Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 23
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
JERÔNIMO
RODRIGO
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
JUCA CIPÓ
DELEGADO FALCÃO
GARIMEPIROS
JAGUNÇOS
CENA 1 - GARIMPO - GRUNA - INT. - DIA.
Há horas João Coragem trabalhava duramente na gruna úmida e isolada. O suor escorria-lhe das faces e do peito. Ouviu, como num eco distante, a voz que o chamava.
JERÔNIMO - (off) João! João!
JOÃO - Tou aqui!
Parou de cavar, lavou rapidamente as mãos e o peito e ajudou Jerônimo a penetrar na gruna.
JERÔNIMO - Cavando sozinho por desgosto ou por prazer?
JOÃO - Por desespero, mesmo. Esta noite tive um sonho com a gruna. Eu acho que tou muito perto da pedra dos meus sonhos...
JERÔNIMO - Deus te ouça... ( erguendo os olhos) ... se é que ele pode ouvi a gente de dentro deste buraco.
João voltou a cavar a terra; Jerônimo sentou-se a pouca distancia, sobre um pedaço de rocha.
JOÃO - Um bamburro ia resolvê a vida de nós todos. Até a tua... (mostrou os punhos, num entusiasmo desesperado) Por que a desgraçada da pedra não aparece? Uma pedra grande, do tamanho de um ovo de galinha! A gente tirava a barriga da miséria. Ia enfrentá o Pedro Barros de igual pra igual. Com a pedra na mão eu ia esfregá na cara dele! “Tá veno, patife? Tá veno isso? Sou mais poderoso, mais forte que toda a sua fortuna junta! A sua foi ganha á custa de roubo, de violência! A minha foi por sorte!” Ah, Jerônimo,Deus tem que ouvi a gente do fundo deste buraco! (delirava, com as mãos postas e os olhos fitando o teto escuro da escavação. Deu uns passos em direção á entrada, como um sacerdote em meditação) Tá me ouvindo, Deus? Se não tá, eu grito! Onde tá minha pedra, o meu bamburro? A minha pedra do mundo? (caiu de joelhos sobre a lama, enfiando as mãos na terra molhada. Voltou-se novamente para Jerônimo, que o observava, extasiado) É duro a gente tê que reconhecê isso. Mas dinheiro ainda resolve os problema. A gente devia de se contentá com o que tem. Se contenta... até que não esbarra com uma mulhé bandida na nossa frente...
JERÔNIMO - Mulhé bandida? (lembrou-se da filha do coronel e completou) ...mulhé bandida, mas que ocê não qué prejudicá. (pausa) Dr. Rodrigo me contô tudo...
JOÃO - Sou contra os métodos dele... assim, a gente não combina.
JERÔNIMO - Me falô, também, que podia obrigá Domingas a confessá a culpa do Juca Cipó, mas que você não deixô...
JOÃO - (aborrecido) E não deixo, mesmo. Já disse tudo o que tinha de dizer sobre isso.
JERÔNIMO - Juca é um assassino!
JOÃO - Mas ela não tem culpa disso. Doutô Rodrigo pode prová a culpa dele, sem obrigá Domingas a confessá.
JERÔNIMO - (insistiu) Ele me disse... o revólver que ele entregô não é do mesmo calibre da bala que matô o “seu” Jorginho. Mas ele pode ter dado fim á arma do crime.
João parou de garimpar. Olhou demoradamente para o irmão mais realista e menos sensato.
JOÃO - Olha aqui, irmão, a gente pode te ajudá, mas não precisamo de usá esses meio. Com a nossa força de vontade... a nossa sinceridade em ajudá essa gente... isso é que soma...
JERÔNIMO - (corta) Dr. Rodrigo acha que não é o bastante. E eu tou com ele. Hoje, de noite, pros garimpeiro a gente vai desmascará a família de Barros! Até a moça, a filha dele! Vamo dizê quem ela é... e tudo o mais.
A aflição metamorfoseava as feições do garimpeiro, alterando para pior o seu gênio normalmente calmo.
JOÃO - Eu num vô deixá ocês fazê isso! De jeito nenhum!
JERÔNIMO - Tem o crime do Juca, que só falta a prova. A gente vai obrigá Domingas a confessá.
JOÃO - Eu não admito! Eu não admito! (inteiramente descontrolado, enquanto Jerônimo se afastava apressado e nervoso) Jerônimo! Escuta! Jerônimo, meu irmão! Não é justo, não é direito! Tá me ouvino?
