domingo, 29 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 23


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 23
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JOÃO
JERÔNIMO
RODRIGO
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
JUCA CIPÓ
DELEGADO FALCÃO
GARIMEPIROS
JAGUNÇOS

CENA  1  -  GARIMPO  -  GRUNA  -  INT.  -  DIA.

Há horas João Coragem trabalhava duramente na gruna úmida e isolada. O suor escorria-lhe das faces e do peito. Ouviu, como num eco distante, a voz que o chamava.


JERÔNIMO  - (off)   João! João!

JOÃO  -  Tou aqui!

Parou de cavar, lavou rapidamente as mãos e o peito e ajudou Jerônimo a penetrar na gruna.


JERÔNIMO  -  Cavando sozinho por desgosto ou por prazer?

JOÃO  -  Por desespero, mesmo. Esta noite tive um sonho com a gruna. Eu acho que tou muito perto da pedra dos meus sonhos...

JERÔNIMO  -  Deus te ouça...  ( erguendo os olhos)  ... se é que ele pode ouvi a gente de dentro deste buraco.

João voltou a cavar a terra; Jerônimo sentou-se a pouca distancia, sobre um pedaço de rocha.


JOÃO  -  Um bamburro ia resolvê a vida de nós todos. Até a tua...  (mostrou os punhos, num entusiasmo desesperado)  Por que a desgraçada da pedra não aparece? Uma pedra grande, do tamanho de um ovo de galinha! A gente tirava a barriga da miséria. Ia enfrentá o Pedro Barros de igual pra igual. Com a pedra na mão eu ia esfregá na cara dele! “Tá veno, patife? Tá veno isso? Sou mais poderoso, mais forte que toda a sua fortuna junta! A sua foi ganha á custa de roubo, de violência! A minha foi por sorte!” Ah, Jerônimo,Deus tem que ouvi a gente do fundo deste buraco!  (delirava, com as mãos postas e os olhos fitando o teto escuro da escavação.  Deu uns passos em direção á entrada, como um sacerdote em meditação)  Tá me ouvindo, Deus? Se não tá, eu grito! Onde tá minha pedra, o meu bamburro? A minha pedra do mundo? (caiu de joelhos sobre a lama, enfiando as mãos na terra molhada. Voltou-se novamente para Jerônimo, que o observava, extasiado)  É duro a gente tê que reconhecê isso. Mas dinheiro ainda resolve os problema. A gente devia de se contentá com o que tem. Se contenta... até que não esbarra com uma mulhé bandida na nossa frente...

JERÔNIMO  -  Mulhé bandida? (lembrou-se da filha do coronel e completou)  ...mulhé bandida, mas que ocê não qué prejudicá. (pausa)  Dr. Rodrigo me contô tudo...

JOÃO  -  Sou contra os métodos dele... assim, a gente não combina.
   
JERÔNIMO  -  Me falô, também, que podia obrigá Domingas a confessá a culpa do Juca Cipó, mas que você não deixô...
  
JOÃO  -  (aborrecido)  E não deixo, mesmo. Já disse tudo o que tinha de dizer sobre isso.

JERÔNIMO  -  Juca é um assassino!

JOÃO  -  Mas ela não tem culpa disso. Doutô Rodrigo pode prová a culpa dele, sem obrigá Domingas a confessá.
   
JERÔNIMO  -  (insistiu)  Ele me disse... o revólver que ele entregô não é do mesmo calibre da bala que matô o “seu” Jorginho. Mas ele pode ter dado fim á arma do crime.

João parou de garimpar. Olhou demoradamente para o irmão mais realista e menos sensato.

JOÃO  -  Olha aqui, irmão, a gente pode te ajudá, mas não precisamo de usá esses meio. Com a nossa força de vontade... a nossa sinceridade em ajudá essa gente... isso é que soma...
   
JERÔNIMO  -  (corta)   Dr. Rodrigo acha que não é o bastante. E eu tou com ele. Hoje, de noite, pros garimpeiro a gente vai desmascará a família de Barros! Até a moça, a filha dele! Vamo dizê quem ela é... e tudo o mais.

A aflição metamorfoseava as feições do garimpeiro, alterando para pior o seu gênio normalmente calmo.

JOÃO  -  Eu num vô deixá ocês fazê isso! De jeito nenhum!

JERÔNIMO  -  Tem o crime do Juca, que só falta a prova. A gente vai obrigá Domingas a confessá.

JOÃO  -  Eu não admito! Eu não admito!  (inteiramente descontrolado, enquanto Jerônimo se afastava apressado e nervoso)  Jerônimo! Escuta! Jerônimo, meu irmão! Não é justo, não é direito! Tá me ouvino?

 A voz grave do rapaz perdia-se no deserto da região. Apenas o ruído das águas tranqüilas, batendo contra as paredes da gruna, quebrava a monotonia ambiente. O garimpeiro levantou a pá á altura da cabeça e atirou-a com violência contra o chão, fincando-a como uma cruz grosseira no solo barrento.
   
CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  OUTEIRO  -  EXT.  -  DIA.


No pequeno outeiro, cercado de árvores e rochas, os garimpeiros discutiam. A luz de dezenas de tochas clareava o local, emprestando um toque histórico á cena rude.  João Coragem abriu os braços pedindo silêncio.

JOÃO  -  Meus amigos... minha gente! Ninguém tá aqui pra provocá ninguém. Vocês me conhece e se viero aqui, foi porque confiaro em mim e no meu irmão.  (sorriu simpáticamente para a multidão)   Mas, quem é o candidato é ele, não sou eu. Eu pedi antes a palavra, porque a minha palavra é de paz. Sei que tem gente que não respeita a lei, nem a pessoa humana. Sei que tem criança morreno de fome, enquanto os rico dão banquete. Sei que os garimpeiro nasce na lama e morre na lama. Enquanto que, pros dono dos garimpo, a vida é uma festa. Mas eu acho, também, que tudo isso pode e deve acabá, sem a gente precisá recorrê á força, á violência ou á infâmia. Os home sempre pode entendê uns aos outro, porquê nascero irmão.

Os garimpeiros aplaudiram as palavras de João Coragem e redobraram de entusiasmo quando  a figura empertigada de Jerônimo surgiu no elevado. Com a mecha de cabelos teimosamente caindo-se sobre os olhos, Jerônimo balançou a cabeça e pediu silencio.

JERÔNIMO  -  Meu irmão, a minha palavra também é de paz (falou, fitando orgulhosamente o outro)   A gente não reuniu ocês pra dizê que as mata de Coroado são verde e o céu é azul. Chamamo pra mostrá uma triste realidade... Não é provocação dizê pra nossa gente que nós não temo dinheiro pra comprá o voto deles. O que nós temo é só mesmo a nossa verdade, e a vontade de fazê alguma coisa, acabá com os desmando do todo-poderoso de Coroado. Ocês são puro... e vão ser iludido. Ele pode comprá o voto docês. A gente não pode.

Num gesto teatral, Rodrigo retirou a camisa de Braz Canoeiro e o ajudou a subir no elevado.

 
RODRIGO  -  Se vocês se iludirem,  coisas como esta vão continuar.

Os garimpeiros observaram, horrorizados, as costas lanhadas do colega de trabalho. Houve um murmúrio de exaltação a percorrer, como uma corrente elétrica, o grupo de rudes trabalhadores. Percebia-se a revolta em cada expressão.

RODRIGO  -  ( aproveitando-se da onda de reprovação)  É esta a realidade que vocês têm que compreender!
   
JERÔNIMO  -  Qual de ocês não teve um cano de revólver encostado nas costas, quando achô uma pedra e foi obrigado a vendê por qualquer preço? Qual de ocês?

GARIMPEIRO  -  (voz irada, no meio da multidão)  Nós todos! Eu mesmo, muitas vezes! Nós não tem o direito de vendê nossos diamante! Nós somos escravizado!

Outras vozes apoiaram a explosão do revoltado. Rodrigo voltou a falar, com os olhos refletindo a luz baça dos archotes.

RODRIGO  -  Meus amigos, existem leis, direitos que aqui não são respeitados.
   
JERÔNIMO  -  Crimes são cometido contra a gente. Gente inocente é assassinada. Basta lembrá o caso do “seu” Jorginho, prefeito. Tudo isso, pra que um só home domine esta cidade. E eu pergunto...   por quê? Até quando? Se a gente tem nas mãos o que Deus nos deu pra impor a ordem, o direito e o respeito á lei!

Um sussurro envolveu os manifestantes quando Pedro Barros, abraçado a Lara, acompanhado de Juca Cipó e Diogo Falcão, aproximou-se do local. Jerônimo também percebeu a presença do inimigo e sentiu novas forças revigorarem o entusiasmo de que estava possuído.

JERÔNIMO  -  A primeira coisa que eu prometo a ocês é expulsá daqui os assassino, os mau. Juca Cipó é um deles... um assassino!

