terça-feira, 10 de abril de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 31

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
http://youtu.be/zIuryHGvAVc
 
CAPÍTULO 31

Participam deste capítulo:
OLIVEIRA RAMOS (Mario Lago)
RICARDINHO (Carlos Vereza)
JUREMA (Arlete Salles)
HELÔ (Dina Sfat)
VÍTOR (Francisco Cuoco)
MARISA (Maria Pompeu)
RENATÃO (Jardel Filho)
CARLINHA
TIA COLÓ (Henriqueta Brieba)
DETETIVE JONAS (Solon de Almeida)
DELEGADO FONTOURA (Urbano Lóes)
GUARDA

CENA 1  -  NITERÓI  -  CASA DA TIA COLÓ  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

O TELEFONE TOCOU E TIA COLÓ ATENDEU.

TIA COLÓ  -  Renatinho, é para você. É aquele seu mordomo de nome esquisito.
         
RENATÃO  -  (ao telefone)  Alô, Konstan! Fala! Sei, entendi. (respirou fundo e decidiu) Chama ela pra mim. Vou falar com ela. Fazer o quê, não tem outro jeito!...

AO OUVIR A VOZ DE MARISA DO OUTRO LADO DA LINHA, FALOU, SOB O OLHAR ATENTO DE TIA COLÓ.

RENATÃO  -  Está bem, Marisa, você venceu. Eu entrego os pontos. Carlinha está em casa de minha tia, aqui em Niterói. Venha aqui e você a encontra. Tome nota do endereço.

CORTA PARA:

CENA  2  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  DIA.

HELÔ ENTROU NO ESCRITÓRIO DO PAI COM A “FOLHA DO RIO” NA MÃO.

HELÔ  -  Você viu isso, papai? Aqui diz que as reportagens de Araken Teixeira sobre Nívea, a santa de Ipanema, continuam atraindo a atenção dos leitores. Até um milagre, diz aqui, ela já fez.

OLIVEIRA RAMOS  -  É claro que não há um pingo de verdade nesta história. Trata-se, minha filha, de um mero problema jornalístico, coisa para vender jornal.

HELÔ  -  O que podemos fazer pra esse repórter parar?

OLIVEIRA RAMOS  -  Nada. Não podemos fazer nada. Já sondei  e ,  nem  dinheiro  ele  aceita  para isso.  (retirou  os  óculos,pensativo)  O único meio era que você e Vítor se casassem logo e fossem viajar, por exemplo.

HELÔ  -  (sorriu) Você sabe que isso é o que eu mais quero, papai. Mas faço questão de que minha mãe venha para o casamento!

OLIVEIRA RAMOS  -  (reagiu, contrariado)  Helô, não vamos começar com isso...

HELÔ  -  (cortou)  Está decidido, meu pai: eu quero que minha mãe venha! Faça o que for preciso pra trazer ela, por favor! O senhor não pode me negar isso!

CORTA PARA:

CENA 3  -  NITERÓI  -  CASA DE TIA COLÓ  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

TIA COLÓ  -  Você não acha que era melhor dizer a Carlinha?

RENATÃO  -  Não. Não vamos dizer nada.

TIA COLÓ  -  Mas assim... vai ser difícil...

RENATÃO  -  (deu de ombros)  Difícil para ela. Que é que ela queria? Que eu ainda resolvesse todos os problemas que ela criou? Que se dane!

TIA COLÓ  -  Mas, Renatinho, a menina vai estranhar... Nem sei mesmo como vai reagir...

RENATÃO  -  Pois isso é o que eu quero ver!

TOCARAM A CAMPAINHA.

TIA COLÓ  -  Deve ser ela! Vou para dentro. Não quero ver a cara dessa Marisa. Fazer o que ela fez com você e ainda ter que recebê-la em minha casa... é demais pra mim!

RENATÃO ABRIU A PORTA. MARISA ENTROU E OLHOU EM VOLTA, ANSIOSA.

RENATÃO  -  Bom, agora é com você. Vou me retirar...

MARISA  -  Espere. Você disse a Carlinha que eu viria?

RENATÃO  -  Não. Deixei tudo para você dizer.

