELEGACIA FALAR COM FALCÃO. ENFURECIDO POR TENTAREM PRENDÊ-LO, ESPANCA VIOLENTAMENTE O DELEGADO DE COROADO!

 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 58 DE

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 56


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 56
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
JERÔNIMO
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
BRANCA
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
POTIRA


CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Sinhana estava ansiosa, á espera de notícias do filho. Durante o dia, dezenas de vezes, correra á porta, ao ouvir o barulho de patas ou o ruído rouco do motor de automóvel. Jerônimo, que saíra cedo para Coroado, regressava, agora, á hora do almoço, trazendo Lara a seu lado. A expressão de ambos denotava, claramente, o desassossêgo e a preocupação. João não dava notícias... E os dias se passavam, molemente. O rapaz atravessou a sala, jogou o paletó surrado num gancho da parede e se sentou, arfando, estirando as pernas, abertas em arco, por sobre um tamborete de madeira.


SINHANA  -  Alguma notícia do teu irmão?

JERÔNIMO  -  Não, mãe. Nenhuma. E tá todo mundo querendo jogá a culpa nele.

SINHANA  -  Mas ele saiu daqui pra dar fim ao Lourenço.  Não era isso que ocês tava quereno? Não era ocê que brigava com seu irmão pra ele fazê justiça?
  
JERÔNIMO  -  (descalçando as botas barrentas)  Não desminto. Eu queria que ele fizesse alguma coisa... mas não disse pra ele matá.
   
MARIA DE LARA  -  O que você queria que ele fizesse?

JERÔNIMO  -  Queria... que ele conseguisse o diamante. Era tudo o que eu desejava.

SINHANA  -  (arrastou um banco e sentou-se)  ... e que vingasse a morte do pai!

JERÔNIMO  -  Eu... eu nem sei o que queria. Talvez fosse isso... nem sei. Naquela hora eu queria tudo. Eu mesmo tinha que ter ido ao encontro dele... daquele bandido.   Se a gente tem que fazê justiça... resta ainda muita gente.

SINHANA  -  Tou contigo.   Resta, ainda, muita gente.

Lara voltou a falar, percebendo o rumo da conversa e as indiretas que a feriam.


MARIA DE LARA  -  Eu sei de quem vocês estão falando. Mas eu quero lhes dizer que não posso ser responsabilizada pelos atos do meu pai. E, se estou aqui, é porque não estou do lado dele. Reconheçam isso. E não me olhem com tanta acusação.

As palavras da nora ecoaram no coração de Sinhana. De fato, que culpa poderia ter Lara dos erros do pai? Jerônimo interrompeu-lhe os pensamentos.

JERÔNIMO  -  Afinal de contas... a gente foi vítima. Assaltaram nossa casa... roubaram... feriram nosso irmão Duda, e no final das contas... tá todo mundo, agora, contra João. E vão fazer do Lourenço uma vítima!

MARIA DE LARA  -  Afinal, vocês falam, falam, sem saber se foi João quem matou Lourenço.  Pode ser que não tenha sido!

JERÔNIMO  -  É... e eu tou torceno por isso.  Porque eu vi na cara daquela gente que viu o corpo do Lourenço... a revolta, a mudança... o esquecimento de tudo o que a gente passô... nos últimos tempos.  O povo... esse mesmo povo que apoiava nós... que tava do nosso lado, se esqueceu que Lourenço foi um ladrão... um assassino. Agora ele é vítima. É herói. E João um criminoso infame... segundo essa gente.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Falcão descobriu o corpo, azulado pela morte. Juca Cipó benzeu-se, com gestos indiscretos. Pedro Barros estimulava a mulher.


PEDRO BARROS  -  Coragem, minha senhora!

BRANCA  -  (virou o rosto, horrorizada, empalidecendo)  Meu Deus!
  
DELEGADO FALCÃO  -  Eram estas as roupas... que usava? Reconhece o anel?

BRANCA  -  É dele, sim! Os cabelos... não existe a menor dúvida. É meu marido! É ele! Foi assassinado! Assassinado, meu Deus!

A mulher sentiu o mundo rodar, como se estivesse num avião desgovernado. Falcão e Barros evitaram que ela caísse ao chão. Branca perdera os sentidos.
  
PEDRO BARROS  -  (ordenou a Juca Cipó)  Veja alguma coisa aí, pra ela tomá.

O café estimulou um pouco a mulher de Lourenço. Aos poucos foi se refazendo da vertigem, amparada pelos braços do delegado.

BRANCA  -  (com ódio)  Eu exijo puniçõo pra esse crime. Punição imediata.

DELEGADO FALCÃO  -  Mas... quem é o culpado?

BRANCA  -  João Coragem! João Coragem jurou ele de morte. Foi atrás dele, em minha casa, e jurou matar ele. Prendam esse homem ou eu não acredito mais na justiça! (agarrou as mãos do delegado, nervosamente)  O senhor tem que fazer alguma coisa e deve acreditar em mim! Era João Coragem o homem que esteve lá em casa. Em Morrinhos. Ele disse o seu nome. Me mandou rezar pra Lourenço não resistir, porque afirmava que meu marido tinha roubado o diamante dele. Mas ninguém podia provar isso. Meu marido não era um ladrão! Não era ladrão!

Branca mentia para salvar as aparências e vingar a morte de Lourenço. Vira o diamante e estivera presente, na noite em que Virgílio procurara o marido e lhe confessara que participara do roubo na casa dos Coragens. Mentia, agora, impelida pela desordem emocional e pela necessidade de se vingar do homem que ameaçara liquidar o assassino do pai (indiretamente a morte fôra provocada pelos acontecimentos da noite do assalto). Branca sorria, enlouquecida. Ao fundo, encoberto pela escuridão ambiente, o corpo de Lourenço destacava-se como um boneco de cêra num museu.

DELEGADO FALCÃO  -  Essa crueldade que fizeram com seu marido será castigada. (voltando-se para o coronel)  Pode levar a moça pra descansar, seu Pedro. Vou tomar as minhas providências.

BRANCA  -  (olhando de esguelha para o corpo)  Quando será o sepultamento?

DELEGADO FALCÃO  -  Vou liberar o corpo amanhã.

PEDRO BARROS  -  Lourenço D’Ávila vai ter um enterro digno do homem que era!  Bom empregado, ótimo trabalhador, honesto e bom caráter. Todo o povo de Coroado tem que saber que ele foi vítima do homem que eles veneravam como um santo.
  
BRANCA  -  (espantou-se com a revelação)  João Coragem... era tido como um santo?
 
DELEGADO FALCÃO  -  Era, dona. João Coragem era um exemplo de bondade, aqui na nossa terra...