Imediatamente, Juca levou a mão á coronha. Os garimpeiros o olharam, ameaçadores. Juca pensou duas vezes... Jerônimo prosseguia na instigação.

 
JERÔNIMO  -  A filha de Pedro Barros  (indicou a jovem junto ao pai )  não é modelo de virtude pra mulhé nenhuma!

Lara abaixou a cabeça, envergonhada, enquanto o delegado dava um passo á frente, ameaçador.

DELEGADO FALCÃO  -  Como representante da lei nesta cidade... eu exijo que provem o que estão dizendo!

PEDRO BARROS  -  (gritou, colérico)   A calúnia é uma arma sórdida!

JERÔNIMO  -  Eu provo! – ( gritou, ante os olhares concentrados de dezenas de garimpeiros).
   
PEDRO BARROS  -  Provem! Provem! Eu exijo!

João com um movimento rápido colocou-se entre os dois homens, no momento em que Maria de Lara subiu á tribuna improvisada.

MARIA DE LARA  -  Eu sou a filha de Pedro Barros.  Se alguém tem alguma prova contra a minha honra, eu peço que a apresente neste momento... e que me atirem a primeira pedra.

Fez-se um curto silencio no ambiente.

MARIA DE LARA  -  Eu também sei, meus amigos, que há muita coisa errada nesta cidade. Mas... há muita coisa errada no mundo, também. Nenhum de nós pode estar de acordo. Nem mesmo meu pai, que vocês julgam responsável por tudo de mal que existe por aqui. Eu lhes garanto, como filha dele, que ele também gostaria que em Coroado somente houvesse amor e tranqüilidade.  Embora muitos não acreditem, eu lhes garanto que meu pai é um homem bom. E que, se cometeu erros no passado, está disposto a repará-los. Eu peço para ele um voto de confiança.

O grupo permaneceu silencioso, após as palavras de Lara, sem manifestações contra ou a favor das idéias expostas pela filha do coronel.  Barros correu a abraçar a moça, cobrindo-lhe as costas com uma capa de couro.

PEDRO BARROS  -  Você já disse tudo. Vamos embora!

Os garimpeiros abriram um corredor para dar passagem aos dois. Lara sentiu os olhos de João fitarem-na, mas não ergueu os seus para o rapaz. De repente, o estampido, a correria, outro estampido e do ombro de Lara um filete de sangue cresceu e coloriu de vermelho-vivo a blusa de seda branca. Ela caiu ao chão em meio ao tumulto que se formou em segundos.

O delegado e o coronel correram a ampará-la, enquanto Juca gritava, babando-se de alegria.


JUCA CIPÓ  -  Cuidado! Cuidado, minha gente!
   
FALCÃO  -  (de revólver em punho)  Para trás! Para trás!

FIM DO CAPÍTULO 23
Pedro Barros (Gilberto Martinho) e Maria de Lara (Gloria Menezes)

   
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
   
===>
PEDRO BARROS APLICA UM CORRETIVO EM LOURENÇO POR TER "ERRADO O ALVO" E ATIRADO EM MARIA DE LARA.

===>
ESTELA CONTA Á FILHA E TIA DALVA QUE O TIRO FOI ENCOMENDADO POR PEDRO BARROS PARA QUE ELE MESMO FÔSSE O ALVO, MAS OS CAPANGAS ERRARAM E LARA FOI ALVEJADA.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 24 DE



sábado, 28 de maio de 2011

CAPÍTULO 22


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 22

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 

PEDRO BARROS
JUCA CIPÓ
JOÃO
RODRIGO
DELEGADO FALCÃO
POTIRA
SEBASTIÃO
SINHANA
JERÕNIMO

CENA 1  -  COROADO  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Pedro Barros acabara de ser informado que dois homens desejam falar-lhe.


PEDRO BARROS  -  Quem são?

JUCA CIPÓ  -  O promotor e João Coragem.

O coronel levantou-se de um salto e Juca Cipó automáticamente levou a mão á cintura quando João Coragem e o promotor entraram.

JOÃO  -  Me dá sua arma, Juca!

JUCA CIPÓ  -  Espera lá... dá minha arma... por quê? Qual é sua autoridade aí nesse caso, João Corage?
 
RODRIGO  -  (severo)  Eu sou a autoridade!

JUCA CIPÓ  -  É não!

RODRIGO  -  (controlou-se)  Será que tenho que explicar tudo de novo?

Juca não se deu por vencido e, atrevidamente, tornou a fustigar o promotor.


JUCA CIPÓ  -  Autoridade que eu conheço é só o seu douto delegado. E esse ficô satisfeito com as pergunta que me fez.  (Voltou-se para Pedro Barros que ouvia calado)  Não é mesmo, meu patrão?

O coronel, num gesto rápido, contrariou a convicção do jagunço.

PEDRO BARROS  -  Não, Juca... infelizmente... temos de reconhecer a autoridade do seu doutor promotor. (Visivelmente irritado,  voltou-se para Rodrigo)  Mas, eu lhe digo, o senhor não precisava vir até minha casa. E veio muito mal acompanhado. Me admira como há certa gente... que tem valentia de voltar na minha casa, depois de daqui ter sido expulso!

Virou as costas para os rapazes.

JOÃO  -  Eu vim não foi pra mostrá valentia, não. Vim pra ajudá o seu douto a cumprir o dever.
  
PEDRO BARROS  -  (gesticulou, ordenando irritado)  Juca, entrega logo essa arma preles. Acaba com essa história.

JUCA CIPÓ  -      -Mas... meu patrão... isso é um desaforo!
  
PEDRO BARROS  -  (categórico)  Prova logo sua inocência, homem. E deixa de coisa!

A contragosto, Juca atirou os revólveres sobre a mesa, voltando as costas ao promotor.

RODRIGO  -  Vou mandar examinar.

Com o dedo em riste, Pedro Barros apontou a porta da rua. Grossas veias sobressaíam de suas frontes.


PEDRO BARROS  -  Já chega! Aquela é a saída. Façam o favor...

CENA  2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA  -  INT.  -  DIA.
 
Com um sorriso zombeteiro, Juca Cipó aproximou-se do patrão, alisando a coronha de um revólver. Ao longe, pela vidraça da janela, via os cavalos afastarem-se em galope cadenciado. A poeira subindo desenhava no ar cogumelos barrentos. 


JUCA CIPÓ  -  (sorria)  Patrão... esta é a minha arma verdadeira.

Barros fitou a pistola grosseira.

PEDRO BARROS  -  É bom não ficar dizendo isso aí pelos cantos. Devia ter dado fim a ela.

JUCA CIPÓ  -  (apertando o revólver contra o peito, em atitude de ternura)   Que nada! É a minha arma do coração...

Falcão entrou sem avisar, deparando com a cena inusitada. Deu alguns passos para o interior da sala.


PEDRO BARROS  -  Entre, delegado.

DELEGADO FALCÃO  -  Boa tarde!  (depois de curta pausa, comentou)   Encontrei aí fora o João Coragem.

PEDRO BARROS  -  É. O sem-vergonha se atreveu a voltar a esta casa.

DELEGADO FALCÃO  -  Que foi que ele veio fazer?

PEDRO BARROS  -  Veio com o promotor... Bobageira!

DELEGADO FALCÃO  -  Estão propalando pelos quatro cantos da cidade que vão desmascarar a todos nós.

Juca Cipó, com risinhos histéricos, insistiu no contrário, batendo com o pé no chão.

JUCA CIPÓ  -  Vai, não! Prova contra nós é que eles não tem. Só a língua, a infâmia.
  
DELEGADO FALCÃO  -  Estou sinceramente preocupado. Temos que nos calçar bem, numa defesa convincente. Caso contrário... não vai ser sopa enrolar o promotor.

CORTA PARA:

CENA 3  -  RANCHO CORAGEM  -  EXT.  -  DIA


Postada diante da velha cacimba que abastecia de água potável o rancho dos Coragem, Potira admirava a poesia da tarde que começava a morrer. De repente um ponto se moveu na estrada sinuosa percorrendo o trajeto em marcha lenta. O velho Ford dos Coragem cortava o campo, margeando o riacho sonolento. A índia sentiu as faces enrubescerem de contentamento.


POTIRA  -  (gritou para o velho Sebastião)  Padrim! Tão chegano aí! Jerome e mãe Sinhana!

O velho, meio trôpego, alcançou a janela.

SEBASTIÃO  -  Louvado seja Deus! Chegaram são e salvo!

CORTA PARA:

CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  INT.  -  DIA.

Sinhana entrou capengando agitada, banhada de suor e com as vestes amarfanhadas.  Com as costas curvadas.


SINHANA  -  Gentes! Graças a Deus, cheguei na minha casa!

