Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes]
http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 30
Participam deste capítulo:
RODOLFO AUGUSTO (Ary Fontoura)
DELEGADO FONTOURA (Urbano Lóes)
MARIO MALUCO (Osmar Prado)
RICARDINHO (Carlos Vereza)
JUREMA (Arlete Salles)
HELÔ (Dina Sfat)
RENATÃO (Jardel Filho)
KONSTANTÓPULUS (Lajar Muzuris)
SAMUCA (Paulo José)
MARISA (Maria Pompeu)
EMILIANO (Paulo Padilha)
MARIETA (Wanda Lacerda)
VÍTOR (Francisco Cuoco)
TIÃO
CENA 1 - APARTAMENTO DE EMILIANO - SALA - INT. - DIA.
VÍTOR E EMILIANO TOMAVAM O CAFÉ DA MANHÃ, QUANDO MARIETA VEIO DA SALA COM O JORNAL NA MÃO.
MARIETA - Saiu outra reportagem na “Folha do Rio” falando de Nívea.
VÍTOR TOMOU-LHE O JORNAL DAS MÃOS, INTERESSADO.
VÍTOR - Eles agora estão passando, sùbitamente, a outro tom. Focalizam até milagres e aparições no local em que ela morreu.
MARIETA - Diz aí que um garoto a viu e chegou a falar com ela! Isso é um aviso, Vítor, para você não fazer o que está fazendo...
VÍTOR - A senhora está falando do meu noivado com Helô?
MARIETA - (em tom de acusação) Você sabe que sim.
EMILIANO - (repreendeu a mulher) Marieta, por favor, não vamos começar tudo de novo!
VÍTOR ACHOU MELHOR BATER EM RETIRADA.
VÍTOR - Bom, eu vou indo, que tenho umas coisas pra resolver. Tenham um ótimo dia!
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE RENATÃO - SALA - INT. - DIA
“ALELUIA! ALELUIA!” KONSTANTÓPULUS ABRIU A PORTA. ERA SAMUCA, QUE ENTROU, COM UMA MALA NAS MÃOS.
SAMUCA - Renatão tá em casa, Konstan?
RENATÃO ENTROU NA SALA E DEPAROU COM O AMIGO, OLHAR ABATIDO E CABISBAIXO.
SAMUCA - Renatão, meu velho, só conto com você, agora! Fui expulso da Pensão Primavera, debaixo de sapatadas da D. Didi e da Maria Lúcia...
RENATÃO - Samuca, você apronta cada uma! Tem que dar graças a Deus de não estar atrás das grades!
SAMUCA - Por enquanto, meu amigo... por enquanto. Tenho um prazo pra repor o prejuízo na pensão... ou então eles mandam a polícia atrás de mim!
RENATÃO - Konstan, acomoda o Samuca no quarto dos fundos. (e para Samuca) Fica tranquilo, velho. Não ia te deixar na mão num momento desses, ia?
EMOCIONADO, SAMUCA ABRAÇOU, TEATRALMENTE O AMIGO, COM OS OLHOS CHEIOS DE LÁGRIMAS.
SAMUCA - Eu sabia que podia contar com você, meu velho! Obrigado! Obrigado! Obrigado! Você é um pai pra mim!
RENATÃO - (empurrando-o) Pai?!
SAMUCA - (consertou) Foi mal... Quis dizer, irmão... Um irmão!
CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS - SALA - INT. - DIA.
VÍTOR CHEGOU AO APARTAMENTO DE OLIVEIRA E ENCONTROU HELÔ LENDO A “FOLHA DO RIO”.
HELÔ - Jornaleco sensacionalista! Tá na cara que tudo isso é pra vender mais jornal!
VÍTOR - Temos que tirar essa história a limpo pra saber se tem algum fundamento...
HELÔ - Será que você tá acreditando nessa história?
VÍTOR - Não... em princípio, não.
HELÕ - Por quê “em princípio”?
VÍTOR - Porque, até que fique provado o contrário, devemos sempre descrer de qualquer manifestação divina desta natureza. Um milagre é a quebra das leis da natureza. Se Nívea tivesse realmente aparecido ao garoto, teria havido um milagre. Mas são muito raros os milagres, ou não seriam milagres.
HELÔ - E por que Deus teria decidido fazer isso através de Nívea e em pleno Castelinho? Decididamente, é um local muito prosaico e por onde eu não acredito que nem Deus nem santo algum jamais tenha passado.
VÍTOR - Impossível, você acha! Pois saiba que os santos eram criaturas humanas que alcançaram a santidade.
HELÔ RIU, NERVOSA E AGRESSIVA.