BRANCA  -  E foi capaz de fazer aquilo? (apontou para o cadáver)  Aquela crueldade com meu marido?

DELEGADO FALCÃO  -  (fez que sim, balançando a cabeça)  Agora, o povo vai saber quem ele é. E eu, dona, Diogo Falcão, vou ter o prazer de tirar a máscara dele.

CORTA PARA:

CENA 3  -  ESTRADA  -  EXT.  -  DIA.

O sol estava a pino, queimando os arredores do rancho, mas o cavaleiro, andando a trote lento, não dava conta dos seus efeitos. A barba de vários dias, negra, contrastava com a camisa branca, salpicada de pó. Jerônimo reconheceu-o de imediato e a trote largo encaminhou-se a seu encontro. Era João.

CORTA PARA:


CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT. -  DIA.

Os dois rapazes, abraçados, entraram no galpão de tantas recordações, boas e más, para o recém-chegado. Jerônimo abriu o diálogo.


JERÔNIMO  -  Tava aflito contigo, irmão.

JOÃO  -  Que foi que houve? Não me deixou ir pra casa. Que te aconteceu, home?

JERÔNIMO  -  Tou há um dia e uma noite te esperano, na estrada.

JOÃO  -  (franzindo a testa, admirado)  Por que?

JERÔNIMO  -  Tu não sabe, ainda? Junto da nossa casa tem home da polícia, te esperano.

JOÃO  -  Uai! E que foi que eu fiz?

JERÔNIMO  -  (desconfiado)  De onde tu vem, João?

JOÃO  -  De muito longe. Venho da cidade de Franca. Tou viajando há mais de quatro dias. Viaje dura. Num foi brincadeira, não.

JERÔNIMO  -  Que é que tu foi fazê na cidade de Franca, mano?

JOÃO  -  Tu sabe que lá é que tem bom comprador de diamante. Lá é que Lourenço tinha conhecimento. Pois eu fui atrás do sem-vergonha, naquela cidade, esperano encontrá ele.
  
JERÔNIMO  -  E... num encontrô?

JOÃO  -  Nada. Percorri a cidade inteira... perguntei pra Deus e o mundo... ninguém sabia dele. Ele num apareceu por lá. Desisti e resolvi vir tratá da minha vida, continuá procurando ele, por aqui.
   
JERÔNIMO  -  (sério e com fisionomia severa)  Hoje...  é o entêrro dele, João!

A notícia deixou o garimpeiro de boca aberta. Durante breves segundos não pôde dizer palavra. Até que se recompôs, apertando com força os braços do irmão.

JOÃO  -  Morreu... o desgraçado?

JERÔNIMO  -  Morreu matado!  E tão dizeno... que foi ocê, mano! Aí é que tá o diabo!

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.    -  DIA.


Potira correra das margens do riacho até ao rancho de paredes brancas para dar a boa nova.


POTIRA  -  Mãe, Sinhana! Lara! João chegou!

MARIA DE LARA  -  Tem certeza?

POTIRA  -  Jerome esperô por ele, na estrada. Lá longe, perto do rio. Eu tava veno o garimpo e vi o encontro dos dois. Ele veio na estrada, de longe. Jerome foi ao encontro dele... e os dois fôro lá pro galpão.

SINHANA  -  Tão lá?

POTIRA  -  Tão. Conversano. João tá todo sujo e barbudo.

MARIA DE LARA  -  (ajeitou-se ao espelho e afivelou o cinto de couro) Eu vou até lá pra ver João!

SINHANA  -  Cuidado com o que vai fazê, moça. Tem home da polícia rodeano a casa.

Lara saiu correndo sem se importar com as precauções necessárias.

CORTA PARA:

CENA  5  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT.  -  DIA.

No galpão, sentados sobre montes de capim sêco, João e Jerônimo trocavam idéias.


JOÃO  -  Tou lhe afirmano, Jerônimo. Não fui eu que tirei a vida daquele miserável. E não tirei por uma razão: não encontrei com ele no meu caminho. Mas te digo, se tivesse encontrado, teria matado com as minhas mão. Bastava ele dizê que não me entregava o meu diamante... e eu acabava com ele.

JERÔNIMO  -  Pois é... mas alguém fez o serviço por ocê. E acho que o interêsse era, também, o diamante. A pedra num foi encontrada com o corpo, irmão.
  
JOÃO  -  (estremeceu)  A minha pedra... num foi achada?

JERÔNIMO  -  Não. Acharo tudo com ele. Anel e documentos. Menos a pedra.

JOÃO  -  Diabo, Jerônimo! Então... num tem mais esperança da gente encontrá ela?

JERÔNIMO  -  Acho que não....

JOÃO  -  (profundamente aborrecido)  Diacho!  E eu que viajei tanto... pra vê se ao menos... recuperava a minha pedra.

JERÔNIMO  -  Tá tudo contra nós, irmão.

Batidas leves na porta, levaram ambos a procurar refúgio. Jerônimo apontou para um grampo de aço que se projetava do chão. Por baixo, um quadro de madeira ocultava um compartimento subterrâneo. João correu a esconder-se ali. Jerônimo abriu a porta.

Era Lara.


Potira vinha atrás e chegou a tempo de ver João deixar o esconderijo e beijar apaixonadamente a esposa.

A mestiça espicaçou o homem a quem amava.


POTIRA  -  Num tá com inveja? Ou tu num é home?

JERÔNIMO  -  Num enche!  Que é que tu tá fazeno aqui? A gente tá falano de coisa séria.

POTIRA  -  Olha...  os soldados tão rodeano a nossa casa, o tempo todo.
  
JERÔNIMO  -  Tá ouvino, mano? Tem soldado rodeano a nossa casa. Pra te agarrá. São os home do Falcão, a soldo do coronel...

MARIA DE LARA  -  Como é que vai ser, João? Vai se deixar agarrar?

JOÃO  -  Eu tava dizeno pro meu irmão... num tenho culpa, porque num matei o desgraçado do Lourenço. Mas, num matei porque num encontrei ele pelo caminho.

MARIA DE LARA  -  Se não matou, não há o que temer!

JERÔNIMO  -  Não há o que temer... mas é bão ele num se deixá agarrá.  Acho melhor fugir.

JOÃO  -  Acho que não.  Fugindo dou prova de culpa.

JERÔNIMO  -  Sim... mas da forma que a coisa foi tramada, vai sê muito difícil tu prová sua inocência.

JOÃO  -  (largando  a mão da esposa)  A coisa tá tão séria, assim?

JERÔNIMO  -  Muito mais do que tu pensa!

