Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 12
Participam deste
capítulo
Cyro Valdez -
Tarcísio Meira
Ester -
Glória Menezes
Paulus -
Emiliano Queiróz
Júlia - Ida
Gomes
Orjana -
Neusa Amaral
Prof. Valdez - Enio
Santos
André Vila Verde - Paulo
José
Vanda Vidal - Dina
Sfat
CENA 1 - CASA DE ESTER
- SALA -
INTERIOR - DIA
ESTER OLHOU PARA O HOMEM, QUASE UM
ESTRANHO, DEITADO A SEU LADO. OS LONGOS CABELOS NEGROS COBRINDO-LHE O ROSTO,
PÁLIDO AQUELA HORA. PELA JANELA ENTREABERTA, VIAM-SE OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL.
ESTER LEVANTOU-SE E FOI ATÉ O ESPELHO
DE PAREDE, AJEITOU OS CABELOS CLAROS. EM SEGUIDA, TOCOU DE LEVE O OMBRO DO
RAPAZ.
ESTER
- Sabe que já é dia?
CYRO
- (abriu os olhos, admirado,
desconhecendo, por instantes, a sala larga) Que horas são? (consultou o relógio
de pulso) Quase nove horas!
ESTER
- (assustada) Meu Deus! Eu perdi
a noção do tempo!
CYRO
- (abraçou-a, com ternura, vestindo o paletó) Será que o tempo existe
mesmo?
UM LEVE MOVIMENTO DE PASSADAS
SURPREENDEU O CASAL. JÚLIA ENTRAVA NA SALA. ESTACOU, PARALISADA.
JÚLIA
- Oh, desculpe-me!
ESTER SEPAROU-SE ENCABULADA DOS
BRAÇOS DO RAPAZ.
ESTER
- (procurando controlar-se,
ruborizada, a voz trêmula) Alguma coisa?
JÚLIA
- (baixou os olhos, percebendo o
embaraço da patroa) Aquele advogado, Paulus, está aí e pede para ser recebido.
ESTER
- A esta hora da manhã? Diga a
ele...
SEM OUTRO AVISO O ADVOGADO ENTROU NA
SALA. PAROU A ALGUNS CENTÍMETROS DA PORTA, AO DEPARAR COM O FAMOSO
CIRURGIÃO.
PAULUS - Bom
dia! Perdão, não sabia que tinha visitas!
ESTER
- (tentando aparentar uma calma
que não possuía, fez as apresentações) Dr. Victor Paulus... Dr. Cyro Valdez.
PAULUS -
(sorriu com frieza) Já nos conhecemos (e virando-se para o médico) Nunca
podia imaginar encontrá-lo aqui, entretanto...
ESTER
- (percebeu a malícia nas
entrelinhas) Por quê? Dr. Cyro é um médico... e está aqui nessa qualidade.
(mentiu) Passei mal esta noite e mandei chamá-lo.
PAULUS -
(fingiu aceitar a explicação) Passou mal? (acentuou a última pergunta,
numa atitude dúbia, de duplo sentido) Do coração?
CYRO
- (interveio) Nada de assustador.
Um simples mal estar. Eu já estava de saída, o senhor vai me desculpar...
PAULUS - Ora,
à vontade, doutor! A propósito, quando o senhor pensa deixar o país?
CYRO
- Não fixei ainda a data.
PAULUS -
Julguei que já estivesse de viagem.
CYRO
- (encarando-o) Talvez eu me
demore mais do que tencionava a princípio.
PAULUS -
(insistiu) Além do Comendador Liberato, alguma coisa mais prende o
senhor a Santa Catarina, doutor?
CYRO
- (evitou a provocação, sorrindo,
irônico) Claro... claro! A beleza da paisagem. Há muita coisa bela em
Florianópolis. (voltando-se para a mulher, beijou-lhe respeitosamente a mão)
Bom dia, Dona Ester. Havendo necessidade, pode ligar para o meu hotel.
ESTER
- Obrigada, doutor! Foi muito
amável!
O MÉDICO CUMPRIMENTOU PAULUS, COM UM
BREVE MOVER DE CABEÇA.
CORTA PARA:
André (Paulo José) e Vanda (Dina Sfat) |
CENA 2 - RESTAURANTE
- INTERIOR - DIA
ERA INTENSO O MOVIMENTO NO
RESTAURANTE ÀQUELA HORA DO DIA. OS CASAIS CONVERSAVAM ANIMADAMENTE E GRUPOS DE
JOVENS, ALEGRES, BEBIAM, ENQUANTO AGUARDAVAM QUE O GARÇOM LHES TROUXESSE
COMIDA.
