sábado, 14 de abril de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 33

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 33

Personagens deste capítulo:

ARAKEN
GOUVEIA NETO
DOM ELISEU
MARIETA
VÍTOR
JUREMA
LEOPOLDO
OLIVEIRA RAMOS
MISS JULY
SAMUCA
RENATÃO
DELEGADO FONTOURA
ADELAIDE
MARIO MALUCO
BABI
CABO JORGE

CENA 1  -  DELEGACIA  -  CELA DE JUREMA  -  INT.  -  DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior

LEOPOLDO  -  Fique calma. Nem tudo está perdido. Você não matou Nívea Louzada, isso é o que importa!

JUREMA  -  Sim, Leopoldo, não a matei. Estou inocente!

LEOPOLDO  -  A primeira coisa a fazer é chamar o delegado e negar a confissão. De minha parte, prometo arranjar um bom advogado para defender você.

JUREMA SORRIU, COM TRISTEZA E APERTOU-LHE AS MÃOS ATRAVÉS DAS GRADES DA CELA.

CORTA PARA:

CENA 2  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.

O CABO JORGE LEVOU JUREMA DE ALENCAR, ALGEMADA,  À SALA DO DELEGADO FONTOURA.

DELEGADO FONTOURA  -  (ergueu a cabeça e fitou a mulher, por sobre os óculos)  A senhora deve ter algo muito importante a dizer, após tanta insistência... Pois bem, dona Jurema: fale.

JUREMA  -  (tensa)  Eu nego tudo o que falei na confissão! Delegado, eu menti! Não matei aquela moça! Sou inocente!

DELEGADO FONTOURA  - (impaciente) Mas que brincadeira é essa?

JUREMA  -  Não estou brincando. Não sou assassina. Eu menti, já disse!

DELEGADO FONTOURA  -  (seco)  Verdade ou mentira, agora é um pouco tarde. A senhora está sèriamente encrencada!

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT. -  DIA

VÍTOR  -  Dom Eliseu, que surpresa!

VÍTOR E MARIETA CUMPRIMENTARAM O SACERDOTE.

MARIETA  -  É uma honra recebê-lo em minha casa, Dom Eliseu. Fiquem á vontade. Vou fazer um cafezinho.

MARIETA ENCAMINHOU-SE PARA A COZINHA. VÍTOR E DOM ELISEU ACOMODARAM-SE NO SOFÁ DA SALA.

DOM ELISEU  -  Meu amigo Vítor, os milagres da Santa de Ipanema chegaram aos ouvidos da igreja. Fui encarregado de estudar e pesquisar o assunto.

VÍTOR  -  Eu imaginei que isso ia acontecer. Mais cedo ou mais tarde, a notícia chegaria ao conhecimento da Igreja.

DOM ELISEU  -  Isso mesmo. Temos recebido informações sobre aparições e supostos milagres. O caso tem sido debatido. E devido às minhas relações com você, Vítor, e pelo fato de ter conhecido Nívea eu me ofereci para fazer esse estudo.

VÍTOR  -  Quer dizer que você vem apurar a verdade?

DOM ELISEU  -  Isso mesmo. Estou aqui para isso.

VÍTOR  -  (animado) Era o que eu queria. Um aliado! Não para provar as aparições, mas para me ajudar a desvendar o mistério que envolve este crime terrível.

DOM ELISEU  -  Mas, pelo que eu soube, uma mulher confessou ser a assassina...

VÍTOR  -  Sim, é verdade. Porém, não tenho certeza de que Jurema    seja, realmente,    a    criminosa.    Apesar    das  muitas  coincidências   reveladas na   acareação   com   D.   Marieta,  não consigo acreditar que uma moça tão boa e tão meiga como ela tivesse sido capaz de um ato daqueles.

MARIETA VOLTOU DA COPA COM UMA BANDEJA NA MÃO.

MARIETA  -  O cafezinho está pronto. Acabei de passar!

CORTA PARA:

CENA  4  -  “FOLHA DO RIO”  -  SALA DE GOUVEIA NETO  - INT.  -  DIA.

ARAKEN TEIXEIRA ENTROU NA SALA DO DIRETOR, ATENDENDO A SEU CHAMADO.

GOUVEIA NETO  - Araken, o caso Nívea Louzada, agora, vai pegar fogo novamente.

ARAKEN  -  Alguma novidade?

GOUVEIA NETO  -  Acabei de saber que a Igreja enviou um representante para investigar o caso.

ARAKEN  -  Mas isso pode significar encrenca também...