MARISA  -  Mas como? Ela ainda não sabe que eu estou viva?

RENATÃO  -  (cerrou os olhos e respirou profundamente)  Não. Preferi não lhe tirar o prazer desse melodrama.

MARISA  -  Mas isso vai ser um choque para a menina! Afinal, as coisas que você deve ter contado a ela...

RENATÃO  -  (cortou)  Muito menos do que você merecia que eu dissesse, fique certa disso. (caminhou até o quarto e chamou a filha meigamente)  Carlinha, quero que você conheça alguém. Aquela moça de que lhe falei, lembra-se?

A MENINA ENTROU NA SALA E FICOU OLHANDO PARA MARISA.

MARISA     -  Oi, Carlinha   .

CARLINHA  -  Oi.

RENATÃO SENTOU-SE NUMA POLTRONA, ACENDEU UM CIGARRO E FICOU OBSERVANDO A CENA COM UM SORRISO IRÔNICO, QUASE SÁDICO. MARISA TINHA DIFICULDADE EM COMUNICAR-SE COM A FILHA. SENTOU-SE NO CHÃO E, VENDO O EX-MARIDO OBSERVANDO-A, IRRITOU-SE.

MARISA  -  Vai ficar o tempo todo aí me vigiando?

RENATÃO  -  Você quer que eu saia?

MARISA  -  Claro. Com você aí é mais difícil. Vá para o jardim, eu não vou raptá-la.

RENATÃO SAIU. MARISA, PORÉM, NÃO SABIA O QUE DIZER À MENINA.

MARISA  -  Carlinha, você tem algum retrato de sua mãe?

CARLINHA  -  Não...

MARISA  -  Por quê? Seu pai não quer? Ele não gostava de sua mãe?

CARLINHA  -  Gostava sim.

MARISA  -  Então é porque ela era muito feia...

CARLINHA  -  (ofendida) Não. Era mais bonita que você. Meu pai me contou que ela era muito bacana e que não tinha defeito. Por isso ele não se casou de novo: porque não encontrou outra mãe tão boa que nem ela.

MARISA SORRIU, ENTERNECIDA. BEIJOU A FILHA NA TESTA E LEVANTOU-SE.

MARISA  -  Bem, eu tenho que ir.... Mas eu volto pra te ver, tá?

CENA  4  -  CASA DA TIA COLÓ  -  JARDIM  -  EXT.  -  DIA.

MARISA SAIU E ENCONTROU RENATÃO NO JARDIM.

MARISA  -  Até mais, Renatão.

RENATÃO  -  Foi tudo bem? Contou a ela?

MARISA  -  Ainda não. Acho que não é o momento. Eu... quero agradecer por você não ter feito minha filha me odiar.

RENATÃO  -  Fiz isso por ela... Quero que ela seja feliz.

MARISA  -  Ela não vive com você. Mora com sua tia. Por que não me deixa levá-la comigo?

RENATÃO  -  (reagiu, indignado) Nunca!

MARISA  -  Pois saiba que vou fazer tudo o que puder para ter a guarda da minha filha. Nem que para isso tenha que investigar sua vida e descobrir todos os seus podres!

RENATÃO BATEU PALMAS, COM IRONIA.

RENATÃO  -  Muito bem! A megera revelou-se outra vez! Imagino como deve ser difícil pra você bancar a boazinha, a mãe responsável e protetora, não é? Realmente, esse papel não combina com você!

MARISA  -  (ríspida) Estou jogando limpo com você! Devia me agradecer por isso! Adeus, Renatão! (encaminhou-se para a rua, parou e voltou-se) Ah... aguarde notícias minhas!

RENATÃO  -  (trincou os dentes)  Víbora!

CORTA PARA:

CENA 5  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

VÍTOR ABRAÇOU HELÔ E BEIJOU-A, COM PAIXÃO. EM SEGUIDA, AFASTOU-SE, PENSATIVO, AR ANGUSTIADO.

HELÔ  -  Meu amor, o que houve?

VÍTOR  -  Desculpe... eu estou meio perdido com a história do jornal. Não penso noutra coisa, e nada me abala tanto quanto isto... Nem mesmo quando pedi a anulação dos votos. Naquela ocasião, sabia o que queria. E agora, não.