POTIRA  -  (abraçando a velha, com os olhos cheios de lágrimas)  A gente tava morreno de saudade!
  
SINHANA  -  (para o marido, carinhosa)  E ocê, velho, tá bão?

Juntos deixaram a sala, internando-se na casa.

Ajeitando as malas no chão de barro, Jerônimo observou demoradamente a índia. Seus cabelos, de ondas negras, caíam-lhe sobre os ombros e a mecha teimosa ocultava-lhe parte do rosto. Muito justa, a calça de tergal desenhava os músculos das coxas. O rapaz era todo vida e robustez. 


JERÕNIMO  -  E de mim, não sentiu falta, índia do inferno?

POTIRA  -  De você... tenho a ardência dos tapa que me deu na cara! Até hoje!

Sorrindo, Jerônimo fez menção de abraçá-la. Num salto rápido ela esquivou-se e correu para a porta.

POTIRA  -  Vou buscá lenha no galpão.

Desapareceu, lépida, pés descalços, antes que o rapaz pudesse detê-la. Desconcertado, Jerônimo voltou-se á procura do pai. Os velhos haviam entrado e conversavam animadamente no quarto de paredes brancas. Sinhana, pela porta entreaberta, viu o filho partir no encalço da mestiça. 

SINHANA  -  (para o marido)  Êsses dois... (T)  Afinal, Bastião, a gente pode ou não pode fazê o casamento deles? Jerome tá precisando de casá. Tá ficando um home muito nervoso. É falta de assentá a cabeça. E a índia é doida por ele...

SEBASTIÃO  -  (piscando nervosamente)  Não... não é bão mexê em casamento, por enquanto.

SINHANA  -  Bastião... um dia pode ser tarde!

O velho limitou-se a balançar a cabeça, em sinal de protesto.

CORTA PARA:

CENA  5  -  RANCHO CORAGEM  -  GALPÃO  -  INT.  -  DIA

A lenha fugia-lhe dos braços, caía ao chão e a mestiça tornava a apanhá-la, numa rotina cansativa. Os últimos raios de sol traçavam riscos de luz por entre as frestas da parede de madeira. Jerônimo parou, encostado ao portal.


JERÔNIMO  -  Índia... vem comigo buscá o irmão.

POTIRA  -  Vai sozinho. Não nasceu grudado comigo! (T)  Viu Ritinha? Ela tá bem?

JERÔNIMO  -  (sincero)  Não como merecia lá.

POTIRA  -  Pensei que trouxesse ela, roubando do seu irmão.

JERÔNIMO  -  Veja lá como diz as coisa!   Não tem um pingo de respeito pelos outro... Isso é coisa que se diga de um home como eu?

Irônicamente, curvando-se em saudação, Potira zombou da raiva do rapaz.

POTIRA  -  Desculpa, seu prefeito. Não ta mais aqui quem falô.

JERÔNIMO  -   Vim por bem. Cê só fala bobage!

Agastado com a atitude desrespeitosa da moça, Jerônimo virou as costas e ameaçou retirar-se. Ela o chamou amorosamente, com a voz inteiramente modificada, e uma expressão diferente no olhar. Havia ternura e desejo nos olhos negros.

POTIRA  -  Jerome!

Ele virou-se, encontrando olhar lânguido da moça.

POTIRA  -  Tá pesado... vem me ajudá.

Pedaços de madeira escapavam-lhe das mãos, enquanto os joelhos, firmados no solo, suportavam o peso do corpo. Jerônimo aproximou-se, penalizado com o esforço despendido pela mestiça. Ajoelhou-se para segurar os toros, no instante em que a índia deixou cair a lenha, de propósito, para abraçá-lo, fervorosamente.

POTIRA  -  Jerome! Jerome! Eu te quero tanto! Tanto!

Jerônimo forçava os braços, na tentativa de desvencilhar-se do abraço. Do rosto de Potira, colado ao dele, uma quentura gostosa irradiava-se por todo o corpo.

JERÔNIMO  -  Pera aí, índia...

POTIRA  -  (voz meiga, no ouvido do rapaz)  Por que ocê é tão ruim? Por que me judia, Jerome? Não gosta nem um pouquinho de mim?

JERÔNIMO  -  Não quero me prendê a ninguém.  Nem que não tivesse o que tem, entre nós... ocê num era mulhé pra mim.
 
POTIRA  -  (ofendida)    -Por quê?

JERÔNIMO  -  Não quero me amarrá. Meu caminho é um só. Ser alguém, custe o que custá. Vencê.

POTIRA  -  (insistiu, apertando-o mais) E mulhé atrapalha.

JERÔNIMO  -  Mulhé pra diversão, não. Mas, pra se amar, atrapalha. E ocê não é de brincadeira...

Dito isto, conseguiu retirar as mãos que lhe cingiam o peito, levantando-se. A índia não se deu por vencida e forçou a tecla do ciúme-provocação.

POTIRA  -  O douto Rodrigo me beijou!  Na boca! Na boca!  (percebeu o leve estremecimento que percorreu o corpo do rapaz)  Ele diz que me quer bem.
 
JERÔNIMO  -  (pigarreou, tentando controlar os nervos)  Vou pedi satisfação a ele. Ele tem que se definir. Se é pra casá ou... se quer se diverti.

Deixou o galpão de cara amarrada, enquanto Potira, silenciosamente, deixava que as lágrimas lhe banhassem o rosto moreno e sensual. Com as mãos em concha, cobrindo as faces, vergou o corpo até encostá-lo no chão barrento.


FIM DO CAPÍTULO 22 
Juca Cipó (Emiliano Queiroz)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...


===> PEDRO BARROS ARMOU UMA CILADA PARA OS IRMÃOS CORAGEM NO DISCURSO DE JERÔNIMO PARA OS GARIMPEIROS, MAS, LITERALMENTE, "O TIRO SAIU PELA  CULATRA" E SUA FILHA, MARIA DE LARA, FOI ATINGIDA POR UM TIRO.


===>DESESPÊRO, CORRE-CORRE, CULPA, REVOLTA E MUITA EMOÇÃO NAS PRÓXIMAS CENAS DE IRMÃOS CORAGEM!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 23 DE 
 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 21


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 21
 PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
VIRGÍNIA
PAULA
DUDA
RITINHA
JERÔNIMO
MÉDICO
CENA  1  -  RIO DE JANEIRO  -  INTERIOR DO TAXI  -  EXT.  -  DIA.

Sinhana deu o endereço ao motorista e recostou-se no banco traseiro do taxi. Coordenava as idéias e os termos da conversa, enquanto velozmente o veículo cruzava as ruas movimentadas da zona sul. Pagou a corrida e, desajeitada, encaminhou-se para a entrada do prédio.

CORTA PARA:

CENA 2  -  HALL E ELEVADOR DO APARTAMENTO DE PAULA  -  INT.  -  DIA.


Sinhana entrou no hall do edifício, de paredes espelhadas e farta decoração vegetal,  tomou coragem e premiu o botão do elevador.

CENA  3  -  APARTAMENTO DE PAULA  -  CORREDOR   -  INT.  -  DIA. 


Segundos depois achava-se diante da porta do apartamento. Conferiu o número. Era aquele mesmo. Gorda e com ares de interiorana, a figura de Sinhana despertou a curiosidade da criada. Tentava identificar a mulher que estava á sua frente. Sinhana perguntou, sem maiores rodeios, como se fosse íntima da patroa.

SINHANA  -  Ela ta em casa?

CRIADA  -  Tá no banho. A quem anuncio?

Empurrando a porta semicerrada, a velha penetrou no apartamento.


CENA 4  -  APARTAMENTO DE PAULA  -  SALA.  -  INT.  -  DIA.

SINHANA  -  Precisa anunciá nada. Eu espero ela terminá o banho. (ante o espanto da empregada, sentou-se cômodamente no sofá).

CRIADA  -  Minha senhora, Dona Paula vai demorar!

SINHANA  - Não faz mal. Não tenho pressa.

A voz de Paula chegou-lhe aos ouvidos, vinda do fundo do apartamento.

PAULA  -  (off)  Quem é, Virgínia?

Os olhos da criada voltaram-se incontinenti para a mulher estranha que, com total naturalidade, admirava a confortável residência.

CRIADA  -  É... uma mulher... que não quer dizer o nome!

PAULA  -  (of)  Pergunte se é a mãe da moça que vai ter criança.

A empregada fez a pergunta sugerida por Paula. Com um muxoxo Sinhana virou o rosto fugindo á resposta.

CRIADA  -  Ela não quer dizer, Dona Paula.

PAULA  -  (off)  Diga a ela que eu já vou.

Sinhana percebeu os olhares insistentes de Virgínia e a tentativa de aproximação que a mulata, simulando trabalho, fazia para dar continuidade á conversa. Decidiu facilitar as coisas e com um sorriso encorajou  a jovem.

