Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 5
Participam deste
capítulo
Cyro – Tarcísio Meira
Orjana – Neusa Amaral
Prof. Valdez - Enio
Santos
Prof. Zacarias - Arnaldo Weiss
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
CENA 1 - FLORIANÓPOLIS - HOTEL
CENTRAL - APTO. DE CYRO
- INTERIOR -
NOITE.
DEPOIS DAS DIFICULDADES DO DIA, CYRO RETORNOU AO HOTEL,
ENTROU NO APARTAMENTO, ATIRANDO PALETÓ E GRAVATA EM CIMA DA POLTRONA DE COURO
VERMELHO. COM MOVIMENTOS RÁPIDOS, DESABOTOOU A CAMISA E TIROU-A. A CAMPAINHA DA
PORTA SOOU. LEVANTOU-SE E ABRIU.
CYRO - (alegre) Não é possível!
ORJANA - (abraçou-o emocionada) Meu filho!
O VELHO AVÔ APERTOU-LHE O TÓRAX FORTE.
PROF. VALDEZ - Estamos desde ontem à sua procura. Só hoje
conseguimos saber o hotel em que você está hospedado.
CYRO - (com os braços em cima dos ombros do casal,
levou-os até a poltrona, no centro do quarto) Então... vocês vieram atrás de
mim!
PROF. VALDEZ - (enigmático) Não... atrás de você,
propriamente, não...
CYRO - (curioso) Por quê, então?
ORJANA - Tenho razões de sobra para não querer voltar
a esta terra, filho. Aliás, eu já lhe contei tudo.
CYRO - (encarou-a, sério) O que você me contou não é
motivo suficiente. É uma história comum, acontece a muitas moças. Afinal, nós
estamos em 1970. E não pense você que eu tenho qualquer complexo de
inferioridade por ter escrito na minha certidão de nascimento “filho de pai
desconhecido”. Seria ridículo, se tivesse (depois de pequena pausa, continuou)
Tudo isso passou, e eu gostaria de voltar a Porto Azul com você. Passear de
braço dado, orgulhosamente. Visitar as pessoas que a injuriaram, inclusive o irresponsável
que a deixou passar por esse vexame: meu pai.
ORJANA - (com voz trêmula) Não, não... por favor... Eu
só queria que você não fizesse nada, filho.
CYRO - Se você me contou tudo o que aconteceu
quando eu nasci, se foi só isso, é o que tenho vontade de fazer. A menos que
tenha acontecido alguma coisa que vocês não me querem dizer.
ORJANA E O PROF. VALDEZ OLHARAM-SE, SENTINDO A PRESENÇA DO PERIGO.
DURANTE 30 ANOS O SEGREDO PERMANECERA INCÓLUME.
ORJANA - Não... não aconteceu nada mais... por que
você pergunta?
CYRO - Porque ainda estou chocado com a maneira com
que minha avó me recebeu. Dona Bárbara... ela quase me tocou porta a fora. E me
disse que eu nunca devia ter voltado lá. E que na cidade todo mundo sabia por
quê. Acho que só o mau passo de uma moça não justifica tudo isso.
O CASAL EMPALIDECERA COM A REVELAÇÃO DO JOVEM. CYRO ENCAROU
MAIS FIRME A MÃE, À ESPERA DE UMA RESPOSTA. OS OLHOS DE ORJANA ESTAVAM CHEIOS
DE ÁGUA E A MULHER VISÍVELMENTE PERTURBADA.
Orjana (Neusa Amaral) |
CORTA PARA:
CENA 2 - PORTO
AZUL -
CENTRO DE ESTUDOS ESPACIAIS
- AUDITÓRIO - INTERIOR - DIA.
O PROF. ZACARIAS, CONHECIDO EM TODO O ESTADO COMO AUTORIDADE
EM CIÊNCIA ESPACIAL, APONTAVA, COM UMA VARA FINA, UM PONTO QUALQUER NO GRANDE
MAPA QUE TOMAVA PARTE DA PAREDE DO C.E.E.. O AUDITÓRIO, ATENTO, OBSERVAVA AS
PALAVRAS DO VELHO MESTRE.
PROF. ZACARIAS - Como todos sabem, há pouco mais de 30 anos
uma nave espacial, vinda de outro planeta, desceu em Porto Azul. Todos se
lembram ou já ouviram falar dos estranhos fenômenos ocorridos naquele dia. E da
moça que, embora virgem, deu à luz uma criança nove meses depois. Pois bem,
meus amigos, o fato auspicioso que tenho a lhes comunicar é que essa moça e seu
filho estão de volta à nossa terra.