HELÔ  -  Sabe, para mim, a sua angústia é uma consequencia da sua procura constante do que julga certo ou errado. Viver  a  todo o momento tendo que escolher entre o certo e o errado, o bem e o mal, é que faz as pessoas viverem sempre angustiadas. Mas é que nem sempre a gente sabe, e então a escolha fica difícil. O que é certo e o que é errado? Esta é uma noção que a gente trás do berço, ou que recebe do meio em que vive, e que os outros decidiram por nós. Você não decide nada. A não ser quando resolve seguir os seus impulsos.

VÍTOR  -  Eu acho que você tem razão, mas me recuso a agir assim, pois se o fizesse, teria de negar tudo, por uma questão de fidelidade a mim mesmo.

HELÔ  -  Pois é justamente a primeira coisa que você devia fazer: libertar-se de si mesmo. (como Vítor guardou silêncio, prosseguiu) Não vejo nada que valha a pena naquilo que você era, ou melhor, naquilo que fizeram de você. Gostei de você, porque vi que queria sair disso. Eu também quero me livrar de uma porção de coisas, pois sei que sou uma criatura insuportável. Mas posso mudar. Eu lhe garanto que não sou um caso perdido. E nós podemos ajudar um ao outro.

VÍTOR OLHOU-A COM SURPRESA, COMO SE ESTIVESSE VENDO UMA NOVA HELÔ.

VÍTOR  -  Eu não sei se posso lhe ajudar. Meu receio é que não possa. Ainda há pouco, quando lhe beijei com ardor, eu... estava pensando em Nívea! Eu não quero lhe enganar, vai ser muito difícil, quase impossível esquecê-la!

HELÔ VOLTOU-LHE AS COSTAS, COM RAIVA INCONTIDA NOS OLHOS.

HELÔ  -  (gritou) Vá-se embora! Vá-se embora, seu cura de uma figa!

VÍTOR FICOU SEM AÇÃO, QUANDO HELÔ CORREU PARA O QUARTO E BATEU A PORTA.

CORTA PARA:
 
CENA 8  -  QUARTO DE HELÔ  - INT.  -  NOITE.

HELÔ ATIROU-SE NA CAMA, COM O ROSTO BANHADO EM LÁGRIMAS.

CORTA PARA:

CENA 9  -  APARTAMENTO DE EMILIANO -  QUARTO DE VÍTOR  -  INT.  -  NOITE.

VÍTOR ENTROU NO QUARTO, DESORIENTADO.

VÍTOR  -  (aproximou-se da janela e falou para si)  Que rumo tomar? Resignar-me? Não. Esse é o refúgio dos vencidos. Não estou disposto a aceitar o mal, a injustiça. Não posso ficar firme, indiferente, enquanto os bons forem punidos e os maus continuam a viver em paz. Mas não sei o que fazer, meu Deus!

OLHOU EM VOLTA, NO QUARTO QUE FÔRA DE NÍVEA, E AJOELHOU-SE JUNTO AO LEITO.

VÍTOR  -  Perdoa-me, Senhor. Não entendo bem o sentido das coisas que estão acontecendo. É possível que esteja sendo posto à prova na minha pretensão de entender o que talvez se encontre além da compreensão de qualquer ser humano. Que o Senhor se compadeça da minha pobre alma e não me negue a luz da verdade...

DESPIU A CAMISA, TIROU O CINTURÃO.

VÍTOR  -  No momento em que tudo se escurece á minha volta eu me sinto perdido...

VERGOU-SE UM POUCO, APOIANDO-SE NA CAMA.

VÍTOR  -  Eu vos ofereço, Senhor, este sacrifício, como prova da minha humildade.

VÍTOR COMEÇOU A EXORCIZAR-SE, CHICOTEANDO AS PRÓPRIAS COSTAS.

CORTA PARA:

CENA 10  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.

O DELEGADO ANDAVA NERVOSAMENTE EM VOLTA DA MESA NO SEU GABINETE.

