sexta-feira, 21 de janeiro de 2011


CAPÍTULO 6


  Em Coroado, a festa atingira o auge. Duda, abraçado á mãe e ao irmão Jerônimo, ouvia o discurso de saudação do prefeito Jorginho. A emoção lhe provocava lágrimas. A cada frase o povo aplaudia.
      Ritinha permanecia inerte, olhar no rosto de Duda, como a esperar um sorriso do amigo de infância. Em certo instante os olhares se cruzaram. O coração da jovem palpitou mais forte. Fôra um momento só. Duda não a reconhecera. A voz do prefeito se destacava no vozerio geral.
      -Se me permitem o trocadilho, Duda saiu de Coroado de cabeça limpa e voltou com a coroa do rei. Viva o nosso Duda! Viva o nosso rei!
      A banda reiniciou o dobrado, enquanto a multidão carregava sobre os ombros o novo ídolo da cidade.
      Lágrimas espocavam dos olhos de Ritinha.
      A decepção ferira-lhe o amor-próprio. E com as lágrimas a banhar-lhe a face, deitou o rosto sobre os ombros de Domingas, sua confidente e mãe de criação.
      -Toma jeito, Rita. Não fica assim. Chorando que nem bebê por uma coisa á toa...
      Jerônimo, que assistia á cena, aproximou-se da moça.
      A banda se afastava, enquanto os brados de Viva Duda! Se confundiam com os gritos da multidão.
      Ritinha, levantando os olhos, notou a presença do irmão de Duda.
      -Ele nem me reconheceu, Jerônimo.
      -Pudera, Ritinha. Quando saiu daqui, ocê era menina, feia,  sardenta, de trancinha. Agora tá uma moça... bonita que nem sei.
      Domingas interveio.
      -Já disse prela. Num falta home bão que te queira. Fica aí pensando no Duda, dia e noite, feito uma boba.
      -Me leva embora, Domingas. Não quero nunca mais ver a cara dele. Nem a raça de vocês.
      Ritinha se afastou a passos rápidos, quase correndo, na tentativa de conter as lágrimas que não cessavam de cair. Jerônimo, tristonho, observava a retirada da jovem. Ao longe o carro de Duda se perdia no meio da turba.

 

      No chão do rancho o velho Sebastião permanecia desacordado. Um filete de sangue traça um risco escuro no alto da fronte do garimpeiro idoso. Potira estacou repentinamente ao ver o corpo do pai de criação. Mestiça de cabelos longos e olhos sombrios, desde criança fora criada pela família Coragem. Amava o velho garimpeiro com amor de filha verdadeira. E havia quem dissesse que a indiazinha dos Coragem era produto de antiga paixão do velho de Sinhana, durante suas andanças pelo sertão de Goiás.
      Potira sacudiu o pai de criação e o arrastou para uma esteira, no quarto de Jerônimo. Retirou a rôlha de uma garrafa de aguardente e despejou um gole na boca do ancião.
     Sebastião voltou a si, meio zonzo.
      -Me fala, padrim... que lhe aconteceu?
      O velho, gemendo, colocou a mão na cabeça.
      -Um galo feio. Alguém lhe bateu?
      -Os maldito... dos jagunço de Barros... tiveram aqui, Potira.
      -Os home de Pedro Barros?
      -Viero me assustá. Se aproveitaro... os marvado... de eu ser velho e doente. Com meus filhos eles não se mete...
      -Diz pros menino, conta tudo. Os menino dá uma lição neles.
      -Não... não. Depois da festança eu conto.

 

      -Tá melhor, moça?
      Na cabana de Braz Canoeiro o negro gemia, amparado pelos braços de Cema. O castigo de Juca Cipó fora terrível.
      João Coragem observava as reações da jovem que vira no carro do coronel Pedro Barros. Era bela. De traços finos e sorriso triste.
      -Sim, um pouco, obrigada... mas por que esse homem está gemendo tanto?
      -É Braz Canoeiro. Deram uma purga nele e ainda por cima quase mataram ele de pancada...
      -Quem bateu nele?
      Cema apareceu na sala.
      -Os bandido de Pedro Barros.
      A moça estremeceu.
      -Meu Braz era meia-praça dele. Antes donte os home cismaro que meu Braz engoliu um diamante. Quase mataro ele pra devolvê o que ele num tinha.
      Cema continuou o relato.
      -Esse ainda escapou com vida. Mês passado mataro um alugado porquê num queria mais trabalhá preles.
      João Coragem interveio, sério.
      -Todos nós somos, mais ou menos, escravo de Pedro Barros... ele é o dono de quase todas as serra do garimpo. Todos sofremo a opressão do domínio dele. Eu nem tanto, que tenho meu próprio garimpo e coragem pra enfrentá esse home.
      No quarto Braz gemeu mais alto, um gemido rouco, quase estrangulado. João e Cema correram para o local.
      Só, na sala, a jovem não se sentia bem. Pela janela viu o cavalo do homem que lhe prestara ajuda. O tropel despertou a atenção de João Coragem. Correu para a porta. Era tarde. A moça já se perdia na escuridão da estrada.
      -Danada! Fugiu no meu cavalo!


 NÃO PERCA 0 7. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM!!

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