A voz grave do rapaz perdia-se no deserto da região. Apenas o ruído das águas tranqüilas, batendo contra as paredes da gruna, quebrava a monotonia ambiente. O garimpeiro levantou a pá á altura da cabeça e atirou-a com violência contra o chão, fincando-a como uma cruz grosseira no solo barrento.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - OUTEIRO - EXT. - DIA.
No pequeno outeiro, cercado de árvores e rochas, os garimpeiros discutiam. A luz de dezenas de tochas clareava o local, emprestando um toque histórico á cena rude. João Coragem abriu os braços pedindo silêncio.
JOÃO - Meus amigos... minha gente! Ninguém tá aqui pra provocá ninguém. Vocês me conhece e se viero aqui, foi porque confiaro em mim e no meu irmão. (sorriu simpáticamente para a multidão) Mas, quem é o candidato é ele, não sou eu. Eu pedi antes a palavra, porque a minha palavra é de paz. Sei que tem gente que não respeita a lei, nem a pessoa humana. Sei que tem criança morreno de fome, enquanto os rico dão banquete. Sei que os garimpeiro nasce na lama e morre na lama. Enquanto que, pros dono dos garimpo, a vida é uma festa. Mas eu acho, também, que tudo isso pode e deve acabá, sem a gente precisá recorrê á força, á violência ou á infâmia. Os home sempre pode entendê uns aos outro, porquê nascero irmão.
Os garimpeiros aplaudiram as palavras de João Coragem e redobraram de entusiasmo quando a figura empertigada de Jerônimo surgiu no elevado. Com a mecha de cabelos teimosamente caindo-se sobre os olhos, Jerônimo balançou a cabeça e pediu silencio.
JERÔNIMO - Meu irmão, a minha palavra também é de paz (falou, fitando orgulhosamente o outro) A gente não reuniu ocês pra dizê que as mata de Coroado são verde e o céu é azul. Chamamo pra mostrá uma triste realidade... Não é provocação dizê pra nossa gente que nós não temo dinheiro pra comprá o voto deles. O que nós temo é só mesmo a nossa verdade, e a vontade de fazê alguma coisa, acabá com os desmando do todo-poderoso de Coroado. Ocês são puro... e vão ser iludido. Ele pode comprá o voto docês. A gente não pode.
Num gesto teatral, Rodrigo retirou a camisa de Braz Canoeiro e o ajudou a subir no elevado.
RODRIGO - Se vocês se iludirem, coisas como esta vão continuar.
Os garimpeiros observaram, horrorizados, as costas lanhadas do colega de trabalho. Houve um murmúrio de exaltação a percorrer, como uma corrente elétrica, o grupo de rudes trabalhadores. Percebia-se a revolta em cada expressão.
RODRIGO - ( aproveitando-se da onda de reprovação) É esta a realidade que vocês têm que compreender!
JERÔNIMO - Qual de ocês não teve um cano de revólver encostado nas costas, quando achô uma pedra e foi obrigado a vendê por qualquer preço? Qual de ocês?
GARIMPEIRO - (voz irada, no meio da multidão) Nós todos! Eu mesmo, muitas vezes! Nós não tem o direito de vendê nossos diamante! Nós somos escravizado!
Outras vozes apoiaram a explosão do revoltado. Rodrigo voltou a falar, com os olhos refletindo a luz baça dos archotes.
RODRIGO - Meus amigos, existem leis, direitos que aqui não são respeitados.
JERÔNIMO - Crimes são cometido contra a gente. Gente inocente é assassinada. Basta lembrá o caso do “seu” Jorginho, prefeito. Tudo isso, pra que um só home domine esta cidade. E eu pergunto... por quê? Até quando? Se a gente tem nas mãos o que Deus nos deu pra impor a ordem, o direito e o respeito á lei!
Um sussurro envolveu os manifestantes quando Pedro Barros, abraçado a Lara, acompanhado de Juca Cipó e Diogo Falcão, aproximou-se do local. Jerônimo também percebeu a presença do inimigo e sentiu novas forças revigorarem o entusiasmo de que estava possuído.
JERÔNIMO - A primeira coisa que eu prometo a ocês é expulsá daqui os assassino, os mau. Juca Cipó é um deles... um assassino!
Imediatamente, Juca levou a mão á coronha. Os garimpeiros o olharam, ameaçadores. Juca pensou duas vezes... Jerônimo prosseguia na instigação.
JERÔNIMO - A filha de Pedro Barros (indicou a jovem junto ao pai ) não é modelo de virtude pra mulhé nenhuma!
Lara abaixou a cabeça, envergonhada, enquanto o delegado dava um passo á frente, ameaçador.
DELEGADO FALCÃO - Como representante da lei nesta cidade... eu exijo que provem o que estão dizendo!