Jerônimo tornou a olhar para fora, através das frestas da janela. Os soldados passeavam atentos com as armas encostadas ao ombro. Por enquanto João não tinha saída.


FIM DO CAPÍTULO 56
João e Lara beijam-se, no galpão, sob os olhares de Jerônimo e Potira
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** PEDRO BARROS PREPAROU SUA VINGANÇA CONTRA A INFIDELIDADE DA ESPOSA, ESTELA.

*** JOÃO E MARIA DE LARA PASSAM A NOITE NO GALPÃO.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 57 DE



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 55


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 55
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
PEDRO BARROS
DR. MACIEL
JERÔNIMO
BRANCA
JUCA CIPÓ

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

A noite caía quando o delegado chegou á fazenda de Pedro Barros. Saltou lépido para o chão e apressou-se a procurar o coronel.


DELEGADO FALCÃO  -  Temos novidades...
  
PEDRO BARROS  -  (cortou)  Já andei sabendo. Essas coisas correm léguas. É mesmo verdade? Lourenço foi encontrado morto, no rio?

DELEGADO FALCÃO  -  Tudo indica que é ele.  Eu vim só avisar. Agora, tenho que chamar a mulher dele, em Morrinhos, pra ela vir fazer o reconhecimento em definitivo.
 
PEDRO BARROS  -  Acharam documentos? 

DELEGADO FALCÃO  -  Estão quase destruídos.  Já mandei secar pra ver se a gente descobre alguma coisa.

PEDRO BARROS  -  E João? Já apareceu? Faz mais de dez dias que saiu daqui e até hoje não se sabe notícias dele.

DELEGADO FALCÃO  -  Não, seu coronel. O homem ainda está sumido. Quem está muito preocupado com a coisa é o Jerônimo.

Barros abriu os olhos e sorriu glacialmente. Deu um passo á frente, diminuindo a distancia que o separava do delegado. Havia malícia nos gestos e atitudes, quando se dirigiu ao protegido.

PEDRO BARROS  -  Chegou a nossa vez, Falcão. Não tem dúvida de que foi João quem matou Lourenço. O encontro do corpo... a ausencia do safado... já bastam como prova, não acha?

DELEGADO FALCÃO  -  Não, ainda não, meu coronel.

PEDRO BARROS  -  Você está do lado dele, Falcão?

DELEGADO FALCÃO  -  Não. Mas, eu quero fazer a coisa como se deve. Não quero que digam que estou agindo fora da lei.

PEDRO BARROS  -  Onde está o corpo?

DELEGADO FALCÃO  -  Numa sala da delegacia.  O doutor Maciel está fazendo a autópsia para saber a causa da morte.
 
PEDRO BARROS  -  É verdade que a cara dele foi destruída?

DELEGADO FALCÃO  -  Completamente.   Causa pavor só a gente olhar. Tá tudo esburacado...

PEDRO BARROS  -  (com voz doce e traiçoeira)  Eu quero te ajudar. Tem que mandar alguém chamar a mulher de Lourenço, não tem?

DELEGADO FALCÃO  -  Tenho e vou fazer isso, imediatamente. É ela quem vai dar a palavra final.
  
PEDRO BARROS  -  (confidenciou)  Pode deixar... eu faço isso pra você, meu amigo. Em menos de três horas eu chego até Morrinhos, no meu carro. E trago ela pra você.

O coronel abraçou amigavelmente o delegado, levando-o para um trago na sala de visitas.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  NOITE.

O viciado médico, com o rosto inchado e ligeiras linhas vermelhas traçando desenhos sinuosos sobre o nariz, lavava as mãos, depois do trabalho desagradável da autópsia.


DR. MACIEL  -  Cada uma que acontece! Eu tenho que fazer tudo nesta cidade. Me dêem um gole, senão quem vai precisar de autópsia, daqui a pouco, sou eu.
  
DELEGADO FALCÃO  -  (deu um passo à frente)  Quais as suas conclusões?

Antes de responder, Maciel aceitou um trago que Jerônimo, presente á delegacia, lhe oferecia. Bebeu de uma talagada.

DR. MACIEL  -  Ele foi morto... a cêrca de uma semana atrás.

DELEGADO FALCÃO  -  (fez as contas nos dedos)  João saiu pra procurar ele, há uma semana.
  
JERÔNIMO  -  O que mais, seu doutô?

DR. MACIEL  -  Foi baleado... no peito. Duas balas atingiram o coração e o fulminaram.
  
DELEGADO FALCÃO  -  João saiu armado, disposto a tudo...

A insistencia do delegado irritou o garimpeiro.

JERÔNIMO  -  Por que teima em dizer que foi meu irmão?

DELEGADO FALCÃO  -  Pelas palavras dele, quando saiu daqui...

JERÔNIMO  -  O que mais achou, doutor?

DR. MACIEL  -  (limpando as unhas com a ponta de um bisturi)  O rosto... foi desfigurado... propositalmente. Não me peçam pra dizer de que maneira... porque eu não saberia responder. O fato é que foi feito de propósito. Quanto a isto, não tenho a menor dúvida. Foi um trabalho de magarefe.

JERÔNIMO  -  Nas roupas...  além dos documentos estragados... num foi encontrado mais nada?

DR. MACIEL  -  (curioso)  Mais nada. Por que?

JERÔNIMO  -  Porque... ele tinha o diamante do meu irmão.

O médico percebeu a dúvida no olhar e nas palavras do Coragem.


DR. MACIEL  -  (aborrecido)  Pode vir comigo... e revistar você mesmo... se não confia na minha palavra.

JERÔNIMO  -  (olhou significativamente para o delegado) Posso ir, Falcão?

DELEGADO FALCÃO  -  Pode.

CORTA PARA:

CENA 3  -  MORRINHOS  -  CASA DE LOURENÇO D'ÁVILA  -  SALA  -  INT.   -  NOITE.

A mulher, atônita e incrédula, ouvia as revelações que lhe faziam. A madrugada ia em meio e um ventinho frio penetrava pelas frestas da porta e das janelas. A hora pedia cama e cobertor, mas Pedro Barros e Juca Cipó não pensavam assim. Enfrentaram léguas e léguas durante as horas da madrugada, para alcançar Morrinhos antes do sol nascer. Agora se encontravam diante da mulher do ex-capataz. Branca D’Ávila chorava.


BRANCA  -  ... mataram meu marido!

PEDRO BARROS  -  Um corpo foi encontrado.  A gente precisa que a senhora vá ver ele pra dizer se é seu marido.

BRANCA  -  Mas... quem? Quem matou?

