quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

 CAPÍTULO 8

     Na fazenda de Pedro Barros Maria de Lara acabava de desmontar do cavalo. Cabelos alvoroçados, rosto corado. Juca Cipó dirigiu-se á moça.
     -Dona Maria de Lara. Tá todo mundo desde onte... feito doido procurando pela senhora. Até o delegado Falcão tá no seu encalço.
     Lara evitava fitar a cara do assassino.
     -Mande entregar este cavalo ao dono. É um tal de João e é garimpeiro.
     Juca perguntou, com raiva:
     -Será o João Coragem?
     Lara já tinha entrado em casa. A pergunta do capanga de Pedro Barros se perdeu no silencio da madrugada.



O sol já enchia de luz o verde dos campos quando um cavaleiro se aproximou do portão da fazenda. Era João Coragem. Das imediações do curral, onde orientava o trabalho de ordenha, Lourenço divisou o jovem e partiu, receoso, em sua direção.
     -Que quer aqui, João?
     -Queria dar duas palavrinhas com seu coronel Pedro Barros.
     -Veio comprar briga?
João Coragem (Tarcísio Meira)

     -Não, vim em missão de paz.
     Lourenço abriu a porteira, desconfiado.
     -Tá bem, entra...
     -Aproveito, também, pra sabê se... se meu cavalo alazão tá por aqui. Se a moça que me roubou ele, mora aqui. Uma moça bonita, fina... que não tem cara de ladrona.
     Do alto da escada, Lara e Pedro Barros assistiam á chegada do irmão Coragem. Lara tentou descer em direção ao homem que lhe prestara  auxílio na estrada deserta. Pedro Barros segurou-a fortemente, por detrás.
     -Vá pro seu quarto, menina.
     Lara olhou-o, desafiadora.
     -Quero falar com o moço, e não é o senhor quem vai me impedir.
     Barros apertou mais o braço da filha.
     -Num quero você metida com essa gente.
     -Por quê? Tem medo que eu descubra o que o senhor faz com eles?
     -Depois a gente conversa. Anda. Vá pro seu quarto, se não quer me fazer perder a paciência.
     -Vai fazer comigo... o mesmo que fez com Braz Canoeiro?
     -Obedece e não amola!
     Barros empurrou a filha até a porta de seu quarto enquanto João e Lourenço penetravam na sala da casa grande.
     A figura estranha de Pedro Barros destacava-se na moldura da escadaria. Charuto na boca, Barros descia lentamente, tentando aparentar uma calma que, na verdade, não possuía.
     Lourenço se aproximou do chefe e cochichou ao seu ouvido, deixando em seguida a sala. João, impassível, assistia á cena.
     -Que é que você quer, João?
     -Bom dia, meu coronel, como está passando?
     -Bem, muito bem, com a graça de Deus. Vá dizendo logo o que tem a me dizer.
     O coronel sentou-se a um canto da sala. João permaneceu de pé.
     -Vim pra conversá feito gente... pra pôr o senhor em dia com os acontecimentos de Coroado. Tem acontecido tanta coisa ruim em seu nome, que eu acho que o senhor deve de ignorar pelo menos a metade.
     -Que é que você quer dizer com esse palavreado todo?
     -Que tou aqui pra ver se desperto dentro do senhor... êsse sentimento de caridade... pela pessoa humana. Porque o que tá acontecendo aqui, é coisa que revolta até mesmo um santo. É barbaridade. É desumanidade. E eu não acredito que meu coronel esteja de acordo.
     Barros procurou mostrar-se inocente.
     -Eu... eu não sei que acontecimentos são esses. Não sei do que você está falando.
     João retrucou, decidido.
     -Tou falando das maldades que fizeram com o pobre do Braz Canoeiro.
    -É um ladrão de diamantes! – gritou o coronel.
     -Tou aqui pra lhe jurá... pra lhe dá minha palavra de honra, de como Braz Canoeiro tá inocente.
     -Não se meta naquilo que não é da sua conta. Me deixe trabalhar em paz.
     João sentia a ira aumentar a cada palavra do coronel. Suas feições estavam transtornadas. Face dura. Pedro Barros continuou:
     -Não posso fazer nada pelo Braz Canoeiro. Não sei o que você quer que se faça por um ladrão.
     -Vim apelá... pra seu sentimento de justiça... o home ta muito ferido... com a surra que seus home dero nele. Ta necessitando de socorro médico. A gente aqui em Coroado num tem recurso, nenhum hospital. Mas na cidade mais próxima, tem. Vim lhe pedir pro senhor mandá levar o pobre home pra lá.
     O coronel respondeu, impiedoso.
     -Ora, eu não tenho essa obrigação. Se está muito condoído da sorte dele, leve você. Eu não vou socorrer ladrão de diamante.
     João deu alguns passos pela sala e se dirigiu secamente ao dono do garimpo.
     -Não vou lhe tomar mais tempo, seu coronel. Só queria lhe dizê que... vou ser obrigado a pedir auxílio pras autoridades... pra poder internar o Braz num hospital. E, pedindo auxílio... vou ter de dar queixa do castigo que dero nele. Isso pode não ser bão pro senhor.
     Pedro Barros levantou-se colérico.
     -Pois dê a queixa! Faça o que quiser. Eu não tenho medo de nada. Quero que você e o Braz vão pro inferno! E fique sabendo que, nesta terra, quem faz a lei sou eu!
     João deu as costas e saiu rápido da sala.



     Na cidade de Coroado só se falava no baile em homenagem ao Duda. A cidadezinha se vestia de alegria com a presença do filho famoso. Na casa de Maciel, o médico do lugar, eternamente embriagado, Ritinha e Domingas conversavam.
     -Não diga que estou engordando, que eu te esgano! Eu vou ao baile do Duda. Também se o bandido não me reconhecer, nunca mais olho pra cara dele. Risco ele da minha vida.
     Domingas aproveitou a deixa para o conselho.
     -É melhó riscá desde já, Rita. Olha, tão dizendo umas coisa por aí.  Chegô uma mulher da cidade, no mesmo trem que ele. Se hospedô na pensão do Gentil Palhares, uma mulher meio da misteriosa... tão dizendo que é mulhé dele. E mais, que tem jeito de mulhé-dama...
     -Domingas! – recriminou Ritinha. – Duda não é casado. Se fosse, Sinhana, mãe dele, não ia saber?
     -Uai... pra ter mulher, não precisa sê casado...


FIM DO CAPÍTULO 8  

 NÃO PERCA O 9. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM

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