quinta-feira, 29 de maio de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 12


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 12

Participam deste capítulo

Cyro Valdez  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Glória Menezes
Paulus  -  Emiliano Queiróz
Júlia  -  Ida Gomes
Orjana  -  Neusa Amaral
Prof. Valdez  -  Enio Santos
André Vila Verde  -  Paulo José
Vanda Vidal  -  Dina Sfat

 CENA 1  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

ESTER OLHOU PARA O HOMEM, QUASE UM ESTRANHO, DEITADO A SEU LADO. OS LONGOS CABELOS NEGROS COBRINDO-LHE O ROSTO, PÁLIDO AQUELA HORA. PELA JANELA ENTREABERTA, VIAM-SE OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL.

ESTER LEVANTOU-SE E FOI ATÉ O ESPELHO DE PAREDE, AJEITOU OS CABELOS CLAROS. EM SEGUIDA, TOCOU DE LEVE O OMBRO DO RAPAZ.

ESTER  -  Sabe que já é dia?

CYRO  -  (abriu os olhos, admirado, desconhecendo, por instantes, a sala larga) Que horas são? (consultou o relógio de pulso) Quase nove horas!

ESTER  -  (assustada) Meu Deus! Eu perdi a noção do tempo!

CYRO  - (abraçou-a, com ternura, vestindo o paletó) Será que o tempo existe mesmo?

UM LEVE MOVIMENTO DE PASSADAS SURPREENDEU O CASAL. JÚLIA ENTRAVA NA SALA. ESTACOU, PARALISADA.

JÚLIA  -  Oh, desculpe-me!

ESTER SEPAROU-SE ENCABULADA DOS BRAÇOS DO RAPAZ.

ESTER  -  (procurando controlar-se, ruborizada, a voz trêmula) Alguma coisa?

JÚLIA  -  (baixou os olhos, percebendo o embaraço da patroa) Aquele advogado, Paulus, está aí e pede para ser recebido.

ESTER  -  A esta hora da manhã? Diga a ele...

SEM OUTRO AVISO O ADVOGADO ENTROU NA SALA. PAROU A ALGUNS CENTÍMETROS DA PORTA, AO DEPARAR COM O FAMOSO CIRURGIÃO.

PAULUS  -  Bom dia! Perdão, não sabia que tinha visitas!

ESTER  -  (tentando aparentar uma calma que não possuía, fez as apresentações) Dr. Victor Paulus... Dr. Cyro Valdez.

PAULUS  -  (sorriu com frieza) Já nos conhecemos (e virando-se para o médico) Nunca podia imaginar encontrá-lo aqui, entretanto...

ESTER  -  (percebeu a malícia nas entrelinhas) Por quê? Dr. Cyro é um médico... e está aqui nessa qualidade. (mentiu) Passei mal esta noite e mandei chamá-lo.

PAULUS  -  (fingiu aceitar a explicação) Passou mal? (acentuou a última pergunta, numa atitude dúbia, de duplo sentido) Do coração?

CYRO  -  (interveio) Nada de assustador. Um simples mal estar. Eu já estava de saída, o senhor vai me desculpar...

PAULUS  -  Ora, à vontade, doutor! A propósito, quando o senhor pensa deixar o país?

CYRO  -  Não fixei ainda a data.

PAULUS  -  Julguei que já estivesse de viagem.

CYRO  -  (encarando-o) Talvez eu me demore mais do que tencionava a princípio.

PAULUS  -  (insistiu) Além do Comendador Liberato, alguma coisa mais prende o senhor a Santa Catarina, doutor?

CYRO  -  (evitou a provocação, sorrindo, irônico) Claro... claro! A beleza da paisagem. Há muita coisa bela em Florianópolis. (voltando-se para a mulher, beijou-lhe respeitosamente a mão) Bom dia, Dona Ester. Havendo necessidade, pode ligar para o meu hotel.

ESTER  -  Obrigada, doutor! Foi muito amável!

O MÉDICO CUMPRIMENTOU PAULUS, COM UM BREVE MOVER DE CABEÇA.

CORTA PARA:
André (Paulo José) e Vanda (Dina Sfat)

CENA 2  -  RESTAURANTE  -  INTERIOR  -  DIA

ERA INTENSO O MOVIMENTO NO RESTAURANTE ÀQUELA HORA DO DIA. OS CASAIS CONVERSAVAM ANIMADAMENTE E GRUPOS DE JOVENS, ALEGRES, BEBIAM, ENQUANTO AGUARDAVAM QUE O GARÇOM LHES TROUXESSE COMIDA.