GOUVIEA NETO  -  A tiragem vai aumentar, isso é o que importa (ponderou).  Mas ele também pode entornar o caldo. Principalmente porque Dom Eliseu e Vítor Mariano são amigos.

ARAKEN  -  Apesar de que a presença do povo no local já é espontânea. Tem vindo gente dos subúrbios e até do Estado do Rio para rezar e acender velas à Santa de Ipanema. Quase toda quarta-feira, por volta da meia-noite, é o pessoal da macumba...

GOUVEIA NETO  -  É, o caso está  tomando grandes proporções. E isso, para nós, é muito bom!               

CORTA PARA:  

CENA  5  -  PRAIA DE IPANEMA  -  CALÇADÃO  -  EXT.  -  NOITE.

UM GRUPO DE PESSOAS ACENDIA VELAS E ORAVA NO LOCAL ONDE FÔRA ENCONTRADO O CORPO DE NÍVEA. VÍTOR E DOM ELISEU ESTAVAM OLHANDO DE CIMA DO PAREDÃO.

VÍTOR  -  E então, Eliseu, o que é que você acha de tudo isso?

DOM ELISEU  -  É incrível. Mas como material para pesquisa, acho ótimo. O sincretismo que já está se verificando entre a religião católica e as crenças africanas é um assunto que me interessa muito.

VÍTOR  -  Sim, mas não podemos esquecer que há criaturas humanas envolvidas no caso. Principalmente o destino das pessoas, você sabe. É que toda essa exploração em torno do que aconteceu a Nívea, dos fatos sobrenaturais que teriam havido após a sua morte e nos quais eu me recuso a acreditar, tudo isso me leva quase ao desespero.

DOM ELISEU  -  Bem, meu amigo, eu acho que você tem outros problemas, e que não é somente por causa disso que você se preocupa. E se Nívea fosse canonizada, vamos supor, se ela fosse reconhecida pela igreja como santa, isso alteraria os dados do seu problema?

VÍTOR  -  Mas é claro!

DOM ELISEU  -  Você teme isso?

VÍTOR  -  (riu, nervoso e excitadíssimo)  Você me conhece bem, Eliseu, para não me julgar um ingênuo. Sei que Nívea não é santa, não creio que tenha aparecido a ninguém, nem nos milagres que apregoam que ela tenha feito. Não creio em nada disso. Mas é impossível não tomar conhecimento dessas coisas. É impossível não ficar abalado com elas (e num desabafo)  Não pense que eu quero   esquecê-la.   Isso   não   será   nunca  possível.  Mas  quero recordá-la serenamente; não com o sentimento de culpa que me dá tudo isso. Uma culpa que não sei precisar, que pode não ter sentido, mas que pesa na minha consciência.

CORTA PARA:

CENA  6  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  NOITE.

OLIVEIRA RAMOS  -  Fiquei assustado, Miss July, quando percebi que tinha ido muito longe com meu estoque de desculpas, tentando afastar Helô da mãe. Não sei mais o que fazer!

MISS JULY  -  Então... ela ouviu a conversa!

OLIVEIRA RAMOS  -  (confirmou)  Isso mesmo. Maldita extensão! Fui apanhado em flagrante proibindo a mãe dela de vir ao casamento. Ela ouviu toda a conversa pelo telefone e agora quer ir aos Estados Unidos, para trazê-la de volta!

MISS JULY  -  Eu acho que o senhor devia contar a verdade à sua filha. Pois, se Helô decidir viajar, o senhor não poderia impedir.

OLIVEIRA, BASTANTE NERVOSO, ANDAVA DE UM LADO PARA O OUTRO.

OLIVEIRA RAMOS  -  Vamos supor, Miss July, que eu consiga avisar Elisa para sair de Nova Iorque, inventar uma viagem, qualquer coisa... mas é preciso que elas não se encontrem!

MISS JULY  -   E o senhor acha que essa situação vai poder continuar por muito tempo, doutor Oliveira? É justo deixar essa menina assim, iludida? Isso não está fazendo mais mal a ela do que a verdade?

AS PALAVRAS DE MISS JULY FIZERAM VIVO EFEITO SOBRE O BANQUEIRO.

OLIVEIRA RAMOS  -  Não sei. O erro foi ter começado. Mas... (fez uma breve pausa. Sentia medo do que estava imaginando,  porém  era  um a solução)  Sim, pode dar certo.  Vítor. Ele poderá ajudar, e também compreenderá. Vou dizer-lhe a verdade.

