Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 33
Personagens deste capítulo:
ARAKEN
GOUVEIA NETO
DOM ELISEU
MARIETA
VÍTOR
JUREMA
LEOPOLDO
OLIVEIRA RAMOS
MISS JULY
SAMUCA
RENATÃO
DELEGADO FONTOURA
ADELAIDE
MARIO MALUCO
BABI
CABO JORGE
CENA 1 - DELEGACIA - CELA DE JUREMA - INT. - DIA.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior
LEOPOLDO - Fique calma. Nem tudo está perdido. Você não matou Nívea Louzada, isso é o que importa!
JUREMA - Sim, Leopoldo, não a matei. Estou inocente!
LEOPOLDO - A primeira coisa a fazer é chamar o delegado e negar a confissão. De minha parte, prometo arranjar um bom advogado para defender você.
JUREMA SORRIU, COM TRISTEZA E APERTOU-LHE AS MÃOS ATRAVÉS DAS GRADES DA CELA.
CORTA PARA:
CENA 2 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO FONTOURA - INT. - DIA.
O CABO JORGE LEVOU JUREMA DE ALENCAR, ALGEMADA, À SALA DO DELEGADO FONTOURA.
DELEGADO FONTOURA - (ergueu a cabeça e fitou a mulher, por sobre os óculos) A senhora deve ter algo muito importante a dizer, após tanta insistência... Pois bem, dona Jurema: fale.
JUREMA - (tensa) Eu nego tudo o que falei na confissão! Delegado, eu menti! Não matei aquela moça! Sou inocente!
DELEGADO FONTOURA - (impaciente) Mas que brincadeira é essa?
JUREMA - Não estou brincando. Não sou assassina. Eu menti, já disse!
DELEGADO FONTOURA - (seco) Verdade ou mentira, agora é um pouco tarde. A senhora está sèriamente encrencada!
CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE EMILIANO - SALA - INT. - DIA
VÍTOR - Dom Eliseu, que surpresa!
VÍTOR E MARIETA CUMPRIMENTARAM O SACERDOTE.
MARIETA - É uma honra recebê-lo em minha casa, Dom Eliseu. Fiquem á vontade. Vou fazer um cafezinho.
MARIETA ENCAMINHOU-SE PARA A COZINHA. VÍTOR E DOM ELISEU ACOMODARAM-SE NO SOFÁ DA SALA.
DOM ELISEU - Meu amigo Vítor, os milagres da Santa de Ipanema chegaram aos ouvidos da igreja. Fui encarregado de estudar e pesquisar o assunto.
VÍTOR - Eu imaginei que isso ia acontecer. Mais cedo ou mais tarde, a notícia chegaria ao conhecimento da Igreja.
DOM ELISEU - Isso mesmo. Temos recebido informações sobre aparições e supostos milagres. O caso tem sido debatido. E devido às minhas relações com você, Vítor, e pelo fato de ter conhecido Nívea eu me ofereci para fazer esse estudo.
VÍTOR - Quer dizer que você vem apurar a verdade?
DOM ELISEU - Isso mesmo. Estou aqui para isso.
VÍTOR - (animado) Era o que eu queria. Um aliado! Não para provar as aparições, mas para me ajudar a desvendar o mistério que envolve este crime terrível.
DOM ELISEU - Mas, pelo que eu soube, uma mulher confessou ser a assassina...
VÍTOR - Sim, é verdade. Porém, não tenho certeza de que Jurema seja, realmente, a criminosa. Apesar das muitas coincidências reveladas na acareação com D. Marieta, não consigo acreditar que uma moça tão boa e tão meiga como ela tivesse sido capaz de um ato daqueles.
MARIETA VOLTOU DA COPA COM UMA BANDEJA NA MÃO.
MARIETA - O cafezinho está pronto. Acabei de passar!
CORTA PARA:
CENA 4 - “FOLHA DO RIO” - SALA DE GOUVEIA NETO - INT. - DIA.
ARAKEN TEIXEIRA ENTROU NA SALA DO DIRETOR, ATENDENDO A SEU CHAMADO.
GOUVEIA NETO - Araken, o caso Nívea Louzada, agora, vai pegar fogo novamente.
ARAKEN - Alguma novidade?
GOUVEIA NETO - Acabei de saber que a Igreja enviou um representante para investigar o caso.
ARAKEN - Mas isso pode significar encrenca também...