A REVELAÇÃO PROVOCOU UM MURMÚRIO DE ADMIRAÇÃO EM TODA A
ASSISTENCIA. ALGUNS, INCRÉDULAMENTE, CONSIDERAVAM IMPOSSÍVEL A PRESENÇA
ANUNCIADA. OUTROS RELEMBRAVAM FATOS E DESARQUIVAVAM DA MEMÓRIA OS
ACONTECIMENTOS DE MUITOS ANOS ATRÁS.
CORTA PARA:
CENA 3 - FLORIANÓPOLIS - HOTEL
CENTRAL - APTO. DE CYRO
- INTERIOR -
NOITE.
CYRO - (insistia na pergunta) Que aconteceu mais que
vocês nunca me disseram?
ORJANA - Nada além daquilo que você já sabe. Sua avó
Bárbara...
CYRO - (cortou, brusco) Ela me disse ontem,
agressivamente, que não é minha avó!
PROF. VALDEZ - (colocou a mão no ombro do neto) Sua mãe é
nossa filha adotiva, você sabe disso. Veio para nossa companhia com três anos
de idade. Mas, para mim, sempre foi como filha legítima. Enquanto que para
Bárbara... É. Talvez tenha sido por isso que ela se portou daquele jeito,
quando soube que Orjana ia ser mãe.
ORJANA - Ela me botou para fora de casa.
PROF. VALDEZ - Claro, eu saí com ela. Era um procedimento
desumano.
CYRO - Eu não sou nenhum idiota, meu avô. Basta
olhar para a cara de vocês para ver que estão mentindo. Tudo isso pode ter
acontecido. Mas que não é tudo, não é não! Se fosse só isso, vocês não tinham
pegado um avião e vindo atrás de mim! Até uma criança percebe isso!
CORTA PARA:
CENA 4 - PORTO
AZUL -
CENTRO DE ESTUDOS ESPACIAIS
- AUDITÓRIO - INTERIOR - DIA
PROF. ZACARIAS - Aquela foi a “noite do espanto”. O sol acabara de morrer no horizonte, mas, de
repente, o sol aclarou-se como se fosse meio-dia. Ninguém soube dizer ao certo
quanto tempo durou o fenômeno. No dia seguinte, os curiosos se amontoaram no
local onde Orjana disse ter sido atacada por um estranho objeto luminoso. Lá,
no chão, havia marcas inidentificáveis e a terra estava carbonizada em largo
trecho. E também as árvores em volta do lugar. Os fragmentos de uma substancia
luminosa que até hoje ninguém pôde classificar (retirou do bolso um envelope
amarelo e jogou sobre a mesa umas pedrinhas esquisitas, cor de jade) Isto foi a
prova de que aqui desceu uma nave espacial, trazendo seres de outro planeta ou,
quem sabe, de outra galáxia? Talvez de uma civilização alguns milênios mais
adiantada que a nossa!
O GRUPO DE ESPECTADORES APROXIMOU-SE DAS PEDRINHAS CURIOSAS.
CORTA PARA:
CENA 5 -
FLORIANÓPOLIS - HOTEL CENTRAL
- PORTARIA -
INTERIOR - DIA.
MESTRE JONAS - Agora me lembro! Cyro! O nome dele é Cyro!
HÁ HORAS QUE MESTRE JONAS TENTAVA ENTRAR NO HOTEL À PROCURA
DE UM MISTERIOSO CONHECIDO, DE QUEM NÃO SABIA O NOME. DE REPENTE, LHE VEIO Á
LEMBRANÇA, QUANDO DOIS GUARDAS JÁ O IMPELIAM PARA A RUA, AOS TROMPAÇOS.
PORTEIRO - (cochichou aos policiais) Parece que não
regula. E está perturbando...
UM DOS GUARDAS SEGUROU COM MÃO DE FERRO A PARTE DE TRÁS DO
COLARINHO, QUASE ENFORCANDO O VELHO PESCADOR.
GUARDA - Vamos embora, meu chapa...
JONAS - (gritou) Espera! Eu não sou nenhum criminoso!
Tou aqui querendo falá com uma pessoa! Me soltem!
OS GUARDAS O ARRASTARAM COM VIOLÊNCIA, IGNORANDO A SUA REAÇÃO
AFLITA.
FIM DO CAPÍTULO 5
... e na próxima sexta, mais um capítulo inédito!
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