quarta-feira, 28 de maio de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 11


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 11

Participam deste capítulo

Cyro Valdez  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Glória Menezes
Baby  Liberato  -  Cláudio Cavalcanti
Comendador Liberato  -  Macedo Neto


CENA 1  -  PORTO AZUL  -   ESTRADA NO LITORAL  -  EXTERIOR  -  NOITE

O CARRO DEVORAVA AS LÉGUAS COMO QUE IMPELIDO POR FORÇA ATÔMICA. A NOITE CAÍRA NA REGIÃO LITORÂNEA. ESTER DIRIGIA EM VELOCIDADE, O PÉ APERTANDO FIRME O ACELERADOR.

DE REPENTE AS LUZES SE TORNARAM NÍTIDAS E ESTER FREOU NO LOCAL JÁ VISITADO ANTERIORMENTE. VIU DE IMEDIATO O SEDAN ESTACIONADO.

CYRO ABRIU-LHE A PORTA. A ADMIRAÇÃO DA MOÇA DEIXOU-A PREGADA AO BANCO DO AUTOMÓVEL. O MÉDICO PROCUROU AJUDÁ-LA A SAIR.

ESTER  -  Não. Por favor, não!

CYRO  -  Então por que veio?

ESTER  -  Não devia ter vindo. Vim só para tirar uma dúvida... quer dizer, eu não esperava encontrar você aqui.

CYRO  -  Não esperava?

ESTER  -  (desnorteada) Até agora não estou entendendo. Você sabia que eu vinha... como?

CYRO  -  Eu não sabia como encontrá-la e precisava vê-la de novo. Procurei, então, me comunicar com você telepaticamente.

ESTER  -  (arregalou os olhos, surpresa) Telepaticamente?

CYRO  -  Por que este espanto? Você não vai imaginar que isso seja bruxaria ou coisa parecida. A telepatia é hoje perfeitamente aceita pela ciência. Não há nada de sobrenatural nisso. Eu já havia feito experiências anteriores com pleno êxito (aproximou-se da mulher, estupefata) E, por Deus, não me olhe como se eu fosse um ser vindo de outro planeta!

ESTER  -  (perplexa) Você... pode comunicar-se com qualquer pessoa... a distancia?

CYRO  -  Não. Também não é assim... A comunicação telepática se realiza em determinadas circunstâncias, principalmente entre duas pessoas que estejam psicològicamente preparadas para isso. Como nós estávamos (olhou-a no fundo dos olhos) E eu sei que você também desejava este encontro. Por isso foi fácil.

COM UM MOVIMENTO RÁPIDO, CYRO TOMOU-A NOS BRAÇOS, ESTREITANDO-A DE ENCONTRO AO CORPO.

ESTER  -  (não resistiu, mas persistia mentindo, por instinto de defesa) Eu... não desejava... vim apenas por curiosidade. Não sei... Acho que você não é mesmo um homem... é um demônio! (Cyro apertava-a cada vez mais, suas mãos corriam-lhe o corpo, desejosas. Ester voltou a falar) É uma loucura... eu nunca devia ter vindo... eu lhe disse da última vez, que se afastasse de mim... que nada era possível... que você só podia se prejudicar. Por que não me ouviu e não voltou para a Europa?

CYRO  -  (segurou-lhe a cabeça entre as mãos e respondeu com sinceridade) Porque eu amo você!

ESTER  -  Não! Não!

CYRO  -  A gente não pode amar uma pessoa a quem só viu poucas vezes na vida?

ESTER  -  (tentando fugir do abraço apaixonado do rapaz) Eu acho que não!

CYRO  -  Mas... comigo aconteceu. Eu não poderia voltar para a Europa sem ver você novamente. Pode ser que seja uma paixão de momento, mas eu não poderia partir sem ver você e lhe dizer isso: eu a amo. Sem sequer saber o seu nome!

ESTER  -  E agora que me viu, que me disse tudo isso... você vai partir?

CYRO  -  Talvez eu seja obrigado a isso. Mas não vou mais correr o risco de perdê-la de vista para sempre. Não vou perdê-la.

OS LÁBIOS DE AMBOS SELARAM O AMOR QUE NASCIA, VIOLENTO, DECIDIDO, LOUCO, TALVEZ. ESTER DEIXOU-SE CONSUMIR PELA VORACIDADE AMOROSA DO HOMEM A QUEM POUCO CONHECIA. AOS POUCOS REAGIU, AFASTANDO A CABEÇA COM MÃOS DELICADAS. CYRO DEU-LHE UM ÚLTIMO BEIJO ENTRE A JUNÇÃO DOS SEIOS.

ESTER  -  (fechou os olhos e estremeceu) Por favor, deixe-me ir embora. Eu não posso ficar aqui com você... isto é uma loucura... pode passar alguém... alguém pode reconhecer-nos.