HELÔ - Estou percebendo. Você quer dizer que Nívea também podia... No fundo, você está acreditando nessa história besta! No fundo, você quer acreditar, porque quer se amarrar nela de novo! Já que perdeu a mulher, quer agora se amarrar numa santa!
VÍTOR BALANÇOU A CABEÇA, DESOLADO.
VÍTOR - O que está acontecendo com todo mundo? Parece que hoje, todos decidiram me provocar! Com licença. Vou dar uma volta!
HELÔ - (falou, insegura) Vítor! Espere... Aonde você vai? Quer... companhia?
VÍTOR - Não, obrigado. Vou caminhar um pouco. Preciso ficar sozinho. Com licença.
E SAIU.
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE JUREMA - SALA - INT. – DIA.
JUREMA LEU A MANCHETE DA “FOLHA DO RIO” E ENTREGOU O JORNAL A RICARDINHO, QUE PASSOU A LER COM ENORME INTERESSE, SOB O OLHAR ASSUSTADO DE MARIO MALUCO.
JUREMA - Ela já apareceu para algumas pessoas no lugar em que foi assassinada, diz aí...
RICARDINHO - (com ironia) Não vá me dizer que você acredita nisso, Jurema!
JUREMA - Lógico que eu acredito. Eu sou espírita...
MARIO MALUCO - (com pavor) Me diz onde é pra eu não passar por lá... Nossa!
RICARDINHO - Besteira! Quem é que vai acreditar nisso?
CORTA PARA:
CENA 5 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - DIA.
VÍTOR CAMINHAVA PELO CALÇADÃO, TENTANDO PÔR AS IDÉIAS EM ORDEM, QUANDO, DE REPENTE, PAROU AO OBSERVAR UMA PELADA ENTRE MENINOS, NA AREIA DA PRAIA. RECONHECEU ENTRE ELES TIÃO. ERA O GAROTO QUE VIRA A APARIÇÃO DE NÍVEA. VÍTOR DELE SE APROXIMOU.
VÍTOR - Escute, você não é o Tião? Eu quero falar com você. Eu vi o seu retrato no jornal.
O GAROTO REAGIU ENVAIDECIDO.
TIÃO - Maneiro, né, tio?
VÍTOR ACERCOU-SE UM POUCO DELE, AMIGÁVEL.
VÍTOR - Tião, você viu mesmo essa moça? (e apontou para a fotografia de Nívea publicada na “Folha do Rio”).
TIÃO - Vi, sim.
VÍTOR - Como é que foi? Conte pra mim...
TIÃO - Agora não posso. Só quando acabar a pelada. Aliás... (fez uma reticência significativa e mordeu o lábio) tenho ordem pra não falar com ninguém sobre isso.
VÍTOR ERGUEU-SE, BASTANTE INTERESSADO.
VÍTOR - Do moço do jornal?
TIÃO - Não! Ai, me larga!
TIÃO DESPRENDEU-SE DAS MÃOS DE VÍTOR E SAIU CORRENDO PARA O MEIO DOS OUTROS.
CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE JUREMA - SALA - INT. - DIA.
JUREMA SERVIU O CAFÉZINHO E SENTOU-SE AO LADO DE LEOPOLDO.
LEOPOLDO - Confesso que estou preocupado com as aparições dessa moça, Nívea...
JUREMA - Mas por que tanta preocupação com essa história?
LEOPOLDO - Essa gente acredita em tudo! Se Ricardinho for mesmo denunciado, a coisa vai piorar pro lado dele!
JUREMA - Por quê?
LEOPOLDO - Qual o júri que vai absolver um réu acusado de ter assassinado uma santa? Ou pelo menos uma moça com essa auréola de santidade?
JUREMA - Sabe que você está cheio de razão? Minha Nossa Senhora...
CORTA PARA:
CENA 7 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO FONTOURA - INT. - DIA.
DELEGADO FONTOURA - Seu nome?
RODOLFO AUGUSTO - Rodolfo Augusto Bittencourt. Bittencourt com dois “t”.
DELEGADO FONTOURA - Com dois “t”... Profissão?
RODOLFO AUGUSTO - Eu sou estilista. Sabe, seu delegado, a costura e as fantasias de carnaval são minhas duas grandes paixões.
DELEGADO FONTOURA - (encarou-o fixamente) Estou me lembrando do senhor, nos jornais ou nas revistas... O senhor não venceu o concurso do teatro Municipal, no ano passado?
RODOLFO AUGUSTO - Não, foi o Evandro de Castro Lima. Aliás, uma injustiça! O senhor se lembra da minha fantasia?
DELEGADO FONTOURA - Não.