PEDRO BARROS  -  Não se sabe, ainda.  Ou melhor: não podemos acusar sem provas...
   
JUCA CIPÓ  -  (histérico)  Diz pra ela, diz, patrão. Diz que João Coragem jurou Lourenço de morte.

PEDRO BARROS  -  Isso é verdade.

A mulher ergueu-se, precipitada, ao ouvir o nome do rapaz.


BRANCA  -  João Coragem! Este homem esteve aqui, procurando por ele!

PEDRO BARROS  -  Pois é.  Parece que João cumpriu a sua palavra. Não voltou a Coroado desde que saiu de lá... há mais de uma semana... e este é um forte indício.

JUCA CIPÓ  -  Só pode ter sido ele.  Num foi outro, patrão. Ele jurou, jurou mesmo o... e dizia para todo mundo. Pra quem quisesse ouvi... “eu mato Lourenço, mato Lourenço; ele roubô meu diamante!”

Com a cabeça caída contra o peito e as duas mãos ocultando a face, Branca procurava abafar os soluços.

PEDRO BARROS  -  Eu vim buscá-la.  Para fazer o reconhecimento. É possível... que não seja ele. Tudo vai depender da sua palavra...

BRANCA  -  (descontrolada)  Foi João Coragem... foi ele, sim!  Me disse, aqui, que eu devia rezar para Lourenço não opor resistência... ao lhe entregar o diamante.

Juca e o coronel entreolharam-se, num movimento instantâneo. Havia ironia nos olhos de ambos.


BRANCA  -  (insistia)  Só pode ter sido ele!

PEDRO BARROS  -  (ajeitava as coisas a seu modo) Lourenço... não tinha inimigos.

JUCA CIPÓ  -  (com trejeitos esquisitos)  Só João Coragem...  que era inimigo dele, de morte.

PEDRO BARROS  -  Sinto ter que pedir á senhora pra acompanhar a gente. Tenho o carro, aí fora, pra lhe levar até Coroado.

Ela ergueu a cabeça, olhando fixamente para o velho de cabelos compridos e longa barba grisalha. Parecia-lhe sincero e digno de confiança. E era marido da mulher que modificara o comportamento de Lourenço, levando-o, quem sabe, ao crime. Ao roubo e ao assassínio.

   
BRANCA  -  (quase suplicante)  Há alguma esperança... de que não seja Lourenço?

PEDRO BARROS  -  Eu não posso saber, minha senhora. Tudo é possível. Tudo é possível.

A mulher levantou-se e entrou no quarto. Voltou minutos após, já pronta e com uma pequena mala na mão.


BRANCA  -  O senhor disse que João Coragem sumiu?

PEDRO BARROS  -  É... parece que fugiu, o sem-vergonha.

BRANCA  -  Então... não há dúvida, foi ele mesmo.  Foi ele mesmo... que matou o meu Lourenço!

FIM DO CAPÍTULO 55
Lourenço D'Ávila (Hemílcio Fróes)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** BRANCA D'ÁVILA RECONHECE O CORPO E O ANEL DE LOURENÇO.

*** JERÔNIMO DIZ A LARA QUE O MESMO POVO QUE, ANTES APOIAVA E CONSIDERAVA JOÃO UM HERÓI, AGORA O CONSIDERA UM ASSASSINO.

*** JOÃO VOLTA DA VIAGEM E FICA SABENDO QUE TORNOU-SE UM FORAGIDO PROCURADO PELA JUSTIÇA!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 56 DE


sábado, 20 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 54


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 54
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DOMINGAS
DR. MACIEL
BRAZ CANOEIRO
JERÔNIMO DELEGADO FALCÃO
GARIMPEIROS


CENA 1  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  QUARTO DE RITINHA  -  INT.  -  DIA.

Ritinha e Duda conversavam, deitados na larga cama de casal.


DUDA  -  Você tá bem certa de que esta é a solução?

RITINHA  -  Não é solução, Eduardo. É só um adiamento da solução que a gente precisa. Me deixa ficar um pouco mais aqui... pelo menos até nosso filho nascer. Nesse estado, eu tenho certeza de que não vou poder reagir contra as coisas que me esperam lá no Rio.

DUDA  -  Você me faz sentir um fracassado...

Ritinha debruçou-se sobre seu corpo, abraçando-o pelo peito.

RITINHA  -  Não tou te acusando, Eduardo. Acho até que não é você quem tem culpa. Sou eu mesma, que não me ambientei... sei lá... eu tinha que ter o gênio diferente... tinha que ser mais... mais avançada. Acho que sou quadrada, antiquada... boboca... não sei bem o que é isso, meu amor.  (beijou o queixo do marido, subindo com os lábios colados á pele, até os lábios dele)  Só sei que eu sofro demais com as coisas. Não tenho a frieza, aquela indiferença, aquela superioridade que a gente tem que ter pra viver na capital.

DUDA  -  Como assim?

RITINHA  -  Eu sou uma sentimental...

Girando sobre o corpo, o rapaz apertou-a amorosamente.

DUDA  -  Eu gosto de você, assim. Eu também sou um sentimental... Sou tudo isso que você disse, amor. E como é que eu vou viver sem você?

Algumas lágrimas molhavam o rosto aveludado da moça.

RITINHA  -  É só até nosso filho nascer. Depois, eu vou procurar me adaptar mais ás situações... vou procurar ser mais fria... tentar gostar menos de você, pra não te atormentar tanto. Mando te avisar logo que o nenê nascer. (beliscou de leve o peito do marido) Que nome você quer que ponha?

DUDA  -  (com tristeza)   Se for homem... bota o nome do meu pai.

RITINHA  -  Sebastião... é tão comprido. Deixa eu pôr Eduardo, mesmo...

DUDA  -  Não.  Ele tem que ter mais sorte do que eu. Se for mulher... bota o seu nome.
  
RITINHA  -  (sorriu, sem graça)  Não. Ele tem que ser mais feliz do que eu sou...

Depois de sorver um longo trago de fumaça, Duda atirou fora a guimba e contornou com a mão o ventre da esposa. Ali estava a razão de todo o seu futuro. Dele e da mulher a quem dia a dia amava mais.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


Domingas já preparara as malas de e escutava os resmungos de Maciel, aborrecido com o andamento da conversa. A mulher tentava forçar o médico a confessar a verdade aos emissários do Flamengo.


DOMINGAS  -  Já falou pra eles... da bala que ainda tá na perna do Duda?

DR. MACIEL  -  (com brusquidão)  Não vou falar, nem agora, nem nunca!  Não quero. Acho que não devo dizer.

DOMINGAS  -  (preocupada)  Como é que vai ser... quando souberem?