CORTA PARA:

CENA  7  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA

SAMUCA CHEGOU E DEIXOU-SE CAIR NO SOFÁ, AR CANSADO. RENATÃO SAIU DO ATELIER COM UMA BELA MORENA, ACOMPANHOU-A ATÉ A PORTA, DEU-LHE UM LONGO BEIJO NA BOCA, FECHOU A PORTA E SENTOU-SE AO LADO DO AMIGO.

SAMUCA  -  Quem é essa? Não conhecia...

RENATÃO  -  Maravilhosa, não é? É um máquina, um vulcão em erupção! Aspirante a modelo. Prometi ajudá-la.

SAMUCA  -  (desanimado) Sei...

RENATÃO  -  Que cara é essa, rapaz? Algum problema?

SAMUCA  -  Tudo na mesma, desde que fui demitido do banco e fugi da pensão da D. Didi, depois de ter quebrado todos os móveis... Pra variar, agora sou guia turístico. Sirvo de cicerone, intérprete, o que pintar. Ando pra cima e pra baixo com umas velhotas chatas, subindo no Pão de Açúcar, no Corcovado...

RENATÃO  -  Ora, isso parece divertido!

SAMUCA  -  Divertido? Quer trocar? Deixa eu ficar entrevistando suas aspirantes a estrela, e você vai ser guia no meu lugar... o que acha da idéia?

RENATÃO COÇOU A CABEÇA E FEZ UMA CARETA DE REJEIÇÃO.

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  DIA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Obrigado por ter vindo, meu futuro genro.

VÍTOR  -  Algum problema com Helô?

OLIVEIRA RAMOS  -  Preciso da sua ajuda. O problema é o seguinte: a mãe dela não está em Nova Iorque. Quem escreve para Helô é uma senhora a quem pago para isso. Elisa não pode escrever.

VÍTOR  -  (espantado) Mas... o senhor mente para sua filha? Mas por quê?

OLIVEIRA RAMOS  -  Elisa, a mãe de Helô, é esquizofrênica e mora numa Casa de Saúde. Eu menti porque queria poupar minha filha desse sofrimento... Mas confesso que, hoje, já não sei mais se fiz a coisa certa.

VÍTOR  -  A verdade é sempre o caminho certo, doutor Oliveira.

OLIVEIRA RAMOS  -  Vítor, sei que errei e peço que não me julgue. No momento, só preciso que você tire da cabeça de Helô a idéia de ir buscar a mãe. Por favor, prometa que vai fazer isso.

VÍTOR  -  Está bem. Prometo que vou tentar.

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DO DELEGADO FONTOURA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE

FONTOURA ESTAVA DE PIJAMAS, LENDO O JORNAL E COMENTANDO COM ADELAIDE, OCUPADA NOS AFAZERES DA CASA, AS MANCHETES ESCANDALOSAS.

DELEGADO FONTOURA  -  Taí como eu previa. Jurema de Alencar passou a ser a “Fera de Ipanema”.

ADELAIDE  -  Quem diria que essa mulher é a assassina da pobre Nívea, hem?

MARIO MALUCO SURGIU DO INTERIOR DO APARTAMENTO E SENTOU-SE AO LADO DO PAI.

MARIO MALUCO  -  Pai, preciso levar um papo com você.

FONTOURA FITOU O FILHO POR SOBRE O JORNAL.

DELEGADO FONTOURA  -  Pode falar, filho. É muito importante que a gente converse de vez em quando.

MARIO MALUCO  - Eu tou a fim de me mandar, velho.

DELEGADO FONTOURA  -  (franziu o cenho)  Como assim, se mandar?

MARIO MALUCO  -  Me mandar de casa, ir embora.

DELEGADO FONTOURA  -  (esforçando-se para manter a calma)  Posso saber o motivo?

MARIO MALUCO  -  Não me sinto bem, morando aqui, com vocês. Quero ir cuidar da minha vida.

DELEGADO FONTOURA  -  (incrédulo) Não se sente bem em sua própria casa, entre a sua família? Mas, por quê? Alguém te trata mal aqui?

MARIO MALUCO  -  Ninguém me faz mal algum. Tenho carinho, tudo, mas... quero ficar na minha. Vocês estão em outra.

DELEGADO FONTOURA  -  E vai morar aonde?

MARIO MALUCO  -  No Solar do Catete.

DELEGADO FONTOURA  -  Aquele casarão do Catete, onde vive tudo quanto é desajustado? E com que dinheiro vai viver no Solar do Catete, pode me explicar?

MARIO MALUCO  -  Você me dá uma mesada...

