Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 29
Participam deste capítulo:
JOANINHA (Susana Moraes)
SAMUCA (Paulo José)
HELÔ (Dina Sfat)
VÍTOR (Francisco Cuoco)
SUSI (Maria Cláudia)
RENATÃO (Jardel Filho)
MARISA (Maria Pompeu)
EMILIANO (Paulo Padilha)
MARIETA (Wanda Lacerda)
ZÉ GREGÓRIO (Adalberto Silva)
D. DIDI (Gracinda Freire)
MARIA LÚCIA (Aizita Nascimento)
OLIVEIRA RAMOS (Mario Lago)
RICARDINHO (Carlos Vereza)
JUREMA (Arlete Salles)
ALBERTO
CENA 1 - BÚZIOS - PRAIA DE GERIBÁ - EXT. - TARDE.
Continuação Imediata da Última Cena do Capítulo Anterior
HELÔ - (tentando disfarçar a emoção) Vítor... como me encontrou aqui? Você não devia ter vindo. Por favor, vá embora. Eu... eu não quero me machucar mais uma vez!...
VÍTOR - (segurou-a pelos ombros e olhou-a nos olhos) Escuta, Helô: pare de agir como uma criança mimada! Você tem que me ouvir!
HELÔ - (irredutível) Eu não quero! Eu decidi que vou tirar você da minha vida. Por isso chamei meus amigos pra passar uns dias comigo... eles vieram dispostos a me ajudar... e quando tento me convencer que tenho que parar de pensar em você, você aparece, de repente, e me pede em casamento! Olha aqui: você não tem o direito de brincar com meus sentimentos! Você não pode...
NUM IMPULSO, VÍTOR TOMOU-A NOS BRAÇOS E BEIJOU-A NOS LÁBIOS. HELÔ, A PRINCÍPIO, TENTOU RESISTIR, MAS AOS POUCOS, ENTREGOU-SE.
VÍTOR - (segurou-a pelos cabelos, com delicadeza) Eu não vim a Búzios; não fiz uma viagem de ônibus de mais de duas horas pra brincar com seus sentimentos. Vou repetir: Heloísa Oliveira Ramos, você quer se casar comigo?
HELÔ - (ainda desconfiada) Você... tá falando sério?
VÍTOR - Como nunca falei em toda a minha vida! E então... aceita?
O ROSTO DE HELÔ DESANUVIOU-SE. AOS POUCOS, DEIXOU-SE TOMAR PELA EMOÇÃO.
HELÔ - (sorriu, feliz) Aceito. É o que mais quero nesta vida. Eu te amo, Vítor. Te amo como nunca amei ninguém.
VÍTOR ABRAÇOU-A E BEIJARAM-SE OUTRA VEZ, TENDO COMO CENÁRIO O MAR AZUL DE BÚZIOS DAQUELE FIM DE TARDE.
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE RENATÃO - SALA - INT. - DIA.
MARISA ERA UMA MULHER DE 30 ANOS, MUITO BONITA E EXCEPCIONALMENTE ELEGANTE. MANEIRAS SOFISTICADAS, DE QUEM SABE-SE IRRESISTÍVEL. DIANTE DELA, RENATÃO ERA OUTRO HOMEM. TÍMIDO, QUASE ANGUSTIADO. ELA O ESMAGAVA COM SEU CHARME, SEU AR IRÔNICO.
MARISA - Onde está Carlinha?
RENATÃO - Eu não pude trazê-la... É verdade. Ela está doente. Nada grave, mas está febril.
MARISA - Ah, é assim... Pois bem, eu vou agora mesmo à casa do juiz. Você se recusa a cumprir o que ele determinou.
A MULHER FEZ MENÇÃO DE LEVANTAR-SE. RENATÃO A IMPEDIU COM UM GESTO.
RENATÃO - Marisa, vamos conversar. Eu preciso lhe explicar umas coisas... Você saiu daqui há oito anos, depois de fazer o que fez comigo...
MARISA - (cortou) E agora você quer se vingar!
