terça-feira, 13 de maio de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 5


Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 5

Participam deste capítulo

Cyro – Tarcísio Meira
Orjana – Neusa Amaral
Prof. Valdez  -  Enio Santos
Prof. Zacarias - Arnaldo Weiss
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho

CENA 1  -  FLORIANÓPOLIS  -  HOTEL CENTRAL  -  APTO. DE CYRO  -  INTERIOR  -  NOITE.

DEPOIS DAS DIFICULDADES DO DIA, CYRO RETORNOU AO HOTEL, ENTROU NO APARTAMENTO, ATIRANDO PALETÓ E GRAVATA EM CIMA DA POLTRONA DE COURO VERMELHO. COM MOVIMENTOS RÁPIDOS, DESABOTOOU A CAMISA E TIROU-A. A CAMPAINHA DA PORTA SOOU. LEVANTOU-SE E ABRIU.

CYRO  -  (alegre) Não é possível!

ORJANA  -  (abraçou-o emocionada) Meu filho!

O VELHO AVÔ APERTOU-LHE O TÓRAX FORTE.

PROF. VALDEZ  -  Estamos desde ontem à sua procura. Só hoje conseguimos saber o hotel em que você está hospedado.

CYRO  -  (com os braços em cima dos ombros do casal, levou-os até a poltrona, no centro do quarto) Então... vocês vieram atrás de mim!

PROF. VALDEZ  -  (enigmático) Não... atrás de você, propriamente, não...

CYRO  -  (curioso) Por quê, então?

ORJANA  -  Tenho razões de sobra para não querer voltar a esta terra, filho. Aliás, eu já lhe contei tudo.

CYRO  -  (encarou-a, sério) O que você me contou não é motivo suficiente. É uma história comum, acontece a muitas moças. Afinal, nós estamos em 1970. E não pense você que eu tenho qualquer complexo de inferioridade por ter escrito na minha certidão de nascimento “filho de pai desconhecido”. Seria ridículo, se tivesse (depois de pequena pausa, continuou) Tudo isso passou, e eu gostaria de voltar a Porto Azul com você. Passear de braço dado, orgulhosamente. Visitar as pessoas que a injuriaram, inclusive o irresponsável que a deixou passar por esse vexame: meu pai.

ORJANA  -  (com voz trêmula) Não, não... por favor... Eu só queria que você não fizesse nada, filho.

CYRO  -   Se você me contou tudo o que aconteceu quando eu nasci, se foi só isso, é o que tenho vontade de fazer. A menos que tenha acontecido alguma coisa que vocês não me querem dizer.

ORJANA E O PROF. VALDEZ OLHARAM-SE, SENTINDO A PRESENÇA DO PERIGO. DURANTE 30 ANOS O SEGREDO PERMANECERA INCÓLUME.

ORJANA  -  Não... não aconteceu nada mais... por que você pergunta?

CYRO  -  Porque ainda estou chocado com a maneira com que minha avó me recebeu. Dona Bárbara... ela quase me tocou porta a fora. E me disse que eu nunca devia ter voltado lá. E que na cidade todo mundo sabia por quê. Acho que só o mau passo de uma moça não justifica tudo isso.

O CASAL EMPALIDECERA COM A REVELAÇÃO DO JOVEM. CYRO ENCAROU MAIS FIRME A MÃE, À ESPERA DE UMA RESPOSTA. OS OLHOS DE ORJANA ESTAVAM CHEIOS DE ÁGUA E A MULHER VISÍVELMENTE PERTURBADA.

Orjana (Neusa Amaral)


CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  CENTRO DE ESTUDOS ESPACIAIS  -  AUDITÓRIO  -  INTERIOR  -  DIA.

O PROF. ZACARIAS, CONHECIDO EM TODO O ESTADO COMO AUTORIDADE EM CIÊNCIA ESPACIAL, APONTAVA, COM UMA VARA FINA, UM PONTO QUALQUER NO GRANDE MAPA QUE TOMAVA PARTE DA PAREDE DO C.E.E.. O AUDITÓRIO, ATENTO, OBSERVAVA AS PALAVRAS DO VELHO MESTRE.

PROF. ZACARIAS  -  Como todos sabem, há pouco mais de 30 anos uma nave espacial, vinda de outro planeta, desceu em Porto Azul. Todos se lembram ou já ouviram falar dos estranhos fenômenos ocorridos naquele dia. E da moça que, embora virgem, deu à luz uma criança nove meses depois. Pois bem, meus amigos, o fato auspicioso que tenho a lhes comunicar é que essa moça e seu filho estão de volta à nossa terra.

