terça-feira, 24 de abril de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 37

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
http://youtu.be/zIuryHGvAVc

CAPÍTULO 37

Personagens deste capítulo:

EMILIANO
MARIETA
DELEGADO FONTOURA
DETETIVE JONAS
RENATÃO
SAMUCA
TIA COLÓ
CARLINHA
KONSTANTÓPULUS
RICARDINHO
MARIO MALUCO
MÃOZINHA DE VELUDO
VERINHA
MARCOS
MARISA
VÍTOR
HELÔ

CENA 1  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

MARIETA NÃO TEVE RESPOSTA PARA DAR, FACE À ACUSAÇÃO DO MARIDO.

EMILIANO  -  Eu já desconfiava! Apesar de muito disfarçada, esta letra é sua!

MARIETA  -  (olhou-o com ar de desafio) Pois bem, é! Fui eu que escrevi! E daí?!

EMILIANO  -  Você tem noção da indignidade que está cometendo?

MARIETA  -  Indignidade o quê! Indignidade é aquela assassina ficar solta, impune! Todos estão cegos! A polícia, você, Vítor, que chegou ao ponto de ficar noivo daquela.... Não suporto a idéia de vê-lo nos braços dela! (desviou o olhar de Emiliano) Entenda, ele é como meu filho! E ela... ela é culpada de muitas coisas!

EMILIANO  -  Você fala... como se... como se quisesse ele pra você! É isso, Marieta?

MARIETA  -  (estremeceu) Você está louco! Como pode falar um absurdo desses? Eu já disse que gosto do Vítor como um filho! Eu me preocupo com ele, com seu futuro... porque ele é como se fosse uma parte... da minha Nívea!

MARIETA ESCONDEU O ROSTO ENTRE AS MÃOS E PRORROMPEU NUM PRANTO CONVULSIVO. EMILIANO ABRAÇOU A MULHER, PENALIZADO.

EMILIANO  -  Fique tranquila... que esse assunto morre aqui. Ninguém precisa saber das cartas... Ninguém.

CORTA PARA:

CENA 2  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.

DETETIVE JONAS  -  (entrando na sala) Tenho uma boa notícia, doutor Fontoura: descobri onde seu filho Mario está morando!

FONTOURA ERGUEU OS OLHOS, COM EXPRESSÃO DE ALÍVIO.

DELEGADO FONTOURA  -  Sério? Onde?

DETETIVE JONAS  -  No apartamento de Jurema! Ricardinho tem as chaves e levou Mariozinho pra morar lá.

DELEGADO FONTOURA  -  (respirou fundo) Ainda bem! A saída daquele irresponsável de casa está mexendo com meus nervos! Qual a idade do seu filho, Jonas?

DETETIVE JONAS  -  Oito anos.

DELEGADO FONTOURA  -  Pois então, aproveite bem esta fase. Você não imagina as dores de cabeça que tenho graças a Mario e Verinha! Pra eles, não faz diferença alguma que o pai seja o temido Delegado Fontoura, o eterno caçador de doidinhos da motocicleta e espantalho das gangues da Curva do Calombo... Como quase todos os jovens modernos, ou que assim se julgam, a família é o que menos conta para eles...

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA

RENATÃO ESTAVA NERVOSO, PREOCUPADO. SAMUCA LIA UM FOLHETO SOBRE INVESTIMENTOS E TIA COLÓ, SENTADA A UM CANTO DA SALA, FAZIA TRICÔ, ENQUANTO CARLINHA BRINCAVA COM SUAS BONECAS. KONSTANTÓPULUS, ENCOSTADO NUM DIVÃ, TINHA CARA DE PROFUNDO TÉDIO.

SÚBITO, QUEBRANDO O SILÊNCIO, RENATÃO DEU UM BERRO, ASSUSTANDO TODO MUNDO.

TIA COLÓ  -  (levou a mão ao peito, nervosa) Virgem Santíssima! Que foi, Natinho?

RENATÃO  -  Não posso mais! Não aguento mais!