DR. MACIEL  -  Operam ele, pronto! Não tem problema!

DOMINGAS  -  (insistiu)  Pode passar do tempo!
  
DR. MACIEL  -  (esbravejando furiosamente)  Nada disso! Nada disso! E não me amola!

CORTA PARA:

CENA  3  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.
   
Duda deixou o quarto, já vestido. Calças vermelhas, justas, camisa-esporte preta, com desenho em branco á altura do peito. Ritinha acompanhava-o, chorosa.


DR. MACIEL  -  (avisou, sem se voltar para o casal)  Estão te chamando, lá no carro. Vocês tem que tomar o avião, na próxima cidade. Está quase em cima da hora.

Duda atravessou a sala, em direção ao sogro.


DUDA  -  Peço pro senhor olhar bem por ela. Depois ela vai comigo. Depois que o nenê nascer...
   
DR. MACIEL  -  Não precisa recomendar. Aqui ela está melhor do que naquela vida que você deu a ela.

Duda segurou as malas, beijou longamente a mulher e saiu em direção ao automóvel que o aguardava do outro lado da rua. Ritinha chorava, abafadamente.

CORTA PARA:

CENA 4  -  GARIMPO DOS CORAGEM  -  EXT.  -  DIA.


Braz orientava os garimpeiros.

BRAZ  -  Mais pra cá. Cuidado! Assim, não. Puxa, agora!

O corpo vinha boiando, trazido pela correnteza, emaranhado nos cipós e nos galhos de árvores caídos no rio. A princípio era um ponto vago, deslizando célere pelas águas, meio emborcado. Depois, á medida que se aproximara, começou a despertar as atenções do garimpo. Finalmente, ao se estreitar entre duas rochas luzidias erguido pelas águas, os homens não tiveram dúvidas: era um corpo. Os garimpeiros organizaram uma barragem humana e, com varas de bambus, introduzidas por entre as vestes rôtas, içavam-no para a margem. O cadáver chegara á terra; as leves vagas banhavam-lhe os pés, inchados e arroxeados.

BRAZ  -  (tapando a boca com as mãos)  Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo! Tão reconhecendo?

Os homens se reuniram em torno do defunto. Os olhos eram duas pequenas crateras ôcas, e parte dos lábios e do nariz já não existiam, devorados pelos peixes. 

ANTONIO  -  (recompôs-se ante a cena tétrica)  Como é que se pode reconhecer? O rosto não é mais rosto...
   
BRAZ  -  (debruçou-se sobre o corpo)  Credo em cruz! Tá desfigurado!

ANTONIO  -  (agachando-se e apontando a cara corroída do morto)  E num foi só as águas do rio que desfiguraro...

BRAZ  -  Mas... as roupa... num tão vendo?

Ante a insistencia os demais tentavam identificar as vestes do cadáver.


ANTONIO  -  (excitado)  Tá me parecendo... ou muito me engano... ou é o Lourenço D'Ávila!

Braz recuou assustado, vendo confirmarem-se suas suspeitas. Era o corpo de Lourenço, deformado, mas era. E o achado levantaria toda uma série de hipóteses, com a figura de João Coragem centralizando tudo. Braz pensava rápido.

BRAZ   -  Gente! Ninguém mexe no corpo! Vão chamá o delegado.

CORTA PARA:

CENA  5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  EXT.  -  DIA.

A delegacia fervilhava. Era o assunto do dia em Coroado. Lourenço fôra encontrado morto, boiando no rio! Diogo Falcão dava ordens aos seus homens – “ninguém pode entrar; só Braz Canoeiro e Antonio”. Fechou a porta com grosseria, ameaçando Deus e o mundo... Jerônimo, ao saber da novidade, fôra para a cidade, e conversava com os garimpeiros que presenciaram a retirada do corpo.


JERÔNIMO  -  Ocês tem certeza? O home morto é, mesmo, Lourenço D'Ávila?

GARIMPEIRO  -  Certeza a gente num tem. A gente só reconheceu as roupa.E juro como já vi Lourenço com aquelas!

Falcão apareceu na porta, agitado, ajeitando o revólver na cintura. Braz e Antonio acompanhavam-no, parecendo temerosos com o andamento do caso. 

JERÕNIMO  -  Vamos segui pra lá, seu Falcão.

DELEGADO FALCÃO  -  É o jeito!
 
BRAZ  -  Não deixemo ninguém mexê em nada, seu Falcão! Pra esperá pela sua autoridade!

DELEGADO FALCÃO  -  (ordenou, montando no alazão e saindo em disparada)  Vamos embora!

CORTA PARA:

CENA 6  -  GARIMPO DOS CORAGEM  -  EXT.  -  DIA.


O sol, inclemente, tostava a face arroxeada do cadáver por sobre quem as môscas pousavam, inquietas. Alguns homens cobriram o corpo com palmas de coqueiro, mas o cheiro infecto já se desprendia forte e nauseabundo.


O grupo de cavaleiros estacou a alguma distancia da margem do rio, devido á ribanceira que impedia o trote livre das montarias. Saltaram e dirigiram-se para o local.

Diogo Falcão, com um lenço sobre o nariz, ajoelhou-se diante do corpo, franzindo a testa, horrorizado. 


JERÔNIMO  -  Desfigurado!

DELEGADO FALCÃO  -  Está!  E não foram só os peixes que roeram. Isto foi feito... de propósito... por maldade...

JERÔNIMO  -  É Lourenço?

O delegado apontou para um anel de prata, com as letras em relêvo, num dos dedos do cadáver.

DELELGADO FALCÃO  -  Olha pra isto... o anel de Lourenço...

Jerônimo examinou a peça, mal acabada.


JERÔNIMO  -  Então, num tem dúvida, é ele mesmo!

DELEGADO FALCÃO  -  Vamos ver se restou algum documento.

O delegado, com repulsa, abriu o paletó do defunto e rebustou os bolsos internos. Havia papéis, destruídos pela umidade. Ilegíveis.

JERÔNIMO  -  (ajudando a recompôr as folhas arrancadas)   Sempre servem para alguma coisa...

DELEGADO FALCÃO  -  (reuniu os documentos com cuidado e conclamou os garimpeiros) Preciso da ajuda de vocês. Vamos levar o corpo pra cidade! Com muito cuidado, gente! Quem é que vai ajudar?

CORTA PARA:

CENA  7  -  COROADO  -  RUA  -  EXT.  DIA.


Envolto num lençol branco, o corpo do capataz, dobrado sobre os costados do cavalo, cruzou as ruas de Coroado, apinhadas de gente.