A REVELAÇÃO PROVOCOU UM MURMÚRIO DE ADMIRAÇÃO EM TODA A ASSISTENCIA. ALGUNS, INCRÉDULAMENTE, CONSIDERAVAM IMPOSSÍVEL A PRESENÇA ANUNCIADA. OUTROS RELEMBRAVAM FATOS E DESARQUIVAVAM DA MEMÓRIA OS ACONTECIMENTOS DE MUITOS ANOS ATRÁS.

CORTA PARA:

CENA 3  -  FLORIANÓPOLIS  -  HOTEL CENTRAL  -  APTO. DE CYRO  -  INTERIOR  -  NOITE.

CYRO  -  (insistia na pergunta) Que aconteceu mais que vocês nunca me disseram?

ORJANA  -  Nada além daquilo que você já sabe. Sua avó Bárbara...

CYRO  -  (cortou, brusco) Ela me disse ontem, agressivamente, que não é minha avó!

PROF. VALDEZ  -  (colocou a mão no ombro do neto) Sua mãe é nossa filha adotiva, você sabe disso. Veio para nossa companhia com três anos de idade. Mas, para mim, sempre foi como filha legítima. Enquanto que para Bárbara... É. Talvez tenha sido por isso que ela se portou daquele jeito, quando soube que Orjana ia ser mãe.

ORJANA  -  Ela me botou para fora de casa.

PROF. VALDEZ  -  Claro, eu saí com ela. Era um procedimento desumano.

CYRO  -  Eu não sou nenhum idiota, meu avô. Basta olhar para a cara de vocês para ver que estão mentindo. Tudo isso pode ter acontecido. Mas que não é tudo, não é não! Se fosse só isso, vocês não tinham pegado um avião e vindo atrás de mim! Até uma criança percebe isso!

CORTA PARA:

CENA 4  -  PORTO AZUL  -  CENTRO DE ESTUDOS ESPACIAIS  -  AUDITÓRIO  -  INTERIOR  -  DIA

PROF. ZACARIAS  -  Aquela foi a “noite do espanto”.  O sol acabara de morrer no horizonte, mas, de repente, o sol aclarou-se como se fosse meio-dia. Ninguém soube dizer ao certo quanto tempo durou o fenômeno. No dia seguinte, os curiosos se amontoaram no local onde Orjana disse ter sido atacada por um estranho objeto luminoso. Lá, no chão, havia marcas inidentificáveis e a terra estava carbonizada em largo trecho. E também as árvores em volta do lugar. Os fragmentos de uma substancia luminosa que até hoje ninguém pôde classificar (retirou do bolso um envelope amarelo e jogou sobre a mesa umas pedrinhas esquisitas, cor de jade) Isto foi a prova de que aqui desceu uma nave espacial, trazendo seres de outro planeta ou, quem sabe, de outra galáxia? Talvez de uma civilização alguns milênios mais adiantada que a nossa!

O GRUPO DE ESPECTADORES APROXIMOU-SE DAS PEDRINHAS CURIOSAS.

CORTA PARA:

CENA 5  -  FLORIANÓPOLIS  -  HOTEL CENTRAL  -  PORTARIA  -  INTERIOR  -  DIA.

MESTRE JONAS  -  Agora me lembro! Cyro! O nome dele é Cyro!

HÁ HORAS QUE MESTRE JONAS TENTAVA ENTRAR NO HOTEL À PROCURA DE UM MISTERIOSO CONHECIDO, DE QUEM NÃO SABIA O NOME. DE REPENTE, LHE VEIO Á LEMBRANÇA, QUANDO DOIS GUARDAS JÁ O IMPELIAM PARA A RUA, AOS TROMPAÇOS.

PORTEIRO  -  (cochichou aos policiais) Parece que não regula. E está perturbando...

UM DOS GUARDAS SEGUROU COM MÃO DE FERRO A PARTE DE TRÁS DO COLARINHO, QUASE ENFORCANDO O VELHO PESCADOR.

GUARDA  -  Vamos embora, meu chapa...

JONAS  -  (gritou) Espera! Eu não sou nenhum criminoso! Tou aqui querendo falá com uma pessoa! Me soltem!

OS GUARDAS O ARRASTARAM COM VIOLÊNCIA, IGNORANDO A SUA REAÇÃO AFLITA.

FIM DO CAPÍTULO  5



 ... e na próxima sexta, mais um capítulo inédito!

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