segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 10

 CAPÍTULO 10


     O frescor da madrugada, o clarão da lua iluminando a vastidão dos campos, o cantar dos primeiros pássaros, serviam de pano de fundo para as recordações de Duda e Ritinha.
     Ao longe, o marulho do riacho, eterno viajante dos caminhos do sertão. O casal passeava de mãos dadas. De repente Ritinha apontou um trecho das águas.
     -Veja se se lembra deste lugar.
     -Me lembro. A gente vinha nadar aqui todas as tardes.
     -Bandido! Um dia você escondeu a minha roupa. Tive de ir de maiô para casa, enrolada na toalha. O pai quase me matou de pancada.
     No tronco de uma árvore, meio apagado pelo tempo, os dizeres la estavam, escritos á ponta de canivete.
     “Duda e Ritinha. Amor para sempre”.
     O rapaz fez a proposta:
     -Vamos cair n’água, como antigamente?
     Os risos do casal podiam ser ouvidos no silencio da madrugada. Os corpos se uniam no sentimento da saudade. E os lábios respondiam ás perguntas que não precisariam ser feitas.

     De repente a lembrança do tempo sacudiu a moça. Os raios de sol já se refletiam, dourados, sobre o leito do riacho.
Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)

     -Seu maluco! Sabe que horas são?
     -Não, nem quero saber.
     -Acho que umas cinco e meia. O sol já ta nascendo.
     Duda olhou espantado para o céu.
     -O quê? Puxa, Ritinha, que coisa! Não dá vontade de pedir pra Deus parar a vida aqui?
     -Que dá, dá. Só assim você não fugia mais de mim.
     Beijam-se novamente. Terna e demoradamente.
     Rita murmurou ao ouvido do amado:
     -Queria nunca mais te deixar.
     Lembrou-se de que ele não demoraria muitos dias em Coroado. Obrigava-se a retornar ao Rio, ao Flamengo, logo que terminasse o prazo da licença. Uma nuvem de tristeza vedou o semblante da moça. Eduardo notou.
     -Sim. Devo voltar daqui a uns dois ou três dias.
     -E tudo vai ficar como antes. Juro que nunca mais, nunca mais vou ver o sol nascer, só pra não me lembrar de você.
     -Diga o que quer que eu faça...
     -Quero que não me deixe, que me leve com você.
     Duda segurou docemente o rosto de Ritinha, contornando com as mãos a curva da fronte, a forma do nariz, a linha dos lábios. Beijou-lhe os olhos. As faces. Até que seus lábios se colassem, parecendo a eles que a natureza era um carrossel a girar, a girar, a girar...
     Eduardo ainda conseguiu responder:
     -Agora... não posso, Ritinha. Mas eu volto um dia qualquer pra te buscar.

     Na porta da casa do Doutor Maciel havia uma agitação incomum para aquela hora. Domingas olhava as pessoas que passavam rumo ao trabalho. Maciel, mais ébrio que nunca, sentava-se numa enorme pedra na entrada da casa. Foi quando perceberam o casal que se aproximava. Domingas voltou-se, tensa, para o médico viciado. Eduardo falou primeiro.
     -Eu... eu trouxe a Ritinha... A gente... andou passeando... recordando os tempos de criança...
     -A gente não sentiu passar as horas, pai.
     Maciel não pôde controlar a cólera, aumentada com doses excessivas de cachaça.
     -Seus... seus desavergonhados!
     Ritinha tentou falar. Maciel não deu chance.
     -Seu cachorro da cidade! Pensa que pode abusar das moças do interior? Pensa que pode vir, almofadinha... fazer aqui o que lhe der na telha?
     Duda ripostou, com energia.
     -Doutor, o senhor está me ofendendo.
     Maciel não tomou conhecimento da revolta do moço.
     -Vai ter que pagar por isso. Vai ter que pagar, seu cachorro.
     Ameaçador, suspendeu a bengala na direção do rapaz.
     -Pai, a gente não fez nada de mal.
     -Se não fez, mesmo, vai ter que dar conta na polícia. Esses safados da cidade... pensam que a filha da gente é lixo.
     -O senhor está muito enganado. Passamos a noite conversando, brincando... sem maldade.
     Maciel não acreditava.
     -Vem dizer isso a mim? A mim?
     Domingas interveio:
     -Deixa a menina entrá, patrão. Pra acabá com o escândalo.
     -Entrá, onde? Nesta casa? Ela que fique na rua. Na rua com este sujeitinho. Pra voltar a passar nesta porta, só depois de casar na polícia.
     Duda reagiu, colérico.
     -O senhor... o senhor está bêbado.
     Maciel apontava o dedo para as serras que se viam no horizonte.
     -Rua! Rua! Os dois. Rua!
     Duda abraçou Ritinha e, juntos, saíram correndo ante os olhos escandalizados dos vizinhos e das pessoas que por ali passavam ás primeiras horas da manhã. Coroado saberia de tudo logo que a boca do povo começasse a espalhar a triste nova da filha do Dr. Maciel.

FIM DO CAPÍTULO 10


NÃO PERCA O 11 CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM

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