A ENTRADA DE CYRO NO RECINTO, SEGURANDO O BRAÇO DE ORJANA, SEGUIDO PELOS PASSOS TRÔPEGOS DO AVÔ, CHAMOU A ATENÇÃO DO HOMEM QUE ALMOÇAVA Á ENTRADA DO GRANDE SALÃO. ELE APERTOU O PULSO DA MULHER QUE O ACOMPANHAVA.

ANDRÉ  -  É ele... sim! Dr. Cyro Valdez! Vi o retrato dele no jornal!

VANDA  -  (torceu a cabeça para onde os olhos do rapaz se dirigiam) Quem é o Dr. Cyro Valdez?

ANDRÉ  -  (encarava, atônito, o recém-chegado) Você não leu aquela reportagem? O repórter até falou de mim...

VANDA  -  Ah, sim! Aquela história maluca da moça que foi atacada por um disco voador e depois teve um filho!

ANDRÉ  -  Não é uma história maluca. Eu sonhei com isso, quando era criança... e outros garotos também sonharam.

CYRO SENTIU O OLHAR INSISTENTE DE ANDRÉ, QUE SE LEVANTOU E ENCAMINHOU-SE PARA SEU LADO. COM UM BREVE CUMPRIMENTO ACHEGOU-SE AO MÉDICO, TOCANDO-LHE O BRAÇO.

ANDRÉ  -  Desculpe-me! (falou, gaguejando) Eu... eu sou André. Meu nome todo é André Vila Verde. Trabalho no circo... o senhor deve ter lido no jornal... “As 7 Facas da Morte”, “O Rei do Malabarismo”...

CYRO  -  (franzindo a testa) Não estou entendendo...

ANDRÉ  -  Eu fui uma das pessoas que sonharam com o seu nascimento...

ORJANA ESTREMECEU.

CYRO  -  (controlou-se) Muito bem, seu André, agora o senhor vai nos dar licença...

ANDRÉ  -  (os olhos vidrados no médico) Impressionante!

CYRO  -  Impressionante, o quê?

ANDRÉ  -  A cor dos seus olhos... o magnetismo...

CYRO  -  (perdeu a paciência de vez) É que eu venho de outro planeta e lá todo mundo tem olhos assim!

ORJANA  -  O senhor não percebe que está sendo desagradável?

ANDRÉ  -  (visìvelmente descontrolado) Desculpe... eu não pensei... só queria... com licença...

O RAPAZ AFASTOU-SE, RESSABIADO, ENQUANTO CYRO SE PERDIA NO PANDEMÔNIO DE MESAS, CADEIRAS, GARÇONS E FREGUESES.

ORJANA  -  Que sujeito impertinente!

PROF. VALDEZ  -  Foi uma das três crianças que sonharam...

CYRO, PELO CANTO DOS OLHOS, PERCEBEU O OLHAR FIXO DA MULHER QUE ACOMPANHAVA O IMPORTUNO.

CYRO  -  Vamos embora! Daqui a pouco tem um mundo de gente olhando para mim, como se eu fosse um animal do Jardim Zoológico!

OS TRÊS SAÍRAM ANTE OS OLHARES SURPRESOS DO GARÇOM E DO MAITRE, QUE JÁ HAVIAM ESCOLHIDO UMA MESA DE CANTO PARA ACOMODAR OS VISITANTES.

SENTADA DIANTE DE ANDRÉ, VANDA PERGUNTOU-LHE, CURIOSA:

VANDA  -  Que aconteceu?

ANDRÉ  -  Os olhos dele eram de uma cor estranha... Nunca vi ninguém com olhos daquela cor!

VANDA  -  Mas ele se assemelha a um homem como outro qualquer! Tem duas pernas, dois braços...

ANDRÉ  -  Mas tem uma inteligência superior. Os seres que vieram naquela nave espacial eram de uma civilização mais adiantada que a nossa... Milhares de anos mais à frente. Quem sabe, talvez milhões!

VANDA  -  Você fala como se tivesse absoluta certeza do que diz.

ANDRÉ  -  Mas eu tenho! Eram habitantes de outra galáxia, na nave espacial que baixou em Porto Azul naquela noite que eu nunca vou esquecer, 31 anos atrás!

FIM DO CAPÍTULO 12


 Na próxima terça, capítulo inédito!

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