PEDRO BARROS - (gritou, colérico) A calúnia é uma arma sórdida!
JERÔNIMO - Eu provo! – ( gritou, ante os olhares concentrados de dezenas de garimpeiros).
PEDRO BARROS - Provem! Provem! Eu exijo!
João com um movimento rápido colocou-se entre os dois homens, no momento em que Maria de Lara subiu á tribuna improvisada.
MARIA DE LARA - Eu sou a filha de Pedro Barros. Se alguém tem alguma prova contra a minha honra, eu peço que a apresente neste momento... e que me atirem a primeira pedra.
Fez-se um curto silencio no ambiente.
MARIA DE LARA - Eu também sei, meus amigos, que há muita coisa errada nesta cidade. Mas... há muita coisa errada no mundo, também. Nenhum de nós pode estar de acordo. Nem mesmo meu pai, que vocês julgam responsável por tudo de mal que existe por aqui. Eu lhes garanto, como filha dele, que ele também gostaria que em Coroado somente houvesse amor e tranqüilidade. Embora muitos não acreditem, eu lhes garanto que meu pai é um homem bom. E que, se cometeu erros no passado, está disposto a repará-los. Eu peço para ele um voto de confiança.
O grupo permaneceu silencioso, após as palavras de Lara, sem manifestações contra ou a favor das idéias expostas pela filha do coronel. Barros correu a abraçar a moça, cobrindo-lhe as costas com uma capa de couro.
PEDRO BARROS - Você já disse tudo. Vamos embora!
Os garimpeiros abriram um corredor para dar passagem aos dois. Lara sentiu os olhos de João fitarem-na, mas não ergueu os seus para o rapaz. De repente, o estampido, a correria, outro estampido e do ombro de Lara um filete de sangue cresceu e coloriu de vermelho-vivo a blusa de seda branca. Ela caiu ao chão em meio ao tumulto que se formou em segundos.
O delegado e o coronel correram a ampará-la, enquanto Juca gritava, babando-se de alegria.
JUCA CIPÓ - Cuidado! Cuidado, minha gente!
FALCÃO - (de revólver em punho) Para trás! Para trás!
Há horas João Coragem trabalhava duramente na gruna úmida e isolada. O suor escorria-lhe das faces e do peito. Ouviu, como num eco distante, a voz que o chamava.
JERÔNIMO - (off) João! João!
JOÃO - Tou aqui!
Parou de cavar, lavou rapidamente as mãos e o peito e ajudou Jerônimo a penetrar na gruna.
JERÔNIMO - Cavando sozinho por desgosto ou por prazer?
JOÃO - Por desespero, mesmo. Esta noite tive um sonho com a gruna. Eu acho que tou muito perto da pedra dos meus sonhos...
JERÔNIMO - Deus te ouça... ( erguendo os olhos) ... se é que ele pode ouvi a gente de dentro deste buraco.
João voltou a cavar a terra; Jerônimo sentou-se a pouca distancia, sobre um pedaço de rocha.
JOÃO - Um bamburro ia resolvê a vida de nós todos. Até a tua... (mostrou os punhos, num entusiasmo desesperado) Por que a desgraçada da pedra não aparece? Uma pedra grande, do tamanho de um ovo de galinha! A gente tirava a barriga da miséria. Ia enfrentá o Pedro Barros de igual pra igual. Com a pedra na mão eu ia esfregá na cara dele! “Tá veno, patife? Tá veno isso? Sou mais poderoso, mais forte que toda a sua fortuna junta! A sua foi ganha á custa de roubo, de violência! A minha foi por sorte!” Ah, Jerônimo,Deus tem que ouvi a gente do fundo deste buraco! (delirava, com as mãos postas e os olhos fitando o teto escuro da escavação. Deu uns passos em direção á entrada, como um sacerdote em meditação) Tá me ouvindo, Deus? Se não tá, eu grito! Onde tá minha pedra, o meu bamburro? A minha pedra do mundo? (caiu de joelhos sobre a lama, enfiando as mãos na terra molhada. Voltou-se novamente para Jerônimo, que o observava, extasiado) É duro a gente tê que reconhecê isso. Mas dinheiro ainda resolve os problema. A gente devia de se contentá com o que tem. Se contenta... até que não esbarra com uma mulhé bandida na nossa frente...
JERÔNIMO - Mulhé bandida? (lembrou-se da filha do coronel e completou) ...mulhé bandida, mas que ocê não qué prejudicá. (pausa) Dr. Rodrigo me contô tudo...
JOÃO - Sou contra os métodos dele... assim, a gente não combina.