FIM DO CAPÍTULO  54
Lara, Potira e Sinhana

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** PEDRO BARROS DIZ A FALCÃO QUE NÃO HÁ DÚVIDAS QUE JOÃO MATOU LOURENÇO.

*** BRANCA, MULHER DE LOURENÇO, AFIRMA A FALCÃO E A PEDRO BARROS QUE JOÃO É O ASSASSINO DO MARIDO!

 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 55 DE


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 53


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 53

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
PEDRO BARROS
JOÃO
DALVA
INDAIÁ
MARIA DE LARA
TABERNEIRO
LOURENÇO
BRANCA


CENA 1  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Falcão arrancou com violência o fone do gancho, mal esperando o fim do primeiro sinal. Barros observava, atento, com as mãos agarrando a aba do chapéu.


DELEGADO FALCÃO  -  Fala! Ah, Aninha. Pode dar as notícias. (uma pequena pausa dava conta de que o delegado ouvia os detalhes da ocorrência) Telefonou de novo? Do mesmo lugar, Morrinhos... Não disse onde está, nessa cidade? Como? Disse?  (Pedro Barros moveu-se, impaciente)  Pediu a ajuda... da mulher! Ótimo! Acho que isto é o bastante, Aninha. Obrigado.

DELEGADO FALCÃO  -  (desligando o telefone)  Temos uma pista direta, coronel. Eu vou lá e trago ele.

PEDRO BARROS  -  Sabe onde ele tá?

DELEGADO FALCÃO  -  Só pode estar na casa da esposa. Disse que pediu ajuda a ela. Agora ele está no papo, meu coronel!

João Coragem ouviu as derradeiras palavras do delegado. Acabara de entrar na delegacia, com as vestes amarrotadas e um volume significativo por debaixo da camisa. Os homens voltaram-se num movimento só, quando a voz do garimpeiro encheu a sala.

JOÃO  -  Então, já sabe onde anda Lourenço?
   
DELEGADO FALCÃO  -  Acabo de saber. Mas, isso é caso meu.

JOÃO  -  É meu, também.

Não havia mais que frieza nos gestos do rapaz. Falcão percebeu a transformação ocorrida no homem.


DELEGADO FALCÃO  -  Você não confiou na minha justiça? Pois deixa que eu agarro ele e o trago preso.
   
JOÃO  -  Tenho de reaver meu diamante. Quem é a mulhé que sabe dele?

DELEGADO FALCÃO  -  É a esposa, em Morrinhos.

Barros fechou a cara.

DELEGADO FALCÃO  -  Acabamos de interceptar um telefonema dele para... para... bem, para alguém... e ele disse que tinha pedido a ajuda da mulher. Mas... você deixa que eu faço o que deve ser feito.

De um lance, os olhos do garimpeiro fixaram-se no coronel.

JOÃO  -  Não... o senhô num faz nada. Tem um mandante criminoso na sua frente... e deixa ele sôlto. Eu vou acabá com a vida de Lourenço. Depois... volto pra acabá com o segundo... e o terceiro (concluiu, olhando significativamente o velho coronel).

Diogo Falcão ameaçou o garimpeiro, com o dedo em riste.

DELEGADO FALCÃO  -  Você vai se dar mal, João! Muito mal.

Sem se importar com a ameaça, o rapaz virou as costas e afastou-se.

CORTA PARA:

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE-  SALA  -  INT.  -  DIA.

Maria de Lara apareceu na fazenda, inesperadamente. Extenuada, o suor a correr por todo o corpo. Preguiçosamente, atirou-se sobre a poltrona, esticando as pernas enegrecidas de poeira. Estava ofegante pelo demorado esforço. Dalva avistou-a, do fundo da sala.


DALVA  -  Lara! Que está fazendo aqui?

INDAIÁ  -  Ela veio andando... desde a casa dos Coragem!

DALVA  -  Que loucura!  Podia ter uma recaída!

MARIA DE LARA  -  Recaída... de quê? A senhora quer dizer que eu não posso fazer exercício... de andar?
   
DALVA  -  (sentiu-se engasgar)   -  É... tudo tão recente... eu quero dizer...
   
MARIA DE LARA  -  (cortou, bruscamente)  -  O que é recente? Eu ter perdido meu filho? (Indaiá procurou os olhos arregalados da irmã de Pedro Barros. Lara insistiu)  É isso, tia Dalva, o que a senhora quer dizer?

DALVA  -  Alguém já lhe contou?

MARIA DE LARA  -  Que eu perdi  meu filho? Então é verdade?

DALVA  -  (pálida, com feições transtornadas)  Bem... se você já sabe... como é que posso negar?

MARIA DE LARA  -  (desesperava-se à medida que tomava conhecimento da verdade)  Deus do Céu!  Por quê deixaram acontecer?

DALVA  -  Ninguém deixou! Foi um acidente! (justificou-se, dando um passo em direção á moça. Lara esquivou-se, enojada, olhando o rosto pálido da outra. Dalva continuou)  Só posso dizer que você foi vítima inocente de Lourenço.O que ele pretendia era roubar João e você, naquele instante, era uma ameaça. Você ou... Diana, ia avisar João do golpe que eles estavam preparando.

Lara deixou escapar um grito surdo, de revolta e dor, caindo de bruços sobre a poltrona.

CORTA PARA:

CENA 3  -  MORRINHOS  -  TABERNA  -  INT.  -  NOITE.


Era noite. João Coragem chegara há pouco. Faminto, com as vestes empoeiradas da longa viagem. O som melodioso de um conjunto regional chamou-lhe a atenção. Empurrou a porta e entrou na taberna. Alguns homens rudes bebiam e jogavam cartas, envoltos numa cortina de fumaça. Um indivíduo gordo, de mãos grossas, curtas, com um pano amarrado á cintura, á guisa de avental, veio atendê-lo.


TABERNEIRO  -  Noite, moço!
  
JOÃO  -  Noite... Essa cidade aqui... é Morrinhos, não é?

O gordo fez que sim, com a cabeça.

JOÃO  -  Conhece aqui, uma dona, mulher de um tal Lourenço D’Ávila?

Repetindo o nome, para si mesmo, o dono da taberna pensou por alguns segundos, espetando o indicador na fronte suada. João insistiu, percebendo alguma indecisão na atitude do homem. Ele deve saber, pensou lá consigo...

JOÃO  -  Conhece?

TABERNEIRO  -  Conheço. Muita gente tem perguntado por ele. Inclusive a polícia.
 
JOÃO  -  (atirou uma mentira)  Eu não sou polícia. Sou amigo dele.

Com as mãos gordas girando um copo sobre o balcão, o cidadão fitou  o interlocutor de alto a baixo.