CRIADA  -  (parou diante da velha, amparada á vassoura)  A gente sabe porque a senhora não quer dizer.  Pode confiar em mim que eu conheço o segredo de Dona Paula. Sou liga assim com ela... Olha, foi um custo a gente achar uma pessoa nas condições da sua filha.
  
SINHANA  -  (fechando a carranca)  Que condição, mulhé?

CRIADA  -   ... esperando filho pra daqui a sete meses.  (Baixando a voz, em tom de confidência)  A moça quer mesmo dar a criança logo depois que nascer? (fez uma pausa de alguns segundos esperando a resposta).

Sinhana permanecia muda.


CRIADA  -  Eu digo isto porque Dona Paula precisa de uma criança pra nascer no tempo certo... no mês que devia nascer o filho dela... isto é... se ela estivesse mesmo esperando criança.

Tudo se esclaracia rapidamente e a velha percebia com clareza o jogo sujo da amante do filho. Mostrou-se interessada.

SINHANA  -  Como disse?

Virgínia vibrou com o interesse despertado na senhora.


CRIADA  -  Pois então!  (aproximou-se mais de Sinhana e, quase num sussurro, fez a revelação)  Dona Paula não está esperando criança coisa nenhuma! Seu Hernani não lhe disse?

SINHANA  -  Ah... então... ela não tá esperando não?

CRIADA  -  Não acabei de lhe dizer, dona?
 
SINHANA  -  E pra que a... mentira?
 
CRIADA  -  (diminuiu ainda mais o volume da voz)  Pra amarrar o jogador de futebol. O Duda! Nunca ouviu falar no Duda?

Satisfeita com a revelação da criada, Sinhana respondeu irônica:

SINHANA  -  Já! Muito!

CRIADA  -  Pensei que seu Hernani tinha dado o serviço direitinho á senhora. Olha... o negócio tem que ficar em segredo... mas não vamos exagerar, não é? A senhora pode saber.
Com uma toalhinha á guisa de turbante e outra de banho a envolver-lhe o corpo ainda molhado, Paula surgiu na sala. Virgínia apontou para a velha.

CRIADA  -  Está aí a mulher!

Paula vinha agitada.


PAULA  -  Prontinho, gente! Desculpem a demora! (E dirigindo-se a Sinhana)  Muito prazer. Então a senhora é a mãe da  moça... (Não chegou a concluir a frase. De pé, reconhecera a mulher que se encontrava em sua casa).

PAULA  -  A mãe do Duda!

Virgínia desapareceu pela porta da cozinha.

PAULA  -  (procurou controlar-se)  A que... devo a honra da visita?

SINHANA  -  Eu vim pra lhe desmascará. Tinha uma coisa que me dizia, aqui dentro – “essa mulhé ta mentindo...”

Paula sorria, sem graça, as pernas tremendo.

PAULA  -  Como? Não estou entendendo o que a senhora diz. Eu menti? Menti... em quê?

SINHANA  -  Acho que não precisa dá explicação. A senhora mesmo se desmascarô.

Sinhana deu alguns passos em direção á saída. A jovem tentou interceptá-la.


PAULA  -  Minha senhora! A senhora me condena por amar o seu filho?

SINHANA  -  Não é por gostá dele que a senhora mentiu.

PAULA  -  Quem lhe garante?

SINHANA  -  A sua cara, dona! (abriu a porta com energia).

PAULA  -  (revoltada)  Minha vingança e´que, nem a senhora nem a esposinha arranjada de última hora vão conseguir afastá-lo de mim. (quase suplicante, procurou saber o que, desde o primeiro instante, tanto temia) – Vai dizer tudo a ele?

SINHANA  -  (sem piedade na voz)  Agora mesmo!

PAULA  -  Pensa que vai adiantar alguma coisa?

SINHANA  -  Vai... se ele não for trôxa!  Seu desespêro, dona, é o medo de não tê quem lhe pague as conta! Mas, quer sabê de uma coisa? Cria vergonha e vai trabalhá. Pega um cabo de enxada ou mesmo uma vassoura, dona!
  
PAULA  -  Ai, que ódio! Que ódio! Que ódio!

Sapateava, histéricamente, enquanto Sinhana descia ao térreo.

CORTA PARA:

CENA 5  -  RUA.  -  EXT.  -  DIA.


SINHANA  -  (para si)  Quero vê o que o Duda vai falá quando eu contá quem é essa mulhé!

 Com o coração alegre e renovadas esperanças, a mãe Coragem fez sinal com o braço estendido e o taxi parou, rangendo os freios.

CORTA PARA:

CENA 6  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  DIA.
    

DUDA  -  Ela está mal, doutor?

Guardando o aparelho de pressão na maleta, o médico sorriu, dando um tapinha nas costas do rapaz.

MÉDICO  -  Absolutamente... tudo isto é natural no estado dela.

DUDA  -  Estado! Que estado?

Ritinha escondia o rosto, envergonhada.

MÉDICO  -  Há quanto tempo estão casados?

DUDA  -  Um mês e pouco, né, Ritinha?

Por entre a proteção dos travesseiros, Ritinha fez que sim com a cabeça.


MÉDICO  -  Pois é...   Ela deve estar grávida.

DUDA  -  (atônito)  Gra... grávida!

MÉDICO  -  Parabéns! O bom é assim. Deixar vir os filhos logo no início de casados.  (Levantando-se, avisou Ritinha)   Qualquer coisa, pode me telefonar. (E para Duda)   Dentro de alguns dias ela deverá ir ao meu consultório para iniciarmos os exames pré-natais.

CENA 7  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  DIA.

Jerônimo fechou a porta. Sinhana acabara de chegar, esbaforida, pelas sucessivas aventuras no vaivém do elevador.


SINHANA  -  Diabo! Sê obrigada a entrá naquela joça! Quase que eu perco o ar,  lá dentro!

Jerônimo suspirou, tranqüilizado com o regresso da mãe. Vivera instantes de preocupação ante a ausência de Sinhana. Ninguém sabia dizer onde fôra a velha, nem o porquê de tanta demora.


JERÔNIMO  -  Por onde andou, mãe?

Ignorando a pergunta do filho, Sinhana dirigiu-se a Duda, que se sentara sobre o tapete de feltro.

SINHANA  -  Olha aí, filho. Fui desmascarar aquela tipa que dizia que ia sê mãe de um filho teu...
 
DUDA  -  (ergueu-se como se movido a jato)  Qual foi a bobagem que a senhora andou fazendo?

SINHANA  -  (recriminando-o)  Bobagem! Bobagem! Bôbo é você! Pois eu fui lá e fiquei sabendo que ela tá te enganando!

DUDA  -  O quê? A senhora obrigou ela a dizer isso?

SINHANA  -  Obriguei, nada.  A empregada dela pensou que eu era mãe de uma moça que ia dá uma criança... pra ela te enganá, seu bobalhão! E me deu todo... como é mesmo? Ah... o “serviço”!

DUDA  -  (absolutamente incrédulo)  A senhora está brincando!

JERÔNIMO  -  Mãe não é disso! Acredita nas palavras dela e não se arrepende, irmão! E vamo acabá logo com essa conversa que tá na hora da gente picá a mula...

Incontinenti, abriu a porta do quarto da cunhada.

JERÔNIMO  -  Ritinha, tá na hora. Vem ou não vem?

Agarrado á mãe, Eduardo procurava confirmação.

DUDA  -  Mãe, essa história é pra valer? A senhora descobriu isso mesmo? Não é engano seu?

SINHANA  -  Engano... engano ia sê o seu, bôbo. Precisa abri os olho com essa mulhé sabida, filho.  (Afagou, carinhosamente, a cabeça do rapaz).

Ritinha apareceu com a maleta na mão, vestido simples, de chita, em padrão florido.

RITINHA  -  Estou pronta. A gente pode ir.

Duda correu a abraçá-la. Instintivamente, a moça recuou, procurando a proteção de Jerônimo.


CENA  8  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

Fôra tudo repentino. E a própria Sinhana optou pela reconsideração. Ritinha acabou ficando, para alegria do marido. E agora, meio desajeitado, mas ansioso para mostrar suas aptidões domésticas, Duda levava uma xícara de chá á esposa deitada.


DUDA  -  Olha, fui eu que fiz. Mãe me ensinou. Não sei se acertei a fazer o chá pra você... (Sentou-se á beira da cama com a xícara na mão).
  
RITINHA  -  (ressentida)  Obrigada. Não quero dar trabalho.

Duda colocou a xícara na mesinha de cabeceira e pegou na mão da esposa.


DUDA  -  Vou te arranjar uma empregada. Estou ganhando uma nota, Rita. Ontem, enchi meus bolsos de grana. Fiz 3 gols! Mandei brasa! Você tem que esnobar como esposa do grande Duda!