JERÔNIMO - Me falô, também, que podia obrigá Domingas a confessá a culpa do Juca Cipó, mas que você não deixô...
JOÃO - (aborrecido) E não deixo, mesmo. Já disse tudo o que tinha de dizer sobre isso.
JERÔNIMO - Juca é um assassino!
JOÃO - Mas ela não tem culpa disso. Doutô Rodrigo pode prová a culpa dele, sem obrigá Domingas a confessá.
JERÔNIMO - (insistiu) Ele me disse... o revólver que ele entregô não é do mesmo calibre da bala que matô o “seu” Jorginho. Mas ele pode ter dado fim á arma do crime.
João parou de garimpar. Olhou demoradamente para o irmão mais realista e menos sensato.
JOÃO - Olha aqui, irmão, a gente pode te ajudá, mas não precisamo de usá esses meio. Com a nossa força de vontade... a nossa sinceridade em ajudá essa gente... isso é que soma...
JERÔNIMO - (corta) Dr. Rodrigo acha que não é o bastante. E eu tou com ele. Hoje, de noite, pros garimpeiro a gente vai desmascará a família de Barros! Até a moça, a filha dele! Vamo dizê quem ela é... e tudo o mais.
A aflição metamorfoseava as feições do garimpeiro, alterando para pior o seu gênio normalmente calmo.
JOÃO - Eu num vô deixá ocês fazê isso! De jeito nenhum!
JERÔNIMO - Tem o crime do Juca, que só falta a prova. A gente vai obrigá Domingas a confessá.
JOÃO - Eu não admito! Eu não admito! (inteiramente descontrolado, enquanto Jerônimo se afastava apressado e nervoso) Jerônimo! Escuta! Jerônimo, meu irmão! Não é justo, não é direito! Tá me ouvino?
A voz grave do rapaz perdia-se no deserto da região. Apenas o ruído das águas tranqüilas, batendo contra as paredes da gruna, quebrava a monotonia ambiente. O garimpeiro levantou a pá á altura da cabeça e atirou-a com violência contra o chão, fincando-a como uma cruz grosseira no solo barrento.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - OUTEIRO - EXT. - DIA.
No pequeno outeiro, cercado de árvores e rochas, os garimpeiros discutiam. A luz de dezenas de tochas clareava o local, emprestando um toque histórico á cena rude. João Coragem abriu os braços pedindo silêncio.
JOÃO - Meus amigos... minha gente! Ninguém tá aqui pra provocá ninguém. Vocês me conhece e se viero aqui, foi porque confiaro em mim e no meu irmão. (sorriu simpáticamente para a multidão) Mas, quem é o candidato é ele, não sou eu. Eu pedi antes a palavra, porque a minha palavra é de paz. Sei que tem gente que não respeita a lei, nem a pessoa humana. Sei que tem criança morreno de fome, enquanto os rico dão banquete. Sei que os garimpeiro nasce na lama e morre na lama. Enquanto que, pros dono dos garimpo, a vida é uma festa. Mas eu acho, também, que tudo isso pode e deve acabá, sem a gente precisá recorrê á força, á violência ou á infâmia. Os home sempre pode entendê uns aos outro, porquê nascero irmão.
Os garimpeiros aplaudiram as palavras de João Coragem e redobraram de entusiasmo quando a figura empertigada de Jerônimo surgiu no elevado. Com a mecha de cabelos teimosamente caindo-se sobre os olhos, Jerônimo balançou a cabeça e pediu silencio.
JERÔNIMO - Meu irmão, a minha palavra também é de paz (falou, fitando orgulhosamente o outro) A gente não reuniu ocês pra dizê que as mata de Coroado são verde e o céu é azul. Chamamo pra mostrá uma triste realidade... Não é provocação dizê pra nossa gente que nós não temo dinheiro pra comprá o voto deles. O que nós temo é só mesmo a nossa verdade, e a vontade de fazê alguma coisa, acabá com os desmando do todo-poderoso de Coroado. Ocês são puro... e vão ser iludido. Ele pode comprá o voto docês. A gente não pode.
Num gesto teatral, Rodrigo retirou a camisa de Braz Canoeiro e o ajudou a subir no elevado.
RODRIGO - Se vocês se iludirem, coisas como esta vão continuar.
Os garimpeiros observaram, horrorizados, as costas lanhadas do colega de trabalho. Houve um murmúrio de exaltação a percorrer, como uma corrente elétrica, o grupo de rudes trabalhadores. Percebia-se a revolta em cada expressão.
RODRIGO - ( aproveitando-se da onda de reprovação) É esta a realidade que vocês têm que compreender!