RENATÃO - Não. É que eu disse a Carlinha que a mãe dela morreu. Afinal, o que eu poderia fazer...quando você se mandou? A verdade era muito pior! Agora você está morta! Entendeu isso? Morta!
MARISA - (indignada) Você não tinha esse direito, Renatão! Não podia fazer isso comigo!
RENATÃO - Minha cara, se tem alguém aqui que não pode usar as palavras “direitos e deveres”, esse alguém é você! Abandonou sua filha há quase sete anos, casou pela quinta vez com o tal armador sueco, ficou podre de rica! Eu nem esperava vê-la outra vez. Agora volta, de repente, falando em direitos?
MARISA - Nada disso importa agora (decidida) O que quero é ver minha filha! Nem que, para isso, tenha que meter você na cadeia!
MARISA SAIU, FURIOSA, DEIXANDO RENATÃO PARADO NO MEIO DA SALA, BOQUIABERTO.
CORTA PARA:
CENA 3 - BOATE - PISTA DE DANÇA - INT. - NOITE.
SEQUENCIA MOSTRANDO, NA BOATE LOTADA, A CHEGADA DE OLIVEIRA RAMOS E SUSI. ELA, MUITO ANIMADA, PUXANDO O BANQUEIRO PARA A PISTA. OLIVEIRA SE RECUSANDO, NO INÍCIO, MAS DEPOIS FOI CEDENDO. DANÇAVA DESAJEITADAMENTE, FORA DO RITMO, APENAS PARA AGRADAR A NOIVA.
CORTA PARA:
CENA 4 - CLUBE - SAUNA - INT. - DIA.
OLIVEIRA RAMOS E MAIS DOIS SENHORES TOMAVAM UMA SAUNA, QUANDO RENATÃO ENTROU. O BANQUEIRO SAIU DA SALA ENFUMAÇADA PARA FALAR COM O PLAYBOY.
RENATÃO - Bom dia, doutor Oliveira! Lembra daquele medicamento japonês que lhe prometi?
OLIVEIRA RAMOS - (vivamente interessado) Ah, sim, conseguiu?
RENATÃO - (entregando-lhe duas caixas de medicamento) Lógico! Não prometi?
OLIVEIRA RAMOS - Graças a Deus! Sabe que eu não aguento mais! Toda noite, boate. No fim de semana, escalar montanhas... Só um filho, um filho é a solução!
RENATÃO - É um remédio à base de hormônios. A última palavra da ciência. Sei de um caso de um amigo, jovem ainda, casado há cinco anos, sempre esperando um filho e nada... Ele julgava que a culpa era da mulher e não era, era dele. Hoje, tem gêmeos.
OLIVEIRA RAMOS - (excitado) Eu não ambiciono tanto. Um bastava. Vou começar hoje mesmo, porque ou essa criança nasce, ou eu morro!
CORTA PARA:
CENA 5 - APARTAMENTO DE JUREMA - SALA - INT. - DIA.
A CAMPAINHA TOCOU. JUREMA ABRIU A PORTA E RICARDINHO ENTROU. BEIJOU-A NO ROSTO E DESABOU NO SOFÁ.
JUREMA - Finalmente! Faz uma semana que você não aparece.
RICARDINHO - Fala, mulher. O que você tem de tão urgente pra falar comigo?
JUREMA - Você sabe que o inquérito já está na mão do promotor? Sabe que você é indiciado? Sabe que pode ser preso?
RICARDINHO - (fitou-a, desconfiado) Como você soube disso?
JUREMA - Foi seu pai, Leopoldo, que me disse. Apesar de você pouco se importar com ele, vem sempre aqui saber notícias suas...
RICARDINHO - E agora... o que vamos fazer?
JUREMA - (fazendo um gesto de desânimo) Se você quiser, a gente se manda daqui. Pra qualquer lugar, antes que eles te peguem!
RICARDINHO - Não, não concordo com isso. Se a gente fizer isso, eu tou perdido. É o mesmo que confessar. Não, não vou fugir. Vamos, isto sim, andar por aí?
JUREMA - Pra onde?