RITINHA  -  (revoltada)  É... eu compreendo. Você tem mania de grandeza. Por isso tem duas mulheres. É o grande Duda. Tem direito a isso.

DUDA  -  Não fala bobagem.  Não te disse que agora as coisas vão ser diferentes? A sujeita me tapeou. E ninguém ilude o Duda, não! Ah, essa não!

Ritinha, menos enfurecida, aceitou o diálogo.

RITINHA  -  Afinal... ficou mesmo provado que ela estava mentindo?

DUDA  -  Peguei Hernani no pulo. O safado deu mil desculpas... “é, eu estava contra, mas sabe... ela é minha irmã, etc., etc.”. (Mudando de tom)  Hernani é boa praça, não quero mal a ele. E toma conta dos meus negócios direitinho. A irmã dele... não quero ouvir mais o nome dela.

Passara a raiva e Ritinha era toda ternura.


RITINHA  -  Jura, Eduardo?

DUDA  -  É preciso, amor?

FIM DO CAPÍTULO 21
Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

JERÔNIMO E SINHANA VOLTAM A COROADO.

 O PROMOTOR RODRIGO, NA COMPANHIA DE JOÃO CORAGEM, VAI Á FAZENDA DE PEDRO BARROS E EXIGE QUE JUCA CIPÓ ENTREGUE SUA ARMA PARA SER PERICIADA. CONSEGUIRÃO SEU INTENTO?

TENTANDO DESPERTAR OS CIÚMES DE JERÔNIMO, POTIRA SE INSINUA E DIZ QUE O PROMOTOR A BEIJOU NA BOCA.

 
NÃO PERCA O CAPÍTULO 22 DE 
   

segunda-feira, 23 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 20


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 20
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
DR. MACIEL
DELEGADO FALCÃO
ESTELA
PADRE BENTO
DALVA
JOÃO
RODRIGO
POTIRA
JERÔNIMO
SINHANA
RITINHA
DUDA
PAULA

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA- GRANDE   -  SAL  -  INT.  -  NOITE.

Na casa de Pedro Barros, Maria de Lara , de verdade, bela e meiga, descia as escadas para falar com o pai. O coronel reduziu o som da vitrola, quando viu a filha. Correu a abraçá-la. Olhou para os presentes: Maciel, Falcão e Estela.

 
PEDRO  BARROS  -  Gente, tenho uma coisa pra dizer proceis.(olhou para a filha, com orgulho. Alisou-lhe a fronte)   Minha filha aqui... é meu orgulho... graças a Deus, tá mais melhor.

MARIA DE LARA  -  Melhor, pai.

PEDRO BARROS  -  Pois é. Melhor.  (chamou o Delegado Falcão)  Vem cá, Falcão, se aproxime...

O Delegado se aproximou, desajeitado, palito a dançar no canto da boca.

PEDRO BARROS  -  Minha filha... eu acabo de fazer um trato com o Seu Delegado Falcão. Acabo de dá sua mão em casamento prêle.

CENA 2  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.

Maria de Lara não desistia da idéia. Tinha de saber minúcias dos acontecimentos ocorridos naquele dia. Ninguém melhor que o padre Bento para lhe fornecer os esclarecimentos desejados. Voltou á Igreja de Coroado. Ela e a tia Dalva.


PADRE BENTO  -  Minhas filhas... que Deus as abençoe.
   
MARIA DE LARA  -  Padre, eu queria saber como e por que eu estava naquele dia em companhia do Senhor João Coragem...

O jovem Coragem – sem que ninguém soubesse – encontrava-se escondido por trás de uma coluna. Ouvia, atento, as indagações da mulher a quem amava.

 
PADRE BENTO  -  Acho melhor falarmos sobre isso em outra ocasião.
  
MARIA DE LARA  -  Papai já lhe contou a novidade?

PADRE BENTO  -  Sobre o que?
   
DALVA  -  As loucuras do meu cunhado. Para que o delegado Falcão o ajude em determinada coisa, prometeu-lhe a mão de Lara em casamento.

João sentiu a terra fugir sob seus pés.

PADRE BENTO  -  Em casamento?

MARIA DE LARA  -  É, em casamento. Papai quer que eu me case com o Senhor Diogo Falcão.

João estava fora de si. Saiu detrás da coluna, horrorizado com a notícia.

JOÃO  -  Ela não pode... não pode se casar com ninguém!

Padre Bento o detém, com as mãos viradas para cima.


PADRE BENTO  -  Pare, João!

Maria de Lara estremeceu ao ouvir a voz de João.

MARIA DE LARA  -  Esperava uma oportunidade de encontrá-lo, Senhor João.

JOÃO  -  Pra que? Pra me agradecer?

MARIA DE LARA  -  Não.

JOÃO  -  Pra me gratificar? Eu não quero sua esmola.
  
DALVA  -  (com franqueza)  Acho ótima a oportunidade de encontrá-lo. Eu quero lhe pedir um favor. Não queremos ofendê-lo. Não. Absolutamente. Mas é preciso que se coloque no seu devido lugar. Esta é uma advertência, seu João. De uma vez por todas... deixe minha sobrinha em paz!

Dalva, - autoritária e cheia de preconceitos – puxando pelo braço da sobrinha, retirou-se de dentro da igreja. Saíram apressadas, sem levantar os olhos para o rude garimpeiro.

JOÃO  -  O senhor está do lado de quem, padre?

PADRE BENTO  -  João, estou com você, meu filho.

JOÃO  -  Não, o senhor não tá comigo. Senão... não me tinha obrigado a fazê aquele maldito juramento. O senhor tá do lado de Pedro Barros,  do lado de Falcão.

Padre Bento colocou a mão sobre os ombros do rapaz. Com gesto suave e amigo.


PADRE BENTO  -  João, este é um caso grave, particular, entre você e esta moça. Ninguém tem de saber de coisa nenhuma, nem mesmo a tia dela, ouviu?

JOÃO  -  Mas agora eu tou entendendo bem. Agora eu vejo as coisa,  padre. O senhor tá contra mim. Pra ela se casá com o Falcão.

Deu as costas ao sacerdote, dirigindo-se para a porta de saída.


CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

Lara e Dalva aguardavam, o chofer no lado de fora do carro de Pedro Barros. O padre se aproximou do automóvel.


MARIA DE LARA  -  O que é que o Senhor João tem?  Parece fora de si.
   
PADRE BENTO  -  Está mesmo fora de si...

MARIA DE LARA  -  Coitado.  Afinal... tenho pena dele. Muita pena. Parece ser um bom rapaz.

CORTA PARA:

CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  INT.  -  DIA.


Potira preparava o almoço. Panela fumegando sobre o grande fogão de ferro. Rodrigo Cesar entrou, sem bater á porta. Há muito vinha desejando ter a oportunidade de falar sozinho á índia. Vislumbrava ali, naquele momento, a grande ocasião. Aproximou-se, pé ante pé. De repente, Potira estava em seus braços. Abraçara-a apertadamente, por trás.


RODRIGO  -  Não se assuste...

A índia reagiu, valentemente.

POTIRA  -  Me deixa...

RODRIGO  -  Desculpe... mas... estou louco por você.

Procurou os lábios da moça com terrível ânsia. Potira aceitou o beijo do promotor. Nem ouviram as passadas fortes do irmão mais velho. João viu toda a cena.

 
JOÃO  -  Que é que há, seu doutô? Vamo com calma...

Potira correu a esconder-se, envergonhada.

JOÃO  -  Essa índia não é de brincadeira, seu doutô.

RODRIGO  -  Por favor, João, não leve a mal...

JOÃO  -  Essa índia é fogo, seu doutô Rodrigo. Ninguém brinca com ela sem saí queimado...

RODRIGO  -  Eu sei. Não pretendo brincar... mas foi irresistível, João..

João viu a foto, imensa, caída no chão.

JOÃO  -  Que foto é essa?

Rodrigo aproveitou para mudar de assunto.

RODRIGO  -  Eu trouxe... para você ver, João, a importância da arma que nós temos na mão.

O grandalhão admirou o retrato em ponto grande, ele e Lara, no beijo da choupana. Não cansava de admirar a foto. Rodrigo achou que era hora de intervir.


RODRIGO  -  Você me entendeu bem? Viu a arma que nós temos nas mãos?

João ainda estava alheio, admirando a foto.

JOÃO  -  Agora... me diga...  como é que pode... como é que acontece uma coisa assim na vida de um homem? Se eu contasse pra alguém... tudo o que aconteceu comigo e com a filha do Coronel Barros... iam dizer que eu tava louco.  Eu também penso que andei tendo sonho ruim... que aquilo tudo num foi verdade, que é invenção da minha cabeça. Mas... tá aqui. Tá aqui a prova de que num inventei,  nem sonhei!

RODRIGO  -  Eu nunca duvidei da sua palavra, João.