TABERNEIRO  -  Não sei o que ele fez. Mas, a mulher, não tem culpa de nada. É uma professora honesta e muito respeitada neste lugar.

JOÃO  -  Pois me dá o nome e a direção dessa professora.  Eu trago recado do marido dela.

Deslocando-se rápido por entre as mesas, o taberneiro chegou á porta da rua. Apontou para um ponto indeterminado, perdido na escuridão da noite.


TABERNEIRO  -  Tá vendo aquela praça? Tem uma rua atrás... dividida por um valão. A rua não tem nome, mas a casa é a número 15.

João mal ouviu as últimas palavras. Agradeceu e partiu apressado, na direção indicada, com o coração aos saltos.

CORTA PARA:

CENA  4  -  MORRINHOS  -  CASA DE LOURENÇO D'ÁVILA  -  INT.  -  NOITE.

Lourenço acabara de vestir o paletó largo, de xadrez. Ajeitou a mochila ao ombro e o chapéu de abas largas, na cabeça. Branca segurou-lhe o braço, com as mãos frias de inquietação.


BRANCA  -  Tem comida bastante pra três dias.

LOURENÇO  -  (afagou-lhe a testa, mecãnicamente) Ocê é um anjo, Branca. (entreabriu a cortina que cobria a janela e olhou furtivamente, os arredores da residência. A escuridão envolvia o mundo) Vou sair pelos fundos. (alguém batia pancadas leves na madeira da porta. Lourenço apressou-se. Murmurou junto ao ouvido da mulher)  Seja quem for, você trata de fazer uma tapeação, até eu me afastar.

As pancadas tornaram-se mais fortes. Lourenço beijou a esposa e desapareceu por entre as árvores frondosas do quintal que se perdiam nos limites rochosos de um pequeno monte. A escuridão protegia a fuga do ladrão.

CORTA PARA:

CENA 5  -  MORRINHOS  -  CASA DE LOURENÇO  -  INT.  -  NOITE.


JOÃO  -  (vociferou, depois de percorrer toda a casa)  Aqui, ele num tá!

BRANCA  -  (com as mãos postas e os olhos cheios de pavor)  Eu lhe disse...

João Coragem percebeu o fino fio de fumaça que subia, molemente, para o teto. Por trás do pote de barro, a brasa de fumo consumia a palha do cigarro. O rapaz abaixou-se e recolheu a guimba. Branca moveu-se, desajeitada.

BRANCA  -  Eu... eu... estava fumando.

JOÃO  -  Longe ele não deve de está... E sei onde é que ele vai pra vendê o meu diamante.

A mulher segurou, firme, o braço do rapaz, antes que ele pudesse transpor os umbrais da porta.

BRANCA  -  O que pretende fazer?

JOÃO  -  Que acha que um home pode fazê contra um bandido que lhe rouba a fortuna, fere o irmão e causa a morte do pai?

BRANCA  -  Pretende... matá-lo?

JOÃO  -  É Deus quem vai guiá minha mão, dona. Se tem fé, reze pra ele não opor resistencia e me entregá a minha pedra, sem reação.

BRANCA  -  Mas, o senhor não tem certeza de que ele está com o diamante!

JOÃO  -  Certeza eu tenho.  Como sei que a senhora tem!

Branca ainda tentou deter os passos do garimpeiro. João empurrou-a grosseiramente contra a mesa rústica que decorava o contro da sala.

JOÃO  -  Dona, num dianta tentá barrá meus passos pra seu marido ganhá tempo e fugir. Eu alcanço ele. Nem que for fora do mundo. Eu alcanço.


FIM DO CAPÍTULO 53
Pedro Barros e Domingas

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** DUDA VOLTOU PARA O RIO. DOMINGAS TENTOU CONVENCER O DR. MACIEL A CONTAR QUE NÃO RETIROU A BALA DA PERNA DO GENRO, MAS O MÉDICO SE RECUSOU!

 
*** O CORPO DE LOURENÇO É ENCONTRADO BOIANDO NUM RIO PRÓXIMO AO GARIMPO.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 54 DE

domingo, 14 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 52


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 52

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DR. MACIEL
MARIA DE LARA
JOÃO
ESTELA
DALVA
LOURENÇO

CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Maciel atravessou a sala enrolando o estetoscópio. Nada foi possível fazer. O velho Sebastião estava nas últimas. O choque provocado pelo roubo do diamante encurtara a vida do humilde garimpeiro. No quarto, Padre Bento oficiava a extrema-unção, sob os olhares compungidos de toda a família. Lara e Ritinha afastaram-se, por um instante, dando entrada na sala onde o médico, abatido, aguardava o equipamento de urgência.


RITINHA  -  O senhor fez tudo, não fez?

DR. MACIEL  -  Você tem alguma dúvida?

RITINHA  -  Não... não é isso. Eu queria dizer... havia tempo de fazer alguma coisa?

DR. MACIEL  -  (enrugou os lábios, franzindo a testa)  O estado dele era muito grave.

MARIA DE LARA  -  (dirigiu-se a ele, com certo acanhamento) Houve uma causa, doutor?

DR. MACIEL  -  Sim. O susto que ele passou, piorou muito as coisas.
   
MARIA DE LARA  -  Não fosse o susto, ele viveria muito tempo?

DR. MACIEL  -  Ninguém pode prever.  O fato é que o susto precipitou sua morte. Enfim... uma infelicidade nunca vem só. E eu não tenho mais nada que fazer aqui. Vou embora...  (olhou para dentro do quarto, onde a velha Sinhana segurava as mãos do marido e entre elas brilhava, trêmulo e triste, o fulgor de uma vela)  ... antes que eles me responsabilizem pela morte do velho. É uma gente muito estranha.

Dr. Maciel deu uns passos e parou á porta da rua. Olhou para a filha.


DR. MACIEL  -  Você fica?

RITINHA  -  Fico, pai.

Ritinha segurou as mãos da concunhada, num gesto de amizade.

RITINHA  -  (fitando Lara nos olhos) Eu tenho medo do que está para acontecer. Os três irmãos queriam muito bem ao pai. Amor e respeito assim, nunca se viu igual.

João deixou o quarto, cabisbaixo. Lara chamou-o, com doçura, percebendo o estado de ânimo do marido.


MARIA DE LARA  -  João! João! Isto acontece a todos nós. Talvez ele estivesse destinado a morrer...