RICARDINHO - Sei lá, dar umas voltas de moto. No caminho, a gente vê...
CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE EMILIANO - SALA - INT. - NOITE.
EMILIANO GIROU A CHAVE NA FECHADURA E ENTROU. MARIETA ESTRANHOU A EXPRESSÃO DE PREOCUPAÇÃO DO MARIDO.
MARIETA - Que cara é essa, homem?
EMILIANO - Vítor pediu Helô em casamento.
MARIETA - (chocada) O quê?! Não pode ser...
EMILIANO - Foi o Dr. Oliveira Ramos que me disse. O noivado já é oficial.
MARIETA - E por que ele não nos comunicou?
EMILIANO - Talvez esteja constrangido ou envergonhado!
MARIETA - Sim, porque só tem cinco meses que Nívea morreu! Mas logo com essa Helô?! Com tanta mulher no mundo...
DE REPENTE, A PORTA SE ABRIU E VÍTOR ENTROU. EMILIANO FEZ SINAL PARA MARIETA CALAR.
VÍTOR - (sentindo o clima estranho) Boa noite!
MARIETA VIROU-LHE O ROSTO. VÍTOR HESITOU UM POUCO, E DIRIGIU-SE PARA O QUARTO.
MARIETA - E nós recebemos ele aqui em nossa casa como um filho... pra ele fazer isso conosco. Essa sujeita! Ele me decepcionou e vou dizer-lhe isso na cara!
GERMANO - (tentou detê-la) Marieta! Espere! Não faça...
ERA TARDE. MARIETA BATEU NA PORTA E ENTROU NO QUARTO DE VÍTOR.
CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE EMILIANO - QUARTO DE VÍTOR - INT. - NOITE.
VÍTOR ESTAVA DE COSTAS E VOLTOU-SE AO VER MARIETA ENTRAR. ERA ALGO CONSTRANGEDOR. A RELAÇÃO ENTRE AMBOS TINHA ALGO DE INCESTUOSO DA PARTE DELA. CLARO, ELE NÃO ERA SEU FILHO, MAS ELA ASSUMIRA ESSA MATERNIDADE AO MESMO TEMPO EM QUE, INCONSCIENTEMENTE, O DESEJAVA COMO HOMEM. POR ISSO, A SUA INDIGNAÇÃO ERA MAIS DE MULHER TRAÍDA DO QUE A DE MÃE-SOGRA.
MARIETA - Eu soube... Emiliano me contou... você e Helô...
VÍTOR - É verdade. Nós vamos nos casar. Eu ia dizer a vocês. Estava esperando criar coragem.
MARIETA - Coragem?... Por quê? Porque você tem consciência do erro que vai cometer!
VÍTOR - A senhora acha que está errado?
MARIETA - Acho que você não tinha o direito de fazer isso. Com Nívea, comigo, com você mesmo! Você nos traiu! Você nos traiu a todos!
VÍTOR - D. Marieta, eu posso explicar... Eu não vou me casar por amor. É porque Helô precisa de mim. E no fundo, ainda é Nívea, em parte, que me prende a ela.
MARIETA - (perplexa) Mas isso é um absurdo!
EMILIANO ENTROU NO QUARTO.
EMILIANO - Marieta, tenha calma! Afinal, Vítor não é nosso filho, nem genro, e mesmo que fôsse, nós não teríamos o direito de interferir!
MARIETA BALANÇOU A CABEÇA, DESOLADA E RETIROU-SE DO QUARTO.
VÍTOR - Seu Emiliano, eu lamento muito...
EMILIANO - (tranquilizou-o) Eu é que peço desculpas pela reação de Marieta. Fique tranquilo, rapaz. Ela está de cabeça quente. Precisa de um tempo para compreender...
CORTA PARA:
CENA 8 - PENSÃO PRIMAVERA - REFEITÓRIO - INT. - DIA.
SENTADO A UMA MESA AO LADO DE ALBERTO, COM A ATENÇÃO VOLTADA PARA O RADINHO DE PILHA, SAMUCA NEM PISCAVA.