JOÃO  -  Agora... o que há com essa moça é que eu não sei. Por que ela finge , daquele jeito, que é duas pessoas? E como é que pode fingir tão bem?

Rodrigo apanhou um copo e deu outro a João. Serviram-se de uma dose de cachaça.

RODRIGO  -  Eu explico, João. É uma aventureira... seu único objetivo é se divertir... veio da cidade, com todos os defeitos das moças livres. Chegando aqui, teve que vestir uma capa de santa. Está me entendendo, João?  Num lugar pequeno,  Lara tinha de ser outra, bem diferente. Como filha de Pedro Barros ela não podia se divertir com um garimpeiro... mas como uma moça qualquer, nada impedia. Daí, então, usou do recurso de se fazer passar por outra. Ela está enganando você, João. Como acredito que engana o pai e toda a família.

CENA  5  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -  DIA.

Ritinha e Sinhana ouviam a transmissão do jogo através do rádio. Torciam desesperadamente, a cada lance de Duda. Jerônimo voltou da sala com um telegrama na mão.

 
JERÔNIMO  -  É do Doutor Rodrigo. Tenho que voltá imediatamente.

SINHANA  -  A gente vai amanhã cedo.

RITINHA  -  Tão depressa? Vou ficar sozinha de novo...

SINHANA  -  Reza aquela oração de chamá marido que eu te ensinei. Ele não guenta. Vem correndo pro teu lado. Esteja onde estiver...

Ritinha sorriu, triste. No rádio, o locutor comentava: “Faltam 3 minutos para terminar a partida. O Flamengo vence por 3 a 1, três gols de Duda. E o Flamengo vai novamente ao ataque. Paulo Henrique...”
    

JERÔNIMO  -  (orgulhoso)  Duda é um craque, mãe.

SINHANA  -  E eu sei lá o que é isso. Era melhor que ele estivesse aqui, do lado da mulher dele. Quando é que ele volta?

RITINHA  -  Nem sempre ele volta. Há mais de um mês a gente tá casado. É sempre isso. Depois do jogo... quase sempre ele não volta para casa.

CORTA PARA:

CENA 6  -  APARTAMENTO DE PAULA  -  INT.  -  NOITE.

 
No apartamento de Paula, Duda deitado, com a cabeça em seu colo, conversava sobre o jogo. De repente, a campainha soou na sala. Paula levantou-se e se encaminhou para a porta. Abriu-a. Apareceram Ritinha e Jerônimo.


PAULA  -  Ai, meu Deus, chegou o cangaço.

DUDA  -  (off)  Quem está aí, Paula?

Duda não vira a entrada do irmão e da esposa. Olhos fechados, chamou a amante.


DUDA  -  Paula... venha coçar os meus pés.

A voz macia de Ritinha tirou-o da semi-inconsciência em que se encontrava.


RITINHA  -  É a especialidade dela, Duda?

O jovem jogador, com os olhos esbugalhados, olhou os recém-chegados.

  
JERÔNIMO  -  Nem a presença da velha te faz voltá pra casa. Cê ta mesmo perdido, mano. Inteiramente perdido. Nem merece o sobrenome honrado da família. De Coragem cê não tem nada. É um Eduardo Covarde...



FIM DO CAPÍTULO 20
Dr. Rafael (Renato Master) e Estela (Glauce Rocha)
 E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# SINHANA, ANTES DE VOLTAR A COROADO, RESOLVE AGIR PARA DESMASCARAR A AMANTE DE DUDA E EXPULSÁ-LA DA VIDA DO FILHO.
 
# JERÔNIMO E SINHANA VOLTAM A COROADO.

# A DÚVIDA DE RITINHA SE VOLTA PARA SUA TERRA OU FICA COM O MARIDO.



NÃO PERCA O CAPÍTULO 21 DE


domingo, 22 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 19


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 19

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 
SINHANA
DUDA
JERÔNIMO
RITINHA
CARMEN
FAUSTO PAIVA

CENA  1  -  RIO DE JANEIRO  -  PRÉDIO DO APTO. DE DUDA  -  ESCADARIA  -  INT.  -  NOITE.

Sinhana subia as escadas resfolegante, botando a alma pela boca...  Duda e Jerônimo sorriam, apesar do sacrifício da velha.


SINHANA  -  Ai! Mais fácil é subir os morros de Coroado!

DUDA  -  Também... precisa ter vontade, mãe, pra subir três andares... tendo o elevador.

SINHANA  -  Prefiro agüentar a escada. Não entro naquele negócio todo fechado, não.
  
JERÔNIMO  -  Bobagem, mãe. A gente tem de se acostumá com o modernismo. Tamo ou não tamo no Rio de Janeiro?
  
SINHANA  -  Ô cidade doida! Tou até tonta. Um dia inteiro de viage. Chego aqui, parece que as coisas estão de pernas pro ar.

JERÔNIMO  -  E Ritinha?

DUDA  -  Ela tá esperando a gente lá em cima.

SINHANA  -  Por que ela não foi com cê esperá a gente?

DUDA  -  Porque... eu tive que fugir de onde estava pra poder esperar voces.

Sinhana e Jerônimo olharam-se.

SINHANA  -  Fugir?

JERÔNIMO  -  A gente não sabia que cê tava preso!  Que foi que cê fez, mano?

DUDA  -  Não é nada disso. Não falei em prisão.

SINHANA  -  Diz que fugiu...

DUDA  -  Da concentração, gente. É outra coisa. Depois explico. Vamos indo logo que eu tenho que voltar imediatamente.

CENA  2  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

O barulho ensurdecedor da alta-fidelidade tomou de impacto o ambiente, quando a porta do apartamento se abriu. Sinhana e Duda pararam petrificados na soleira. No ritmo mais quente, as jovens dançavam, agarradas aos rapazes, enquanto, mais além, outras e outros bebericavam uísque, cuba-libre e bebidas fortes. Duda atravessou a sala á procura de Ritinha.


CENA  3  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.

Duda encontrou a esposa no quarto, deitada, pronta para dormir. 


DUDA  -  (recriminando-a)  Você só faz bobagem! Besteira em cima de besteira! Parece... uma debilóide. Não dá uma dentro. Desde que chegou aqui, só dessas, de idiota!

RITINHA  -  Não mandei dar esta festa.

DUDA  -  Hernani disse que você deixou.

RITINHA  -  Eu não deixei nada. Não mando na minha casa. Quem manda é ele e a Paula. Com certeza foi ela quem inventou esta porcaria. Para colocar você contra mim. Ela estava aqui... veio buscar a geladeira e me disse que é pra guardar o leite... do bebê de vocês.

DUDA  -  Bem, eu não tenho culpa disso, tenho?

RITINHA  -  Não. Quem é que tem, então? Eu?

DUDA  -  Eu já te disse...

Ritinha levantou-se, cortando a palavra do marido.

RITINHA  -  Você não disse coisa nenhuma... Já conheço de cor e salteado a sua história. Olha, Eduardo, eu estou farta. Farta, ouviu bem?

A porta do quarto se abriu. Jerônimo e Sinhana entraram.

JERÔNIMO  -  A gente não tem onde ficar... Cada vez tá chegando mais gente...

Ritinha procurou amparo nos braços da velha amiga.

RITINHA  -  Ainda bem que vocês vieram.
  
JERÔNIMO  -  (para Duda)  Irmão... isso vai demorá pra acabá?

DUDA  -  Eu... eu não sei, pergunte a ela.
  
RITINHA  -  (aos gritos)  Não tenho nada com isso!  Pergunte á noiva dele. Que vai dar um bebê a ele!
  
DUDA  -  (perdeu as estribeiras)  Sabe o que mais, sua boba, eu não te agüento! Não te agüento!

Virou as costas e deixou o quarto, em demanda da rua.

RITINHA  -  Jerônimo, bem que você avisou. Este é outro mundo. Não é para nós, Jerônimo. Eu vou embora com vocês. Eu não agüento mais.

O jovem abraçou carinhosamente a cunhada. Sinhana estava aborrecida com o barulho e a agitação da festa. Ninguém ouvia ninguém. Ensurdecedor. A alta-fidelidade no último ponto.

SINHANA  -  Quem não agüenta sou eu. Espera aí que já dou um jeito nesse negócio, á minha maneira.

CENA  4  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

Sinhana dirigiu-se á sala e correu ao aparelho de som, desligando-o. Todos os olhos se voltaram para ela.


SINHANA  -  Olha aí. Acabô a bagunça, minha gente. Acabô. Vamos embora, cada um pras suas casa, que já é hora de dormi. Vamos indo, minha gente. Vamos embora.
  
CARMEN  -  Quem é a grossa?

SINHANA  -  Sou aquela que, se fosse tua mãe, te dava ensinamento. Como não sou, com a graça de Deus, não tenho obrigação de te aturar. Olha aí, a porta da rua. Olha aí. Tá bem aberta  (escancarou a porta)  Vamo dando o fora, todo mundo pra rua.