CYRO  -  Está bem. Venha comigo.

CORTA PARA:
Ester (Gloria Menezes) e Cyro (Tarcisio Meira)

CENA 2  -  CASA DE ESTER  -  EXTERIOR  -  NOITE

O CARRO ESTACOU DIANTE DA RESIDENCIA CONFORTÁVEL, DE BELAS JANELAS E LINHAS ARQUITETÔNICAS MODERNAS.

CYRO  -  É aqui que você mora... com seu marido?

ESTER  -  (recostou-se no braço forte que a amparava. Olhou o relógio: uma e trinta da manhã) Não... ele não mora aqui. Nós somos desquitados.

CYRO  -  (beijou-lhe a testa) Eu já imaginava. Apenas uma coisa gostaria que você me dissesse: o seu nome.

ESTER  -  Ester... eu me chamo Ester.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  EXTERIOR  -  NOITE.

ERAM QUASE 2 HORAS DA MANHÃ QUANDO O CONVERSÍVEL VERDE-GARRAFA DE BABY LIBERATO ESTACIONOU NA GARAGEM. O JOVEM SALTOU E DIRIGIU-SE PARA A ENTRADA PRINCIPAL DA RESIDENCIA.

CORTA PARA:

CENA 4  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

BABY ATRAVESSOU O SALÃO, SUBIU AS ESCADAS E, AO VER A PORTA ABERTA DOS APOSENTOS DO PAI, ESTACOU, NO INSTANTE EM QUE O VELHO COMENDADOR HAVIA ACORDADO PARA TOMAR A MEDICAÇÃO RECOMENDADA PELO MÉDICO. ZORAIDA, A GOVERNANTA, AFASTOU-SE, DEIXANDO PAI E FILHO FRENTE A FRENTE.

COMENDADOR LIBERATO  -  (ajeitando-se entre os travesseiros, convidou) Meu filho... venha... sente-se aqui, na beira da cama. Há muito tempo que eu estou para ter essa conversa com você, mas essa maldita doença... as recomendações do médico. O tempo vai se passando e a gente não sabe o que pode acontecer, amanhã.

BABY  -  (otimista) O Dr. Cyro me disse que você vai ficar em forma.

COMENDADOR LIBERATO  -  (descrente) Não sei... tudo pode acontecer. E eu não quero morrer deixando a companhia cair nas mãos do Otto. Você, meu filho, você tem que me substituir na direção da empresa.

BABY  -  Mas isso não depende da gente. Você é o maior acionista, mas não tem a maioria absoluta das ações. Os outros acionistas, pai, os outros acionistas podem indicar outra pessoa.

COMENDADOR LIBERATO  -  E por que o indicado não pode ser você? Isso depende muito de nós. De você, principalmente.

BABY  -  Otto já é superintendente e o sonho dele é ficar no seu lugar; eu não faço a mínima questão.

COMENDADOR LIBERATO  -  Preciso abrir o jogo com você, filho, e revelar a verdadeira face do homem que, eu sei muito bem, quer me ver morto para assumir a direção da mina. Otto é um psicopata, filho. Tudo o que ele quer é reduzir os mineiros à escravidão completa. Na presidência da companhia eu pude impedir que ele impusesse aos mineiros condições de vida e de trabalho ainda piores que as existentes. Ele vai arruinar a empresa e nós não podemos deixar que isso aconteça. Mas, para que você possa ter chance de me substituir, é preciso mudar de vida.

BABY  -  (fez uma careta de desaprovação) Mudar, como?

COMENDADOR LIBERATO  -  Parar com essas farras, essas  festas escandalosas, mulheres...

BABY  -  (irritado) Que diabo! Pra ser presidente da companhia é preciso ser frade?

COMENDADOR LIBERATO  -  Não é preciso chegar a tanto. Mas é necessário ser alguém em quem se possa confiar. E ninguém confia num homem que só pensa em gozar a vida e nada mais. Pelo menos por uns tempos, até ser indicado, você tem que mudar de vida.

BABY  -  (ergueu-se, com ar de cansaço) Hum... não sei se vou conseguir.

COMENDADOR LIBERATO  -  Esta é a sua grande oportunidade. Eu lhe peço que faça isso, por você e por mim.

BABY  -  (sem muita convicção) Tá, eu vou ver.

COMENDADOR LIBERATO  -  É preciso que alguém se oponha a esse louco.

SENTIU, MAIS DO QUE VIU, O FILHO AFASTAR-SE A PASSOS MACIOS DO QUARTO ENVOLTO NA PENUMBRA. MINUTOS DEPOIS, O RICO PROPRIETÁRIO DORMIA, SOB O EFEITO DO REMÉDIO.

FIM DO CAPÍTULO 11



 ... e na próxima sexta, o 12. capítulo!




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