TIA COLÓ  -  O que é que você não aguenta mais, meu Deus? Enxaqueca! Tá sentindo alguma dor?

RENATÃO  -  É, tia Coló. Isso mesmo. Estou com uma terrível enxaqueca!

TIA COLÓ  - Coitadinho! Deve estar sofrendo tanto! (levantou-se) Vem, Carlinha! Vamos na farmácia, buscar um remédio pro seu pai!

TIA COLÓ SEGUROU A MÃO DA MENINA E ENCAMINHARAM-SE PARA A PORTA, DE ONDE PAROU E FITOU O SOBRINHO, PENALIZADA.

TIA COLÓ  -  Aguenta firme, Natinho. Não demoramos.

E SAÍRAM.                                                         

RENATÃO  -  Não aguento mais, Samuca. Decididamente, não nasci para viver em família. Estou cheio! Cheio!

SAMUCA  -  Também, vou te contar, Renatão... Depois dessa tua regeneração, este apartamento tá de encher o reservatório do Guandu!

KONSTANTÓPULUS  -  O vizinho de baixo veio perguntar se o senhor estava doente. Ele tinha feito uma promessa pro senhor mudar daqui e está achando que foi milagre...

SAMUCA  -  Não há dúvida, se você continua assim, acaba santo!

RENATÃO  -  Mas o que é que vocês queriam que eu fizesse? Com essa mulher me vigiando, escarafunchando a minha vida, botando detetive pra me seguir? Eu tinha que dar uma de Santo Agostinho. Mas não dá mais... não dá! Sabe quantas garotas eu já botei pra correr, depois que passei a tirar onda de santarrão? Dezessete!

SAMUCA  -  Tive uma idéia! Por que você não faz um acordo com sua ex-mulher? Uma trégua, no mínimo...

RENATÃO  -  (estalou os dedos) Taí... isso mesmo! Vou deixar ela pensar que fizemos uma trégua... e parto pro ataque!

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE JUREMA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

A CAMPAINHA TOCOU E RICARDINHO ABRIU A PORTA. ERA O DELEGADO FONTOURA.

DELEGADO FONTOURA  -  (entrando) Onde está Mario? Eu sei que ele está aqui!

RICARDINHO  -  Qual é, delega... não tenho nada pra dizer a você, sacou?

DELEGADO FONTOURA  -  (vencido, mudou o tom) Compreenda, por favor. Não é o policial que está pedindo, mas o pai do seu amigo.

RICARDINHO  -  (irônico)  Não acredito no que eu tou vendo: o delegado Fontoura se humilhando!

DELEGADO FONTOURA  -  Já lhe disse que quem está aqui não é o delegado, mas um pai que precisa ter notícias do filho!

A HUMILHAÇÃO DE FONTOURA, ENTRETANTO, NÃO COMOVEU RICARDINHO. PELO CONTRÁRIO, FÊ-LO RIR, HUMORÍSTICO E SARCÁSTICO.

RICARDINHO  -  Olha aqui, seu delega, não posso lhe dizer se o Mario Maluco está ou não residindo no apartamento. Isso é problema seu. Que se vire! E agora, se me dá licença, vou ter que sair! Tou atrasadão!

FONTOURA BALANÇOU A CABEÇA E SAIU, CABISBAIXO.

CENA  5  -  CASTELINHO  -  INT.  -  NOITE.

MARIO MALUCO ENTROU NO BAR E A PRIMEIRA PESSOA QUE VIU SENTADA A UMA MESA FOI O MÃOZINHA DE VELUDO. ÊSTE TAMBÉM O RECONHECEU.

MÃOZINHA  -  Você não é amigo do Samuca? Senta aí.

MARIO HESITOU UM POUCO, MAS AFINAL SENTOU-SE.

MÃOZINHA  -  Pois é, acho que o vi no enterro dele.

MARIO MALUCO  -  É verdade. Eu estive lá. Cascata, hem? Ele não tinha morrido, nem nada...