JOÃO  -  (de mau humor) Num tava!  Destinado, todos nós tamo... mas, não tão já. Naquela sua fraqueza, ele podia vivê muitos anos. Os doutô da cidade sempre dissero. A fraqueza vinha das luta... num era doença. Era um home forte de espírito. Justo. Honesto. Não merecia esse destino. Sabe por que ele morreu? Inconformado, Lara! Porque teve que dizê onde tava o meu diamante... Ele sabia o que era pra mim aquela pedra. O que representava na minha vida!

Os olhos úmidos teimavam em não aceitar as lágrimas que suplicavam liberdade. João lutava contra o pranto. Lara abraçou-o, sentindo a sua convulsão interior.

MARIA DE LARA  -  João... eu estou aqui. Eu sei que isso não é tudo... mas eu estou aqui.

Ele apertou-a, deixando-lhe vincos avermelhados na pele clara dos braços. Os seios de Lara esmagavam-se de encontro ao peito musculoso do marido.

JOÃO  -  Você é tudo pra mim, Lara. Mas eu num tava pensano só em mim. Pensava na família. (Lara aconchegou-se ainda mais entre os braços robustos do esposo)Agora vou sê obrigado a mudá minha vida. Porque essa conformação, eu num recebo. Logo que meu pai tivé debaixo da terra, eu me meto por aí, procurando aquêle bandido. Vou agarrá, Lara... um por um... nem que isto me custe  a minha própria vida.

João Coragem fez com a mão o gesto de quem estrangula um assassino.

CORTA PARA:

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  INT.  -  DIA.


Tudo se modificara na vida em comum do coronel com a esposa. O velho não admitia, sequer, estar presente onde a mulher se encontrasse. Afastava-se, completamente, quase sempre seguido do inseparável Juca Cipó. Estela mostrava-se intrigada com a atitude repentina do marido.


ESTELA  -  (dirigiu-se à cunhada) Que há com estes dois?  Será que decidiram me evitar dentro da minha própria casa?

DALVA  -  Por quê?

ESTELA  -  Porquê Pedro não fala comigo há três dias!

DALVA  -  (ironizou)  E voce não sabe por quê?

ESTELA  -  Não, eu não sei o que ele tem contra mim. Depois que voltamos da viagem, ficou diferente. Você sabe o que ele tem?

Dalva sorriu maquinalmente, dando a impressão de um boneco de palha: sorriso sêco como o capim crestado.

DALVA  -  Você é muito ingênua...  Nesta altura, Pedro já tomou conhecimento de tudo o que se passou entre voce e o empregado fugitivo.

Estela estremeceu com o choque da notícia. Num movimento automático, olhou para os quatro cantos da casa, como á espera de uma bala vingativa. Quando voltou a falar, a voz saía-lhe do peito, baixa e trêmula.

ESTELA  -  Quem contou? Foi Juca, com certeza?

DALVA  -  Juca, Oto, Manuel, Inácio, Virgílio, Chicão... todos os empregados... qualquer um deles pode ter contado. Porque todos tinham conhecimento. Ou você pensava que estava nos enganando?

A idéia veio-lhe indecisa e, em segundos, tornou-se clara, lógica. Indignada, replicou á ironia da outra.


ESTELA  -  Nenhum empregado teve coragem de magoar Pedro. Mas você não... você lhe contou tudo!

DALVA  -  (deu-lhe as costas, indiferente) Se tivesse feito, teria sido um benefício para ele.

ESTELA  -  (esbravejava, com as mãos crispadas de ira) Então confessa... foi você!

DALVA  -  Não confesso nada!  Eu só queria que você tivesse um pouco de juízo. Um pouco de vergonha. Nada mais. Acha justo enganar Pedro?

ESTELA  -  Você está muito preocupada com Pedro!  Deus do Céu! Eu creio que ele realizaria um milagre se conseguisse humanizar essa... essa rocha!

Riu, com escárnio, apontando a figura antipática postada á sua frente. Dalva empalidecera e seus lábios tremiam.

DALVA  -  Estela, me respeite...

ESTELA  -  Agora, eu sei. Agora, eu vejo tudo muito bem. Você está, apenas, pretendendo me roubar o lugar dentro desta casa. Pois olhe...  eu lhe cedo, de bom grado! Nem precisava você ter me intrigado com meu marido!

CORTA PARA:

CENA  3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE - SALA  - INT. - DIA.


Apesar de ferido e procurado pelos capangas de Pedro Barros, sob o comando de um dos auxiliares do delegado, Lourenço achava meio de escapar por entre as sombras da noitinha, para comunicar-se com Estela através do fio interestadual, mal sabendo que todas as chamadas de fora estavam sendo controladas na central e Coroado.


O telefone voltou a tilintar na casa-grande. Estela assustou-se e de um salto, segurou o fone. Entreabrindo a porta do confortável escritório de Pedro Barros, Dalva ficou na escuta, absolutamente tensa.

ESTELA  -  Alô! Sim, sou eu. Fale! (a voz do outro lado disse qualquer coisa que não agradou a mulher. Tornou a falar, nervosa)  Não pode me telefonar para cá. Toda a polícia está empenhada em te agarrar. Não quero te proteger, mas é melhor que você desapareça. (a voz tornou a dizer alguma coisa que não deixava a mulher tranqüila) Não! Eu não posso!  Não exija isso de mim. Eu não posso ir com você. Não irei...nem pela maior fortuna do mundo.  Onde você está? Morrinhos? Onde é isso? Goiás? E pode sair assim, para telefonar?

CORTA PARA:

CENA  4  -  COROADO  -  CENTRO TELEFÔNICO  -  INT.  -  DIA.

 
No Centro Telefônico a conversa era ouvida e anotada pela encarregada das ligações interestaduais. A jovem trabalhava rápido, registrando no papel o desenrolar do diálogo. A cada palavra seu interesse aumentava. 


LOURENÇO  -  (prosseguia, numa voz longínqua)  Tive que pedi a ajuda de minha mulhé, mas não vou ficá aqui. Se ocê quer se encontrá comigo, eu te espero dentro de uma semana, na capital do Rio de Janeiro. É lá que eu penso realizá um grande negócio. Tá me entendendo, Estela?

ESTELA  -  (em voz baixa, com a mão em concha sobre o bocal do telefone) Estou. Mas... não espere. Não irei.

LOURENÇO  -  Telefono noutro dia, pra dizê a minha direção...

ESTELA  -  Não telefone mais. Adeus!

FIM DO CAPÍTULO 52
A família Coragem consternada ante a morte do velho Sebastião
e no próximo capítulo...

*** MARIA DE LARA DESCOBRE, FINALMENTE, QUE PERDEU O FILHO.

***JOÃO VIAJA PARA MORRINHOS, NO ENCALÇO DE LOURENÇO!

NÃO PERCA O CAPÍTULO  53 DE