A ENTRADA DE CYRO NO RECINTO,
SEGURANDO O BRAÇO DE ORJANA, SEGUIDO PELOS PASSOS TRÔPEGOS DO AVÔ, CHAMOU A
ATENÇÃO DO HOMEM QUE ALMOÇAVA Á ENTRADA DO GRANDE SALÃO. ELE APERTOU O PULSO DA
MULHER QUE O ACOMPANHAVA.
ANDRÉ
- É ele... sim! Dr. Cyro Valdez!
Vi o retrato dele no jornal!
VANDA
- (torceu a cabeça para onde os
olhos do rapaz se dirigiam) Quem é o Dr. Cyro Valdez?
ANDRÉ
- (encarava, atônito, o
recém-chegado) Você não leu aquela reportagem? O repórter até falou de mim...
VANDA
- Ah, sim! Aquela história maluca
da moça que foi atacada por um disco voador e depois teve um filho!
ANDRÉ
- Não é uma história maluca. Eu
sonhei com isso, quando era criança... e outros garotos também sonharam.
CYRO SENTIU O OLHAR INSISTENTE DE
ANDRÉ, QUE SE LEVANTOU E ENCAMINHOU-SE PARA SEU LADO. COM UM BREVE CUMPRIMENTO
ACHEGOU-SE AO MÉDICO, TOCANDO-LHE O BRAÇO.
ANDRÉ
- Desculpe-me! (falou, gaguejando)
Eu... eu sou André. Meu nome todo é André Vila Verde. Trabalho no circo... o
senhor deve ter lido no jornal... “As 7 Facas da Morte”, “O Rei do
Malabarismo”...
CYRO
- (franzindo a testa) Não estou
entendendo...
ANDRÉ
- Eu fui uma das pessoas que
sonharam com o seu nascimento...
ORJANA ESTREMECEU.
CYRO
- (controlou-se) Muito bem, seu
André, agora o senhor vai nos dar licença...
ANDRÉ
- (os olhos vidrados no médico)
Impressionante!
CYRO
- Impressionante, o quê?
ANDRÉ
- A cor dos seus olhos... o
magnetismo...
CYRO
- (perdeu a paciência de vez) É
que eu venho de outro planeta e lá todo mundo tem olhos assim!
ORJANA - O
senhor não percebe que está sendo desagradável?
ANDRÉ
- (visìvelmente descontrolado)
Desculpe... eu não pensei... só queria... com licença...
O RAPAZ AFASTOU-SE, RESSABIADO,
ENQUANTO CYRO SE PERDIA NO PANDEMÔNIO DE MESAS, CADEIRAS, GARÇONS E FREGUESES.
ORJANA - Que
sujeito impertinente!
PROF. VALDEZ - Foi
uma das três crianças que sonharam...
CYRO, PELO CANTO DOS OLHOS, PERCEBEU
O OLHAR FIXO DA MULHER QUE ACOMPANHAVA O IMPORTUNO.
CYRO
- Vamos embora! Daqui a pouco tem
um mundo de gente olhando para mim, como se eu fosse um animal do Jardim
Zoológico!
OS TRÊS SAÍRAM ANTE OS OLHARES
SURPRESOS DO GARÇOM E DO MAITRE, QUE JÁ HAVIAM ESCOLHIDO UMA MESA DE CANTO PARA
ACOMODAR OS VISITANTES.
SENTADA DIANTE DE ANDRÉ, VANDA
PERGUNTOU-LHE, CURIOSA:
VANDA
- Que aconteceu?
ANDRÉ
- Os olhos dele eram de uma cor
estranha... Nunca vi ninguém com olhos daquela cor!
VANDA
- Mas ele se assemelha a um homem
como outro qualquer! Tem duas pernas, dois braços...
ANDRÉ
- Mas tem uma inteligência
superior. Os seres que vieram naquela nave espacial eram de uma civilização
mais adiantada que a nossa... Milhares de anos mais à frente. Quem sabe, talvez
milhões!
VANDA
- Você fala como se tivesse
absoluta certeza do que diz.
ANDRÉ
- Mas eu tenho! Eram habitantes
de outra galáxia, na nave espacial que baixou em Porto Azul naquela noite que
eu nunca vou esquecer, 31 anos atrás!
FIM DO CAPÍTULO 12
Na próxima terça, capítulo inédito!
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