RODOLFO AUGUSTO - Era o “Mistério Amazonense”. Usei trezentas vitórias-régias, duas cobras vivas, duas mil penas de pavão... (no entusiasmo da descrição, levantou-se e desfilou para o delegado) Quando eu desfilei no Municipal, ficou todo mundo de boca aberta...
DELEGADO FONTOURA - (olhou detidamente para Rodolfo Augusto) Onde o senhor se encontrava na noite em que Nívea Louzada foi assassinada?
RODOLFO AUGUSTO COLOCOU O DEDO MÍNIMO NA TESTA, REVIROU OS OLHOS ONDE SE NOTAVA UMA ACENTUADA CAMADA DE RÍMEL.
RODOLFO AUGUSTO - No apartamento de Danusa Miranda, jogando buraco.
DELEGADO FONTOURA - O senhor não notou alguma coisa de anormal, naquela noite?
RODOLFO AUGUSTO - Sim, ouvi gritos... os gritos de Nívea, quando era perseguida pelo assassino...
DELEGADO FONTOURA - Como o senhor sabe que os gritos eram de Nívea?
RODOLFO AUGUSTO - (um pouco nervoso) Bem, eu... eu supunha, apenas...
DELEGADO FONTOURA - Então, o senhor ouviu os gritos e não teve a curiosidade de ir ver quem gritava?
RODOLFO AUGUSTO - Eu fui até a janela... Mas a noite estava muito escura... céu nublado, ameaçando chuva.
DELEGADO FONTOURA - (insistiu) O senhor não viu nada?
RODOLFO AUGUSTO - (pensou um instante) Sim, eu vi. Vi um vulto, correndo pela calçada da praia. Não deu pra ver quem era. Tive ímpetos de ir socorrer a pobre moça, mas eu pensei... o senhor compreende, essas coisas sempre dão complicações... no mínimo, polícia, depoimentos, escândalo!...
DELEGADO FONTOURA - O senhor sabe que, se tivesse chegado à porta e gritado qualquer coisa, uma frase qualquer, o assassino, possivelmente, teria fugido e Nívea não teria morrido?
RODOLFO AUGUSTO - Mas por que o senhor faz essa pergunta a mim, somente? Outras pessoas também ouviram ela gritar e não foram em seu socorro, não fizeram nada!
DELEGADO FONTOURA - (pensativo) Eu sei. Todas essas pessoas podiam ter impedido que uma pobre moça indefesa fosse assassinada. E, tanto quanto o senhor, merecem o meu desprezo. (e com o dedo em riste) Pode sair. O senhor me enoja!
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE RENATÃO - SALA - INT. - DIA.
SAMUCA - Konstantópulus, eu olhei do terraço, tem um carro da polícia lá embaixo e dois tiras olhando cá pra cima... Onde está Renatão?
KONSTANTÓPULUS - Eu não sei, seu Samuca. O patrão desapareceu.
O MORDOMO FEZ UM SINAL MOSTRANDO MARISA SENTADA A UM CANTO DA SALA, LENDO UMA REVISTA.
SAMUCA - (sussurrou no ouvido do mordomo) É a Madame X?
KONSTANTÓPULUS - Ela mesma! Tá à espera dele!
SAMUCA - (dirigindo-se à mulher) Bom dia!
MARISA - (ergueu os olhos da revista) Bom dia! Estou esperando seu “sócio” de moradia! O senhor, por acaso, sabe onde ele se escondeu?
SAMUCA - Olha, ele não se escondeu...
MARISA - (cortou) Estou aqui para ver minha filha, por determinação do juiz. Renatão tem um prazo até meio-dia para apresentá-la. Se não o fizer, os policiais lá embaixo vão prendê-lo! É melhor que o senhor e esse mordomo cúmplice façam ele saber disso agora, ou vai ser pior para todos!
SAMUCA E KONSTANTÓPULUS OLHARAM-SE, PREOCUPADOS.
SAMUCA - Caramba! Sujou pro Renatão!...
FIM DO CAPÍTULO 30
Rodolfo Augusto (Ary Fontoura) |
e no próximo capítulo...
*** Helô deixa o pai, Oliveira Ramos, preocupado com a decisão de ter a presença da mãe em seu casamento com Vítor. Que mistério haverá por trás da história da ex-mulher do banqueiro?
*** Vítor, com sua extrema ingenuidade de ex-seminarista, confessa a Helô que beijou-a pensando em Nívea!
*** O Delegado Fontoura, inconformado com o ritmo lento das investigações da morte de Nívea, resolve forjar uma armadilha para descobrir o(a) verdadeiro (a) assassino(a)!
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