Os pares saíram reclamando, mas deixaram o apartamento. Sinhana ainda gritou, quando os últimos se afastavam, rumo ao elevador:

SINHANA  -  Isto aqui é casa de família, tão me ouvindo? Família. (e falando para o filho e a nora)  Comigo é assim. Você tem que aprendê, minha filha...

RITINHA  -  Puxa vida, que saudades que eu estava de vocês! ( abraçando Sinhana) Olha, o banheiro é ali, eu sei que vocês querem tomar banho e depois vamos á janta. Preparei um guisadinho bacana pra vocês comerem.

Jerônimo observava os copos, pratos, cinzas de cigarro. Aquela balbúrdia de fim de festa. Ritinha o abraçou. O rapaz desvencilhou-se dela quase com brutalidade.

RITINHA  -  Jerônimo...

JERÔNIMO  -  Cê não tem modos de mulher casada.

RITINHA  -  É que o Duda não tem me dado vida de casada.

JERÔNIMO  -  Que é que ele anda fazendo?

RITINHA  -  Já ouviu falar num negócio chamado jogo de futebol? Concentração? Treinos? Viagens? Obrigações de um jogador de futebol? Olhe aqui... Duda fica comigo dois dias por semana, quando muito... sendo que um deles... ele dedica á sua... ex-noiva.

JERÔNIMO  -  Pois é. Agora num tem mais jeito, Ritinha. Cê  não pode voltá atrás. Desgraçô com a minha vida e com a sua.

RITINHA  -  Veio de tão longe... só pra me dizer isso, é? Nem precisava. Pra me dizer que meu casamento foi um fracasso? Eu já sabia. Desde que pus os pés neste Rio de Janeiro.

Ritinha começava a choramingar.

JERÔNIMO  -  Não vai chorar agora, vai?

RITINHA  -  Tá com muita prosa só porque vai ter um cargo de presidente da Associação dos Garimpeiros.

Jerônimo sorriu com a ingenuidade da moça. Resolveu acabar com a discussão.

JERÔNIMO  -  Como é, não se come nesta terra?

Sinhana gritou do banheiro.


SINHANA  -  (off)  Ei, Ritinha, o aquecedô tá pegando fogo!

Os dois olharam-se recíprocamente e abriram a boca numa gargalhada imensa. No banheiro, a velha passava mal.

CORTA PARA:

CENA 5  -  RIO DE JANEIRO  -  SEDE DO FLAMENGO  -  CONCENTRAÇÃO  -  NOITE.

As luzes estavam todas apagadas. Silencio no dormitório da concentração do Flamengo. Duda entrou, pé ante pé. Olhou, de longe, sua cama. “Parece que está como eu deixei”. – pensou o rapaz. Retirou os sapatos para amortecer o ruído das pisadas. Era todo medo. Todo apreensão. Chegou até a cama. Sentou-se á borda e puxou a colcha, para deitar-se. O susto fê-lo levantar-se, de um salto. Alguém estava deitado no seu lugar.


FAUSTO PAIVA  -  (vermelho de raiva)  Foi dar um passeio, Duda?

Duda sentiu-se diminuir. Abaixou a cabeça, humilde. Fausto expelia a ira concentrada há várias horas, repetindo quase as mesmas palavras que Duda dissera a Ritinha, minutos atrás.

FAUSTO PAIVA  -  Você só faz besteira, bobagem! Besteira em cima de besteira! Parece um... débil mental! Nunca vi coisa igual! Não dá uma dentro, seu idiota!

Duda aceitava as ofensas, sem dizer palavra.

DUDA  -  Sim... Sim, senhor, seu Fausto.

FAUSTO PAIVA  -  Jogador irresponsável. Assim você não vai a lugar nenhum, está me ouvindo?

DUDA  -  Estou... estou sim, senhor, seu Fausto.

Nas outras camas as cabeças se levantavam para ver e ouvir o ataque do “Seu Fausto”.

FAUSTO PAIVA  -  Um jogador consciente não pode se perturbar. A gente está se preparando para um jogo importante. Se perdermos, este campeonato estará em perigo. Esses probleminhas com a mulherzinha vão se refletir na sua atuação durante a partida.
  
DUDA  -  (reagiu, brandamente)  Eu fui buscar minha mãe.

Fausto não aceitou a justificativa.

FAUSTO PAIVA  -   Cale a boca. Estou falando e aqui quem fala sou eu! Se continuar assim te afasto da equipe e mando a diretoria te multar em 60 por cento do seu salário. Está ouvindo bem?

DUDA  -  Isto não vai se repetir, seu Fausto.

FAUSTO PAIVA  -  Estou avisando!

Fausto retirou-se, enfurecido, enquanto Duda deitava-se e cobria-se, chocado com o desenrolar dos acontecimentos. O craque, humilhado, viu as horas avançarem. Era madrugada quando conseguiu fechar os olhos...

FIM DO CAPÍTULO 19
Duda (Claudio Marzo)


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

#  EM COROADO, PEDRO BARROS COMUNICA Á FILHA, MARIA DE LARA, QUE DEU
SUA MÃO EM CASAMENTO AO DELEGADO FALCÃO.

# JOÃO SURPREENDE O PROMOTOR RODRIGO CÉSAR BEIJANDO A ÍNDIA POTIRA.

# JERÔNIMO E RITINHA VÃO AO APARTAMENTO DE PAULA E A FLAGRAM NA MAIOR
INTIMIDADE COM DUDA.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 20 DE

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 18


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 18

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
PADRE BENTO
MARIA DE LARA
SINHANA
JERÔNIMO
POTIRA
DUDA
RITINHA
NECO
FAUSTO PAIVA
DALVA
DR. MACIEL
DELEGADO FALCÃO
PEDRO BARROS

CENA 1  -  CHOUPANA DA FLORESTA  -  INT.  -  DIA.

A porta se abriu e João Coragem entrou com o Padre Bento. O sacerdote com a Bíblia entre as mãos, parou diante da imagem de Lara, ajoelhada, orando contritamente.

JOÃO  -  Aí está ela... como eu deixei... e não parece a mesma... de antes.
 
PADRE BENTO  -  (achegou-se, suavemente)   Minha filha...
  
MARIA DE LARA  -  (levantou o rosto)  Padre! (levantou-se e beijou-lhe as mãos)  Que que está acontecendo comigo?
 
PADRE BENTO  -  Não sei... João foi me chamar... e está tão atordoado quanto você...

JOÃO  -  Eu pensei que ela nem esperasse a gente voltar.

PADRE BENTO  -  Que que está sentindo, minha filha?

MARIA DE LARA  -  Não sei como vim parar aqui... nem o que estava fazendo em companhia deste homem...

JOÃO  -  Ela não sabe, mas eu lembro, padre! Ou ela tá fingindo... ou... ou não existe explicação, padre.

João esforçava-se para contar a verdade, mas as palavras não se encaixavam dentro de sua vontade. Ele não sabia por onde começar.

JOÃO  -  Eu quero dizer que... que eu e você...

MARIA DE LARA  -  Sim, continue... que eu e o senhor... o quê? ( o padre ia falar. Lara interveio)  Eu quero que ele diga. Diga a verdade, senhor João.  Por favor... eu lhe dou liberdade de falar tudo o que tem contra mim...

JOÃO  -  Não é contra, moça... não é isso que eu quero lhe dizer.

MARIA DE LARA  -  Então o que é?

JOÃO  -  Que eu e você...

Lara fitava-o angustiadamente. João tentava contar a verdade. As palavras escapavam-lhe. A jovem insistia diante da presença tranqüilizadora do sacerdote.

JOÃO  -  Leva essa mulher logo embora daqui, padre!

MARIA DE LARA  -  Seu João... eu lhe peço desculpas. Pode ter a cer...

JOÃO  -  (cortou)  Vai embora!

O padre compreendeu o dilema do rapaz.

PADRE BENTO  -  Vá... vá, Lara... entre no meu carro e espere. Vou dar duas palavrinhas com João...

Depois que Lara deixou a pequena sala, o padre voltou a falar.


PADRE BENTO  -  João... voce fez muito bem em não dizer... tudo aquilo que me contou...

JOÃO  -  Eu tou ficando louco. Não entendo, padre. Que é que eu faço? Não entendo!

PADRE BENTO  -  Tenho certeza de que ela não está fingindo. E nem sei mesmo como é que uma criatura, como aquela moça, pode ter feito tudo aquilo que você me disse.

João encarou o padre, com decisão.

JOÃO  -  Ela é minha... minha mulher. Ela me pertence, padre! Me pertence!

PADRE BENTO  -  João, guarda isso só para você. Pelo amor de Deus, esqueça tudo aquilo que me contou. Eu ouvi como se fosse uma confissão. Juro que de mim não sairá uma única palavra.
 