MÃOZINHA  -  Coisa esquisita. Sabe que até hoje eu tou meio encafifado? Aquele troço de morrer e não morrer! Se eu não o tivesse visto no pijama de madeira... (e apontando para o bar) Toma um chope?

MARIO MALUCO  -  Tou duro. Tu paga?

MÃOZINHA  -  Não tou convidando? Garçom, traz um duplo aqui pro garotão. (e voltando-se para mario Maluco, com ar de quem não acredita) Mas tu andas duro assim por quê?

VINTE MINUTOS DEPOIS, QUANDO A PILHA DE DESCANSOS MOSTRAVA QUE JÁ HAVIAM TOMADO PELO MENOS UMA DÚZIA DE CANECAS DE CHOPE...

MARIO MALUCO  -  Me mandei de casa. Não quero pedir dinheiro pro velho, tu entendeu?

MÃOZINHA  -  Garoto novo é moleza! Tenho um jeito de faturar uma grana firme, mole, mole.

MARIO MALUCO  -  (os olhos brilhando à menção do dinheiro) Tou nessa boca!

MÃOZINHA   -  Tu topa?

MARIO RECOSTOU-SE NA CADEIRA, ANTES DE RESPONDER.

MARIO MALUCO  -  Preciso saber, antes, qual é a parada.

MÃOZINHA  -  (riu alto)  É mole, vai por mim. Uma moleza!

OLHOU PARA OS LADOS E COMEÇOU A EXPLICAR AO RAPAZ DO QUE SE TRATAVA.

CORTA PARA:

CENA  6  -  PRAIA DE IPANEMA  -  EXT.  -  NOITE.

MARCOS E VERINHA ESTAVAM SENTADOS NA AREIA, BEIJANDO-SE.

VERINHA  -  Eu tenho uma coisa pra te dizer... (fez uma pausa e baixou os olhos) Aquilo que desconfiava... bem, agora tenho certeza.

MARCOS  -  (sem entender) Do que você tá falando?

VERINHA  -  Eu tou grávida! Vou ter um filho seu, Marcos.

MARCOS  -  (se espantou) Não! Você tá brincando... Puxa vida, que azar! (houve uma pausa) E agora? Que é que você vai fazer?

VERINHA FITOU-O, ATORDOADA.

VERINHA  -  O que é que eu vou fazer? Você fala como se eu tivesse feito esse filho sozinha!

MARCOS  -  Escuta aqui, Verinha, eu não quero ter filho! Isso não tá nos meus planos e...

VERINHA  -  (levantou-se, indignada) Você tá sendo egoísta e covarde!

MARCOS  -  Temos que dar um jeito de tirar esse filho. Vou tentar arrumar o dinheiro com meu velho...

VERINHA NÃO SE CONTEVE. DEU-LHE VIOLENTA BOFETADA, FAZENDO MARCOS CAMBALEAR E QUASE CAIR.

VERINHA  -  Canalha!

MARCOS  -  Sua... sua louca!

VERINHA  -  (com firmeza)  Louca eu tava quando me envolvi com um tipo como você! Some da minha vida, Marcos! Não quero te ver nunca mais! Nunca mais, entendeu?

VERINHA DEU-LHE AS COSTAS. MARCOS FICOU PARADO, MASSAGEANDO O ROSTO.

MARCOS  -  Caramba!... Que mão pesada!

CORTA PARA;

CENA 7  -  APARTAMENTO DE MARISA  -  SALA  -  INT.  NOITE.

MARISA  -  Francamente, Renatão. Quando a criada me disse que era você, não acreditei. Não esperava que viesse visitar-me. Toma alguma coisa?

RENATÃO  -  (ressabiado, olhou em volta)  Esse apartamento é seu?

MARISA  -  Não. Pretendo me demorar muito pouco no Brasil.

RENATÃO  -  (criou alma nova) O armador sueco já lhe mandou chamar?

MARISA  -  Não. Eu só tenho aqui um objetivo, e você sabe qual é.

RENATÃO  -  (olhou-a, fixamente) Você não mudou nada. Nem no físico, nem no caráter.