GOUVIEA NETO - A tiragem vai aumentar, isso é o que importa (ponderou). Mas ele também pode entornar o caldo. Principalmente porque Dom Eliseu e Vítor Mariano são amigos.
ARAKEN - Apesar de que a presença do povo no local já é espontânea. Tem vindo gente dos subúrbios e até do Estado do Rio para rezar e acender velas à Santa de Ipanema. Quase toda quarta-feira, por volta da meia-noite, é o pessoal da macumba...
GOUVEIA NETO - É, o caso está tomando grandes proporções. E isso, para nós, é muito bom!
CORTA PARA:
CENA 5 - PRAIA DE IPANEMA - CALÇADÃO - EXT. - NOITE.
UM GRUPO DE PESSOAS ACENDIA VELAS E ORAVA NO LOCAL ONDE FÔRA ENCONTRADO O CORPO DE NÍVEA. VÍTOR E DOM ELISEU ESTAVAM OLHANDO DE CIMA DO PAREDÃO.
VÍTOR - E então, Eliseu, o que é que você acha de tudo isso?
DOM ELISEU - É incrível. Mas como material para pesquisa, acho ótimo. O sincretismo que já está se verificando entre a religião católica e as crenças africanas é um assunto que me interessa muito.
VÍTOR - Sim, mas não podemos esquecer que há criaturas humanas envolvidas no caso. Principalmente o destino das pessoas, você sabe. É que toda essa exploração em torno do que aconteceu a Nívea, dos fatos sobrenaturais que teriam havido após a sua morte e nos quais eu me recuso a acreditar, tudo isso me leva quase ao desespero.
DOM ELISEU - Bem, meu amigo, eu acho que você tem outros problemas, e que não é somente por causa disso que você se preocupa. E se Nívea fosse canonizada, vamos supor, se ela fosse reconhecida pela igreja como santa, isso alteraria os dados do seu problema?
VÍTOR - Mas é claro!
DOM ELISEU - Você teme isso?
VÍTOR - (riu, nervoso e excitadíssimo) Você me conhece bem, Eliseu, para não me julgar um ingênuo. Sei que Nívea não é santa, não creio que tenha aparecido a ninguém, nem nos milagres que apregoam que ela tenha feito. Não creio em nada disso. Mas é impossível não tomar conhecimento dessas coisas. É impossível não ficar abalado com elas (e num desabafo) Não pense que eu quero esquecê-la. Isso não será nunca possível. Mas quero recordá-la serenamente; não com o sentimento de culpa que me dá tudo isso. Uma culpa que não sei precisar, que pode não ter sentido, mas que pesa na minha consciência.
CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS - ESCRITÓRIO - INT. - NOITE.
OLIVEIRA RAMOS - Fiquei assustado, Miss July, quando percebi que tinha ido muito longe com meu estoque de desculpas, tentando afastar Helô da mãe. Não sei mais o que fazer!
MISS JULY - Então... ela ouviu a conversa!
OLIVEIRA RAMOS - (confirmou) Isso mesmo. Maldita extensão! Fui apanhado em flagrante proibindo a mãe dela de vir ao casamento. Ela ouviu toda a conversa pelo telefone e agora quer ir aos Estados Unidos, para trazê-la de volta!
MISS JULY - Eu acho que o senhor devia contar a verdade à sua filha. Pois, se Helô decidir viajar, o senhor não poderia impedir.
OLIVEIRA, BASTANTE NERVOSO, ANDAVA DE UM LADO PARA O OUTRO.
OLIVEIRA RAMOS - Vamos supor, Miss July, que eu consiga avisar Elisa para sair de Nova Iorque, inventar uma viagem, qualquer coisa... mas é preciso que elas não se encontrem!
MISS JULY - E o senhor acha que essa situação vai poder continuar por muito tempo, doutor Oliveira? É justo deixar essa menina assim, iludida? Isso não está fazendo mais mal a ela do que a verdade?
AS PALAVRAS DE MISS JULY FIZERAM VIVO EFEITO SOBRE O BANQUEIRO.
OLIVEIRA RAMOS - Não sei. O erro foi ter começado. Mas... (fez uma breve pausa. Sentia medo do que estava imaginando, porém era um a solução) Sim, pode dar certo. Vítor. Ele poderá ajudar, e também compreenderá. Vou dizer-lhe a verdade.
CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE RENATÃO - SALA - INT. - DIA
SAMUCA CHEGOU E DEIXOU-SE CAIR NO SOFÁ, AR CANSADO. RENATÃO SAIU DO ATELIER COM UMA BELA MORENA, ACOMPANHOU-A ATÉ A PORTA, DEU-LHE UM LONGO BEIJO NA BOCA, FECHOU A PORTA E SENTOU-SE AO LADO DO AMIGO.
SAMUCA - Quem é essa? Não conhecia...
RENATÃO - Maravilhosa, não é? É um máquina, um vulcão em erupção! Aspirante a modelo. Prometi ajudá-la.
SAMUCA - (desanimado) Sei...
RENATÃO - Que cara é essa, rapaz? Algum problema?
SAMUCA - Tudo na mesma, desde que fui demitido do banco e fugi da pensão da D. Didi, depois de ter quebrado todos os móveis... Pra variar, agora sou guia turístico. Sirvo de cicerone, intérprete, o que pintar. Ando pra cima e pra baixo com umas velhotas chatas, subindo no Pão de Açúcar, no Corcovado...
RENATÃO - Ora, isso parece divertido!
SAMUCA - Divertido? Quer trocar? Deixa eu ficar entrevistando suas aspirantes a estrela, e você vai ser guia no meu lugar... o que acha da idéia?
RENATÃO COÇOU A CABEÇA E FEZ UMA CARETA DE REJEIÇÃO.
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS - ESCRITÓRIO - INT. - DIA.
OLIVEIRA RAMOS - Obrigado por ter vindo, meu futuro genro.
VÍTOR - Algum problema com Helô?
OLIVEIRA RAMOS - Preciso da sua ajuda. O problema é o seguinte: a mãe dela não está em Nova Iorque. Quem escreve para Helô é uma senhora a quem pago para isso. Elisa não pode escrever.
VÍTOR - (espantado) Mas... o senhor mente para sua filha? Mas por quê?
OLIVEIRA RAMOS - Elisa, a mãe de Helô, é esquizofrênica e mora numa Casa de Saúde. Eu menti porque queria poupar minha filha desse sofrimento... Mas confesso que, hoje, já não sei mais se fiz a coisa certa.
VÍTOR - A verdade é sempre o caminho certo, doutor Oliveira.
OLIVEIRA RAMOS - Vítor, sei que errei e peço que não me julgue. No momento, só preciso que você tire da cabeça de Helô a idéia de ir buscar a mãe. Por favor, prometa que vai fazer isso.
VÍTOR - Está bem. Prometo que vou tentar.
CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DO DELEGADO FONTOURA - SALA - INT. - NOITE
FONTOURA ESTAVA DE PIJAMAS, LENDO O JORNAL E COMENTANDO COM ADELAIDE, OCUPADA NOS AFAZERES DA CASA, AS MANCHETES ESCANDALOSAS.
DELEGADO FONTOURA - Taí como eu previa. Jurema de Alencar passou a ser a “Fera de Ipanema”.
ADELAIDE - Quem diria que essa mulher é a assassina da pobre Nívea, hem?
MARIO MALUCO SURGIU DO INTERIOR DO APARTAMENTO E SENTOU-SE AO LADO DO PAI.
MARIO MALUCO - Pai, preciso levar um papo com você.
FONTOURA FITOU O FILHO POR SOBRE O JORNAL.
DELEGADO FONTOURA - Pode falar, filho. É muito importante que a gente converse de vez em quando.
MARIO MALUCO - Eu tou a fim de me mandar, velho.
DELEGADO FONTOURA - (franziu o cenho) Como assim, se mandar?
MARIO MALUCO - Me mandar de casa, ir embora.
DELEGADO FONTOURA - (esforçando-se para manter a calma) Posso saber o motivo?
MARIO MALUCO - Não me sinto bem, morando aqui, com vocês. Quero ir cuidar da minha vida.
DELEGADO FONTOURA - (incrédulo) Não se sente bem em sua própria casa, entre a sua família? Mas, por quê? Alguém te trata mal aqui?
MARIO MALUCO - Ninguém me faz mal algum. Tenho carinho, tudo, mas... quero ficar na minha. Vocês estão em outra.
DELEGADO FONTOURA - E vai morar aonde?
MARIO MALUCO - No Solar do Catete.
DELEGADO FONTOURA - Aquele casarão do Catete, onde vive tudo quanto é desajustado? E com que dinheiro vai viver no Solar do Catete, pode me explicar?