JERÔNIMO - Qual de ocês não teve um cano de revólver encostado nas costas, quando achô uma pedra e foi obrigado a vendê por qualquer preço? Qual de ocês?
GARIMPEIRO - (voz irada, no meio da multidão) Nós todos! Eu mesmo, muitas vezes! Nós não tem o direito de vendê nossos diamante! Nós somos escravizado!
Outras vozes apoiaram a explosão do revoltado. Rodrigo voltou a falar, com os olhos refletindo a luz baça dos archotes.
RODRIGO - Meus amigos, existem leis, direitos que aqui não são respeitados.
JERÔNIMO - Crimes são cometido contra a gente. Gente inocente é assassinada. Basta lembrá o caso do “seu” Jorginho, prefeito. Tudo isso, pra que um só home domine esta cidade. E eu pergunto... por quê? Até quando? Se a gente tem nas mãos o que Deus nos deu pra impor a ordem, o direito e o respeito á lei!
Um sussurro envolveu os manifestantes quando Pedro Barros, abraçado a Lara, acompanhado de Juca Cipó e Diogo Falcão, aproximou-se do local. Jerônimo também percebeu a presença do inimigo e sentiu novas forças revigorarem o entusiasmo de que estava possuído.
JERÔNIMO - A primeira coisa que eu prometo a ocês é expulsá daqui os assassino, os mau. Juca Cipó é um deles... um assassino!
Imediatamente, Juca levou a mão á coronha. Os garimpeiros o olharam, ameaçadores. Juca pensou duas vezes... Jerônimo prosseguia na instigação.
JERÔNIMO - A filha de Pedro Barros (indicou a jovem junto ao pai ) não é modelo de virtude pra mulhé nenhuma!
Lara abaixou a cabeça, envergonhada, enquanto o delegado dava um passo á frente, ameaçador.
DELEGADO FALCÃO - Como representante da lei nesta cidade... eu exijo que provem o que estão dizendo!
PEDRO BARROS - (gritou, colérico) A calúnia é uma arma sórdida!
JERÔNIMO - Eu provo! – ( gritou, ante os olhares concentrados de dezenas de garimpeiros).
PEDRO BARROS - Provem! Provem! Eu exijo!
João com um movimento rápido colocou-se entre os dois homens, no momento em que Maria de Lara subiu á tribuna improvisada.
MARIA DE LARA - Eu sou a filha de Pedro Barros. Se alguém tem alguma prova contra a minha honra, eu peço que a apresente neste momento... e que me atirem a primeira pedra.
Fez-se um curto silencio no ambiente.
MARIA DE LARA - Eu também sei, meus amigos, que há muita coisa errada nesta cidade. Mas... há muita coisa errada no mundo, também. Nenhum de nós pode estar de acordo. Nem mesmo meu pai, que vocês julgam responsável por tudo de mal que existe por aqui. Eu lhes garanto, como filha dele, que ele também gostaria que em Coroado somente houvesse amor e tranqüilidade. Embora muitos não acreditem, eu lhes garanto que meu pai é um homem bom. E que, se cometeu erros no passado, está disposto a repará-los. Eu peço para ele um voto de confiança.
O grupo permaneceu silencioso, após as palavras de Lara, sem manifestações contra ou a favor das idéias expostas pela filha do coronel. Barros correu a abraçar a moça, cobrindo-lhe as costas com uma capa de couro.
PEDRO BARROS - Você já disse tudo. Vamos embora!
Os garimpeiros abriram um corredor para dar passagem aos dois. Lara sentiu os olhos de João fitarem-na, mas não ergueu os seus para o rapaz. De repente, o estampido, a correria, outro estampido e do ombro de Lara um filete de sangue cresceu e coloriu de vermelho-vivo a blusa de seda branca. Ela caiu ao chão em meio ao tumulto que se formou em segundos.
O delegado e o coronel correram a ampará-la, enquanto Juca gritava, babando-se de alegria.
JUCA CIPÓ - Cuidado! Cuidado, minha gente!
FALCÃO - (de revólver em punho) Para trás! Para trás!
FIM DO CAPÍTULO 23
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
===> PEDRO BARROS APLICA UM CORRETIVO EM LOURENÇO POR TER "ERRADO O ALVO" E ATIRADO EM MARIA DE LARA.
===> ESTELA CONTA Á FILHA E TIA DALVA QUE O TIRO FOI ENCOMENDADO POR PEDRO BARROS PARA QUE ELE MESMO FÔSSE O ALVO, MAS OS CAPANGAS ERRARAM E LARA FOI ALVEJADA.