JOÃO  -  (esmurrou a parede)  Diabo! Diabo! Por que isto tinha de acontecer comigo. Logo comigo?

Padre Bento retirou o terço do bolso, abriu a Bíblia. Entregou-os ao rapaz.

PADRE BENTO  -  Você tem de jurar sobre esta cruz, João. Jure que só eu e você... teremos conhecimento... do que houve entre você e aquela pobre moça.

João segurou a cruz, comprimiu-a entre as mãos potentes. Beijou a imagem de Cristo.

JOÃO  -  Eu juro, padre. Juro sobre a cruz de Cristo!

CORTA PARA:

CENA 2  -  RANCHO CORAGEM  -  INT.  -  DIA.

No rancho da família Coragem, Potira contava o que vira a Sinhana e Jerônimo.

POTIRA  -  (falava nervosamente)  ... aí, mãe Sinhana... ela se abaixou... gritando... Jão tava segurando ela, forte! Ele largou de susto. Ela chorou, chorou... depois se levantou, ergueu a cabeça... e já parecia outra mulher!
 
SINHANA  -  (benzendo-se)    -Parece coisa feita!

POTIRA  -  Parecia mesmo.

JERÔNIMO  -  (sorrindo)  Então a gente tinha razão.  A gente tinha razão. Ela disse que era filha de Pedro Barros?

POTIRA  -  Sim. Disse pra nós ouvir, bem claro...

Sinhana investiu contra o filho do meio.

SINHANA  -  Cê tá alegre com a disgraça do seu irmão?

João ouviu aquelas palavras quando entrava na sala.

JOÃO  -  De que é que está falando?

A velha Sinhana resolveu dizer a verdade.

SINHANA  -  Filho, Potira disse...

JOÃO  -  Potira fala demais. Eu proíbo oceis de espalhá isso que foi dito aqui. Proíbo e exijo que respeitem ela...

JERÔNIMO  -  Isso é o que a gente vai vê .

Já a noite começava a virar a madrugada. A aragem fria penetrava suave pela porta aberta. Sinhana benzeu-se diante do pequeno altar. Orava. Potira acendia as velas dos santos – pensava em Jerônimo. João olhava a escuridão dos céus. Negros como os seus olhos e como o futuro que o aguardava.

CENA 3  -  SEDE DO FLAMENGO  -  CONCENTRAÇÃO  -  INT.  -  E APTO. DE DUDA  -  INT.  -   DIA.

O telefone tilintou na espaçosa sala de descanso. Os jogadores esperaram a chamada. Fausto Paiva atendeu.

FAUSTO PAIVA  -  Duda... telefone para você. Acho que é a tua mulher de novo. Parece que ela não compreendeu que não deve te encher na concentração.

Duda levantou-se e pôs o fone ao ouvido.

DUDA  -  Alô! Que é, Ritinha? Não te disse que não deve me amolar a paciência aqui, na concentração? Pra que me desobedeceu?

RITINHA  -  Chegou um telegrama, Eduardo. De Jerônimo. Eles saíram ontem de Coroado. Vão chegar hoje ás oito horas da noite...

DUDA  -  O quê? Jerônimo vem aí?

RITINHA  -  Vem, com sua mãe.
 
DUDA  -  (quase deixou o aparelho cair)  Com mãe? Mas que é que aqueles dois vêm fazer no Rio?  O quê?  Alô! Tá me ouvindo, Ritinha? Que é que meu irmão e mãe vêm fazer aqui?

Rita de Cássia respondeu baixinho, num tom quase inaudível, como se receasse que o marido ouvisse.

RITINHA  -  Eu... chamei, Eduardo.

O rapaz não ouvira nada.

DUDA  -  Fala mais alto!

RITINHA  -  (repetiu, elevando o volume da voz)  Fui eu... que chamei, Eduardo.

DUDA  -  Não estou ouvindo.

RITINHA  -  Eu chamei. Ouviu... benzinho. Eu chamei...

DUDA  -  Você é uma tonta! Uma imbecil! Onde se viu, imbecil, está me ouvindo? Imbecil!

Ritinha desligou. Com cuidado. Choramingava, quando colocou o fone no gancho.

CENA  4  -  SEDE DO FLAMENGO  -  CONCENTRAÇÃO  -  INT. -  DIA.


Aflito, Duda conversava com Neco.

DUDA  -  Em suma, minha família vai chegar dentro de algumas horas.

NECO   -  E qual o problema?

DUDA  -  Aí está o problema: nem minha mãe nem Jerônimo conhecem o Rio de Janeiro. Quem os levará até o apartamento? Rita? Ela não conhece nem um metro além da nossa residencia.

NECO  -  Que situação... e agora?

DUDA  -  Agora... só existe uma saída!

CORTA PARA:

CENA  5  -  SEDE DO FLAMENGO  -  CONCENTRAÇÃO  -  INT. - NOITE.

Era noite. Todo o elenco do primeiro time e os regra-três se achavam diante do televisor. Chico Anísio fazia das suas no vídeo iluminado. Fausto Paiva olhou a turma. Sim. Faltava um.

FAUSTO PAIVA  -  Cadê o Duda?
 
NECO  -  (justificando)  Ainda está ressonando...

FAUSTO PAIVA  -  Não foi jantar... só está querendo dormir... que negócio e êsse? Está de pileque? Alguém andou infringindo as regras?

NECO  -  Não, senhor. Ele está... meio gripado...
  
FAUSTO PAIVA  -  Eu vou ver.

CORTA PARA:

CENA 6  -  CONCENTRAÇÃO  -  DORMITÓRIO  -  INT.  -  NOITE.

As camas forradas de branco davam um aspecto hospitalar ao grande salão-dormitório. Fausto abriu a porta. Numa das camas, próximo á janela central, havia alguém dormindo. Coberto da cabeça aos pés. Fausto aproximou-se.

FAUSTO PAIVA  -  Que é que há, Duda? Não está se sentindo bem? Vamos ver isso, rapaz...

Neco surgiu na claridade da porta. Fausto Paiva insistiu.

FAUSTO PAIVA  -  Ei, Duda, acorda pra cuspir! Vamos lá ver que soneira é essa...

Neco ainda tentou explicar, mas era tarde. O severo treinador acabara de suspender a colcha. Sobre a cama, apenas alguns travesseiros habilmente arranjados. De Duda nem a sombra. Fausto virou fera.

FAUSTO PAIVA  -  Onde está ele? Onde está aquele irresponsável?

CENA  7  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  QUARTO DE LARA  -  INT.  NOITE.

Maria de Lara tomava o chá caseiro, recomendado pelo Dr. Maciel. Conversava com a tia.

MARIA DE LARA  -  Por que mentiu ao doutor?

DALVA  -  Eu menti?

MARIA DE LARA  -  Escondeu que, quando eu voltei a mim, estava em companhia de João Coragem. O Padre Bento também omitiu isso, por quê?

DALVA  -  Porque... o padre foi prudente. A gente desta cidade malda muito as coisas. Podiam não entender que você desfaleceu e o senhor João a encontrou... como da primeira vez.

MARIA DE LARA  -  Por que é sempre ele que me encontra?

DALVA  -  Não sei... deve ser coincidência...

Lara tomou um gole do chá, engasgando-se com repentino soluço. A xícara balançava em suas mãos. Dalva correu a ajudá-la.

DALVA  -  Lara! Lara! O que é isso?

MARIA DE LARA  -  A senhora não me engana. O que está se passando não é normal. Eu não me sinto bem. Perco a noção do tempo, facilmente. Quando volto a mim, estou em companhia de um homem que me é completamente estranho e indiferente. E ele me diz coisas absurdas que me fazem perceber que existe alguma coisa séria entre nós dois. E a senhora me afirma que nada disto é importante?

A moça levantou-se e caminhou até o guarda-roupa. Escolheu um vestido verde, sem decote, saia rodada. Desceu para falar com Pedro Barros. O coronel a esperava ansiosamente, ao lado do Dr. Maciel e do Delegado Falcão. A casa grande era toda alegria.
FIM DO CAPÍTULO 18
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# JOÃO LEVA O PADRE BENTO ATÉ DIANA. O PADRE O FAZ JURAR QUE NÃO CONTARÁ A NINGUÉM O QUE ACONTECEU ENTRE ELE E A FILHA DO CORONEL.

#  DUDA, AO RETORNAR Á CONCENTRAÇÃO DO FLAMENGO, TERÁ DE ENFRENTAR A FÚRIA DO TÉCNICO FAUSTO PAIVA, QUE DESCOBRIU SUA FUGA PARA IR AO ENCONTRO DA MÃE E DO IRMÃO, JERÔNIMO, QUE ACABARAM DE CHEGAR AO RIO DE JANEIRO.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 19 DE