DELEGADO FONTOURA  -  Você viu, Jonas? Eu não sei o que esse Promotor quer mais. Para mim, os indícios são suficientes para pedir a prisão de Ricardinho. Claro, não há provas definitivas. Mas estou convencido de que foi ele, e você?

DETETIVE JONAS -  Eu não tenho tanta certeza, doutor Fontoura. Mas se a gente conseguisse encostar os dois na parede, ele e Jurema, a verdade vinha à tona.

DELEGADO FONTOURA  -  (deu um assobio)  Mas como? Uma acareação?

DETETIVE JONAS  -  Sim, isso mesmo, um truque qualquer para obrigar um deles a confessar ou acusar o outro.

DELEGADO FONTOURA  -  (pensou um pouco e, sem olhar para Jonas, disse, numa voz melancólica)  Não tem outra saída. Senão vamos ficar nisso a vida toda, com um monte de suspeitos, e nenhuma prova definitiva. ( e com voz controlada)  É isso mesmo, prenda os dois. Vamos fazer uma encenação. Pode ser que eles caiam!

CORTA PARA:

CENA  11  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA -  INT.  -  DIA.

RICARDINHO  -  Quem foi o dedo-duro desta vez? Da outra foi seu filho, Mario Maluco!

DELEGADO FONTOURA  -  Você é um ingrato, porque ele só quis defendê-lo. Mas há outras pessoas que não são tão suas amigas...

RICARDINHO ESTAVA AZUL DE RAIVA. MAS UM POUCO ATEMORIZADO TAMBÉM. POUSOU AMBAS AS MÃOS SOBRE A MESA DO DELEGADO.

RICARDINHO  -  Quem me delatou?

DELEGADO FONTOURA  -  Você vai saber quando chegar a hora. E não é truque. Agora tenho provas para metê-lo na cadeia. Você não vai voltar mais para casa.

RICARDINHO SE ASSUTOU AINDA MAIS. RIU, PARA DISFARÇAR O NERVOSISMO.

RICARDINHO  -  O senhor não pode fazer isso comigo!

DELEGADO FONTOURA  -  Não posso? Por quê? (e gritando para ser ouvido do outro lado da porta) Guarda! Tranque este preso no xadrez!

O GUARDA ENTROU E ALGEMOU RICARDINHO. NESTE INSTANTE, A PORTA SE ABRIU E JUREMA ENTROU, ACOMPANHADA PELO DETETIVE JONAS. ELA VIU RICARDINHO. NOTOU QUE ELE ESTAVA ALGEMADO.

JUREMA  -  Ricardinho! Que é isso? Que vão fazer com ele?

DELEGADO FONTOURA  -  (sem responder) Levem o preso!

JUREMA  -  (descontrolada) A polícia é injusta! Meu namorado é um bom rapaz! Eu conheço ele há quatro anos. Nunca fez mal a ninguém, nem a mim!

DELEGADO FONTOURA  -  (levantou-se) A senhora o defende tanto... e ele nem ao menos merece. Se soubesse o que ele acabou de dizer nesta sala, mudaria de atitude.

JUREMA  -  O que ele disse?

FONTOURA FEZ UM LEVE SINAL PARA JONAS, QUE COMPREENDEU E SAIU. ENTÃO, ELE ABRANDOU A VOZ E CHEGOU BEM PERTO DO ROSTO DA MOÇA.

DELEGADO FONTOURA  -  Eu sei que a senhora gosta de um tipo dessa espécie. Pois lamento muito, mas a senhora vai sofrer hoje a maior decepção da sua vida. (fez uma pausa estudada e arrematou, gravemente) Ricardo Miranda, interrogado por mim durante mais de quatro horas, acabou por dizer o nome do criminoso: a senhora!

         
FIM DO CAPÍTULO 31
Susi (Maria Cláudia)


e no próximo capítulo...

*** Ricardinho e Jurema cairão no estratagema do Delegado Fontoura, disposto a tudo para descobrir o assassino de Nívea?

*** Helô ouve uma estranha conversa do pai na extensão e chega à conclusão de que ele não quer a presença de sua mãe no casamento. 

*** D. Marieta é chamada à delegacia para uma acareação com Jurema de Alencar e a chapa fica mais quente ainda!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 32 DE
 

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