MARIO MALUCO - Você me dá uma mesada...
FONTOURA LEVOU A MÃO AO PEITO. ESTAVA PROFUNDAMENTE ABALADO, CHOCADO. ERA UM HOMEM QUE VIA CAIR POR TERRA TODOS OS SEUS CONCEITOS DE EDUCAÇÃO E FAMÍLIA.
DELEGADO FONTOURA - Você ouviu isso, Adelaide? A gente cria um filho com todo o carinho, procura dar a ele a melhor educação, até coisas que nunca tivemos, e quando ele faz vinte e um anos, nos diz uma coisa dessas!... Será que errei em alguma coisa, meu Deus? Devo ter errado! Deve estar tudo errado!
CORTA PARA:
CENA 10 - APARTAMENTO DE EMILIANO - SALA - INT. - DIA.
MARIETA ABRIU A PORTA, AO OUVIR O SOM DA CAMPAINHA. ERA LEOPOLDO REIS.
LEOPOLDO - Boa noite. Eu gostaria de falar com o senhor Vítor...
VÍTOR OUVIU SEU NOME E DIRIGIU-SE À SALA.
MARIETA - Ah, Vítor, eu já ia chamá-lo. Este senhor quer falar com você.
VÍTOR - Pois não? O que deseja?
LEOPOLDO - Senhor Vítor, desculpe ter vindo aqui, assim, sem conhecê-lo. Estou aqui para prestar um favor a uma amiga: Jurema de Alencar.
MARIETA - (não se conteve) A assassina de Nívea?
VÍTOR FITOU A MULHER COM AR DE REPROVAÇÃO.
VÍTOR - D. Marieta, por favor, controle-se (e para Leopoldo) Que favor?
LEOPOLDO - Ela mandou pedir que vá visitá-la no presídio. Ela precisa muito falar com o senhor!
MARIETA - (exaltada) Mas... mas isso é um absurdo, um despropósito!
MAIS UMA VEZ, VÍTOR FITOU A MULHER SIGNIFICATIVAMENTE E DIRIGIU-SE A LEOPOLDO, COM CALMA E FIRMEZA.
VÍTOR - Diga a ela que eu irei.
CORTA PARA:
CENA 11 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - TARDE.
A BOLA ALARANJADA DO SOL JÁ IA SE AFUNDANDO NO MAR, POR TRÁS DA PEDRA DA GÁVEA, E A PRAIA DE IPANEMA, POR ALGUM TEMPO, FICARIA DESERTA ATÉ QUE OS CASAIS FURTIVOS VIESSEM AMAR-SE RÁPIDA E SÔFREGAMENTE NA AREIA. MARIO MALUCO E BABI ESTAVAM DEITADOS SOB UM COQUEIRO, A MOTO ESTACIONADA AO LADO. AMBOS FUMAVAM. O RAPAZ ESTAVA LHE CONTANDO A CONVERSA QUE TIVERA COM O PAI.
MARIO MALUCO - Ele não entende, sabe? Não tem condição! Seu velho também é assim?
BABI - Não. Ao contrário, ele é muito bacana!
MARIO MALUCO - Pois então, você não topava a gente se mandar por aí?
BABI - Sim, topava, mas e depois? E a viagem de volta? Porque o diabo é que tem volta sempre...
MARIO MALUCO - É... (T) Então, vamos pensar em outra coisa...
MARIO BEIJOU BABI.
CORTA PARA:
CENA 12 - DELEGACIA - CELA DE JUREMA - INT. - DIA.
O DETETIVE JONAS CONDUZIU VÍTOR À CELA DE JUREMA.
JUREMA - Eu sabia que você viria! Muito obrigada!
VÍTOR - Em que posso ajudá-la?
JUREMA - Eu chamei você aqui para dizer que não matei Nívea! Sou inocente! Estou desesperada e não sei a quem recorrer! Você tem que me ajudar!... Pelo amor de Deus, eu lhe peço!
FIM DO CAPÍTULO 33
Nívea (Renata Sorrah)
e no próximo capítulo...
*** Renatão, pressionado, conta à filha Carlinha que Marisa é sua mãe. Qual sera a reação da menina?
*** O Delegado Fontoura recebe a terceira carta anônima dando pistas do assassinato de Nívea!
*** Renatão toma uma decisão quase desesperada para não perder a guarda da filha!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 34 DE
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