FONTOURA LEVOU A MÃO AO PEITO. ESTAVA PROFUNDAMENTE ABALADO, CHOCADO. ERA UM HOMEM QUE VIA CAIR POR TERRA TODOS OS SEUS CONCEITOS DE EDUCAÇÃO E FAMÍLIA.

DELEGADO FONTOURA  -  Você ouviu isso, Adelaide? A gente cria um filho com todo o carinho, procura dar a ele a melhor educação, até coisas que nunca tivemos, e quando ele faz vinte e um anos, nos diz uma coisa dessas!... Será que errei em alguma coisa, meu Deus? Devo ter errado! Deve estar tudo errado!

CORTA PARA:

CENA 10  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

MARIETA ABRIU A PORTA, AO OUVIR O SOM DA CAMPAINHA. ERA LEOPOLDO REIS.

LEOPOLDO  -  Boa noite. Eu gostaria de falar com o senhor Vítor...

VÍTOR OUVIU SEU NOME E DIRIGIU-SE À SALA.

MARIETA  -  Ah, Vítor, eu já ia chamá-lo. Este senhor quer falar com você.

VÍTOR  -  Pois não? O que deseja?

LEOPOLDO  -  Senhor Vítor, desculpe ter vindo aqui, assim, sem conhecê-lo. Estou aqui para prestar um favor a uma amiga: Jurema de Alencar.

MARIETA  -  (não se conteve) A assassina de Nívea?

VÍTOR FITOU A MULHER COM AR DE REPROVAÇÃO.

VÍTOR  -  D. Marieta, por favor, controle-se (e para Leopoldo) Que favor?

LEOPOLDO  -  Ela mandou pedir que vá visitá-la no presídio. Ela precisa muito falar com o senhor!

MARIETA  -  (exaltada) Mas... mas isso é um absurdo, um despropósito!

MAIS UMA VEZ, VÍTOR FITOU A MULHER SIGNIFICATIVAMENTE E DIRIGIU-SE A LEOPOLDO, COM CALMA E FIRMEZA.

VÍTOR  -  Diga a ela que eu irei.

CORTA PARA:

CENA  11  -  PRAIA DE IPANEMA  -  EXT.  -  TARDE.

A BOLA ALARANJADA DO SOL JÁ IA SE AFUNDANDO NO MAR, POR TRÁS DA PEDRA DA GÁVEA, E A PRAIA DE IPANEMA, POR ALGUM TEMPO, FICARIA DESERTA ATÉ QUE OS CASAIS FURTIVOS VIESSEM AMAR-SE RÁPIDA E SÔFREGAMENTE NA AREIA. MARIO MALUCO E BABI ESTAVAM DEITADOS SOB UM COQUEIRO, A MOTO ESTACIONADA AO LADO. AMBOS FUMAVAM. O RAPAZ ESTAVA LHE CONTANDO A CONVERSA QUE TIVERA COM O PAI.

MARIO MALUCO  -  Ele não entende, sabe? Não tem condição! Seu velho também é assim?

BABI  -  Não. Ao contrário, ele é muito bacana!

MARIO MALUCO  -  Pois então, você não topava a gente se mandar por aí?

BABI  -  Sim, topava, mas e depois? E a viagem de volta? Porque o diabo é que tem volta sempre...

MARIO MALUCO  -  É... (T) Então, vamos pensar em outra coisa...

MARIO BEIJOU BABI.

CORTA PARA:

CENA  12  -  DELEGACIA  -  CELA DE JUREMA  -  INT.  -  DIA.

O DETETIVE JONAS CONDUZIU VÍTOR À CELA DE JUREMA.

JUREMA  -  Eu sabia que você viria! Muito obrigada!

VÍTOR  -  Em que posso ajudá-la?

JUREMA  -  Eu chamei você aqui para dizer que não matei Nívea! Sou inocente! Estou desesperada e não sei a quem recorrer! Você tem que me ajudar!...  Pelo amor de Deus, eu lhe peço!
 

FIM DO CAPÍTULO 33
        Nívea (Renata Sorrah) 

 e no próximo capítulo...

*** Renatão, pressionado, conta à filha Carlinha que Marisa é sua mãe. Qual sera a reação da menina?

*** O Delegado Fontoura recebe a terceira carta anônima dando pistas do assassinato de Nívea!

*** Renatão toma uma decisão quase desesperada para não perder a guarda da filha!

 NÃO PERCA O CAPÍTULO 34 DE
 


Nenhum comentário:

Postar um comentário