LOCUTOR - (off) “E atenção, senhores ouvintes. Para os resultados dos jogos de hoje. Coríntians 1 x Santos 1; Ponte Preta 0 x Portuguesa 1; Flamengo 0 x Vasco 1; Botafogo 3 x Santos 1...”
À PROPORÇÃO QUE O LOCUTOR ANUNCIAVA, SAMUCA CONFERIA NO SEU CARTÃO E A EUFORIA IA TOMANDO CONTA DO SEU ROSTO. ATÉ QUE ELE QUIS GRITAR E NÃO CONSEGUIU.
ALBERTO - Minha Nossa Senhora, gente! Ei, vem alguém aqui! Samuca tá tendo um troço! Depressa!
JOANINHA ENTROU CORRENDO NA SALA, SEGUIDA DE D. DIDI, ZÉ GREGÓRIO E MARIA LÚCIA.
JOANINHA - Samuca, meu amor!... Que foi?...
ALBERTO - Não sei, dona! Ele tava aqui, conversando comigo, ouvindo o rádio, de repente esbugalhou os olhos e perdeu a fala!
JOANINHA - Samuca! Fale! Será que ele vai morrer de novo! Samuca, fale, o que foi?... A Loteria Esportiva...
SAMUCA - Acertei! (gritou, voltando a si) Fiz treze pontos! Treze pontos! Ganhei a bolada! Tou bilionário!
SAMUCA PARECIA UM LOUCO. LEVANTOU-SE E COMEÇOU A QUEBRAR OS MÓVEIS, A LOUÇA, TUDO...
SAMUCA - Posso quebrar tudo o que quiser! Vamos quebrar a pensão! Eu pagarei, sou rico, tenho dez milhões!
DONA DIDI, ZÉ GREGÓRIO, MARIA LÚCIA E JOANINHA ASSISTIAM ESTARRECIDOS. A LOUCURA TINHA SE APOSSADO DO RAPAZ, DE SEUS AMIGOS, DE TODOS.
SAMUCA - Quebrem tudo! Essa velharia, esses móveis, eu pago! Vamos tocar fogo na casa!...
D. DIDI - Meu Deus!.... Gente, parem com isso!... Que loucura!
MARIA LÚCIA - Gente do Céu... o Samuca pirou!
CORTA PARA:
CENA 9 - PENSÃO PRIMAVERA - SALA - INT. - NOITE.
JÁ ERA BASTANTE TARDE, OS MAIORES DESATINOS HAVIAM SIDO COMETIDOS NA PENSÃO PRIMAVERA, QUANDO O TELEFONE TOCOU.
EMPREGADO – Pro senhor, doutor Samuca.
O RAPAZ FEZ MENÇÃO DE LEVANTAR-SE.
D. DIDI - Não se incomode, eu levo o telefone até aí.
D. DIDI LEVOU O APARELHO ATÉ A MESA. SAMUCA ATENDEU. SÚBITO, COMEÇOU A FICAR VERDE.
SAMUCA - Não!... Não pode ser!... (e caiu no chão, desmaiado).
ZÉ GREGÓRIO PEGOU O TELEFONE, TROCOU ALGUMAS PALAVRAS COM O INTERLOCUTOR E DESLIGOU, ENCARANDO A TODOS COM OS OLHOS ARREGALADOS.
ZÉ GREGÓRIO - Gente... vinte mil pessoas acertaram na Loteria Esportiva! Sabe quanto vai dar para cada um? Nem trezentos contos...
FIM DO CAPÍTULO 29
e no próximo capítulo...
*** As reportagens sobre a "Santa de Ipanema" provocam as mais diversas reações em nossos personagens: ciúmes em Helô, o temor de Leopoldo que seu filho Ricardinho se encrenque ainda mais e a busca da verdade por Vítor.
*** Depois do quebra-quebra promovido na Pensão Primavera, Samuca é expulso a sapatadas por D. Didi e Maria Lúcia!
*** Marisa procura Renatão, disposta a tudo para ver a filha!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 30 DE
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