MARISA  -  Sabe, eu agora seria até capaz de gamar por você. Pena que sejamos inimigos...

RENATÃO  -  Em toda batalha sempre pode haver uma trégua.

MARISA  -  Você é um sem-vergonha, Renato. Afinal, veio aqui para quê?

RENATÃO  -  Para isso. Para lhe propor uma trégua. Podemos entrar num acordo, não?

MARISA SERVIU MAIS UMA DOSE DE UÍSQUE AO EX-MARIDO E A SI TAMBÉM. BRINDARAM.

RENATÃO  -  (gritou, com o ar de quem tramava alguma coisa) Ao cessar fogo!

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SAGUÃO  -  INT.  -  NOITE.

NO SAGUÃO DA CASA DE OLIVEIRA RAMOS, VÍTOR SE DESPEDIA DE HELÔ.

HELÔ  -  Amanhã vai ser nosso último dia de solteiros. Você não vai se despedir da vida de solteiro? É costume fazer uma farra.

VÍTOR  -  (sorriu) Seria justo se fosse me despedir, realmente, de alguma coisa.

HELÔ  -  Mas você vai ser meu marido. Isso não muda a sua vida?

VÍTOR  -  Muda. Muito.

HELÔ  -  Então, depois de amanhã, não será mais pecado nos beijarmos?

VÍTOR  -  Já nos beijamos antes. Mas, depois de casados, vai ser diferente.

HELÔ  -  Pois então, vamos aproveitar!

BEIJARAM-SE ARDENTEMENTE.

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE MARISA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

RENATÃO DESPEJOU MAIS UMA DOSE DE UÍSQUE NO COPO DE MARISA, QUE BEBEU IMEDIATAMENTE. FALAVAM, AGORA, SOBRE OS EX-MARIDOS DELA, O NÚMERO 1, O 2, O 3, O 3-A... A MULHER ESTAVA CAINDO DE BÊBADA. ENQUANTO ISSO, RENATÃO APENAS FINGIA, E ENCHIA O COPO DA MULHER, DISTRAINDO-A O MAIS QUE PODIA.

SÚBITO, MARISA VIU TUDO RODAR E CAIU SEM SENTIDOS. RENATÃO AMPAROU-A, LEVANDO-A PARA O SOFÁ. COLOCOU UM COPO NA SUA MÃO DIREITA E UMA GARRAFA ABERTA NO CHÃO. QUEBROU OUTRA GARRAFA, VIROU DUAS CADEIRAS, DESARRUMOU POR COMPLETO A SALA E ENTORTOU UM QUADRO, PROCURANDO DAR A PIOR IMPRESSÃO POSSÍVEL. DEPOIS, FOI AO TELEFONE E DISCOU UM NÚMERO.

RENATÃO  -  Alô? É da Rádio Patrulha? Meu amigo, eu sou um morador aqui da Rua Montenegro. No apartamento em cima do meu tem uma mulher embriagada, quebrando tudo, jogando garrafas pela janela, gritando palavrões. Tome nota; Montenegro, 320, apartamento 301. Venham depressa, antes que ela toque fogo no prédio!

RENATÃO DESLIGOU. APANHOU OUTRO COPO E COLOCOU NA MÃO ESQUERDA DA MULHER, ESTENDIDA SOBRE O DIVÃ. PEGOU UMA GARRAFA E JOGOU PELA JANELA. EM SEGUIDA, SAIU CALMAMENTE, DEIXANDO A PORTA ENTREABERTA.

FIM DO CAPÍTULO  37
Renatão (Jardel Filho)

e no próximo capítulo...

***  O plano de Renatão surtirá efeito? Marisa será presa?

*** Samuca está no hospital, acompanhando D. Consuelo, quando Joaninha chega, furiosa!

*** Na Igreja de São José, Vítor e Helô casam-se, e uma mulher misteriosa assiste à cerimônia, com lágrimas nos olhos!

 NÃO PERCA O CAPÍTULO 38 DE

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